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Conferência no Brasil reúne charlatães e renegados para difamar a Quarta Internacional

Publicado originalmente em 2 de novembro de 2023

De 21 a 25 de agosto, um seminário chamado “II Encontro Internacional Leon Trotsky” foi realizado nas duas principais universidades de São Paulo – a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e a Universidade de São Paulo (USP) – com transmissões adicionais on-line. O evento foi uma continuação de um encontro realizado em 2019 em Cuba com o mesmo título.

O WSWS expôs o caráter reacionário do evento de 2019 em dois artigos (Conferência em Cuba adapta Trotsky à política do nacionalismo burguês , Um pós - escrito sobre a conferência “ Trotsky ” em Cuba ), que explicaram que o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) havia sido impedido de participar da reunião sob falsos pretextos. O principal promotor do evento, Frank García Hernández, revelou posteriormente em uma entrevista que as participações no evento haviam sido coordenadas com o governo cubano.

A reunião de 2019 em Cuba contou com a presença dos mais diversos descendentes políticos do revisionismo pablista, que buscavam de forma ilegitima dar credenciais “trotskistas” à adulação do falido regime nacionalista-burguês de Cuba. Para garantir que a primeira discussão pública sobre o trotskismo na ilha permanecesse dentro de tais limites políticos, foi essencial impedir que o CIQI, que representa a continuidade da Quarta Internacional fundada por Leon Trotsky, apresentasse sua verdadeira história e programa.

O encontro deste ano em São Paulo é uma continuação do primeiro em sua distorção e difamação da história do trotskismo. Assim como em Cuba, um evento teórico no Brasil genuinamente dedicado ao legado de Trotsky teria sido politicamente significativo. A crise do domínio burguês no país e em toda a América Latina – exposta na falência dos governos nacionalistas burgueses da “Maré Rosa” e no ressurgimento de políticos fascistoides e camarilhas militares que fazem apologia das ditaduras sanguinárias das décadas de 1960-1980 – impõe questões históricas e programáticas cruciais que precisam ser respondidas.

Anúncio da mesa "Um panorama do trotskismo ao redor do mundo" [Photo: Facebook/Encontro Internacional Leon Trótski ]

Uma dessas questões candentes é: se o PT estava destinado a desempenhar um papel histórico tão reacionário como baluarte da ordem capitalista podre e na preparação do caminho para o fascismo, qual era a legitimidade das alegações de muitos de seus fundadores, reunidos em correntes como a Convergência Socialista, a Democracia Socialista e O Trabalho, de que eram representantes do trotskismo? Se isso era falso, quem eram os verdadeiros representantes do trotskismo?

Mas a reunião passou ao largo dessas questões fundamentais. Qualquer pessoa que estivesse procurando um relato coerente da história do trotskismo, de como as ideias de Trotsky e o movimento internacional que ele fundou enfrentaram os desafios dos desenvolvimentos históricos subsequentes, não encontraria respostas nesse evento.

O “II Encontro Internacional” reuniu proeminentes representantes de tendências que há muitas décadas romperam com o trotskismo e são abertamente hostis à Quarta Internacional e à sua história. Entre eles estavam Ana Cristina Carvalhaes, líder do Secretariado Unificado pablista; o grego Savas Michael-Matsas e o argentino Jorge Altamira, que em 2018 lideraram seus partidos à formação de uma aliança com os stalinistas do Partido Comunista Unificado da Rússia (OKP); e o liquidacionista americano Paul Le Blanc, hoje membro dos Socialistas Democráticos da América (DSA), uma fração externa do Partido Democrata dos EUA.

A reunião também atraiu representantes de praticamente todos os círculos da pseudoesquerda no Brasil, principalmente dos seguidores do arqui-pablista Nahuel Moreno, que desempenhou um papel fundamental na preparação do caminho para o golpe militar-fascista na Argentina em 1976, promovendo o general nacionalista-burguês Juan Perón como o líder legítimo das massas argentinas. Posteriormente, ele promoveu a formação do Partido dos Trabalhadores no Brasil como um caminho para uma “revolução democrática”.

Em uma das principais mesas do encontro, “As tarefas do trotskismo no Brasil de hoje”, quatro dos cinco oradores eram representantes de organizações morenistas. Eles passaram a discussão disparando acusações uns contra os outros de colaboração com o imperialismo e o fascismo através do apoio à guerra dos EUA-OTAN na Ucrânia, apenas para concluir com um apelo unânime à unidade política entre si e com outros grupos além de si.

Além da principal organização morenista no Brasil, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), a principal seção da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a mesa também contou com a presença de organizações saídas da LIT – o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), o Movimento Esquerda Socialista (MES) e a Resistência. As duas últimas fazem parte da coalizão governista do PT por meio do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), dentro do qual operam como tendências abertas.

Na medida em que os participantes das mesas reconheceram a existência de uma tradição “trotskista”, ela tem um caráter completamente depreciativo. Eles a associaram unanimemente ao eterno fracionismo, ao isolamento político, à “auto-proclamação” e a uma preocupação excessivamente rígida com a história e o programa político, todas características a serem remediadas com a busca interminável por “líderes de massa” burgueses e pequeno-burgueses aos quais se agarrar em nome de “alcançar as massas”.

Nesse sentido, o ataque mais frontal ao trotskismo veio da representante oficial pablista, Ana Cristina Carvalhaes, do PSOL, que saudou a reunião como uma oportunidade para “os trotskistas se reunirem e ouvirem uns aos outros”, em oposição a “uma tradição de fragmentação que vem de antes da queda do Muro [de Berlim]” e na qual “o trotskismo foi de fato pioneiro”. Em seguida, ela passou a proclamar a necessidade de “acrescentar o fato de que, somados, todos os trotskistas do mundo, mais seus amigos e aliados” são “muito poucos, frágeis e insuficientes para responder” aos desafios que a humanidade enfrenta.

Mesmo que se ignore o fato de que todos aqueles que essa pablista chama de “trotskistas” não são nada parecido com isso, essa visão patologicamente desmoralizada não tem nada a ver com “realismo político”, como afirma Carvalhaes. Ela é uma expressão dos interesses de classe dos setores mais privilegiados e direitistas da pequena burguesia, hostis à classe trabalhadora e à revolução socialista.

Mas ao apresentar esses argumentos, que estão no centro da diretriz pablista de liquidar o trotskismo desde 1953, Carvalhaes estava apenas resumindo, nos termos mais claros, a posição unânime dos participantes daquela e das demais mesas, de que o trotskismo e o socialismo são inviáveis historicamente.

Renegado Mário Pedrosa é saudado como símbolo do trotskismo

Os organizadores do “II Encontro Internacional” trouxeram o ataque aos princípios fundadores da Quarta Internacional para o centro do evento por meio da promoção das teses anti-trotskistas do renegado brasileiro Mário Pedrosa. Os patrocinadores do encontro, liderados pelo grupo Reagrupamento Revolucionário (RR), batizaram-se como “Comitê Mário Pedrosa” e encerraram o evento com uma homenagem ao legado de Pedrosa.

Embora Pedrosa tenha desempenhado um papel fundamental no estabelecimento da seção brasileira da Oposição de Esquerda Internacional e, posteriormente, tenha participado dos trabalhos de fundação da Quarta Internacional como membro de seu Comitê Executivo Internacional, ele rompeu definitivamente com o movimento trotskista em 1940. Nos 40 anos seguintes, que compreenderam três quartos de sua carreira política, Pedrosa dedicou-se a um repúdio implacável das ideias marxistas que havia defendido anteriormente.

O rompimento de Pedrosa com a Quarta Internacional foi precipitado por seu apoio à oposição pequeno-burguesa no Socialist Workers Party (SWP) dos EUA, liderada por Max Shachtman e James Burnham. Sob as poderosas pressões de classe geradas pelo advento da Segunda Guerra Mundial, essa tendência defendeu a rejeição total pela Quarta Internacional da defesa da União Soviética e de sua caracterização da URSS como um Estado Operário degenerado. Essa decisão provou-se extremamente importante para a evolução política de Pedrosa.

Elaborando sua definição da URSS como uma forma de “capitalismo de estado”, Pedrosa escreveu em 1946: “ É precisamente esse caráter monopolista e totalitário do Estado soviético, e precisamente essa divisão em classes da sociedade russa que constituem a mola que leva o seu governo a uma expansão territorial e econômica tão furiosa quanto a dos jovens imperialistas do século dezenove”. Com base nisso, ele condenou retroativamente a Revolução Russa e o Partido Bolchevique.

A política de Pedrosa assumiu um tom anticomunista cada vez mais explícito, o que justificou sua adesão aberta aos partidos burgueses como alternativa política. A partir da queda da ditadura corporativista de Getúlio Vargas, em 1945, Pedrosa e seus colaboradores começaram a trabalhar com a oposição pró-imperialista, a União Democrática Nacional (UDN), o que levou à criação do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Esses esforços reacionários foram realizados por meio de uma série de acordos políticos falidos e cada vez mais desmoralizados.

A carreira política de Pedrosa culminou em 1980 com a fundação do PT, do qual ele foi um dos principais promotores intelectuais e o primeiro filiado. A orientação política que ele ofereceu ao PT, calorosamente abraçada pelo líder do partido, o então sindicalista (e atual presidente do Brasil) Luiz Inácio Lula da Silva, resume seus esforços nas quatro décadas anteriores. Pedrosa escreveu que “Partido de massas não tem vanguarda, não tem teorias, não tem livro sagrado” e que “Ele é o que é, guia-se por sua prática, acerta por seu instinto”. Condenando qualquer tendência revolucionária consciente e atacando tacitamente o trotskismo, ele afirmou que “ao nos inscrevermos no PT, deixamos à sua porta os preconceitos, os pendores, as tendências extras que possivelmente nos moviam até lá”.

Longe de criticar ou mesmo esclarecer a evolução direitista de Pedrosa e o seu repúdio ao marxismo, os organizadores do “II Encontro Internacional” procuraram apresentá-lo como um paradigma do trotskismo no século XX.

O legado de Pedrosa foi abordado diretamente em três das sessões do evento: “História do trotskismo no Brasil”, “História da Quarta Internacional e a questão da direção revolucionária” e na sessão de encerramento inteiramente dedicada a Pedrosa, “Homenagem a Mário Pedrosa e aos primeiros trotskistas brasileiros”.

Nenhuma dessas mesas abordou as consequências da teoria de Pedrosa sobre o capitalismo de estado, que inevitavelmente envolvia equiparar a URSS e o stalinismo ao fascismo e atacar o marxismo como “totalitário”. Pelo contrário, as posições de Pedrosa foram apresentadas como marxismo genuíno em oposição à suposta falência política da própria Quarta Internacional.

Em sua apresentação, “Aspectos da cisão entre Trotsky e Mário Pedrosa e seus reflexos no trotskismo brasileiro”, Flo Menezes, membro do comitê organizador do evento, dedicou-se inteiramente a defender os argumentos de Pedrosa em favor da tese do “coletivismo burocrático” em seu documento de 1940 “A defesa da URSS na guerra atual”. Omitindo o fato de que Pedrosa foi censurado por seu próprio partido, o Partido Socialista Revolucionário (PSR) do Brasil, e abandonou seu cargo, Menezes atribuiu a “expulsão” de Pedrosa à “fraqueza, desespero e fragilidade” de Trotsky no último ano de sua vida.

Menezes declarou que Trotsky estava “desesperado, isolado” e “tentava a todo custo preservar a Quarta Internacional como aglutinante” através da supressão de dissidências no partido. Com total desprezo pelo trotskismo que ele dizia defender, Menezes questionou a razão de defender seu programa: “O trotskismo era tão pequeno, que chance real ele tinha de intervir na realidade? Qual seria a diferença se a defesa da URSS fosse incondicional ou condicional?”

Em seguida, Menezes afirma que essa “rigidez” programática teria sido a ruína da Internacional, porque inoculou em seus membros e seções o “medo de pequenas dissensões”, fazendo com que “a Revolução Cubana fosse taxada de pequeno-burguesa”. Aqui Menezes revela em termos cristalinos as raízes de classe de sua historiografia forjada. Seu próprio ataque à viabilidade histórica do trotskismo está enraizado, como o de Pedrosa, no fato de que tal rigidez programática impede a adaptação irrestrita a políticos nacionalistas como Fidel Castro.

Ícaro Rossignoli, membro do Reagrupamento Revolucionário e do Comitê Mario Pedrosa, fez uma apresentação intitulada “Três debates da Quarta Internacional ao fim da Segunda Guerra”. De uma forma menos histérica, mas igualmente falsificadora, sua palestra procurou apresentar a Quarta Internacional como uma árvore envenenada, da qual o posterior liquidacionismo de Pedrosa e outros renegados foi o fruto inevitável.

Rossignoli questionou a própria legitimidade da fundação da Quarta Internacional, alegando que renegados como Felix Morrow, Albert Goldman e Ted Grant, provaram-se mais “realistas” do que a sua direção em relação às perspectivas ao final da Segunda Guerra Mundial. Ele resumiu as propostas dos renegados como a necessidade de “preparar-se para um período prolongado de estabilidade do capitalismo no final da guerra”. O fato de isso “não ter sido previsto” pelos trotskistas, acrescentou, os condenaria a uma posição política “marginal”.

O relato de Rossignoli sobre a situação política no período pós-guerra está impregnada de conformismo e pessimismo reacionários quanto ao potencial revolucionário da classe trabalhadora, assim como as opiniões dos renegados que ele admira. Ele esconde o fato de que essas teses “realistas” levaram seus proponentes a abandonar completamente a política revolucionária e a se adaptar à “realidade” do capitalismo e à dominação do movimento operário pelo stalinismo e por outras burocracias reacionárias.

Essas previsões míopes nada mais eram do que atalhos convenientes para que seus proponentes justificassem a liquidação de partidos e grupos inteiros como a única maneira de evitar a “marginalidade” lamentada pelo desmoralizado Rossignoli. A estabilização política que eles apresentavam como um fato consumado logo foi abalada pelos acontecimentos, culminando na onda de crises revolucionárias internacionais de 1968-75. Os pablistas e outros renegados do trotskismo, atuando como defensores ferrenhos das burocracias sindicais stalinistas e social-democratas em crise, desempenharam um papel fundamental para desviar a onda de lutas dos trabalhadores da derrubada do capitalismo.

A conclusão política do evento foi dada pelo representante do PT e de seu braço teórico, a Fundação Perseu Abramo, Everaldo Andrade, autor do livro “Mário Pedrosa – a revolução sensível”. Ocultando o repúdio aberto de Pedrosa ao marxismo, Andrade apresentou o PT – até os dias de hoje – como uma “experiência de frente única dos trabalhadores” e o trabalho de Pedrosa para fundar o partido como um “retorno às suas origens trotskistas”.

Em outras palavras, Andrade que fazer crer que, por meio de Pedrosa, a verdadeira continuação do marxismo seja expressa na fundação de um partido burguês responsável por inúmeros crimes contra a classe trabalhadora brasileira, sem mencionar seu papel central na destruição do Haiti com o envio, em 2005, pelo atual e então presidente Lula, de milhares de soldados brasileiros para uma “missão de paz” da ONU.

Uma plataforma sórdida para justificar as ações do imperialismo

A reabilitação de teses reacionárias como a do “capitalismo de estado”, que foi o foco principal do evento, é crucial para que essas tendências possam se apresentar como “trotskistas”, mesmo apoiando abertamente a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia.

Uma mesa especial sobre a guerra na Ucrânia proporcionou uma plataforma para a representação dúbia do conflito como uma luta por “autodeterminação” e “democracia”. O representante do PSTU, Fábio Bosco, citou de forma enganosa e superficial a defesa de Trotsky da legitimidade da luta das massas ucranianas pela autodeterminação nacional, ao mesmo tempo em que retirou esses argumentos de seu contexto crucial na discussão dos problemas do estabelecimento e desenvolvimento da União Soviética. Bosco omitiu o fato de que Trotsky falava do direito à independência de uma Ucrânia socialista, ao mesmo tempo em que condenava abertamente as “camarilhas ucranianas que expressam seu ‘nacionalismo’ buscando vender o povo ucraniano a um ou outro imperialismo em troca de uma promessa de independência fictícia”.

O porta-voz do PSTU identificou os interesses das massas ucranianas com o regime Zelensky, cada vez mais ditatorial e apoiado pela OTAN. “A Ucrânia promove direitos democráticos que não existem na Rússia”, disse ele, “e os trabalhadores se alistam para defender sua pátria”. Essas são mentiras forjadas diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA. Os ucranianos estão sendo lançados em “ondas humanas” irracionais e bárbaras contra posições russas fortificadas, o que é possibilitado exclusivamente pela força do alistamento e da lei marcial. O governo de Zelensky promove os colaboradores nazistas da Segunda Guerra Mundial, enquanto bane e caça seus oponentes.

A promoção criminosa da OTAN e de Zelensky pelo PSTU na arena internacional está associada ao alinhamento do partido no Brasil com os mais raivosos nacionalistas, que veem a guerra como uma oportunidade para ganhos geopolíticos, principalmente na venda de armas, tais como peças de artilharia sendo consumidas rapidamente em todo o mundo. Em seu reduto sindical de São José dos Campos, no estado de São Paulo, o PSTU dedica-se inteiramente a fazer lobby junto ao governo federal para que o exército receba fundos para desenvolver a produção brasileira de peças de artilharia e engordar os lucros de fabricantes de armas como a Avibras. Isso ocorre ao mesmo tempo em que surgem evidências cada vez mais contundentes do apoio dos militares aos planos do ex-presidente Bolsonaro de estabelecer uma ditadura no país.

Nenhuma dessas posições provocou protestos das outras organizações presentes, muitas das quais promovem a ofensiva da OTAN à sua própria maneira. Paul LeBlanc, ex-membro da Organização Socialista Internacional (ISO) dos EUA, um extinto partido shachtmanista, argumentou que a “primeira tarefa” na guerra na Ucrânia seria derrotar Putin, fornecendo outra cobertura “de esquerda” para os objetivos da OTAN.

A representante do SU pablista, Ana Carvalhaes, seguiu seu exemplo, retratando a guerra como “inter-imperialista”. Na mesma sessão, também foi possível testemunhar o giro de 180 graus nas posições reacionárias de Jorge Altamira. Apenas cinco anos depois de forjar uma aliança com os stalinistas russos, Altamira insistiu enfaticamente que a guerra deveria ser considerada “inter-imperialista”, com a Rússia representando um novo tipo de “imperialismo militar”.

Uma das poucas que tentou se passar por oponente da OTAN, a representante do MRT morenista Maíra Machado, ignorou qualquer discussão sobre a guerra e conclamou o PSTU e as demais organizações a reproduzirem no Brasil a aliança eleitoral entre suas contrapartes argentinas, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U). A FIT-U e a organização que a lidera, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), ao qual o MRT do Brasil é afiliado, consideram-se perfeitamente “de esquerda” e até mesmo “trotskistas”, não apenas apoiando a guerra dos EUA-OTAN, mas também votando no Congresso para condenar manifestações de apoio à Palestina como antissemitas.

As posições de Carvalhaes e Altamira, em particular, revelam que as mesmas pressões de classe pequeno-burguesas que historicamente fizeram com que essas correntes se adaptassem ao stalinismo estão agora operando para alistá-las como agentes cada vez mais diretos do imperialismo.

Conclusão

A base da promoção de todas essas falsificações históricas, e o fio condutor do evento, foi um silêncio traiçoeiro sobre o Comitê Internacional da Quarta Internacional e sua luta histórica contra o oportunismo e o liquidacionismo.

As correntes políticas que promoveram o “II Encontro Internacional” não têm interesse objetivo na verdade histórica, pois ela confirma as previsões fundamentais feitas pelo CIQI desde 1953 e expõe sua adaptação reacionária às burocracias sindicais e ao nacionalismo burguês, além de seu apoio direto ao imperialismo.

A omissão da história do CIQI serve para promover a mentira propagada por todas essas tendências: que a Quarta Internacional, que Trotsky considerava a realização política mais importante de sua vida, não passou de um aborto político.

Um papel fundamental nessa operação política nefasta foi desempenhado pelo Reagrupamento Revolucionário (RR), que formou o Comitê Mario Pedrosa. O RR é uma ramificação da Liga Espartaquista de James Robertson, uma tendência cuja essência política era a negação do significado social e político objetivo das lutas dentro da Quarta Internacional.

Embora os espartaquistas tenham surgido nos EUA de uma oposição à decisão do SWP de se reunificar com pablistas em 1963, eles eram ainda mais hostis ao CIQI. Robertson atacava particularmente o entendimento crucial do CIQI de que “a atual crise do capitalismo é tão aguda e profunda que o revisionismo trotskista é necessário para domar os trabalhadores, de uma forma comparável à degeneração da Segunda e Terceira Internacionais”, argumentando que isso representava “uma enorme superestimação da nossa importância atual [isto é, do movimento trotskista]”.

Foi precisamente essa visão pequeno-burguesa desmoralizada sobre o significado histórico e político do trotskismo que qualificou o RR para seu papel de liderança na reunião dos revisionistas no Brasil. Essa perspectiva do RR serve aos interesses das desacreditadas organizações pablistas, que buscam ocultar seus crimes políticos anteriores para melhor poder cometer novos crimes.

Uma postura e uma perspectiva completamente opostas foram apresentadas pelo CIQI na recente escola internacional de verão do Partido Socialista pela Igualdade (EUA). Ao preparar-se para dirigir politicamente as batalhas revolucionárias históricas da classe trabalhadora que estão emergindo da crise do sistema capitalista global, que está se agravando drasticamente, o CIQI atribui o maior significado objetivo e dá a mais alta prioridade política ao estudo da história do movimento trotskista, e acima de tudo à sua longa luta contra o oportunismo.

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