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Perspectivas

Preparando-se para a Terceira Guerra Mundial

Gastos militares globais chegam a US$ 1,8 trilhão e batem novo recorde

Publicado originalmente em 30 de Abril de 2019

Os gastos militares globais atingiram um novo recorde depois do fim da Guerra Fria, superando US$ 1,8 trilhão em 2018, de acordo com um relatório anual publicado nesta semana pelo Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês). Isso marca um aumento de 2,6% em relação a 2017, quando os gastos militares globais tinham chegado a níveis nunca antes vistos.

O mais significativo foi que os gastos militares dos EUA aumentaram 4,6% em 2018, alcançando US$ 649 bilhões, o primeiro aumento anual de gastos dos EUA registrado pelo SIPRI desde 2011. Tudo indica que essa tendência continuará, uma vez que o presidente Donald Trump assinou um orçamento de US$ 686 bilhões para 2019 e requisitou US$ 718 bilhões para o Pentágono em 2020. O Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA projeta que, se essa tendência atual se mantiver, os EUA irão gastar US$ 7 trilhões nas forças armadas ao longo da próxima década, equivalentes aos gastos somados em programas de educação, infraestrutura e saúde pública.

Os 15 países com os maiores gastos militares em 2018 (em bilhões de dólares)

A administração Trump está desembolsando imensas somas para modernizar e desenvolver o arsenal dos EUA com o objetivo de se preparar para “conflitos entre grandes potências”, com a China e a Rússia entre os seus primeiros alvos. O Pentágono espera gastar US$ 500 bilhões ao longo de dez anos na modernização de todos os aspectos da sua tríade nuclear – mísseis balísticos intercontinentais, mísseis balísticos lançados por submarinos e bombardeiros estratégicos – incluindo o desenvolvimento e o destacamento de mísseis nucleares mais “utilizáveis” com baixo poder de destruição.

Com o objetivo de manter sua dominação global, mesmo que sua posição econômica continue em declínio, os gastos militares do imperialismo estadunidense superam com grande vantagem os de seus aliados e inimigos. Em 2018, os EUA gastaram mais do que duas vezes e meia o que foi gasto por sua rival econômica, a China (US$ 250 bilhões), e mais de dez vezes as despesas de sua suposta grande ameaça, a Rússia (US$ 61,4 bilhões). Ao todo, os EUA gastaram o mesmo que os oito países seguintes somados, o que corresponde a 36% dos gastos militares globais.

Essa imensa escalada militar está sendo feita com o apoio de todas as facções do establishment político, sem quaisquer protestos. De fato, a crítica principal do Partido Democrata a Trump tem sido pela direita, exigindo uma escalada militar ainda mais intensa e uma postura mais agressiva em relação à Rússia.

Os gastos militares por região entre 1988 e 2018 (exceto para o ano de 1991, cujos gastos da União Soviética não foram divulgados; valores em bilhões de dólares referentes a 2017)

A sanguinária monarquia saudita, o principal aliado árabe dos Estados Unidos no Oriente Médio, manteve-se na terceira posição em gastos militares, com US$ 67,6 bilhões, o que equivale a 8,8% de seu PIB, o maior gasto por PIB do mundo

A administração Obama vendeu mais de US$ 110 bilhões em armas para o reino saudita ao longo de oito anos, e o fornecimento de armas e treinamento tem continuado sob Trump. A Arábia Saudita tem executado um massacre implacável no Iêmen há mais de quatro anos, utilizando caças e bombas fornecidos pelos EUA contra a população indefesa, matando dezenas de milhares e levando milhões à beira da fome.

A Rússia não se manteve entre os cinco primeiros países em gastos militares, com suas despesas caindo pelo segundo ano consecutivo e tendo sido ultrapassada pela França (US$ 63,8 bilhões) e Índia (US$ 66,5 bilhões). O gasto militar indiano, por sua vez, supera em muito o de seu vizinho, o Paquistão (US$ 11,4 bilhões). As duas nações do sul asiático quase entraram em guerra neste ano.

A Alemanha aumentou sua posição mundial de nona para oitava, gastando aproximadamente US$ 50 bilhões em suas forças armadas em 2018, um aumento de 9% desde 2009. O governo de coalizão em Berlim declarou que terá um papel maior em intervenções militares estrangeiras para garantir sua posição como a maior economia da Europa. O país planeja gastar 1,5% do PIB em suas forças armadas até 2025.

Apesar de Moscou sob o presidente Vladimir Putin ter sido considerada uma ameaça às nações da Europa do Leste e Central, sem mencionar a suposta ameaça à sobrevivência da democracia estadunidense, a OTAN (US$ 963 bilhões) superou os gastos da Rússia em aproximadamente 16 vezes. Desde 2016, milhares de soldados dos EUA e da Europa Ocidental foram enviados para países membros da OTAN em regiões próximas ou que fazem fronteira com o oeste da Rússia, servindo como um potencial gatilho para uma guerra com uma das maiores potências nucleares no mundo.

A Polônia tem sido a ponta de lança da escalada militar na Europa Central, gastando US$ 11,6 bilhões em 2018, um aumento de 8,9% em relação ao ano anterior e aproximadamente 50% em relação a 2009. Com aproximadamente 800 soldados estadunidenses destacados na Polônia em um esquema de revezamento a apenas 81 km do enclave russo de Kaliningrado, o Pentágono quer construir uma base militar permanente no país, apelidada de “Forte Trump”.

Oito dos 15 países que tiveram o maior aumento relativo em gastos militares são da Europa Meridional ou Central. A Letônia aumentou seus gastos militares em 24%, a Bulgária em 23%, a Ucrânia em 21% e tanto a Lituânia quanto a Romênia aumentaram seus gastos militares em 18%. O aumento de 156% dos gastos militares da Lituânia foi o maior na década passada.

Os gastos na Ásia e Oceania superaram US$ 500 bilhões, liderados pela China, Índia, Japão (US$ 46,6 bilhões), Coréia do Sul (US$ 43,1 bilhões) e Austrália (US$ 26,7 bilhões). O ano de 2018 foi o trigésimo ano consecutivo de aumento de gastos militares nesses continentes. Nesse período, o foco da política externa dos EUA tem sido sua oposição ao crescimento da China, tanto com uma escalada militar com o “Pivô para a Ásia” de Obama quanto agora com as políticas de guerra comercial de Trump.

Gastos militares de 2018 dos EUA, Rússia e outros membros da OTAN (em bilhões de dólares)

O que os dados do SIPRI mostram é que, quase três décadas após a dissolução da União Soviética, o fim da Guerra Fria e o muito comemorado “triunfo” da ordem econômica capitalista, a humanidade enfrenta uma nova corrida armamentista, liderada pelo imperialismo estadunidense, que ameaça o início de uma nova guerra mundial catastrófica entre potências nucleares.

Assim como nas duas guerras mundiais, a divisão do mundo em estados-nação competindo pelo controle sobre recursos e zonas geoestratégicas ameaça novamente arrastar o mundo à catástrofe. Uma quantidade colossal de recursos está sendo desperdiçada pelas elites governantes que competem para garantir seus interesses econômicos regionais e globais à custa da classe trabalhadora mundial. Os dados do SIPRI mostram que mais de US$ 41 trilhões foram gastos construindo arsenais mortíferos e destrutivos ao redor do mundo nas últimas três décadas.

Com novos crimes de guerra sendo preparados em Washington, D.C. e nas capitais da Europa, aqueles que expuseram os crimes passados do imperialismo estadunidense, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e os denunciantes Chelsea Manning e Edward Snowden, estão sendo silenciados. A questão crítica diante da classe trabalhadora mundial hoje não é entre reforma ou revolução, mas entre revolução ou contrarrevolução. A classe trabalhadora internacional precisa ser mobilizada para pôr um fim ao insano impulso em direção à guerra que ameaça toda a humanidade.

O recente período tem visto um interesse crescente no socialismo e o crescimento da luta de classes internacionalmente. Dos protestos dos coletes amarelos na França até as manifestações em massa na Argélia, as greves de professores nos EUA e as greves de trabalhadores de empresas maquiladoras no México, esse movimento se desenvolveu independentemente e em oposição aos sindicatos e organizações políticas pró-capitalistas.

Apenas o Comitê Internacional da Quarta Internacional está lutando para oferecer à classe trabalhadora um programa político para se opor à guerra, ao crescimento da extrema direita e à perseguição a Assange e Manning. Todos aqueles que querem acabar com a guerra imperialista e a desigualdade social devem se inscrever hoje para participar ao vivo do Comício Online Internacional de 1˚ de Maio neste sábado, 4 de maio, e se juntar à luta pelo socialismo!

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