Publicado originalmente em 24 de dezembro de 2024
A temporada de férias começou nos Estados Unidos juntamente com a da luta de classes. Milhares de trabalhadores da Amazon e da Starbucks estão em greve, e muitos outros estão buscando se juntar a eles.
O World Socialist Web Site apóia essas greves e faz um chamado para que os trabalhadores se mobilizem para apoiá-las. Essa não é apenas uma luta de duas categorias da classe trabalhadora, mas uma luta de interesse vital para todos os trabalhadores. E é um sinal de uma tendência que se intensificará globalmente em 2025.
Os motoristas da Amazon na cidade de Nova York, Atlanta, sul da Califórnia, São Francisco e Skokie, no estado de Illinois, estão em greve, de acordo com o sindicato Teamsters. Segundo informações, essa é a maior greve da história da empresa. Os motoristas exigem vínculo empregatício, salários dignos e o fim do sistema de classificação no estilo Uber, que controla seus horários de trabalho.
No Queens, em Nova York, motoristas empregados por 20 empresas terceirizadas estão em greve. Eles ganham cerca de US$ 15 por hora, muito abaixo do salário-mínimo para um pai solteiro na cidade de Nova York (US$ 56,42 por hora). Existem condições semelhantes no depósito JFK8 em Staten Island, onde 5.500 trabalhadores votaram a favor da sindicalização em março de 2022.
O Teamsters tem deixado de lado os trabalhadores do JFK8, limitando a greve a protestos simbólicos, apesar da recusa da Amazon em negociar um contrato. Os dirigentes do Teamsters esperam convencer a Amazon de que o reconhecimento do sindicato e as melhorias marginais reduzirão a enorme taxa de rotatividade da empresa e evitarão futuras greves dos 1,1 milhão de trabalhadores da empresa nos EUA.
O sindicato quer ter as mesmas relações de conforto com a gerência que tem na UPS, onde está ajudando a realizar demissões em massa como parte de uma reestruturação no estilo da Amazon. Os trabalhadores da Amazon, por outro lado, querem uma luta séria para interromper as operações e alcançar suas reivindicações.
Na segunda-feira, os baristas da Starbucks em Boston, Dallas-Fort Worth e Portland, no estado de Oregon, aderiram às greves iniciadas em 20 de dezembro. A greve já afetou 50 lojas em 12 grandes cidades, incluindo Seattle, Los Angeles, Chicago, Nova York e Filadélfia.
Segundo o sindicato Starbucks Workers United, que abrange trabalhadores de 525 lojas, a empresa está se recusando a negociar seriamente. Apesar dos US$ 3,76 bilhões em lucros em 2024, a Starbucks não está oferecendo à maioria dos baristas nenhum aumento imediato e apenas 1,5% de aumentos futuros garantidos. A Starbucks rejeitou as exigências de salários mais altos, chamando-as de “insustentáveis”. A empresa alega que seu salário médio de US$ 18 por hora e seus benefícios são incomparáveis com os de outros varejistas.
Tanto a Amazon quanto a Starbucks são gigantescas corporações globais. A Amazon, com sua vasta força de trabalho em mais de 50 países, domina setores como varejo, logística, tecnologia e entretenimento. A Starbucks, com mais de 360.000 funcionários e presença em 80 países, fica atrás apenas do McDonald's em capitalização de mercado para empresas do setor de alimentação.
Ambos são controlados por uma oligarquia capitalista que lucra com a exploração da classe trabalhadora. O proprietário da Amazon, Jeff Bezos, com um patrimônio líquido superior a US$ 241 bilhões, e o ex-CEO da Starbucks, Howard Schultz, cuja riqueza é estimada em US$ 3,2 bilhões, personificam o vasto abismo entre os ultra-ricos e a classe trabalhadora.
A luta contra essas corporações e a classe dominante como um todo exige a mobilização da força coletiva de toda a classe trabalhadora. A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) está lutando para construir uma contraofensiva de base por meio da criação de comitês em todos os locais de trabalho.
Esses comitês devem organizar as ações necessárias para abolir o sistema de “make rate” [“taxa de produção”, em tradução livre, em que paga por tarefa realizada ao invés de por hora trabalhada] na Amazon, acabar com a precarização do trabalho em ambas as empresas e garantir salários dignos para todos os trabalhadores. Por meio da AOI-CB, os trabalhadores estabelecerão linhas diretas de comunicação e coordenarão suas lutas além das fronteiras nacionais. Esses comitês lutarão pelo poder operário contra os ataques da gerência e as traições dos dirigentes sindicais.
A organização de uma luta nessas linhas, fora da qual são impensáveis grandes conquistas dos trabalhadores contra essas corporações globais, exige uma luta dos trabalhadores para tirar o controle das mãos dos burocratas pró-gerência. A única preocupação dos burocratas do aparato que controla os sindicatos é preservar suas conexões políticas e seus salários de seis dígitos.
Desde a Era Dourada, no final do século XIX e início do século XX, e o governo de Carnegie, Rockefeller e outros barões ladrões, nunca foi tão evidente que a classe trabalhadora está enfrentando uma oligarquia capitalista, que exerce controle total sobre a vida econômica e política. Milhões de trabalhadores estão cada vez mais conscientes de que terão de lutar contra essa oligarquia ou serão escravizados por ela.
Todos os índices de dificuldades sociais - salários reais em queda, desemprego, pobreza, fome e falta de moradia - pioraram no último ano. Mas para a classe dominante, 2024 foi um ano abundante.
“Foi um ano surpreendente para os bilionários, com mais da metade dos mais de 2.800 membros do clube das três vírgulas do planeta ficando mais ricos em 2024”, informou a Forbes. Os 10 bilionários mais ricos do ano aumentaram sua riqueza em US$ 730 bilhões, segundo a Forbes, com Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, ultrapassando US$ 400 bilhões.
O novo governo Trump é composto por um grupo de oligarcas, em que ser bilionário ou multimilionário é o primeiro requisito para ser nomeado. Mas os planos de Trump, Musk e outros bilionários de deportar dezenas de milhões de imigrantes, cortar trilhões de programas sociais e destruir os ganhos sociais e democráticos conquistados pela classe trabalhadora em gerações de luta encontrarão resistência maciça.
A luta contra o governo Trump também levará a um conflito com a burocracia dos sindicatos. O presidente do Teamsters, Sean O’Brien, tem estado na vanguarda de uma onda de dirigentes sindicais que declaram seu apoio às políticas de Trump, especialmente endossando seu nacionalismo tóxico da “America First” [“EUA em Primeiro Lugar”, em tradução livre].
A luta de classes está emergindo como a força motriz dos eventos políticos. Neste último ano, houve um aumento na luta de classes global. Protestos maciços eclodiram contra a ofensiva israelense em Gaza, apoiada pelos EUA. Greves gerais contra a austeridade e a repressão varreram a Argentina, a Guiné, a Nigéria, a Grécia e a Itália. Na Irlanda do Norte, 150.000 trabalhadores do setor público realizaram a maior greve em mais de meio século. Greves significativas também ocorreram na Coreia do Sul (trânsito de Seul, Samsung), Sri Lanka (ferroviários), Chile (mineiros de cobre), Brasil (portuários), Turquia (metalúrgicos, mineiros), Alemanha (Lufthansa, VW), Reino Unido (ferroviários e aeroportuários), França (portuários, ferroviários e setor público) e México (siderúrgicos e trabalhadores do setor automotivo).
Nos Estados Unidos, as greves envolveram os trabalhadores de telecomunicações da AT&T nos estados do Sul, quase 40.000 trabalhadores acadêmicos da Universidade da Califórnia defendendo seus alunos contra a prisão por protestarem contra o genocídio em Gaza, a greve de dois meses de 33.000 trabalhadores da Boeing e a paralisação de 47.000 trabalhadores portuários nas costas leste e do Golfo. No Canadá, milhares de educadores e ferroviários da província de Saskatchewan, trabalhadores portuários e dos Correios do Canadá entraram em greve.
As greves da Amazon e da Starbucks são uma indicação inicial da tempestade de conflitos de classe que se aproxima em 2025. Nos EUA, isso inclui lutas renovadas dos trabalhadores portuários, ferroviários, educadores e profissionais da saúde.
A conexão entre os ataques aos trabalhadores em casa e as guerras em expansão do imperialismo americano e mundial pelo domínio de matérias-primas, mercados, lucros e mão de obra barata está se tornando mais clara do que nunca. Os discursos de Trump sobre a tomada do Canal do Panamá e o discurso de guerra dos democratas contra a Rússia andam de mãos dadas com os planos de implantar as forças armadas contra os imigrantes e o “inimigo interno”, ou seja, a classe trabalhadora.
A corrida desenfreada dos bilionários do mundo, apoiada por todo o establishment político, deixou mais claro do que nunca que a própria sobrevivência da humanidade, sem falar na retomada do progresso humano e na conquista da igualdade social, depende inteiramente da expropriação dos bilionários e do fim de seu controle ditatorial sobre a sociedade.
O World Socialist Web Site apela para o mais amplo apoio possível aos trabalhadores em greve da Amazon e da Starbucks e para a construção da AOI-CB para organizar uma poderosa contraofensiva industrial e política da classe trabalhadora no Ano Novo nos Estados Unidos e em todo o mundo.