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Novas burocracias sindicais ou poder operário independente?

As lições da rebelião dos trabalhadores de Matamoros – Parte 2

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Publicado originalmente em 29 de março de 2019

Primeira onda: Prieto isola os trabalhadores de Matamoros e salva o sindicato de Villafuerte

Apenas dois dias depois, entre 9 e 10 de janeiro, os trabalhadores de maquiladoras de Matamoros da Polytech, Dura, Autoliv, Cedros e AFX Industries – todos afiliados ao SJOIIM – deram início a paralisações parciais do trabalho em resposta ao não pagamento de seus bônus que normalmente recebiam. Os trabalhadores começaram a pressionar os delegados sindicais e a questionar o contrato coletivo, e então a administração alegou que o aumento do salário mínimo de AMLO implicava na perda dos bônus dos trabalhadores. Enquanto isso, Juan Villafuerte, líder do SJOIIM, disse que os trabalhadores não tinham direito a ter seus salários dobrados.

Trabalhadores da AFX Industries entram em greve em 10 de janeiro

No dia 11 de janeiro, trabalhadores da Edemsa, APTIV, Parker, Autoliv e outras fábricas também realizaram paralisações parciais, enquanto uma assembleia massiva foi organizada pelas redes sociais para a manhã seguinte. Uma operária do setor de autopeças da Trico Componentes, Delfina Martínez, disse a repórteres que o aumento federal do salário mínimo “era um pretexto para a fábrica não nos pagar o que normalmente recebíamos em janeiro”.

Cerca de 2.000 trabalhadores se reuniram na praça principal às 9h do dia seguinte. No local e em reuniões nas portas das fábricas, os trabalhadores elegeram representantes de base em cada planta para representá-los nas negociações e para organizar uma greve, mesmo onde os delegados sindicais afirmavam estar “do lado dos trabalhadores”.

Na internet e nessas reuniões iniciais, o sentimento de abandonar o sindicato era quase unânime, com alguns argumentando que “não precisamos do sindicato para negociar”. Assim que foram capazes de se comunicar democraticamente, depois de décadas bloqueados pelo sindicato, os trabalhadores começaram a levantar suas próprias reivindicações, incluindo um aumento salarial de 100%, um retorno à semana de 40 horas, o bônus de 32.000 pesos, a eliminação das contribuições sindicais de 4% dos salários, o “fim das demissões”, entre outras questões. Os trabalhadores insistiam continuamente que o aumento e os bônus eram “vitórias” que precisavam ser defendidas.

Diante da revolta dos trabalhadores que invadiram as sedes do sindicato, Villafuerte concordou no sábado, 12 de janeiro, em negociar um aumento de 20% e o valor total do bônus, mas mandou os trabalhadores adiarem qualquer greve até a quarta-feira.

Massas de trabalhadores entram no sindicato para enfrentar Villafuerte

Desafiando a direção, os trabalhadores, começando pelo comitê de base na Autoliv, arrecadaram dinheiro para comprar suas próprias bandeiras vermelhas e pretas – o símbolo tradicional de greve no México –, pendurando-as nos portões. As greves selvagens se espalharam pelas 48 fábricas em poucas horas, seguidas por uma disputa árdua para convencer os colegas de todos os turnos a aderirem ao movimento grevista.

Os trabalhadores então organizaram nas redes sociais uma assembleia massiva na praça para a tarde de quarta-feira, 16 de janeiro, para se livrarem do sindicato. No dia da assembleia, o SJOIIM não iniciou a greve, apenas publicando um “emplazamiento” ou “aviso de greve”, que exige legalmente que uma greve se inicie seis a dez dias depois de seu anúncio.

Centenas de trabalhadores de autopeças da Tridonex, que é afiliada a outro sindicato, iniciaram uma greve naquele dia com uma declaração que dizia: “Hoje temos uma oportunidade única que nunca mais teremos, todos nós trabalhadores discordamos das injustiças do sindicato e das contribuições que nos tiram semanalmente, hoje podemos lutar por uma mudança juntos”.

Entre os dias 11 e 15 de janeiro, mais de 3 mil trabalhadores de maquiladoras realizaram greves selvagens na Levolor, em Agua Prieta, e na Stewart Connector Systems, em Cananea – ambas cidades fronteiriças no estado de Sonora, a poucos quilômetros de Tucson, no Arizona.

A mídia empresarial mexicana e internacional respondeu às greves com um silêncio praticamente total, temendo que as greves se espalhassem e se unificassem.

Na noite de quarta-feira, alegando ter sido convidada pelos trabalhadores pelas redes sociais, Susana Prieto chegou a Matamoros e tomou o controle do palanque na assembleia de massas. Em uma de suas primeiras declarações, ela alertou que “98% do que está nas redes sociais é falso”. Até então, o World Socialist Web Site havia publicado dois artigos sobre a greve, em 15 e 16 de janeiro, que estavam sendo compartilhados e acessados no Facebook por milhares de trabalhadores em greve em meio ao bloqueio midiático. Um desses artigos alertava: “Os trabalhadores mexicanos em greve não devem perder a iniciativa depositando sua confiança em qualquer político, no sindicato ou naqueles que dizem falsamente que essa organização corrupta pode ser ‘reformada””.

Assembleia de massas na praça principal em 16 de janeiro

Os artigos do WSWS também incluíam chamados feitos pelos trabalhadores da Tridonex e da Autoliv para uma luta internacional junto aos trabalhadores estadunidenses e canadenses, acompanhados de uma mensagem de trabalhadores de autopeças dos EUA propondo aos trabalhadores mexicanos que “lutassem juntos como uma força unida global”.

Neste momento crucial, Prieto denunciou o SJOIIM e defendeu as greves selvagens nas 48 fábricas do SJOIIM, com declarações supostamente radicais como “é hora de tomar uma decisão” e “onde há um trabalhador, há um líder”.

Ela alegava, então, que AMLO “não queria ele mesmo ferrar os sindicatos, mas esperava que vocês fizessem isso”. No entanto, ela concluiu: “Esse movimento que vocês fizeram já foge do controle de Villafuerte. Vocês se organizaram por conta própria. Mas é por isso que eles têm tanto poder, porque não se pode ter uma greve autorizada se não for através de um sindicato... Companheiros, vocês precisam pressionar, em primeiro lugar, o sindicato. Vocês não podem se livrar de Villafuerte por enquanto.”

Em outras palavras, qualquer suposto apoio às greves selvagens tecnicamente ilegais, com Prieto chegando a marchar com os trabalhadores nos dias seguintes para convocar todos os turnos a se unirem à greve, foi uma manobra para impedir que se organizassem fora do sindicato.

Em 17 de janeiro, milhares de trabalhadores das maquiladoras da Kemet e da APTIV (antiga Delphi Automotive, divisão de peças subsidiária da General Motors) na Ciudad Victoria, capital do estado de Taumalipas, foram inspirados pela greve de seus companheiros a 320 km a nordeste, em Matamoros, e entraram em greve exigindo um aumento de 30%. Naquele dia, uma equipe de repórteres do WSWS foi até a fábrica da GM em Detroit-Hamtramck e em várias fornecedoras de autopeças em Michigan, nos EUA, para discutir a rebelião de Matamoros. Sally, uma trabalhadora estadunidense, declarou: “Precisamos nos unir! Sigam firmes”. O WSWS também publicou declarações de apoio de trabalhadores de autopeças de Ontário, no Canadá.

Um trabalhador da Easy Way em Matamoros fez um apelo através do WSWS aos trabalhadores de toda a América do Norte: “Juntos, podemos derrotar todos esses exploradores que enriqueceram graças à escravidão em que vivemos.”

Prieto, por outro lado, defendeu Villafuerte integralmente numa assembleia massiva em 17 de janeiro do lado de fora da sede do SJOIIM, alegando que os trabalhadores eram “cretinos” e “ignorantes” por denunciarem Villafuerte após ele ter emitido o aviso de greve.

Villafuerte recebe apoio de Prieto (Crédito: AquiMatamoros, 17 de janeiro)

No dia 18, centenas de trabalhadores da APTIV em Reynosa, no estado de Tamaulipas, a apenas 88 km de Matamoros, foram demitidos por exigirem um aumento de 100%.

Naquela manhã, Prieto voltou de avião para Ciudad Juárez passando pela Cidade do México, supostamente para participar da manifestação que ela convocara para o dia 19. Tendo viajado milhares de quilômetros e entrado em contato com trabalhadores do outro lado da fronteira que enfrentavam a mesma conspiração das empresas e do governo Morena, Prieto não realizou nenhum esforço sério para unir essas lutas.

Ao invés disso, Prieto organizava delegações de trabalhadores para irem à Cidade do México e Monterrey se reunirem com burocratas sindicais. Não há explicação inocente para isso: assim como em 2016, ela trabalhava para isolar as lutas e mantê-las presas ao aparato sindical ligado ao Estado e ao imperialismo.

Ao longo das duas últimas semanas de janeiro, o WSWS publicou 12 artigos diferentes com declarações de trabalhadores dos EUA, Canadá, México e Europa expressando apoio a uma luta conjunta independente dos sindicatos – uma média de um artigo por dia. Em 19 de janeiro, o WSWS alertou sobre o posicionamento de Prieto: “Apesar das advertências de que é o único caminho ‘legalmente permitido’, ele inevitavelmente levará a um compromisso entreguista com as empresas e a uma traição do sindicato, que abandonará os trabalhadores assim que as empresas e as autoridades do Estado se vingarem, contra-atacando os trabalhadores mais combativos”.

Com Prieto fora da cidade, ao invés de o movimento ter “desmoronado”, como ela afirmou posteriormente, os trabalhadores tomaram medidas para desenvolver as iniciativas de base e ampliar seus chamados de classe. Em 18 de janeiro, o comitê de trabalhadores da Parker fez um chamado do lado de fora da sede do SJOIIM: “enviem dois representantes de cada maquiladora para estarem presentes como comitê” para discutirem ações futuras. Várias fábricas enviaram um comitê naquela noite.

No dia seguinte, trabalhadores de maquiladoras ligados a outros sindicatos, incluindo a Avances Científicos, Varel, Sliding, Fisher Dynamics e outras, entraram em greve exigindo o 20/32. Dezenas de trabalhadores foram rapidamente demitidos, enquanto o líder do Sindicato Industrial de Trabajadores en Plantas Maquiladoras y Ensambladoras de Matamoros e su Municipio (SITPME), Jesús Mendoza Reyes, defendeu as demissões, chamando os grevistas de “criminosos” e enviando policiais e capangas para ameaçar os piquetes.

Em 19 de janeiro, o WSWS publicou pela primeira vez o relato de um trabalhador estadunidense da fábrica da Ford em Flat Rock, Michigan, avisando que a produção estava sendo interrompida devido à falta de peças causada pela greve no México. Relatos semelhantes nos dias e semanas seguintes de trabalhadores dos EUA e Canadá foram posteriormente confirmados por outros meios de comunicação.

Passeata em 20 de janeiro. Trabalhadores seguram uma faixa com a frase: “O sindicato e a empresa matam a classe trabalhadora”

No domingo, 20 de janeiro, os trabalhadores organizaram eles mesmos uma manifestação massiva pela cidade atrás de uma faixa com a frase: “Sindicato e empresas matam a classe trabalhadora”. O objetivo deles era convocar os trabalhadores de todo o México a se juntarem a eles em um “Dia Sem Trabalhadores” na segunda-feira, 21 de janeiro. O chamado foi ampliado internacionalmente na segunda-feira, quando dezenas de milhares de trabalhadores de diferentes sindicatos e setores, estudantes e jovens marcharam na maior manifestação da rebelião até aquele momento em direção à ponte internacional com Brownsville, no Texas. Carregando cartazes com frases como “O dia de hoje vai entrar na história do movimento dos trabalhadores, todos se levantem”, os trabalhadores gritaram para os trabalhadores dos EUA: “Gringos, acordem!”.

Sem Prieto para intervir naquele dia, o prefeito Mario López foi obrigado a se dirigir à multidão assim que ela chegou à praça para defender o “direito” das empresas de protegerem seus lucros. Depois de ele ser vaiado, um dirigente do Sindicato Minero de Tamaulipas, Javier Zúñiga García, interveio. “Vamos dar ao nosso prefeito nossa confiança”, ele disse, “temos que continuar confiando em nossas instituições. Se Villafuerte ou Mendoza vierem, eles terão os mesmos direitos que o prefeito.”

Em um momento em que capangas do sindicato, policiais estaduais e federais, além de soldados da Marinha, estavam assediando os piquetes, surgiram relatos de que os trabalhadores haviam formado seu próprio comitê de defesa para a proteção dos grevistas.

Trabalhadoras em 21 de janeiro com uma faixa com a frase: “Trabalhadores unidos fazendo história”

Os trabalhadores também informavam ao WSWS que seus artigos estavam sendo “lidos por todos” e até apareceram em negociações com as empresas. Vendo seu poder de parar a produção em todo o continente, de se organizar de forma independente e de chamar os trabalhadores em nível internacional, os trabalhadores estavam tirando conclusões revolucionárias. Na noite de 21 de janeiro, um trabalhador da Dura Automotive, numa entrevista publicada três dias depois pelo WSWS, disse: “Eu gostaria que toda a classe trabalhadora do mundo se levantasse contra as empresas que os mantêm reprimidos, cansados, que os mantêm pobres para continuarem tendo mão de obra barata à sua disposição”.

No dia 22 de janeiro, a principal organização empresarial do país, o Conselho de Coordenação Empresarial (CCE), pediu a AMLO sua “intervenção, já que este momento de instabilidade que o setor trabalhista e empresarial enfrenta em Matamoros pode trazer consequências irreversíveis para a economia da região”. Mais tarde naquela manhã, Villafuerte disse que “nos unimos a esse pedido” a AMLO.

Com o movimento de greve ameaçando sair ainda mais fora de controle, Prieto retornou e novamente monopolizou o microfone em outra assembleia massiva naquele dia. Suas palavras e ações precisam ser digeridas para seu significado ser compreendido. “Precisamos do governo federal”, ela afirmou, repetindo os apelos dos líderes empresariais, antes de convidar um jornalista local, Mario Ramos, para falar. Depois de pedir aos trabalhadores que desconfiassem das publicações nas redes sociais, ele lançou um ataque de 15 minutos contra o socialismo. “Esse movimento não é comunista nem socialista porque não me parece que vocês queiram manchar o movimento pacífico se vocês forem socialistas ou comunistas”, disse ele.

Susana Prieto e Mario Ramos discursam aos trabalhadores sobre os males do socialismo enquanto os trabalhadores riem

Então, Ramos admitiu: “Sou capitalista, gosto de dinheiro”. Prieto acenou com a cabeça e disse: “eu também”. Os trabalhadores riram e gritaram para Ramos sair do palanque. Quando ele perguntou se poderia falar mais tarde, a multidão respondeu com um uníssono “Não!”.

Em uma coletiva de imprensa na manhã do dia seguinte, 23 de janeiro, AMLO respondeu ao apelo do CCE e de Prieto e se pronunciou sobre a greve de Matamoros: “Parece que os trabalhadores se rebelaram contra suas lideranças sindicais e a situação saiu fora de controle. Embora não seja um assunto diretamente nosso interferirmos na vida dos sindicatos, devemos ser respeitosos se estivermos buscando o acordo e a conciliação para resolver este assunto.”

Em outras palavras, a situação devia ser colocada novamente sob o controle dos sindicatos. De acordo com um artigo de 1º de fevereiro da Associated Press, líderes empresariais relataram que, longe de ter tomado uma atitude de “não-intervenção”, o governo Morena “ativamente pressionou o sindicato de Matamoros para não buscar o aumento salarial”.

Prieto, no entanto, respondeu ao discurso de AMLO tentando confundir os trabalhadores, dizendo: “Eu não acho que o governo federal discorde do que estamos fazendo”. Então, quando os trabalhadores apresentaram queixas sobre o governo AMLO e os sindicatos, ela novamente afirmou: “Não sigam qualquer lixo que vocês leem nas redes sociais”, e ironicamente denunciou os trabalhadores por terem “opinionitis”. Isso foi interpretado pelos trabalhadores como um ataque ao WSWS.

Em 24 de janeiro, a Polytech foi a primeira empresa a concordar com a reivindicação 20/32. Desconfiados do sindicato, trabalhadores da maioria das fábricas pediram a Prieto que desse sinal verde sobre a validade legal de cada novo contrato.

Mais algumas fábricas concordaram com o 20/32, pouco antes e depois de entrar em vigor o aviso de greve do SJOIIM, às 14h da sexta-feira, 25 de janeiro, o que tornava a greve “legal” nessas fábricas. Às 13h, entretanto, o subsecretário federal do trabalho, Alfredo Domínguez Marrufo, e o representante federal do estado de Tamaulipas, José Ramón Gómez Leal, realizaram uma coletiva de imprensa como enviados diretos de AMLO a Matamoros e pediram sem sucesso por um “adiamento de dez dias ou mais... para evitar uma greve que poderia levar a consequências inesperadas”.

Naquela manhã, Prieto visitou várias fábricas, apelando aos trabalhadores para que não impedissem as empresas de levar máquinas embora e que estivessem prontos para cumprir uma ordem do SJOIIM de adiar a greve. “Este não é o momento para brigar com seus delegados [sindicais]... os delegados não são mais que trabalhadores como vocês com uma licença para lhes representar”, ela afirmou. Com o destino do SJOIIM e de sua liderança ainda em jogo, Villafuerte não tentou adiar a greve.

A salvação do SJOIIM, cuja responsabilidade é exclusivamente de Prieto, permitiu que a mídia empresarial internacional começasse a noticiar os acontecimentos de Matamoros omitindo a rebelião da base contra os sindicatos, que a classe dominante temia que se espalhasse. Depois de um silêncio total de duas semanas, a Associated Press publicou, em 26 de janeiro, um artigo que deu o tom para as demais publicações, citando com destaque: “O líder do sindicato, Juan Villafuerte, agradeceu aos membros do sindicato que aguentaram do lado de fora na chuva e no frio, comentando que ‘esperamos concluir em breve essa ação dos trabalhadores’”.

O sentimento generalizado entre os trabalhadores era ainda a favor de se organizarem independentemente dos sindicatos, tanto antes como depois das empresas concordarem com o 20/32. Depois que a greve se tornou “legal”, um trabalhador da Autoliv disse ao WSWS: “Eu acho que, de fato, os comitês independentes são muito mais úteis do que o sindicato, porque temos nos perguntado: ‘essa é a proposta, o que faremos?’ – coisa que o sindicato nunca fez”. O WSWS alertou que Prieto estava “marginalizando o trabalho que os comitês de base têm feito ao comunicarem-se democraticamente com os colegas de trabalho e decidirem os passos a serem dados”.

Autoridades trabalhistas anunciaram que 13 fábricas de autopeças foram colocadas pelo NAFTA sob autoridade federal, o que significava que o aviso de greve registrado através do conselho local era inválido. No sábado, 26 de janeiro, e no início da manhã de domingo, a administração de AMLO fez com que o líder do Morena no Senado, Ricardo Monreal Ávila, ligasse para Villafuerte e Prieto exigindo que encerrassem a greve.

Em 27 de janeiro, Villafuerte disse aos trabalhadores da Autoliv que Monreal havia lhe dado ordens do governo federal para comunicar a existência de uma ameaça da polícia estadual dissolver violentamente os piquetes. Prieto chegou neste momento, ao mesmo tempo que conversava por telefone com Monreal, avisando-o de que ele estava no viva-voz. O senador disse: “Não vamos permitir que a economia do estado e do município caia. O processo criminal [contra os trabalhadores] já está no Gabinete do Procurador-Geral. Eu entendo que está só no começo, mas espero que eles sejam parados e processados”.

Percebendo que Monreal não só havia revelado a repressão federal contra os trabalhadores de Matamoros, mas mais amplamente o caráter anti-operário da administração Morena, Prieto começou a chorar e tentou acobertar freneticamente seus próprios rastros gritando que apoiou “Andrés Manuel López Obrador porque eu acreditei que nele, porque acreditei que acabaria com a corrupção, mas eu fui ingênua. Há muitos interesses envolvidos!”. Quando o vídeo do incidente se espalhou, Monreal publicou uma declaração afirmando que aquela não era sua voz.

No dia seguinte, Prieto contou aos repórteres que Monreal também havia dito: “Eu falo em nome de nosso amigo Andrés Manuel… As maquiladoras precisam abrir na segunda-feira. Como os trabalhadores confiam em você, convença-os a suspender a greve”. Ela respondeu dizendo que os trabalhadores a “linchariam” se ela apresentasse tal proposta.

Aos prantos após ligação com Monreal, Prieto fala com Villafuerte e representante da CTM (ao centro)

Ao verem que a administração AMLO não apoiava sua luta, os trabalhadores chamaram com maior determinação a seus irmãos e irmãs internacionalmente para que apoiassem sua luta. “Pedimos o seu apoio para sermos ouvidos ao redor do mundo em um grito desesperado, pois nossa economia está nas mãos de alguns poucos, ameaçando a nossa integridade com a força do Estado”, declarou Rosalinda, uma trabalhadora em greve na Kearfott, que produz sistemas de navegação para os militares dos EUA e outros clientes.

Em 29 de janeiro, o WSWS chamou os trabalhadores a não permitirem que Prieto e o sindicato os enviassem “de volta ao trabalho”, acrescentando: “Com o apoio do sindicato e do governo, as empresas tentarão, na primeira oportunidade, arrancar de volta as concessões oferecidas, da mesma forma como quando eliminaram seus bônus”. O WSWS publicou uma declaração intitulada “Defender os trabalhadores de Matamoros! Por uma luta unificada entre os trabalhadores dos EUA, Canadá e México para defender empregos e condições de vida decentes!”, que foi escrita pelo Comitê Diretor da Coalizão de Comitês de Base, composto por trabalhadores dos EUA lutando para unificar suas lutas internacionalmente e de forma independente dos sindicatos e do establishment político.

Continua.

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