Publicado originalmente em inglês em 7 de março de 2025
Os protestos em defesa da ciência nos EUA que ocorrem hoje marcam um desenvolvimento significativo na crescente oposição ao governo fascista de Trump. Milhares de cientistas, trabalhadores, profissionais, estudantes e jovens organizaram manifestações em Washington e em mais de 100 outros lugares nos Estados Unidos, Canadá e Europa para se opor aos ataques de Trump contra a ciência e os direitos democráticos.
O Partido Socialista pela Igualdade saúda essas manifestações. Fazemos um chamado pela ampla mobilização da classe trabalhadora e pela expansão dos protestos internacionalmente. Deve acontecer uma luta global contra a destruição de programas críticos de saúde pública, assim como a infraestrutura que monitora o clima e o tempo do planeta, a saúde dos lagos, rios, florestas e campos, peixes e vida selvagem, entre outros.
Esse ataque está sendo liderado pelo bilionário fascista Elon Musk em nome da melhoria da “eficiência governamental”, uma linguagem orwelliana para erradicar todas as limitações à acumulação de riqueza pela oligarquia corporativa.
Trump e Musk estão mirando especialmente todos os aspectos da saúde pública, já cortando mais de 5 mil empregos em todas as 13 unidades do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS). Seu principal agente é o Secretário do HHS, Robert F. Kennedy Jr., que incorporou o total repúdio à ciência e ao progresso.
Um dos mais notórios agentes de desinformação e charlatanismo antivacina, sem qualificações relevantes em saúde, Kennedy supervisiona hoje o que antes eram as principais agências de saúde pública mundiais. Ele é responsável por lidar com várias crises de saúde, incluindo a pandemia de COVID-19 ainda em vigor, uma temporada de gripe catastrófica que já matou 20 mil americanos neste inverno, a crescente ameaça de uma pandemia de “gripe aviária” H5N1 e o pior surto de sarampo nos EUA em mais de uma década. Com esse voraz oponente à ciência no comando do HHS, os perigos que ameaçam a população americana e mundial não podem ser subestimados.
Entre os ataques mais significativos à ciência realizados apenas nas primeiras seis semanas do governo Trump estão:
- A saída da Organização Mundial da Saúde e de qualquer forma de colaboração internacional para combater vírus e doenças que não respeitam fronteiras;
- A negação da realidade da mudança climática e tentativa de proibir qualquer discussão sobre o papel das grandes corporações e da indústria de combustíveis fósseis em causá-la;
- A implementação de congelamentos de financiamento que afetam a pesquisa científica em várias agências e universidades, incluindo o corte de bilhões em financiamento para os institutos nacionais de saúde;
- A demissão de aproximadamente 5 mil trabalhadores da agência de proteção ambiental, do serviço nacional de parques e do serviço florestal;
- A manipulação de relatórios vitais dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para encobrir a ciência relacionada à gripe aviária, enquanto impõe uma ordem de silêncio em toda a saúde pública e outras agências federais;
- A ameaça de desmontar completamente o departamento de Educação.
Todas essas medidas terão vastas repercussões no mundo real para a classe trabalhadora americana e internacional. Cumulativamente, elas representam características ideológicas típicas da política de extrema direita: desprezo pela ciência, pela educação, pela saúde pública, pelo materialismo filosófico e pelo legado progressista do Iluminismo. O programa ultranacionalista “America First” (“EUA em Primeiro Lugar”, em tradução livre) do governo é inerentemente hostil à colaboração científica internacional, que é essencial para enfrentar desafios globais como a mudança climática e a prevenção de pandemias.
A luta por uma compreensão científica da natureza e da sociedade deve rejeitar todas as tentativas de dividir os seres humanos em raças, um construto social promovido pela elite dominante capitalista para suprimir a oposição social. Isso requer uma rejeição explícita aos ataques bipartidários contra os imigrantes, incluindo as tentativas de Trump de acabar com o direito à cidadania por nascimento.
Porém, a defesa da ciência não pode ser deixada nas mãos do Partido Democrata, que tem recebido espaço em muitos dos protestos de hoje. Foi o governo Biden que implementou a política de “COVID para sempre” de infecção em massa, morte e debilitação associada à COVID longa. A contínua disseminação da COVID-19, assim como o surgimento da gripe aviária e o retorno de patógenos que foram eliminados muito tempo atrás, como o sarampo, são todos consequência do aberto repúdio à saúde pública pelo governo Biden, que abriu o caminho para Trump e Kennedy.
Oito anos atrás, mais de um milhão de pessoas globalmente participaram da “Marcha pela Ciência” contra o primeiro governo Trump. O fato de que essas manifestações se repetem hoje é um testemunho do fracasso de qualquer estratégia direcionada a pressionar o Partido Democrata, um dos dois partidos da classe capitalista americana.
Uma ruptura com os democratas também requer uma ruptura com as burocracias sindicais, que sufocaram durante muito tempo qualquer desafio independente à elite dominante. Eles compartilham a responsabilidade central, junto aos pseudoesquerdistas Socialistas Democráticos da América (DSA), pela reabertura insegura das fábricas, locais de trabalho e escolas no auge da pandemia de COVID-19, que levou à morte desnecessária de centenas de milhares de americanos.
Um destaque especial deve ser dado ao Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW), um apoiador e patrocinador oficial dos protestos de hoje, que trabalhou para se acomodar totalmente ao governo Trump. Em 4 de março, após Trump anunciar sua mais recente rodada de tarifas contra o Canadá, o México e a China, o presidente do UAW, Shawn Fain, declarou: “Estamos ansiosos para trabalhar com a Casa Branca para moldar as tarifas automotivas em abril para beneficiar a classe trabalhadora”.
Qualquer um que estude economia cientificamente sabe que as tarifas irão apenas arruinar a classe trabalhadora, devido ao aumento dos preços e às milhares de demissões resultantes na indústria automotiva e outras.
A luta pela ciência é acima de tudo uma questão de classe. Assim como a queima de livros pelos nazistas, todo governo reacionário e classe social historicamente ultrapassada denegriram e perseguiram a ciência e uma visão de mundo materialista para fins políticos definidos. Portanto, o desenvolvimento da ciência sempre dependeu de forças sociais progressistas.
Sob o capitalismo, a classe trabalhadora internacional é a força revolucionária na sociedade, cuja posição objetiva se opõe diretamente ao Estado capitalista, aos burocratas sindicais, aos oligarcas corporativos e ao sistema socioeconômico capitalista como um todo.
A ciência e a tecnologia modernas tornaram possível erradicar a fome e a doença, vencer a ignorância e o misticismo e proporcionar um alto padrão de vida para cada ser humano no planeta. Além disso, os desenvolvimentos revolucionários em transporte e comunicação, mais recentemente através da revolução da inteligência artificial (IA), romperam as barreiras à interação humana e tornaram possível a educação e a integração de toda a humanidade em uma escala nunca antes vista na história.
A luta pela ciência e pelo progresso humano pode ocorrer apenas através da construção de um movimento socialista na classe trabalhadora. Os cientistas estão atravessando o mesmo processo de proletarização que afeta hoje médicos, professores e outros profissionais. Os cientistas devem reconhecer seus interesses comuns com todos os trabalhadores que enfrentam ataques aos seus padrões de vida, empregos e direitos democráticos. Para a oligarquia que governa os EUA, ele é tão descartável quanto qualquer outro trabalhador, não importando seu nível de educação ou salário.
Uma defesa genuína da ciência requer a preparação de ações de greve em massa por todos os servidores federais, incluindo aqueles em agências científicas, contra cortes de empregos, congelamento de fundos e ataques às condições de trabalho. Isso deve ser conectado a um movimento mais amplo de toda a classe trabalhadora, nos EUA e internacionalmente, contra a desigualdade e a exploração.
Os mesmos métodos científicos necessários para entender a natureza também devem ser aplicados para entender a sociedade. Uma análise materialista demonstra claramente que o capitalismo é um sistema social historicamente ultrapassado que se coloca como o principal obstáculo ao progresso humano.
Chamamos todos os presentes nos protestos de hoje a se juntarem à Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social e ao Partido Socialista pela Igualdade e a construirem um movimento socialista revolucionário para levar em frente a defesa da ciência como parte da luta por uma sociedade socialista baseada na igualdade social em vez do lucro privado.