Publicado originalmente em inglês em 8 de março de 2025
Toda grande potência europeia está acelerando um frenético programa de rearmamento militar.
A União Europeia está disponibilizando 800 bilhões de euros (cerca de 5 trilhões de reais). A Alemanha anunciou centenas de bilhões adicionais em gastos com defesa, mesmo antes do novo governo liderado pela CDU de Friedrich Merz tomar posse.
A França está planejando dobrar os gastos militares anuais, com o presidente Macron propondo alcançar 5% do PIB. Ele declarou sua disposição de colocar aliados europeus sob o guarda-chuva nuclear da França.
O Reino Unido, liderado pelo governo trabalhista de Keir Starmer, está propondo enviar “tropas britânicas ao solo e aviões ao ar” da Ucrânia, como parte de uma “coalizão dos dispostos” em aliança com a França e outras potências.
Todo partido político e grande veículo de imprensa está promovendo mentiras que justificam essa explosão de militarismo, afirmando um imperativo moral de defender a democracia ucraniana e todo o continente da agressão russa e, ainda mais absurdamente, do risco da invasão.
Em um discurso televisionado à nação, Macron declarou que “a paz não pode mais ser garantida em nosso próprio continente… A Rússia se tornou e continuará sendo uma ameaça à França e à Europa”.
A verdadeira motivação das potências europeias é sua constatação de que a política externa do “America First” (“EUA em primeiro lugar”) de Trump, suas discussões unilaterais com a Rússia e suas exigências de acesso exclusivo aos recursos da Ucrânia ameaçam cortá-las dos espólios da guerra da OTAN.
O conflito na Ucrânia foi preparado por uma campanha conjunta europeia-americana de desestabilização, visando trazer esse país para as garras da OTAN e da União Europeia e ser a ponta-de-lança da mudança de regime em Moscou que abriria os ativos substanciais da Rússia ao imperialismo mundial.
Como representante da oligarquia capitalista da Rússia, o governo Putin não conseguiu responder a essa ameaça de outra forma senão pela invasão reacionária da Ucrânia, tal como as potências da OTAN previam.
Se Trump tivesse acordado uma preservação dos interesses da Europa em suas discussões com Putin, Berlim, Paris e Londres teriam buscado um entendimento com Washington, como demonstrado pelas constantes tentativas de Starmer e Macron de abrir diálogo com o fascista na Casa Branca.
Em meio à onda de hipocrisia desencadeada para justificar seu rearmamento, a Europa está desesperadamente buscando reviver o “Memorando de Entendimento entre a União Europeia e a Ucrânia sobre uma Parceria Estratégica em Matérias-Primas” de julho de 2021, como base para seu apoio contínuo ao regime de direita de Zelensky.
Este memorando foi descrito no mês passado pelo Comissário Europeu para a Estratégia Industrial, Stéphane Séjourné, como fornecendo “vinte e um dos 30 materiais críticos de que a Europa precisa” como parte de uma “parceria de ganho mútuo”. De fato, a Europa depende muito mais da aquisição dos minerais estratégicos da Ucrânia do que os Estados Unidos, com atualmente ela dependendo quase que exclusivamente da China para seu fornecimento.
Reconhecendo esses interesses reais, um “diplomata de um grande país europeu”, falando anonimamente à BBC, comentou sobre o fim da ajuda militar de Trump à Ucrânia: “Certamente é uma forma de dar foco a nossas mentes – e nossos bolsos! Donald Trump está nos fazendo um favor, se escolhemos pensar assim”.
Os perigos colocados para a classe trabalhadora europeia e internacional são incalculáveis. Colocar tropas europeias em solo e aviões no ar sobre a Ucrânia, e até mesmo estender um guarda-chuva nuclear francês à Alemanha e outros aliados, são a verdadeira fonte do perigo de guerra na Europa.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, comentou sobre as bravatas de Macron: “Se ele nos consideram uma ameaça, convoca uma reunião dos chefes de Estado-maior dos países europeus e do Reino Unido , diz que é necessário usar armas nucleares, prepara-se para usar armas nucleares contra a Rússia, isso é, claramente, uma ameaça”.
Enquanto as potências europeias falam sobre o fim da “ordem internacional baseada em regras” e culpam Trump por isso, elas estão se preparando para voltar a buscar seus próprios interesses imperialistas pela força das armas. Elas estão agora plenamente cientes de que fazê-lo envolve conflito não apenas com a Rússia, mas com o imperialismo americano.
A Alemanha, que está liderando a campanha de rearmamento, lutou duas guerras no século XX contra os EUA. A França nunca aceitou sua subordinação a Washington através da OTAN, incluindo a insistência em uma capacidade nuclear e estruturas de inteligência militar independentes. O Reino Unido torceu o nariz contra isso. Seções significativas da elite dominante nunca perdoaram os Estados Unidos por imporem a subordinação a seus ditames após a crise de Suez em 1956.
A magnitude das ambições da Europa fica clara com as vastas somas que estão sendo preparadas para fins militares, que vão muito além do que é necessário para os esforços alegadamente pretendidos para policiar um eventual acordo de paz na Ucrânia. A guerra contra a Rússia sob os próprios auspícios da Europa está em discussão.
Além disso, enquanto essa agenda fornece um impulso inicial de unificação, sua implementação deve inevitavelmente intensificar a competição e os conflitos entre as próprias potências europeias.
A questão candente para milhões de trabalhadores e jovens é como impedir essa corrida insana à catástrofe. Isso é impossível confiando em qualquer um dos partidos de oposição da Europa, sejam da direita ou da esquerda nominal, ou nos sindicatos.
Assim como nos Estados Unidos, onde o único desacordo substancial do Partido Democrata com Trump é sobre a continuidade da guerra por procuração na Ucrânia e seu desmantelamento da OTAN, todos os grandes partidos na Europa apoiam a agressão intensificada contra a Rússia e o impulso por uma independência militar em relação aos Estados Unidos. Isso é perseguido como um objetivo estratégico, seja sob o Partido Trabalhista de Starmer, o presidente Macron ou qualquer que seja o governo de coalizão que surgir na Alemanha.
A única preocupação dos sindicatos da Europa é como melhor apoiar sua própria classe dominante na escalada da guerra comercial e militar da Europa, incluindo o apoio a medidas protecionistas contra os EUA e a China e a rápida expansão das indústrias nacionais de defesa.
Os trabalhadores e jovens devem responder com seu próprio apelo à ação, comprometendo-se a travar uma guerra contra a guerra.
Isso precisa se ancorar em uma compreensão das vastas implicações do que está em andamento. Todas as alegações de que a guerra na Europa é coisa do passado, relegada ao século XX, foram expostas como uma fraude. O militarismo europeu, apresentado como um vulcão adormecido, está mais uma vez entrando em erupção, colocando em risco catástrofes ainda maiores do que aquelas que custaram dezenas de milhões de vidas nas duas guerras mundiais.
O programa de guerra é completamente incompatível com formas de governo até mesmo nominalmente democráticas. As elites dominantes estão mais uma vez recorrendo a um programa de fascismo e ditadura para impor políticas militaristas que são opostas pela vasta massa da população.
As vastas somas dedicadas a armas de guerra significam um ataque à classe trabalhadora mais profundo do que em qualquer momento nos últimos 80 anos. Em condições em que greves, ações nos locais de trabalho e protestos já estão crescendo, isso provocará lutas massivas da classe trabalhadora.
A luta contra a austeridade precisa se fundir com a luta contra a guerra. Ambas só podem avançar por meio de um ataque frontal contra a oligarquia dominante, cujos interesses vorazes ditam o programa de guerra no exterior e a guerra de classes interna.
Por décadas, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) soou o alarme, alertando que um novo período de guerra imperialista estava em andamento. Esses avisos foram plenamente confirmados. Eles devem ser colocados em prática. Isso significa construir um movimento unificado da classe trabalhadora em toda a Europa e internacionalmente, com base no programa socialista e revolucionário que é o único caminho para parar a guerra e sua fonte, o próprio capitalismo.