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Trabalhadores da GM no Brasil entram em greve contra demissões em massa

No sábado, a GM anunciou a demissão sumária de 1.200 trabalhadores no Brasil em três fábricas nas cidades de Mogi das Cruzes, São Caetano do Sul e São José dos Campos, todas no estado de São Paulo. As demissões aconteceram após a maioria dos trabalhadores rejeitar a proposta de programas de demissão voluntária (PDV) nas três plantas.

Trabalhadores da GM em greve reunidos em assembleia na fábrica de São Caetano [Photo: Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano]

Para a surpresa da empresa e dos sindicatos, o anúncio foi confrontado com explosiva oposição. Assembleias realizadas no domingo e na segunda-feira aprovaram greves por tempo indeterminado, colocando imediatamente 11,5 mil trabalhadores em luta contra as medidas da GM.

Na segunda-feira, os burocratas sindicais publicaram uma carta conjunta, apontando para a óbvia contradição entre a prosperidade financeira da gigante automotiva e os cortes massivos de empregos, afirmando: “Todos os cortes são injustificáveis. A montadora alega queda em suas vendas, mas registrou, ao contrário, aumento de 18,18% nas vendas brasileiras entre abril e junho deste ano... Além disso, obteve lucro líquido de 2,57 bilhões de dólares (R$ 12,94 bilhões) no segundo trimestre deste ano, um aumento de 51,6% na comparação anual.”

Há um mês, a empresa tinha enviado cartas aos trabalhadores nas plantas de São Paulo propondo “discutir” a sua “demissão voluntária”. Essas cartas também foram enviadas para os trabalhadores na fábrica da GM de Gravataí, no Rio Grande do Sul, com a administração afirmando que os trabalhadores sofreriam cortes a partir daquele momento. Porém, mesmo diante da perspectiva de um amplo ataque, os sindicatos não organizaram qualquer tipo de resposta.

No dia 19 de setembro, após o PDV proposto pela GM ter sido rejeitado em massa, notícias surgiram de que a empresa havia começado a demitir funcionários na planta de São Caetano. Entretanto, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, filiado à Força Sindical, Aparecido da Silva, conhecido com Cidão, minimizou as ameaças, afirmando: “Até o momento [foram demitidos] apenas funcionários que já estavam aposentados”.

O fato de que os trabalhadores em São Paulo entraram em greve em oposição direta às suas próprias demissões obrigou o sindicato a adotar uma falsa retórica a favor de manterem seus empregos enquanto aguarda condições mais favoráveis para impor as demissões exigidas pela GM. Porém, por causa do enorme descrédito entre os trabalhadores, a capacidade dos sindicatos de desviar a enorme oposição está cada vez mais em xeque.

Na sua carta conjunta, logo após os burocratas sindicais lamentarem que “a GM descumpriu acordos de layoff firmados com os sindicatos”, eles afirmam que “os três sindicatos buscam negociação com a montadora, para reverter as demissões e garantir os postos de trabalho”. Ou seja, apesar da administração da GM ter mostrado claramente sua indiferença aos acordos firmados com os sindicatos, a burocracia não vê outra resposta senão repetir essa manobra amplamente desacreditada entre os trabalhadores.

A realidade é que o anúncio das demissões expõe diretamente a própria burocracia sindical, que promoveu nos últimos anos a alegação que bastaria se submeter aos “acordos” entre o sindicato e a empresa para garantir “a estabilidade no emprego”.

Em março de 2020, no início da pandemia de COVID-19, a GM anunciou 15 mil layoffs que cortariam salários e benefícios. O sindicato em São Caetano, sob a liderança de Cidão, trabalhou imediatamente para forçar os layoffs através de uma “votação online” que nunca aconteceu. Os layoffs não impediram novos cortes na negociação do contrato coletivo de trabalho em 2021, com o sindicato abandonando a greve de 13 dias dos trabalhadores em detrimento de uma decisão judicial, declarando na época: “Obviamente que o sindicato respeita a posição da assembleia [de continuar a greve], porém decisão judicial deve ser acatada”. No início de 2022, mesmo enquanto a Ford fechava suas plantas e deixava o país, violando todos os acordos feitos com o sindicato, a burocracia forçou os trabalhadores a continuarem na linha de produção até o último dia.

Papel decisivo na supressão dos trabalhadores automotivos também tem sido desempenhado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, filiado à CSP-Conlutas, controlada pelo morenista Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Ao mesmo tempo em que se apresenta como um sindicato “de oposição”, ele supervisionou a demissão de 12 mil trabalhadores entre 2010 e 2020.

Hoje, em meio à maior crise inflacionária em décadas e após anos de cortes de empregos e salários nas plantas automotivas, a explosiva oposição dos trabalhadores da GM no Brasil contra mais uma rodada de demissões ameaça romper a camisa de força dos sindicatos, colocando também em alerta os altos escalões da burocracia das centrais sindicais e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores – PT).

Nesta semana, as maiores centrais sindicais produziram uma nota conjunta repetindo os pontos da carta dos sindicatos locais, enquanto o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, a central sindical controlada pelo PT, Moisés Selérges, visitou a planta de São Caetano para discursar em “solidariedade”. O histórico de traição de Selérges e sua visita aos trabalhadores em greve devem ser considerados como uma indicação da traição sendo preparada nas plantas com auxílio do aparato sindical do PT.

Selérges auxiliou a Mercedes-Benz na imposição de um PDV na fábrica em São Bernardo do Campo exatamente um ano atrás. Durante a greve deflagrada com enorme oposição aos cortes, os dirigentes sindicais culparam os trabalhadores chineses, essencialmente adotando a mesma retórica do então presidente fascistoide Jair Bolsonaro, e buscaram cultivar ilusões de que um novo governo Lula significaria um período de melhoria das condições de vida e aumento dos empregos. Enquanto isso, eles procuraram colocar os trabalhadores terceirizados contra os efetivos, insinuando que as demissões em massa eram uma oportunidade para novos contratos temporários.

Os sindicatos e as centrais sindicais também apelaram ao governo Lula e ao governador de São Paulo e ex-ministro do governo Bolsonaro, Tarcísio de Freitas. Em sua carta, eles defenderam “intervenções imediatas do Governo Federal, do Ministério do Trabalho, do Governo do Estado de São Paulo e do Ministério Público do Trabalho”.

Essa intervenção remete ao que está acontecendo na atual greve dos trabalhadores automotivos nos EUA. Lá, o UAW (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva) tem feito todos os esforços possíveis para manter a greve isolada e impor um novo contrato de concessões em meio à grave crise inflacionária. Após o seu presidente, Shawn Fain, manter a greve de 150 mil trabalhadores automotivos nos EUA limitada a uma pequena porcentagem das plantas, ele anunciou nesta quarta-feira um contrato a favor dos interesses da GM, Ford e Stellantis.

Em um sinal de que o novo acordo irá significar uma nova rodada de cortes dos padrões de vida, o presidente americano Joe Biden, que está acompanhando de perto a greve no setor automotivo, o elogiou imediatamente, destacando o documento como um exemplo de “empresários e empregados resolvendo suas discordâncias na mesa de negociação, ajudando o sucesso dos negócios enquanto auxilia os trabalhadores.”

A crescente percepção de que as ameaças confrontadas pelos trabalhadores brasileiros são as mesmas colocadas na greve dos trabalhadores automotivos americanos não passou desapercebida pelas centrais sindicais, que se adiantaram em sua nota conjunta: “Os metalúrgicos da GM no estado de São Paulo também têm apoio mútuo com trabalhadores da montadora nos Estados Unidos. Em greve há mais de um mês, os operários norte-americanos lutam por aumento de salário e melhores condições de trabalho. O movimento é liderado pelo UAW”.

Os cortes da GM no Brasil estão ligados a enormes transformações na economia capitalista mundial, em que a transição energética está intensificando a competição pela dominação do mercado de veículos elétricos e autônomos entre as corporações automotivas. Além disso, as classes dominantes nos centros do imperialismo esperam usar a transição energética para forçar a transição para uma indústria de guerra. O governo Lula representa a elite capitalista brasileira, que pretende fazer a classe trabalhadora pagar pelos custos dessa transição.

Conforme os trabalhadores levarem adiante sua greve contra as demissões, os sindicatos nas diferentes plantas irão tentar manter sua luta dividida e desviá-la para uma solução negociada com a própria empresa, o que inevitavelmente significa aceitar a sua decisão final.

O anúncio das demissões sumárias pela GM precisa ser denunciado o mais amplamente possível, e ele será recebido com a mais calorosa solidariedade dos trabalhadores automotivos e de outras categorias no Brasil e no mundo enfrentando a mesma situação.

Atualmente, os trabalhadores da Mercedes-Benz (Daimler) em São Bernardo do Campo estão prestes a sofrer demissões massivas após o presidente regional da empresa declarar no mês passado que “nossa intenção é terceirizar tudo localmente”. Na planta da GM de Gravataí, os trabalhadores estão sendo forçados a trabalhar expedientes maiores para não serem demitidos.

No Paraná, os trabalhadores da Renault paralisaram a produção por um dia após repetidas exigências de maior segurança na linha de montagem serem ignoradas pela administração e permitidas pelo sindicato local. Professores e funcionários públicos de São Paulo e Minas Gerais tem realizado inúmeras paralisações e greves contra os ataques aos serviços sociais.

Essa situação aponta para a possibilidades de uma luta unificada entre os setores automotivos e trabalhadores de outras categorias no Brasil e no mundo. Nos EUA, isso está acontecendo através de uma rede de comitês de base, independentes dos sindicatos e democraticamente controlados pelos trabalhadores, que estão discutindo uma resposta ao acordo de concessões preparado pelo UAW e se organizando com os trabalhadores mexicanos e canadenses. Essa iniciativa deve inspirar os trabalhadores brasileiros entrando em luta a adotar a perspectiva de forjar uma luta unificada com os trabalhadores americanos e além.

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