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Primeiro debate presidencial no Brasil: silêncio sobre ameaça golpista de Bolsonaro

Em 28 de agosto, ocorreu o primeiro debate das eleições presidenciais brasileiras, com a participação de cinco candidatos. O debate teve uma inédita presença simultânea do atual presidente fascistoide, Jair Bolsonaro do Partido Liberal (PL), e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT).

Lula e Bolsonaro no debate presidencial em 28 de agosto de 2022 (Crédito: Twitter, @1milhaocom30) [Photo: Ricardo Stcukert and Marcelo Camargo/Agência Brasil]

O impasse histórico enfrentado pela classe dominante brasileira deu um tom histérico do debate. O evento foi dominado por acusações de corrupção nos governos do PT e de Bolsonaro e sobre o comportamento “misógino” do atual presidente. Essa troca de acusações, contudo, expôs o nervosismo de todos as seções do establishment político, incapazes de propor uma saída para a enorme crise econômica, política e social do Brasil.

Na medida em que Lula se sentiu obrigado a falar sobre a resposta indiferente de Bolsonaro à pandemia de COVID-19 e o declínio das condições sociais dos trabalhadores, esses problemas foram reduzidos à simples má gestão e corrupção do governo e do presidente.

As declarações iniciais de Lula sobre uma “guerra contra o atraso educacional deixado pela pandemia” deixaram de incluir o fato de que a pandemia está longe de acabar. Mais de 800 mortes pela COVID-19 ocorrem todas as semanas e o sistema de saúde do país continua sobrecarregado em decorrência da última onda causada pelas subvariantes BA.4/5 da Ômicron.

Tomando os governadores do seu próprio partido como referência, Lula permitirá que milhões de crianças permaneçam nas escolas, indiferente aos riscos de contágio e surgimento de variantes ainda mais transmissíveis e mortais. Apesar de Lula fazer declarações retóricas contra Bolsonaro pela terrível marca de 680 mil mortes por COVID-19 no Brasil, o ex-presidente não indicou qualquer medida significativa contra a pandemia que adotará se eleito.

A realidade é que um eventual governo do PT permitirá a transmissão, adoecimento e mortes em massa sem fim, assim como tem sido feito por todos os governos autoproclamados de “esquerda” na América Latina.

A discussão na segunda parte do debate sobre o atual auxílio financeiro de R$ 600 e a sua continuidade no ano que vem apenas conseguiu destacar que nenhum dos candidatos possui uma resposta para a afirmação particularmente criminosa de Bolsonaro de que “não há fome no Brasil”. Com um enorme número de pessoas sendo lançadas na pobreza, e 350 mil pessoas entrando todos os dias na fila para receber o auxílio desde abril, Lula se limitou a garantir que o auxílio continuaria em 2023.

As acusações cada vez mais exaltadas sobre o “ódio às mulheres” de Bolsonaro durante as três horas de debate contrastaram com o completo silêncio sobre a maior crise da democracia burguesa em quatro décadas. Em particular, ninguém apontou para as declarações golpistas de Bolsonaro de que não aceitará um resultado desfavorável nas urnas em outubro.

Lula não fez qualquer referência aos ataques recentes a comícios do PT, nem ao assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do partido em Foz do Iguaçu, por um declarado bolsonarista no início de julho. Tampouco mencionou as declarações de Bolsonaro enaltecendo as mortais operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro nos últimos meses. Nenhum dos candidatos denunciou Bolsonaro pelo seu cultivo de forças fascistas no aparato policial e militar.

Bolsonaro vem colocando em dúvida os resultados das urnas desde que foi eleito em 2018, quando disputou o segundo turno com o atual candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad. Nos últimos meses, Bolsonaro vem colocando suas declarações na prática, trabalhando em estreita colaboração com seções no alto escalão do Exército. Seu ministro da Defesa, o General Paulo Sérgio de Oliveira, atacou reiteradamente o Tribunal Superior Eleitoral, contrapondo ao voto digital a emissão de uma “votação paralela” com voto impresso.

Na realidade, os representantes da elite dominante presentes no debate não podiam atacar os esforços de Bolsonaro para dar um golpe e estabelecer um regime autoritário porque eles próprios tem tido um papel decisivo em esconder os riscos e acomodar os militares e as forças sociais reacionárias que apoiam o presidente fascistoide.

A rádio CBN noticiou que a campanha de Lula se reuniu em agosto com oficiais do alto escalão militar, que declararam sua oposição a um golpe não por sua defesa da democracia, mas pelo “preço do desgaste que geraria um eventual golpe de Estado”. O PT respondeu assegurando aos oficiais que quaisquer alterações em cargos comissionados aconteceriam sob a tutela dos próprios militares. A reunião aconteceu apenas alguns meses após Lula declarar que iria “tirar quase 8 mil militares” de cargos no governo caso eleito.

Há três meses, institutos militares de ultradireita, com o apoio do vice-presidente Hamilton Mourão e das agências de inteligência, lançaram o documento “Projeto de Nação, O Brasil em 2035”, apresentando um plano para eliminar toda a oposição política e consolidar uma ditadura no Brasil até a próxima década. Os desafios à burguesia nacional listados por esse manifesto militar fascistoide não divergem essencialmente do que o próprio PT se propõe a enfrentar em sua oposição a Bolsonaro: o alegado isolamento diplomático e a fraqueza geopolítica do Brasil, e incapacidade do atual presidente de manter a “segurança interna”.

Além de acomodar cada avanço dos militares, a coalizão do PT está respondendo às ameaças de Bolsonaro promovendo ela mesmo o fortalecimento do repressivo aparato de Estado. Depositando toda a responsabilidade por combater as ameaças fascistas de Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), o PT está acobertando os crescentes ataques autoritários do próprio STF, incluindo a censura dos apoiadores de Lula do Partido da Causa Operária (PCO).

O debate ocorreu faltando dez dias para as manifestações fascistas convocadas pelo presidente para o Dia da Independência no dia 7 de setembro, e a um mês do primeiro turno das eleições. Enquanto seus ditos opositores de “esquerda” faziam promessas de um reerguimento do decadente capitalismo brasileiro, Bolsonaro encerrou o debate com uma declaração anticomunista raivosa.

Fazendo referência às suas afirmações de que está em uma “luta do bem contra o mal”, ele disse: “Desculpem os demais candidatos, mas as eleições estão polarizadas. Quem o ex-presidiário [em referência a Lula] apoiou no passado?”. Ele então listou governos autoproclamados de “esquerda” na América Latina, entre eles o de Hugo Chávez na Venezuela, de Alberto Fernández na Argentina e de Gabriel Boric no Chile. Ele depois atacou o vice de Lula, Geraldo Alckmin, segundo ele “um homem religioso, católico, mas que resolveu cantar a Internacional socialista”.

Apesar da falsa equivalência entre os governos da chamada “Maré Rosa” e o socialismo, o discurso fascistoide de Bolsonaro apela aos crescentes setores da classe dominante brasileira que temem uma explosão social que se encaminhe para uma revolução socialista.

As eleições no Brasil ocorrem em meio a uma situação explosiva, em que a classe trabalhadora atravessa o terceiro ano da pandemia sem fim à vista e vivencia o aumento dos preços de alimentos e combustíveis conforme as potências imperialistas dos EUA e da OTAN arriscam uma guerra nuclear com a Rússia e a China.

Diante de um enorme ascenso da luta de classes internacional, com sua expressão mais intensa na expulsão do presidente Rajapakse do Sri Lanka, a classe dominante no Brasil está se preparando para responder com a repressão de toda a oposição política. É preciso que a classe trabalhadora brasileira e internacional se oponha a essa política reacionária com o programa internacionalista e socialista do Comitê Internacional da Quarta Internacional contra a guerra imperialista, a pobreza e a desigualdade e a ditadura.

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