Publicado originalmente em 8 de junho de 2020
O governo do presidente fascista brasileiro Jair Bolsonaro retirou no sábado os dados acumulados dos últimos meses sobre a pandemia do coronavírus no país. O site oficial da COVID-19 do Ministério da Saúde havia passado a mostrar apenas o número de mortes, casos e recuperações da doença nas últimas 24 horas, até que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou que o governo voltasse a divulgar os dados acumulados.
Bolsonaro justificou no Twitter sua decisão inicial dizendo que os dados acumulados “não retratam o momento do país. Outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica”. O presidente brasileiro também zombou da imprensa do país, que utilizou os dados para informar sobre o grande aumento de casos e mortes, comentando: “Acabou matéria no Jornal Nacional”.
Depois de os dados acumulados terem sido retirados do site do Ministério da Saúde, havia pouco menos de 675.000 casos de coronavírus confirmados e quase 36.000 mortes no Brasil. O país é agora o segundo com mais casos no mundo, atrás apenas dos EUA, e o terceiro com mais mortes, atrás também dos EUA e do Reino Unido. Não está claro se as tendências que apontam uma piora da situação brasileira, baseadas na propagação objetiva da pandemia, irão se confirmar após a interferência de Bolsonaro no site.
O Brasil também é o líder mundial de novos casos e mortes por dia, que são consequências da aceleração da pandemia no país. Se o aumento exponencial da pandemia continuar, haverá um milhão de casos no Brasil em duas semanas. E como vários estudos têm mostrado, o número de casos reais no país, que ocupa o 130º lugar no mundo em número de testes per capita, é provavelmente 10 vezes maior do que o atualmente registrado.
O crescimento do número de pessoas infectadas no Brasil acontece em meio ao aumento de casos em outras partes do mundo. Em todo o mundo, há hoje mais de 7 milhões pessoas infectadas, um aumento de um milhão de casos em nove dias, e mais de 400 mil mortes. Focos de contágio da COVID-19 surgiram no México, Rússia, Chile, Peru e Paquistão, que se somaram aos epicentros já conhecidos da doença – Brasil, Europa Ocidental e Estados Unidos.
A censura aos dados do coronavírus no Brasil é uma continuação lógica da política de Bolsonaro em relação à pandemia desde os primeiros casos no país. Ele inicialmente minimizou os efeitos da COVID-19, que foi considerada pelo presidente brasileiro uma “gripezinha”, e substituiu especialistas médicos que discordavam dele por militares. Uma vez que o coronavírus começou a se espalhar pelo país, ele se colocou contra medidas de isolamento social para conter a disseminação do vírus e se lançou em tiradas contra governadores e prefeitos que não estão reabrindo suas economias tão rápido quanto ele exige.
O Brasil não é o único país a tomar tais medidas. Nos Estados Unidos, o responsável pelos dados do coronavírus na Flórida foi demitido por se recusar a manipular informações que sustentavam o plano de reabertura da economia do governador. Da mesma maneira, no Arizona, os pesquisadores envolvidos em modelos de projeção de casos de coronavírus no estado foram ordenados a “interromper” seu trabalho por autoridades estaduais depois que seus dados sugeriram que o lockdown deveria ser prorrogado por três semanas.
Na Geórgia, que foi um dos primeiros estados a reabrir a economia nos EUA, o Departamento de Saúde Pública publicou vários gráficos que mostraram uma tendência decrescente nos casos rearranjando as datas de seus dados. Na verdade, o número de novos casos confirmados diariamente no estado permaneceu relativamente constante desde a reabertura da economia, enquanto o número de novos casos no Arizona e na Flórida estão aumentando. O país como um todo tem agora mais de dois milhões de casos, incluindo mais de 1,1 milhão de casos ativos da doença, e pelo menos 112 mil mortes.
Apesar de países tentarem suprimir o número de casos de coronavírus, no entanto, até as contagens oficiais indicam que a doença está aumentando significativamente em todo o mundo. A Arábia Saudita juntou-se ontem ao grupo de países que têm mais de 100 mil casos, enquanto o Paquistão chegará a esse número hoje e o Canadá em pouco mais de uma semana.
Bangladesh, África do Sul, Qatar, Egito, Colômbia, Equador e Iraque também são países com altas taxas de novos casos. Depois de inicialmente ter sido duramente atingido pela pandemia e depois conseguir contê-la por várias semanas, o Irã também tem apresentado mais de 2.000 casos nos últimos dias. Peru e Chile também estão entre os países mais atingidos na América do Sul e do mundo, tanto em relação ao número total de casos quanto o de novos casos, enquanto o Peru em particular continua tendo uma alta taxa de mortalidade.
A explosão de casos na América do Sul fez com que o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentasse na quarta-feira que “Estamos especialmente preocupados com a América Central e do Sul, onde muitos países estão testemunhando epidemias em aceleração”. De acordo com análises de cientistas da OMS, a região ainda não atingiu o pico do número de casos, o que pode ainda levar meses.
Os dois países que surgiram nas últimas semanas com altas taxas de casos de coronavírus são o México e a Índia. No México, o vice-secretário de Saúde, Hugo López-Gatell, pediu aos moradores que fiquem em casa para deter o aumento do número de casos no país. Ao mesmo tempo, o presidente Andrés Manuel López Obrador ordenou a abertura de setores significativos da economia, incluindo fabricantes de automóveis e peças.
Essas determinações têm desempenhado um papel significativo na atual crise de saúde pública no México. O país tem 113 mil casos confirmados e mais de 13 mil mortes. As autoridades de saúde observaram que, devido à falta de testes no país, o número real de casos é provavelmente de milhões.
A Índia enfrenta um problema semelhante. O governo do primeiro-ministro Narendra Modi ordenou o retorno dos trabalhadores a fábricas, lavouras e escritórios, mesmo com o aumento exponencial do número de casos no país. O vírus atingiu muitas megacidades da Índia e se espalhou de maneira descontrolada. Os casos conhecidos dobraram em apenas duas semanas, chegando a 257 mil, e provavelmente chegarão a um milhão até o final deste mês. E enquanto o número de mortos ainda está bem abaixo dos picos atingidos no Brasil e nos Estados Unidos, as autoridades de saúde estão preocupadas que o número de mortos dispare nos próximos dias.