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Perspectivas

O que fazer para derrubar Macron?

Publicado originalmente em 6 de abril de 2023

Enquanto milhões de trabalhadores e jovens protestam hoje contra o presidente francês Emmanuel Macron e sua reforma da previdência, está mais claro do que nunca que a classe trabalhadora está em luta contra o Estado capitalista.

Manifestantes durante um protesto contra a reforma da previdência em Estrasburgo, leste da França, em 7 de fevereiro de 2023. [AP Photo/Jean Francois Badias] [AP Photo/Jean Francois Badias]

Já aconteceram mais de uma dúzia de greves nacionais de um dia nos últimos três meses. No entanto, repetidamente, os trabalhadores têm se deparado com o fato de que estão lutando contra o governo Macron, e que o que tem que ser feito é derrubar Macron.

A experiência amarga tem mostrado que qualquer manifestação chamada com base na perspectiva de pressionar ou convencer Macron a abandonar sua reforma da previdência está fadada ao fracasso. Quando milhões de pessoas protestaram e as pesquisas mostraram que três quartos dos franceses se opunham à reforma, Macron usou seus privilégios presidenciais para aprovar a reforma no parlamento sem uma votação, alegando que ele tinha que manter a França com credibilidade junto aos bancos. Quando protestos em massa eclodiram em toda a França e as pesquisas mostraram que dois terços dos franceses apoiavam uma greve geral contra a reforma da previdência, Macron simplesmente intensificou a repressão policial.

A classe trabalhadora tem o poder de derrubar Macron através de uma greve geral. Entretanto, o maior obstáculo para isso provou ser a burocracia sindical e seus apologistas políticos, que têm trabalhado sistematicamente para esgotar e desorientar os protestos. Eles calculam que quanto mais tempo os protestos continuarem sem um objetivo e uma perspectiva claros, mais trabalhadores concluirão que é inútil se opor a Macron e, em última instância, abandonar a luta.

De fato, após protestos e revoltas espontâneas em massa em toda a França contra a imposição da reforma da previdência de Macron sem uma votação no parlamento, Laurent Berger, dirigente da central sindical Confederação Francesa Democrática do Trabalho, insistiu que os trabalhadores tinham que se submeter à “mediação” com Macron. O objetivo, disse Berger, era evitar a violência. Trabalhadores e jovens rejeitaram unanimemente seus argumentos, bem conscientes de que Macron não tinha intenção de ceder um centímetro em sua reforma.

Ontem, esaa “mediação” prontamente colapsou em seu primeiro dia, quando os ministros de Macron declararam que não alterariam a reforma. Berger declarou educadamente que a França enfrenta “uma crise social que agora se transforma em uma crise da democracia”, e propôs que os trabalhadores participassem de mais um protesto. É possível prever com segurança que milhões marcharão hoje, muitos serão presos ou feridos pela brutal polícia de choque de Macron, e que Macron ainda se recusará a fazer qualquer concessão.

O próprio Macron sabe perfeitamente que os dirigentes sindicais apoiam seu governo e a máquina estatal contra o movimento da classe trabalhadora. Caso contrário, ele não estaria deixando o país para uma visita diplomática à China. Em uma das muitas reuniões e conversas entre o governo e os dirigentes sindicais, um ou outro burocrata sem dúvida disse a um dos ministros de Macron algo como: “Diga a Manu [Emmanuel Macron] que ele pode ir. Não se preocupe, a greve está em mãos seguras.”

Os trabalhadores na França estão enfrentando um desafio que cada vez mais confronta os trabalhadores de todos os países que entram em luta: como derrubar governos capitalistas hostis que estão determinados a esmagá-los.

O Parti de l’égalité socialiste (PES), a seção francesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), defende a construção de comitês de base, independentes das burocracias sindicais, para levar adiante a luta para derrubar o Macron. Em 27 de março, nós escrevemos:

A presidência de Macron, o centro nevrálgico das conspirações financeiras e policiais do Estado contra o povo, deve ser derrubada. Isso só pode ser feito, porém, mobilizando massas de trabalhadores e jovens numa campanha para tirar Macron do poder, abolir os poderes draconianos da presidência francesa e preparar uma greve geral contra Macron. …

Em todos os locais de trabalho e escolas, devem ser aprovadas resoluções exigindo a derrubada de Macron. Isso exige a convocação de assembleias gerais de trabalhadores e jovens em seus locais de trabalho e escolas para debater e adotar essas resoluções, bem como a formação de comitês nos locais de trabalho para compartilhar e divulgar essas resoluções e assim unir a classe trabalhadora contra Macron. Essa mobilização independente da classe trabalhadora, tornando os trabalhadores conscientes de sua militância e força coletiva, criaria condições para uma greve geral para derrubar Macron.

Esta crise está revelando o papel de classe de todas as tendências políticas, especialmente expondo os apologistas políticos das burocracias sindicais entre os partidos pseudoesquerdistas da classe média abastada. Todos esses partidos argumentam que a situação não é revolucionária e que nada pode ou deve ser feito para quebrar os ditames das burocracias sindicais sobre a luta de classes.

Enquanto o pablista Novo Partido Anticapitalista denuncia a oposição “esquerdista” a essas burocracias como “sectária”, o lambertista Partido Operário Independente Democrático (POID) sonha que as burocracias sindicais irão desenvolver uma política “revolucionária”. A Luta Operária exige uma “clara e simples” reversão da reforma de Macron, como se isso pudesse ser conquistado sem derrubar o presidente. O grupo morenista Révolution permanente diz que não haverá uma revolução e que os trabalhadores devem primeiro ter mais experiência com a “democracia representativa burguesa”.

A indignação sentida por essa camada contra os apelos para uma mobilização independente da classe trabalhadora em comitês de base levou Jorge Altamira, líder do grupo de pseudoesquerda Política Obrera (PO) na Argentina, a denunciar o PES. Altamira alega que o PES “sabota qualquer ação dentro dos sindicatos, que considera ‘burguês’”, e que defende “‘generalizar’ a greve”.

Isso é simplesmente um monte de calúnias. O PES intervém nas lutas sindicais de trabalhadores para libertar os trabalhadores do controle político das burocracias sindicais pequeno-burguesas ligadas à máquina capitalista do Estado. Ele não “sabota” as lutas dos trabalhadores, mas expõe os partidos pequeno-burgueses como a PO que intervêm na burocracia para tentar estrangular de maneira mortal a luta de classes.

O PSE, além disso, não está fazendo chamados vagos para “generalizar” a greve, mas um chamado para que a organização independente da classe trabalhadora prepare uma greve geral para forçar Macron a deixar o poder, derrubar seu governo e abolir os poderes exorbitantes da presidência francesa.

O desenvolvimento de tal movimento será um enorme passo adiante.

Essa é a condição essencial para conquistar a demanda mais imediata, atraindo massas de trabalhadores para a luta: a suspensão da desprezada reforma da previdência de Macron. Ela servirá como um imenso impulso para o desenvolvimento da luta de classes em todo o mundo. E servirá de base para uma luta de transferência de poder para órgãos independentes da classe trabalhadora como fundamento de um Estado operário e da reorganização socialista da sociedade.

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