Publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2024
Na terça e quarta-feira, o fundador do WikiLeaks Julian Assange pedirá autorização para fazer o seu apelo final à suprema corte do Reino Unido pelo direito de argumentar contra a sua extradição para os Estados Unidos sob acusações da Lei de Espionagem, que implicam uma pena de prisão perpétua. Uma rejeição deixaria outras opções a Assange no sistema jurídico do Reino Unido e poderia colocar ele em um avião para os EUA no mesmo dia.
A liberdade de Assange deve ser exigida pelos trabalhadores e pela juventude no Reino Unido, nos EUA, na sua terra natal, Austrália, e em todo o mundo.
Ele está sendo perseguido pelas agências de inteligência das potências imperialistas nos últimos 14 anos por expor crimes de guerra, violações dos direitos humanos em escala industrial e intrigas antidemocráticas. Durante quase cinco anos, ele esteve detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, em condições que colocam sua vida em risco, e teve seus direitos básicos negados, incluindo fiança.
O caso de Assange incorpora a luta contra a guerra imperialista, as medidas autoritárias utilizadas para suprimir o sentimento antiguerra e as mentiras da propaganda utilizadas para justificar tudo isso.
Ele foi alvo de Washington e Londres por publicar documentos vazados detalhando os crimes do governo dos EUA e dos seus aliados no Afeganistão e no Iraque, e as suas conspirações com ditaduras em todo o mundo. Assange procurou alertar a população sobre a brutalidade que classe dominante era capaz de levar adiante. Ele descreveu o WikiLeaks como “a agência de inteligência do povo”.
Esses alertas estão hoje sendo horrivelmente confirmados diariamente pela guerra entre OTAN e Rússia na Ucrânia, onde provavelmente centenas de milhares de pessoas morerram, e pelo genocídio de Israel em Gaza, responsável por pelo menos 30 mil mortes, principalmente mulheres e crianças. Ambos estão enraizados no impulso das potências imperialistas para uma nova redivisão do globo, dos seus povos e dos seus recursos, o que marca a descida cada vez mais profunda para uma terceira guerra mundial.
A perseguição de Assange, que inclui um plano de assassinato da CIA e que devastou a sua saúde e já roubou mais de uma década da sua vida, tem sido a ponta de lança da repressão à oposição à guerra, como preparação para a erupção da atual violência militar. A intenção era estabelecer um sinistro precedente de que qualquer pessoa que interferisse nos planos de guerra das potências imperialistas seria silenciada e destruída.
A tentativa de silenciar brutalmente os jornalistas, que começou com Assange, conduziu hoje a uma política de assassinato em massa. Quase 100 trabalhadores da comunicação social e muitos dos seus familiares foram mortos pelas Forças de Defesa de Israel em apenas quatro meses, em uma clara campanha de assassinatos seletivos para impedir que a verdade sobre o genocídio fosse divulgada. Em Israel, no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Europa e em todo o mundo, leis draconianas estão sendo empregadas para criminalizar protestos antigenocídio, com milhares de prisões.
“Se as guerras podem ser iniciadas por mentiras… a paz pode ser iniciada pela verdade”, disse Assange em um comício contra a ocupação do Afeganistão na praça Trafalgar, Londres, em 2011. Desde então, não faltaram guerras e mentiras.
Na Ucrânia, as potências da OTAN afirmam estar defendendo a “soberania” e a “democracia”, trabalhando com forças fascistas para arrastar a população a luta até ao último homem, destinada a enfraquecer e desestabilizar a Rússia.
Em Gaza, apoiam a invocação cínica do primeiro-ministro Netanyahu do “direito à autodefesa” de Israel como justificação para a limpeza étnica dos palestinos.
O destino de Assange, a luta pela sua liberdade, depende do desenvolvimento de um movimento antiguerra de massas contra os piromaníacos imperialistas responsáveis por essas catástrofes.
Esse movimento começou, com protestos em massa de milhões de pessoas em todo o mundo exigindo o fim do genocídio de Israel em Gaza, que é apenas a primeira fase de uma guerra em todo o Oriente Médio, travada pelos EUA e pelos seus satélites contra o Irã e os seus aliados no Iêmen, Síria e Líbano para garantir a hegemonia americana sobre a região rica em petróleo.
Esse movimento de massas deve colocar a demanda pela liberdade de Assange no centro da luta contra o genocídio e a guerra.
Nessas condições, o caso de Assange assumirá dimensões políticas explosivas na sua próxima fase, seja na forma de um recurso perante a suprema corte do Reino Unido, ou de uma defesa montada nos Estados Unidos. Os seus algozes em Washington podem pensar que podem agir com impunidade, mas não contaram com a enorme simpatia popular por Assange e pelo WikiLeaks.
A classe trabalhadora e os jovens estão no início de um ano eleitoral em que os dois principais partidos apresentados a eles – o Partido Republicano e o Partido Democrata nos EUA, Conservador e Trabalhista no Reino Unido – são desprezados. Nenhum dos dois países está em uma posição forte para organizar uma extradição e um processo legalmente obscenos e sem precedente.
Não irá passar despercebido o fato de que, enquanto perseguem Assange, os EUA e os seus aliados montaram um coro proclamando a morte sob custódia de Alexei Navalny como a prova definitiva do caráter criminoso do regime de Putin, derramando um oceano de lágrimas por esse bandido racista. Milhões não aceitarão o direito da elite dominante de punir alguém que revelou crimes de guerra anteriores quando estão se mobilizando semana após semana contra os mais recentes crimes sancionados em Gaza pelo genocida Joe Biden e Rishi Sunak.
Após mais de uma década da perseguição implacável de Julian Assange pelas potências imperialistas, os trabalhadores e dos jovens precisam tirar as lições da luta pela sua liberdade. Nesta crítica encruzilhada, é urgentemente necessário unir a luta contra a guerra com a luta pela libertação de Julian Assange.
Como todas as grandes campanhas de defesa do passado, a luta para libertar Julian Assange só poderá ter sucesso na medida em que mobilizar a classe trabalhadora, ligando a luta para libertar Assange com a luta contra a guerra e a luta de milhões de trabalhadores em todo o mundo contra os ataques brutais ao emprego, salários, serviços essenciais e direitos democráticos básicos.
Isso envolve uma rejeição consciente de todas as forças políticas, desde o Partido Trabalhista no Reino Unido até o Partido Democrata nos EUA, que lideraram tanto o genocídio de Gaza como a perseguição de Assange.
O World Socialist Web Site, o Comitê Internacional da Quarta Internacional e os seus Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados continuarão a travar uma luta inabalável e determinada para unir a classe trabalhadora nessa luta.