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Perspectivas

Construir o Primeiro de Maio de 2023! Por um movimento de massas de trabalhadores e da juventude contra a guerra e pelo socialismo!

Publicado originalmente em 8 de abril de 2023

No domingo, 30 de abril, o Comitê Internacional da Quarta Internacional, a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social e o World Socialist Web Site realizarão um ato global online para celebrar o Dia Internacional do Trabalhador de 2023.

Dois processos estão dominando a celebração da unidade internacional da classe trabalhadora neste ano: a guerra na Ucrânia, que está se intensificando em direção a uma conflagração global, e o ressurgimento internacional da luta de classes. Esses dois processos estão profundamente relacionados. As mesmas contradições econômicas, geopolíticas e sociais que estão impulsionando as elites dominantes imperialistas para o caminho da guerra estão fornecendo o impulso objetivo para a radicalização da classe trabalhadora e a explosão de lutas revolucionárias.

A guerra na Ucrânia está agora em seu segundo ano. De acordo com as estimativas mais confiáveis, mais de 150.000 soldados ucranianos foram mortos e as mortes russas estão entre 50.000 e 100.000. Longe de ficarem horrorizados com esse terrível número de vítimas e de lançarem apelos para um cessar-fogo, os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão despejando armas na Ucrânia. Tendo comprometido o prestígio dos EUA e da OTAN com a vitória na guerra por procuração, o governo Biden não pode tolerar as consequências políticas de um fracasso de seus objetivos militares e geopolíticos. A lógica de seus objetivos de guerra leva a políticas imprudentes.

A mídia pró-guerra não pode conter seu entusiasmo sobre as perspectivas de uma iminente contraofensiva ucraniana, que, se e quando ocorrer, resultará em um números de vítimas que recordarão os horrores das Batalhas de Somme e Verdun durante a Primeira Guerra Mundial. Tendo imposto, em resposta à pandemia de COVID-19, políticas que têm resultado na morte de milhões de pessoas, os governos capitalistas e os órgãos de propaganda da mídia estão acostumados às consequências fatais de seus objetivos de guerra no conflito com a Rússia. A morte em massa como consequência da subordinação da necessidade social aos imperativos do lucro capitalista e do enriquecimento individual tornou-se uma ocorrência regular sob o capitalismo. Os terremotos na Turquia e na Síria, que se acredita terem matado mais de 150.000 pessoas, estão entre a série interminável de desastres evitáveis que marcam a vida contemporânea.

A fim de obter apoio para a guerra, o governo Biden adere à narrativa absurda de “guerra não provocada”. Espera-se que o público acredite que tudo começou quando Vladimir Putin acordou numa manhã e declarou, sem razão aparente, “Que haja uma guerra na Ucrânia”. Mas a história mostra que as guerras são o resultado de uma complexa interação de processos econômicos, geopolíticos e sociais. Mais de 100 anos após o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, os historiadores ainda estão tentando entender os diferentes níveis de causalidade que resultaram nesse conflito.

Como escreveu recentemente o estudioso alemão Jörn Leonhard:

Desde Tucídides, os historiadores estão cientes da diferença entre as causas estruturais e imediatas da guerra; eles também compreenderam a necessidade de submeter justificativas oficiais de guerra a uma crítica ideológica. Distinções podem ser feitas nesta área, como na busca das causas das revoluções; a identificação de causas de longo, médio e curto prazo envolve a separação de determinantes, catalisadores e contingências. Especialmente no que diz respeito ao início da guerra, além disso, a questão dos fatores externos e internos continua a desempenhar um papel fundamental até os dias de hoje. Até que ponto a causa raiz de uma guerra está no sistema de relações internacionais, e até que ponto ela está na composição interna de Estados e sociedades. [1]

A narrativa de “guerra não provocada” não explica as origens históricas, econômicas, sociais e políticas da guerra. Ela desvia a atenção de qualquer exame da relação entre a guerra dos EUA e da OTAN na Ucrânia e 1) os 30 anos anteriores de guerras praticamente ininterruptas travadas pelos Estados Unidos no Iraque, Sérvia, Afeganistão, Somália, Líbia e Síria; 2) a expansão implacável da OTAN para o leste desde a dissolução da União Soviética em 1991; 3) a escalada do conflito geopolítico com a China, que é vista pelo imperialismo americano como uma perigosa ameaça à sua própria posição dominante no mundo; 4) o declínio prolongado da posição econômica global dos Estados Unidos, que encontra sua expressão mais marcante no crescente desafio à supremacia do dólar como moeda de reserva mundial; 5) a série de choques econômicos que exigiram socorros desesperados para evitar o colapso completo do sistema financeiro americano; 6) o colapso evidente do sistema político americano, exemplificado na tentativa do Presidente Donald Trump de derrubar, em 6 de janeiro de 2021, o resultado das eleições nacionais de novembro de 2020; 7) a crescente instabilidade interna de uma sociedade marcada por níveis espantosos de desigualdade, intensificada pelo impacto da pandemia e por uma nova espiral inflacionária, que está radicalizando a classe trabalhadora americana.

A mais poderosa refutação da narrativa de “guerra não provocada” pode ser encontrada nas inúmeras declarações do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), publicadas no World Socialist Web Site, que durante os últimos 25 anos analisou as contradições econômicas, políticas e sociais que têm impulsionado os esforços desesperados das elites corporativas financeiras dos EUA para encontrar uma saída para as crises insolúveis através da guerra.

Vinte anos atrás, apenas uma semana após o governo Bush ter lançado a invasão do Iraque em março de 2003, o Partido Socialista pela Igualdade, a seção americana do CIQI, explicou: “A estratégia do imperialismo americano consiste em utilizar seu enorme poder militar para estabelecer a indiscutível hegemonia global dos Estados Unidos e subordinar completamente a si mesmo os recursos da economia mundial”. [2]

Dado seu papel central no capitalismo mundial, a crise do imperialismo americano havia desestabilizado todo o sistema político e econômico. Suas políticas, explicou o Partido Socialista pela Igualdade, foram uma resposta ao que era, em essência, uma crise global, e não meramente nacional. As políticas brutalmente agressivas dos sucessivos governos americanos foram uma

tentativa de resolver, com base no imperialismo, o problema histórico mundial da contradição entre o caráter global das forças produtivas e o sistema arcaico de Estados nacionais.

Os Estados Unidos se propõem a superar este problema estabelecendo-se como o superestado, funcionando como o árbitro final do destino do mundo - decidindo como os recursos da economia mundial serão alocados depois de ter tomado para si a maior parte deles. Mas esse tipo de solução imperialista para as contradições subjacentes do capitalismo mundial, que era totalmente reacionária em 1914, não melhorou com o passar dos anos. De fato, a enorme escala do desenvolvimento econômico mundial no decorrer do século XX confere a um projeto imperialista como esse um elemento de loucura. Qualquer tentativa de estabelecer a supremacia de um único Estado nacional é incompatível com o extraordinário nível de integração econômica internacional. O caráter profundamente reacionário de tal projeto é expresso nos métodos bárbaros que são necessários para sua realização. [3]

Enquanto os aliados imperialistas europeus dos Estados Unidos na OTAN são obrigados pelo atual equilíbrio de poder global a seguir o cenário estabelecido por Washington, eles não são de forma alguma espectadores inocentes no confronto com a Rússia. Todas as antigas potências imperialistas europeias - sejam as veteranas derrotadas por duas guerras mundiais apenas no século passado, aquelas que cometeram crimes selvagens em suas antigas colônias ou as que passaram por experiências com o fascismo e o genocídio em seus próprios países - estão acometidas pelas mesmas doenças políticas e econômicas que afligem os Estados Unidos, enquanto possuem ainda menos recursos financeiros para lidar com elas.

Embora incapazes de perseguir suas ambições imperialistas independentemente, nem o Reino Unido, França, Itália e Alemanha, nem as “potências menores” como Suécia, Noruega, Dinamarca, Espanha, Bélgica e Suíça estão dispostas a aceitar sua exclusão da redistribuição do território e dos recursos naturais e do acesso às vantagens financeiras que esperam da derrota militar da Rússia e de sua desagregação em numerosos Estados.

Mas mesmo em meio às suas proclamações de unidade, a própria OTAN é assolada por profundas divisões internas, que, num futuro próximo, podem explodir repentinamente em conflitos armados. Entre as pouco discutidas consequências da guerra está a reabertura de disputas territoriais decorrentes dos acordos estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial. A classe dominante alemã não esqueceu que a cidade polonesa de Wrocław já foi chamada de Breslau, que foi na virada do século XX a sexta maior cidade do Império Alemão.

O governo polonês, virulentamente nacionalista e fascista, também não esqueceu que a cidade de Lviv na Ucrânia ocidental era, antes do início da Segunda Guerra Mundial, conhecida como Lwów, a terceira maior cidade da Polônia.

Entre as linhas da narrativa de “guerra não provocada”, o fato de que a guerra da Ucrânia faz parte de um conflito global muito maior, que está levando à Terceira Guerra Mundial, está sendo cada vez mais abertamente reconhecido. A questão não é tanto se haverá uma guerra entre os Estados Unidos e a China, mas sim quando ela começará, onde o conflito eclodirá e se ela envolverá o uso de armas nucleares táticas e/ou estratégicas.

O ex-ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, escreveu recentemente que a guerra é “sobre a futura ordem mundial, sobre sua grande reestruturação no século XXI”. Ele denunciou a China e a Rússia por terem “entrado numa aliança não-formalizada para quebrar o domínio dos Estados Unidos e do Ocidente - as duas grandes potências eurasiáticas contra as alianças transatlântica e do Pacífico lideradas pelos Estados Unidos”. [4]

Gideon Rachman, o principal correspondente de relações exteriores do Financial Times, escreveu em 27 de março:

O fato de que o presidente da China e o primeiro-ministro do Japão visitaram simultaneamente as capitais da Rússia e da Ucrânia reforça o significado global da guerra da Ucrânia. O Japão e a China são rivais ferozes no leste da Ásia. Ambos os países entendem que sua luta será profundamente afetada pelo resultado do conflito na Europa.

Esse conflito em paralelo entre a China e o Japão em relação à Ucrânia faz parte de uma tendência mais ampla. As rivalidades estratégicas nas regiões Euro-Atlântico e Indo-Pacífico estão se sobrepondo cada vez mais uma à outra. O que está emergindo é algo que se parece cada vez mais com uma única luta geopolítica. [5]

Embora Rachman continue sendo um fervoroso defensor da narrativa de “guerra não provocada”, ele conclui sua análise autocontraditória com um alerta importante:

Mas o perigo de um desvio para um conflito global está longe de ter terminado. O início da guerra na Europa, combinado com o aumento das tensões na Ásia Oriental - e a crescente conexão entre esses dois teatros - ainda tem ecos distintos da década de 1930. Todos os lados têm a responsabilidade de garantir que, desta vez, as rivalidades ligadas na Europa e na Ásia não culminem em uma tragédia global. [6]

Quando os acontecimentos que levaram à invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 são colocados no contexto histórico e político necessário, não há dúvida de que a guerra foi instigada pelos Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Todas as tentativas de avaliar a “culpa” pela guerra, concentrando-se na questão de “quem disparou o primeiro tiro?”, exigem um prazo extremamente limitado que isola um único episódio de uma sucessão de eventos muito mais longa. Como Trotsky explicou em 1934, “O caráter da guerra é determinado não pelo episódio inicial tomado em si (‘violação da neutralidade’, ‘invasão inimiga’, etc.), mas pelas principais forças em movimento da guerra, por todo o seu desenvolvimento e pelas consequências às quais ela finalmente conduz”. [7]

Ao contrário da história de terror de “guerra não provocada”, a invasão de fevereiro de 2022 foi o resultado de um conjunto de eventos que se estendem não apenas ao golpe da Praça Maidan de 2014, financiado e orquestrado pela CIA, que derrubou o governo pró-russo eleito de Viktor Yanukovich, mas ao desencadeamento de tendências nacionalistas reacionárias, tanto na Ucrânia quanto na Rússia, como consequência da dissolução da União Soviética.

Entretanto, o fato de a guerra ter sido instigada pelos Estados Unidos e pela OTAN não justifica a invasão russa da Ucrânia, e muito menos diminui seu caráter reacionário. Aqueles que defendem a invasão alegando que foi uma resposta legítima à ameaça da OTAN às fronteiras da Rússia estão simplesmente ignorando o fato de que Putin é o líder de um Estado capitalista, cuja definição de “segurança nacional” é determinada pelos interesses econômicos da classe oligárquica cuja riqueza se baseia na dissolução e roubo da propriedade anteriormente nacionalizada da União Soviética.

Todos os equívocos e erros de cálculo de Putin, tanto no lançamento como ao longo da guerra, refletem os interesses de classe que ele serve. O objetivo da guerra é neutralizar a pressão militar das potências imperialistas ocidentais e manter para a classe capitalista nacional uma posição dominante na exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra dentro das fronteiras da Rússia e, na medida do possível, na região do Mar Negro e nos países vizinhos da Ásia Central e da Transcaucásia.

Não há nada de progressista, muito menos anti-imperialista, nestes objetivos. Quando Putin evoca a herança do czarismo, denuncia Lenin, o bolchevismo e a Revolução de Outubro, ele está expressando o caráter historicamente reacionário e politicamente falido de seu regime.

Independentemente de seu atual conflito, as novas classes dominantes pós-soviéticas na Rússia e na Ucrânia compartilham a mesma origem criminosa. Menos de três meses antes da dissolução formal da URSS, eu participei de uma reunião pública em 3 de outubro de 1991 realizada em um clube de trabalhadores em Kiev como representante do Comitê Internacional e alertei para as consequências desastrosas que decorreriam da agenda dos nacionalistas:

Nas repúblicas, todos os nacionalistas proclamam que a solução para todos os problemas está na criação de novos Estados “independentes”. Permita-nos perguntar, independente de quem? Declarando a independência de Moscou, os nacionalistas nada mais podem fazer do que colocar todas as decisões vitais relativas ao futuro de seus novos Estados nas mãos da Alemanha, Reino Unido, França, Japão e Estados Unidos. Kravchuk [líder do Partido Comunista Ucraniano e futuro presidente da Ucrânia pós-soviética] vai a Washington e se senta em sua cadeira como um estudante, enquanto ele é instruído pelo presidente Bush. …

Que caminho, então, devem seguir os trabalhadores da URSS? Qual é a alternativa? A única solução que pode ser encontrada é a baseada no programa do internacionalismo revolucionário. O retorno ao capitalismo, para o qual a agitação chauvinista dos nacionalistas é apenas uma das formas, só pode levar a uma nova forma de opressão. Ao invés de cada uma das nacionalidades soviéticas se aproximar dos imperialistas separadamente com a cabeça curvada e os joelhos dobrados, pedindo esmolas e favores, os trabalhadores soviéticos de todas as nacionalidades deveriam forjar uma nova relação, baseada nos princípios da verdadeira igualdade social e democracia, e sobre essa base empreender a defesa revolucionária de tudo o que vale a pena preservar na herança de 1917. …

No centro deste programa está a perspectiva de um internacionalismo revolucionário. Todos os problemas que hoje assombram o povo soviético têm a sua origem no abandono do programa do internacionalismo revolucionário. [8]

Os alertas feitos pelo Comitê Internacional há quase 32 anos foram tragicamente confirmados. O povo trabalhador da Rússia e da Ucrânia foi arrastado para um conflito fratricida. Há oitenta anos, eles lutaram juntos, em defesa da Revolução de Outubro, para expulsar o exército nazista da União Soviética. Agora, agindo sob as ordens dos regimes capitalistas, eles estão atirando e matando uns aos outros.

O chamado do Comitê Internacional para a unificação da classe trabalhadora internacional não só adquiriu maior urgência. As condições objetivas são agora muito mais favoráveis para sua mobilização com base no programa do internacionalismo socialista revolucionário. Ao lado do aprofundamento da crise do imperialismo americano e da intensificação das contradições capitalistas globais, houve um imenso crescimento da classe trabalhadora internacional. Seu peso econômico e seu poder potencial aumentaram vastamente com o surgimento de grandes centros urbanos, povoados por dezenas de milhões de trabalhadores, em países onde o proletariado representou até a última década do século XX apenas uma pequena fração da população.

Durante a última década, houve uma escalada constante da luta de classes. Uma característica marcante da luta de classes tem sido seu caráter internacional. Os avanços revolucionários na tecnologia das comunicações estão dissolvendo as barreiras entre os trabalhadores de diferentes países. Independentemente de onde começa, o conflito social em qualquer país em particular adquire quase imediatamente uma audiência internacional e se torna um evento mundial. Mesmo a antiga barreira da língua está sendo superada pelo uso de programas de tradução e transcrição que tornam os documentos e discursos, independentemente dos idiomas em que foram escritos e falados, facilmente compreensíveis para um público global.

Esses avanços da tecnologia facilitaram uma resposta revolucionária global aos problemas econômicos, sociais e políticos que a classe trabalhadora de todos os países enfrenta. O súbito abandono da política de COVID Zero da China no final de 2022, resultando em mais de um milhão de mortes em menos de dois meses, demonstrou a impossibilidade de se encontrar uma solução nacional para uma crise global. Essa verdade fundamental está sendo abalada pela realidade do aprofundamento da crise social.

A guerra da Ucrânia e o crescimento maciço dos orçamentos militares assumiram a forma de uma guerra contra as condições sociais dos trabalhadores em todos os países. A inflação, o desemprego e o corte de gastos sociais provocaram um aumento da atividade de greve em todo o mundo. Grandes lutas sociais eclodiram em todos os continentes.

Apesar das diferenças que existem entre os países, certas características comuns se manifestam nas condições políticas enfrentadas pela classe trabalhadora em todos os países. Independentemente de quão limitadas são as exigências dos trabalhadores, eles enfrentam uma amarga resistência por parte dos empregadores e do Estado.

Com frequência e intensidade cada vez maiores, o Estado capitalista está assumindo a liderança direta, em nome da classe dominante, da guerra contra a classe trabalhadora. Em países tão diferentes em seu desenvolvimento econômico como Sri Lanka e França, a classe trabalhadora enfrenta como seu inimigo central o líder do Estado - no Sri Lanka, o presidente Ranil Wickremesinghe, na França, o presidente Emmanuel Macron. Apesar do uso da fraseologia democrática sempre que é politicamente conveniente, suas decisões, confiando na polícia e no exército para sua aplicação, assumem um caráter flagrantemente ditatorial. A atual ruptura universal da democracia burguesa confirma a análise de Lenin: “A reação política em toda a linha é um traço característico do imperialismo”. [9]

Por essa razão, a lógica da luta de classes assume o caráter de uma luta política contra o Estado e levanta a necessidade do desenvolvimento de órgãos independentes de poder dos trabalhadores. O chamado da seção do Sri Lanka do Comitê Internacional para a realização de um Congresso Socialista e Democrático dos Trabalhadores e Massas Rurais e a reivindicação levantada pela seção francesa do CIQI para a derrubada do governo Macron são ambas respostas necessárias ao crescente conflito entre a classe trabalhadora e o Estado capitalista.

Uma lição fundamental do século XX é que a luta contra a guerra imperialista só pode ser travada com sucesso através da mobilização política da classe trabalhadora, com base em um programa socialista e anticapitalista intransigente. Todas as propostas de oposição à guerra que ignoram e encobrem as causas da guerra - que estão enraizadas no sistema de Estados nacionais e no sistema de lucro capitalista - estão condenadas ao fracasso.

O grande obstáculo para a mobilização da classe trabalhadora é a influência política das burocracias pró-capitalistas nos sindicatos, dos reacionários partidos trabalhistas e falsos socialistas, além de uma ampla gama de organizações pseudoesquerdistas da classe média abastada. Sua influência nociva deve ser superada.

O Comitê Internacional tem feito avanços significativos no desenvolvimento de uma liderança revolucionária alternativa na classe trabalhadora. A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) é a concretização da perspectiva avançada por Trotsky no Programa de Transição para a formação de comitês de fábrica. Ele fez um chamado às seções da Quarta Internacional “para criarem em todas as instâncias possíveis organizações militantes independentes que correspondam mais de perto às tarefas de luta em massa contra a sociedade burguesa; e, se necessário, não hesitarem mesmo diante de uma ruptura direta com o aparato conservador dos sindicatos”. [10]

Além disso, o impulso dado pelo Comitê Internacional ao desenvolvimento da AOI-CB baseia-se na análise de Trotsky sobre o destino dos sindicatos na época do imperialismo. Em um manuscrito inacabado encontrado na mesa de Trotsky após seu assassinato, ele havia escrito: “Há uma característica comum no desenvolvimento ou, mais corretamente, na degeneração das modernas organizações sindicais em todo o mundo: é a sua aproximação e vinculação cada vez mais estreitas com o poder estatal”.

Era, portanto, necessário “mobilizar as massas, não apenas contra a burguesia, mas também contra o regime totalitário dentro dos próprios sindicatos e contra os líderes que sustentam este regime.” [11]

Quando os agentes pseudoesquerdistas de classe média da classe dominante denunciam o CIQI por se opore aos sindicatos, o que eles realmente estão atacando é a recusa do Comitê Internacional em aceitar a subordinação da classe trabalhadora à ditadura das burocracias sindicais pró-imperialistas e corporativistas. Longe de se abster das lutas dos trabalhadores que permanecem dentro dos muros das prisões vigiadas pelos guardas policiais da AFL-CIO nos Estados Unidos, da IG Metall na Alemanha, da CGT na França e seus equivalentes em todo o mundo, a AOI-CB está envolvida em inúmeras lutas dentro dos sindicatos, fazendo tudo o que pode para encorajar e fortalecer a rebelião contra o aparato burocrático. Os 5.000 votos de trabalhadores da indústria automotiva em outubro de 2022 recebidos por Will Lehman, o candidato socialista à presidência do UAW, que concorreu com um programa que exigia o estabelecimento do controle dos trabalhadores da indústria automotiva e a obliteração do aparato sindical, testemunham a crescente influência e potencial organizacional e político da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base.

A AOI-CB está criando uma rede mundial para ajudar no desenvolvimento de uma estratégia global e na coordenação tática da luta de classes contra o poder corporativo e a dominação capitalista. Seu objetivo não é pressionar e reformar as burocracias reacionárias, mas transferir toda a tomada de decisões e todo o poder para a base.

A Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) está expandindo seu trabalho para educar os jovens como marxistas, desenvolver sua compreensão da luta travada por Trotsky e a Quarta Internacional contra o stalinismo e todas as formas de oportunismo nacional, voltar-se para a classe trabalhadora e direcionar sua energia inesgotável para a luta pela construção do Partido Mundial da Revolução Socialista.

O World Socialist Web Site, que agora está comemorando 25 anos de publicação diária, está continuamente desenvolvendo a profundidade e o escopo de sua cobertura política e análise da luta de classes, e, com base neste trabalho teórico essencial, expandindo a influência do trotskismo nas lutas da classe trabalhadora internacional.

O ato online global do Dia Internacional do Trabalhador se baseará nessas conquistas e dedicará a celebração deste dia histórico de unidade da classe trabalhadora ao avanço da luta contra a guerra e pela transferência do poder para a classe trabalhadora e a construção do socialismo em todo o mundo.

Referências

[1] Leonhard, Jörn. Pandora’s Box: A History of the First World War. Traduzido por Patrick Camiller. Cambridge, MA: The Belknap Press of Harvard University Press, 2018, pp. 62-63.

[2] North, David. Into the Maelstrom. In: A Quarter Century of War: The U.S. Drive for Global Hegemony 1990-2016, Oak Park: Mehring Books, 2016, p. 277.

[3] Idem

[4] Schwarz, Peter. Former German foreign minister Joschka Fischer declares Ukraine war is “Global power struggle for future world order”. World Socialist Web Site, 4 de abril de 2023. Disponível em: https://www.wsws.org/en/articles/2023/04/05/ijhm-a05.html

[5] Rachman, Gideon. China, Japan and the Ukraine war. Financial Times, 27 de março de 2023. Disponível em: https://www.ft.com/content/9aa4df57-b457-4f2d-a660-1e646f96c8cb

[6] Idem

[7] Trotsky, Leon. War and the Fourth International. In: Writings of Leon Trotsky, 1933-34. New York: Pathfinder, 1975, p. 308.

[8] North, David. After the August Putsch: Soviet Union at the Crossroads. In: Fourth International, Fall-Winter 1992, Volume 19, Number 1, p. 110

[9] Lenin, V.I.. Imperialism and the Split in Socialism. In: Collected Works, Vol. 23.

[10] Trotsky, Leon. The Death Agony of Capitalism and the Tasks of the Fourth International. New York, 1981, p. 8.

[11] Trotsky, Leon. Trade unions in the epoch of imperialist decay. In: Marxism and the Trade Unions. New York: 1973, pp. 9-10.

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