Estamos publicando o discurso de Evan Blake no Ato Internacional Online de Primeiro de Maio de 2023. Blake é o coordenador da Investigação Mundial dos Trabalhadores sobre a Pandemia de COVID-19. Todos os discursos do ato podem ser assistidos clicandoaqui, com as legendas em português podendo ser ativadas nas configurações do vídeo.
Estamos agora no quarto ano da pandemia de COVID-19. O ato de Primeiro de Maio deste ano ocorre em meio a uma grande campanha de propaganda mundial com o objetivo de retratar falsamente que a pandemia chegou ao fim.
Nos EUA, essa campanha chegou a um ponto de inflexão. Em 1º de abril, o acesso ampliado ao Medicaid devido à pandemia foi interrompido. Em 10 de abril, o presidente dos EUA, Joe Biden, encerrou oficialmente a emergência nacional pela COVID-19. E em 11 de maio, a emergência de saúde pública irá expirar.
Como resultado dessas três medidas, toda a resposta do governo à pandemia será privatizada, incluindo a distribuição futura de vacinas, testes e tratamentos contra a COVID. Mais de 20 milhões de americanos podem perder a cobertura do plano de saúde no próximo ano, incluindo possivelmente mais de 1 milhão de pessoas que estão sofrendo com a COVID longa.
Esses mesmos processos estão se desenvolvendo internacionalmente. Todas as medidas de mitigação que retardam a propagação da COVID foram totalmente suspensas, incluindo até mesmo o uso de máscaras em hospitais.
Todas as alegações de que a pandemia acabou são baseadas em mentiras e desinformação. A realidade é que em todo o mundo continua acontecendo infecção em massa, morte e debilitação pela COVID longa.
Devido ao desmantelamento dos testes de COVID e dos relatórios de dados em nível global, agora só é possível estimar aproximadamente a escala da pandemia analisando o esgoto e o excesso de mortes. Onde quer que se analise o esgoto, é possível verificar que o estado real da transmissão viral continua sendo alto.
O coronavírus continua sofrendo mutações e evoluindo para variantes novas e potencialmente mais perigosas. Enquanto realizamos este ato, outro surto da pandemia está em andamento na Índia devido à subvariante Omicron XBB.1.16, que está rapidamente se tornando dominante em um número crescente de países.
O excesso de mortes globais devido à pandemia permanece acima de 10.000 por dia. Isso inclui mortes agudas por COVID, bem como taxas elevadas de ataques cardíacos, derrames e outros eventos adversos associados à infecção por COVID e ao colapso do sistema de saúde. 22 milhões de pessoas já morreram em todo o mundo devido à pandemia, com mais 1 milhão de mortes a cada três meses.
Além disso, o “evento debilitante em massa” da COVID longa se agrava a cada dia. Um estudo abrangente recente sobre a COVID longa estimou, de forma conservadora, que pelo menos 65 milhões de pessoas estão sofrendo dessa condição em todo o mundo. O número real pode ser muito maior, na casa das centenas de milhões.
Deve ser enfatizado que não há nada comparável a essa escala de debilitação em massa na história. No entanto, esse perigo quase não é mencionado na mídia corporativa.
A pandemia mudou de forma irreversível a sociedade global, deixando cicatrizes sociais e traumas emocionais em bilhões de pessoas em todo o mundo. Mas as elites capitalistas dominantes são totalmente indiferentes a esse sofrimento da população.
Em janeiro, falando em uma conferência de prefeitos, Biden fez um comentário improvisado sobre o número de mortes por COVID nos EUA, afirmando sem rodeios que “Às vezes, eu o subestimo porque parei de pensar nisso.”
Que desprezo pelas famílias e entes queridos dos mais de 1,1 milhão de americanos que morreram por COVID!
As elites dominantes estão declarando que a pandemia acabou porque querem que as pessoas se esqueçam dos massivos crimes sociais ainda em curso pelos quais são responsáveis.
Mas o World Socialist Web Site, a voz da classe trabalhadora internacional, não esqueceu e não esquecerá. Enquanto todos os outros meios de comunicação e partidos políticos ignoram a pandemia, continuamos cobrindo seu impacto em todo o mundo.
Estamos aprofundando a Investigação Mundial dos Trabalhadores sobre a Pandemia de COVID-19, que iniciamos em novembro de 2021. Ela continua sendo a única investigação independente sobre as políticas criminosas na pandemia que foram implementadas globalmente.
A partir do fim do ano passado, um dos maiores crimes relacionados à pandemia ocorreu com o fim da política de eliminação da COVID-19 na China. Estimativas apontam o número de mortos em algo em torno de 1 a 2 milhões de pessoas em um período de apenas três meses, uma escala de morte em massa concentrada no tempo nunca vista desde a Segunda Guerra Mundial.
O Partido Comunista Chinês, a organização política da recém-criada classe dominante que surgiu com a restauração do capitalismo, tem total responsabilidade por essa catástrofe social. Mas as potências imperialistas ocidentais e sua mídia corporativa também estão profundamente envolvidas nesse crime, assim como as organizações e publicações da pseudoesquerda de classe média que exigiram o abandono da COVID Zero apesar das projeções científicas mostrarem que isso mataria mais de 1 milhão de pessoas.
Em vez de interromper a pandemia, a burguesia a utilizou para realizar a maior transferência de riqueza da história mundial e para aprofundar sua contrarrevolução social contra a classe trabalhadora.
Ganhos anteriores na expectativa de vida conquistados com o desenvolvimento da saúde pública estão sendo revertidos, a pseudociência da anti-vacina se tornou popular, e doenças que antes eram mantidas sob controle estão aumentando.
Ao mesmo tempo, as classes dominantes estão ressuscitando as ideologias mais reacionárias de seu passado, incluindo as concepções associadas ao eugenismo e ao darwinismo social que predominaram nos círculos dominantes no final do século XIX e no início do século XX.
“A sobrevivência do mais forte” é mais uma vez o mantra da classe dominante, com os idosos e imunocomprometidos abandonados à própria sorte. A famosa frase de Rosa Luxemburgo, que a classe trabalhadora enfrenta o socialismo ou a barbárie, é cada vez mais verdadeira a cada dia.
O Comitê Internacional da Quarta Internacional é o único partido político do mundo que se opôs à descida para a barbárie incorporada na resposta capitalista à pandemia. Temos defendido uma estratégia de eliminação global para acabar com a pandemia de uma vez por todas.
Fundamentalmente, isso está enraizado em nossa defesa do trotskismo e da Teoria da Revolução Permanente. Ao analisar o desenvolvimento do capitalismo mundial no início do século XX, o grande revolucionário marxista Leon Trotsky enfatizou que, na época do imperialismo, até mesmo as tarefas democráticas básicas - que inclui a proteção da saúde da população - não pode ser concretizada sob o capitalismo. Cabe à classe trabalhadora, que é obrigada a adotar medidas socialistas e para coordenar suas lutas internacionalmente realizar essa tarefa.
Hoje, essa mesma teoria pode ser aplicada à pandemia, com programas e princípios de saúde pública desenvolvidos pela primeira vez em um período histórico anterior pela burguesia sendo agora atacados implacavelmente pelos governos capitalistas. Somente um movimento global da classe trabalhadora, lutando pela revolução socialista mundial, pode implementar as políticas necessárias para impedir a disseminação da COVID e muitas outras doenças, além de evitar futuras pandemias que os cientistas alertam ser cada vez mais prováveis nos próximos anos.
O mesmo se aplica a todos os problemas sociais enfrentados pela humanidade. A guerra, as mudanças climáticas, a pobreza e a ameaça do fascismo são todos problemas globais que só podem ser resolvidos com um programa socialista revolucionário voltado para a reconstrução da sociedade global com base nos princípios de igualdade social e planificação econômica. O Comitê Internacional da Quarta Internacional está lutando por essa estratégia, e faço um chamado para que todos se juntem a esse movimento hoje.