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Trabalhadores da Amazon na Alemanha fazem greve contra a falta de proteção ao coronavírus

Publicado originalmente em 30 de junho de 2020

Mais de 2 mil trabalhadores da Amazon entraram no segundo dia de greve contra as condições inseguras de trabalho e o enorme risco de infecção nos centros de distribuição. Eles paralisaram seis unidades simultaneamente: Bad Hersfeld I e II, Leipzig, Koblenz, Rheinberg e Werne.

Na cidade de Bad Hersfeld, localizada no estado de Hesse, cerca de 500 trabalhadores fizeram uma carreata na segunda-feira. Quase o mesmo número de trabalhadores estão em greve em Leipzig. Em Werne, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, cerca de 400 trabalhadores participaram de uma manifestação ontem, enquanto outros 450 estão em greve em Rheinberg e Koblenz. Em toda a Alemanha, a Amazon tem 13 unidades com um total de 13 mil funcionários fixos.

Os grevistas estão sendo pressionados pela administração e têm sido praticamente ignorados pela imprensa, mas eles contam com uma grande solidariedade da população local. Muitos trabalhadores enfrentam condições de trabalho tão exploradoras e perigosas quanto as dos trabalhadores da Amazon.

A situação chegou a um ponto crítico depois que pelo menos 36 trabalhadores de Bad Hersfeld foram infectados pelo coronavírus, segundo Mechtild Middeke, secretário do sindicato Verdi. Os trabalhadores não foram informados sobre o número de colegas que haviam sido infectados nem em quais setores da empresa eles trabalhavam. A Amazon não está divulgando os casos de COVID-19. Também não está oferecendo testes a todos os trabalhadores, nem isolando aqueles que entram em contato com o vírus.

Como resultado, milhares de trabalhadores da Amazon estão sendo expostos a sérios riscos. Em abril, 68 dos 1.800 funcionários do centro de distribuição Ham2, de Winsen, perto de Hamburgo, estavam infectados. Embora a Amazon gaste bilhões para acelerar o ritmo de trabalho e aumentar a exploração e vigilância sobre os trabalhadores, ela não oferece condições de trabalho seguras, transparentes e saudáveis.

Como a empresa não fez praticamente nada para proteger seus trabalhadores, o departamento de saúde pública local, em Bad Hersfeld, emitiu uma ordem para que se adotasse o uso de máscaras nas unidades. Mas o ritmo de trabalho é tão brutal que os trabalhadores reclamam de problemas para respirar, que se tornam ainda piores com as altas temperaturas nos centros de distribuição.

É por isso que as exigências levantadas pelos grevistas incluem mais pausas, redução no ritmo de trabalho e licença remunerada para trabalhadores com problemas de saúde. Os trabalhadores também estão exigindo o restabelecimento do adicional por coronavírus, de €2 por hora, que foi cortado em maio.

A exploração na Amazon é tão brutal e desumana que causa danos físicos e psicológicos, mesmo em circunstâncias normais. Os trabalhadores são colocados sob imensa pressão para cumprir as metas da empresa. Com o ritmo de trabalho sendo regulado por scanners, os coletores de pedidos correm, carregando carrinhos de compras completamente lotados, por quilômetros de corredores entre os vários andares dos galpões. Os empacotadores têm que ficar de pé por horas a fio nas mesas para embalagem.

Todos estão trabalhando contra o tempo, sob vigilância constante, com a possibilidade de perder pontos se ficarem abaixo do ritmo de trabalho exigido. O sistema como um todo reduz os seres humanos ao status de robôs.

A exploração otimizada que fez do proprietário da Amazon, Jeff Bezos, um multibilionário e o homem mais rico do mundo é aplicada em milhares de centros de abastecimento e distribuição no mundo todo. São condições propícias para a propagação do coronavírus, como vem sendo demonstrado em dezenas de instalações da Amazon nos Estados Unidos, França, Itália e Espanha, desde fevereiro.

Com medidas de segurança totalmente inadequadas, os trabalhadores da Amazon colocam em risco a vida de suas famílias e entes queridos. Focos pandêmicos, inclusive nos centros de abastecimento da Amazon, podem desencadear novas ondas da pandemia que custarão a vida de milhares de pessoas.

Desde o início da pandemia, os trabalhadores da Amazon ao redor do mundo têm lutado por mais proteção no local de trabalho. Centenas de trabalhadores nos Estados Unidos, Itália, Espanha e França se recusaram a trabalhar, espontaneamente, para não se expor à infecção. Eles também fizeram greves espontâneas em apoio a funcionários que foram demitidos por protestar corajosamente contra as condições de trabalho. Depois das greves em Nova York, Chicago e Detroit, trabalhadores da Amazon em Minneapolis também pararam o trabalho contra a demissão de um trabalhador que havia protestado contra as condições de trabalho. Nos Estados Unidos, pelo menos nove trabalhadores da Amazon morreram por COVID-19.

As greves na Amazon são parte de uma onda mundial de greves. Trabalhadores de diferentes países e setores econômicos estão lutando por mais proteção contra o coronavírus e se opondo a demissões e cortes salariais.

Nas empresas maquiladoras do México, onde são produzidas peças para a indústria automobilística norte-americana, 3.200 trabalhadores entraram em greve na semana passada. Nas fábricas de automóveis em Detroit, os trabalhadores pararam a produção e, nos últimos dias, começaram a formar comitês de segurança, para se libertar dos sindicatos e tomar em suas próprias mãos a luta por condições seguras de trabalho. Lutas nos locais de trabalho também foram feitas por enfermeiras na Califórnia e trabalhadores siderúrgicos na Holanda.

A greve na Alemanha está sendo muito bem recebida pela classe trabalhadora. A usuária do Twitter Katja K comentou: "A Amazon continua a fazer lucros obscenos e a explorar impiedosamente sua força de trabalho. Uma empresa vergonhosa!" Outro usuário do Twitter escreveu: "Lucros enormes em meio ao coronavírus, bilhões em faturamento e todos os pequenos varejistas on-line esmagados, mas os trabalhadores não podem sequer ser pagos de acordo com um acordo coletivo, e estão trabalhando até a morte. É nojento.".

Ao mesmo tempo que contam com um amplo apoio, os trabalhadores da Amazon enfrentam não só a administração como uma força hostil, mas também os sindicatos. O sindicato dos serviços, Verdi, está fazendo tudo o que pode para isolar a greve da Amazon do resto do mundo e limitar seu impacto.

O sindicato Verdi interveio em Bad Hersfeld em 2012-2013 só depois de uma greve selvagem, com centenas de trabalhadores estrangeiros em empregos temporários chamando atenção para suas condições. O sindicato conduziu uma votação em abril de 2013 que teve 98% dos votos a favor de uma ação de greve. Em seguida, organizou uma greve em Bad Hersfeld e Leipzig.

Desde então, o sindicato Verdi tem convocado "greves de advertência", que geralmente são isoladas e de curta duração. Desde o início, seu objetivo era canalizar as lutas dos trabalhadores numa direção segura, evitar que as greves se espalhassem para outros setores econômicos e convencer a administração da Amazon de que o Verdi é um parceiro útil para controlar a força de trabalho.

Os trabalhadores da Amazon só poderão se proteger a partir da organização independente de comitês de base de segurança do trabalho, buscando a aliança com os trabalhadores de outras unidades da Amazon em toda a Alemanha e internacionalmente. Esses comitês suspenderiam o trabalho em Bad Hersfeld e outras unidades afetadas pela COVID-19. Também exigiriam salário integral para os funcionários que não podem trabalhar e lutariam pela reorganização dos setores de distribuição e entrega de acordo com as necessidades de segurança dos trabalhadores.

Isso deve ser parte de uma mobilização mais ampla da classe trabalhadora contra o descaso criminoso demonstrado pela elite dominante em relação às vidas dos trabalhadores durante a pandemia. "Ela deve avançar para um movimento mundial da classe trabalhadora contra o capitalismo e a favor do socialismo", como declarou o Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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