Publicado originalmente em 6 de fevereiro de 2025
O governo do presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou em 28 de janeiro que o controle da fronteira seria reforçado entre a província de Misiones, na região da Mesopotâmia, nordeste da Argentina, e o Brasil. “Estamos indo atrás da fronteira com o Brasil, que apresenta desafios, incluindo gangues e questões de segurança”, declarou a ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
Bullrich também prometeu suprimir o movimento de imigrantes na fronteira com o Paraguai.
As declarações de Bullrich foram feitas alguns dias após o anúncio público da decisão de construir uma cerca alta de arame farpado de 200 metros em uma seção da fronteira entre a cidade de Bermejo, na Bolívia, e a cidade de Aguas Blancas, na província de Salta, na Argentina.
As autoridades argentinas acusaram falsamente o governo do presidente boliviano Luis Arce de permitir o contrabando de toneladas de cocaína para a Argentina.
Uma cerca com arame farpado foi estrategicamente colocada para bloquear o fácil acesso de pedestres ao terminal de transporte em Aguas Blancas. Por muitas décadas, os bolivianos têm cruzado a fronteira para comprar farinha e outros produtos agrícolas e levá-los de volta para a Bolívia. A região ao redor de Bermejo produz gás natural que é exportado para a Argentina. Isso se tornou mais difícil com a presença de policiais argentinos e patrulhas de barco ao longo do rio Bermejo e com a instalação da cerca.
Mais a leste, na tríplice fronteira Paraguai-Brasil-Argentina, onde o rio Iguaçu, que flui para o oeste, junta-se ao rio Paraná, que flui para o sul (formando as Cataratas do Iguaçu), três grandes cidades formam uma única área cosmopolita e multinacional: Ciudad del Este, no Paraguai (340 mil habitantes), Foz do Iguaçu, no Brasil (206 mil habitantes) e Puerto Iguazú, na Argentina (92 mil habitantes). Ciudad del Este e Foz do Iguaçu são unidas pela Ponte Internacional da Amizade, construída na década de 1950; Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú são unidas pela Ponte da Fraternidade (Puente de Fraternidad), inaugurada em 1985. A escolha dos nomes para essas pontes simboliza a relação entre os habitantes da região.
As pessoas atravessam essas duas pontes a pé e de carro, de onde se pode observar as Cataratas do Iguaçu. Durante o ano de 2024, cerca de dez mil consumidores, turistas e trabalhadores em carros, motos e ônibus cruzaram essas pontes diariamente, além de milhares de pedestres.
Cada uma dessas cidades tem uma população multinacional, com brasileiros, argentinos, paraguaios, pessoas do Oriente Médio, nativos da tribo guarani, taiwaneses e outros, que vivem e trabalham nelas. Suas economias são baseadas no turismo, na manufatura e na logística.
Milei e Bullrich já iniciaram o processo de militarização da fronteira de Puerto Iguazú, empregando inicialmente 300 soldados e implementando rigoroso controle sobre as mercadorias transportadas.
Bullrich também prometeu o controle da fronteira conhecida como a “outra tríplice fronteira”, que liga as cidades da província argentina de Chaco à Bolívia e ao Paraguai. Em uma entrevista recente na televisão, Bullrich reconheceu que existem “desafios” para estabelecer restrições de fronteira nessas regiões metropolitanas “unificadas”, mas afirmou falsamente que o objetivo dessas restrições é proteger a “segurança nacional”.
Em todos os três casos, cercas, muros, drones e uma maior presença militar separariam territórios que funcionaram por gerações como uma única região, com o movimento diário de pessoas envolvidas no comércio pacífico e atividades culturais, bem como de crianças cruzando as fronteiras para frequentar as escolas.
A militarização da fronteira por Milei busca alimentar o sentimento anti-imigrante para culpar os trabalhadores nascidos no exterior pelas consequências da sua terapia de choque econômico. Em junho de 2024, seu governo xenófobo e fascista aboliu o direito à educação e à saúde públicas para imigrantes não residentes e proteções contra deportação, supostamente para “proteger os cidadãos argentinos”.
O fim desses subsídios compensaria os profundos cortes orçamentários nas escolas públicas, universidades e instituições de saúde, afirmou Milei, enquanto prosseguia com os planos de privatização.
Os argumentos caluniosos, xenófobos e racistas não são exclusivos de Milei, Bullrich e seus aliados políticos (violando o preâmbulo e muitos artigos da constituição argentina); eles copiam os de Donald Trump, do Partido Democrata e de correntes fascistas de todo o mundo. O ataque aos imigrantes é parte do esforço para dividir a classe trabalhadora, na Argentina e em todo o mundo, em linhas étnicas, linguísticas, religiosas e culturais.
Ao mesmo tempo, as restrições na fronteira seguem os repetidos insultos de Milei contra os presidentes nominalmente de “esquerda” na Bolívia e no Brasil, já que Buenos Aires espera instigar um confronto e servir como centro de comando da mudança de regime e das conspirações militares lideradas pelo imperialismo americano na região. A provocação mais significativa foi a acusação infundada feita por Bullrich em abril de 2024 de que o governo Arce estava recebendo tropas iranianas no país.
Conforme demonstrado pelas constantes visitas de funcionários do governo Milei aos EUA, mesmo antes da posse de Trump, incluindo a sede da CIA na Virgínia, essas provocações estão sendo orquestradas com Washington.
Enquanto o governo Arce protestou contra o controle da fronteira por “violar tratados internacionais”, Lula, no Brasil, evitou até mesmo a pretensão de estar alarmado com as conspirações entre os EUA e a Argentina, ignorando as recentes afrontas de Milei e descrevendo os controles de fronteira pela Argentina como “positivos” para combater o crime.