Publicado originalmente em 16 de novembro de 2024
Em seu primeiro encontro com um chefe de estado estrangeiro, o presidente eleito Donald Trump recebeu o presidente fascista argentino Javier Milei em um jantar de gala na quinta-feira em seu resort Mar-a-Lago, na Flórida.
Trump apresentou Milei como seu principal convidado e modelo em uma declaração feita diante de seus colegas oligarcas presentes, declarando sob aplausos: “O trabalho que vocês fizeram é incrível. ‘Make Argentina Great Again’, vocês sabem, MAGA. Ele é uma pessoa do MAGA”.
O baile de gala em si foi um espetáculo obsceno. Os ricos participantes, que pagaram até US$ 25.000 por ingresso, brindaram e aplaudiram de pé quando Milei dançou ao som de “YMCA” a caminho do palco, onde combinou vozes bufônicas com um discurso hitleriano. Em um determinado momento, Sylvester Stallone, famoso por interpretar tipos vazios como Rambo, abraçou o fascista argentino e posou para fotos.
Milei começou parabenizando Trump, dizendo que “o mundo é um lugar muito melhor, e os ventos da liberdade estão soprando muito mais fortes” após a vitória de Trump, que ele chamou de “o maior retorno político de toda a história”.
Em seguida, ele se lançou em um ataque prolongado ao “socialismo” que provocou aplausos e assobios. Ele começou: “Em 1848, Marx escreveu o sinistro panfleto que foi seu Manifesto Comunista, dizendo que um espectro estava assombrando a Europa, o espectro do comunismo. Hoje, um espectro diferente assombra o mundo, o espectro da liberdade.”
A palavra “liberdade”, segundo ele, significa liberar as corporações, os bancos e os monopólios de qualquer impedimento em sua busca por lucro por meio da exploração da classe trabalhadora.
Milei é explicitamente a favor de reverter a situação social dos trabalhadores para o século XIX. Ele já disse anteriormente que deseja retornar a Argentina ao “modelo liberal de 1860”, o que significa demolir a educação pública, o sistema de saúde, os órgãos reguladores, os direitos trabalhistas e as instituições públicas estabelecidas ao longo de mais de um século como concessões de uma classe dominante temerosa de uma revolução social, especialmente após a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia.
No baile de gala em Mar-a-Lago, Milei se reuniu pela quarta vez em menos de um ano com Elon Musk, dono da Tesla, o principal financiador da campanha de Trump e o homem mais rico do mundo.
Deixando claro que o programa de Milei atende diretamente aos interesses das seções mais implacáveis da oligarquia financeira imperialista, o multibilionário escreveu em sua plataforma X em setembro: “O presidente @JMilei está fazendo um trabalho incrível ao restaurar a grandeza da Argentina! O exemplo que está dando com a Argentina será um modelo útil para o resto do mundo.”
Agora, esse mesmo Musk, junto com o bilionário e ex-candidato republicano às primárias, Vivek Ramaswamy, deve chefiar um novo “Departamento de Eficiência Governamental” encarregado de propor trilhões de cortes nos gastos sociais e a abolição de todas as regulamentações sobre as corporações capitalistas e o capital financeiro.
As generosas homenagens a Milei, que é conhecido na Argentina como “el loco”, serviram para mostrar o que o novo governo de Trump está preparando para os trabalhadores nos Estados Unidos. O próprio Milei disse na semana passada que Trump está “copiando nosso modelo” e que o ministro da desregulamentação e transformação do Estado da Argentina, Federico Sturzenegger, esteve em discussões com Musk sobre “como desregulamentar a economia dos EUA”.
Musk usou a mesma linguagem de “dor” de Milei e propôs cortar US$ 2 trilhões dos US$ 6,75 trilhões do orçamento federal dos EUA. Isso é similar aos cerca de 30% de cortes orçamentários que Milei implementou em menos de um ano desde que assumiu o cargo em dezembro passado.
Os trabalhadores que votaram em Trump na esperança de que seu slogan “Make America Great Again” possa significar melhores padrões de vida para a grande massa de trabalhadores devem examinar atentamente o que foi feito pelo governo da Argentina, que agora é apresentado como modelo. Além disso, aqueles que votaram contra Trump ou não votaram e agora estão sendo submetidos às tentativas do Partido Democrata de anestesiar a classe trabalhadora com alegações de que não será tão ruim assim, devem olhar para a Argentina. Eles pretendem realizar a mesma agenda, e pior, nos Estados Unidos.
Tendo empunhado uma motosserra em seus comícios eleitorais, prometendo cortar os gastos do governo, Milei rapidamente eliminou 13 ministérios, demitiu mais de 10% dos funcionários do governo federal, acabou com a assistência aos restaurantes populares, interrompeu todas as obras públicas e cortou os gastos com educação em 52%, com desenvolvimento social em 60%, com saúde em 28% e com ajuda às províncias em 68%.
Em pouco menos de um ano no cargo, milhões de pessoas caíram na miséria absoluta, com a taxa oficial de pobreza aumentando de 41,7% para 52,9%.
A inflação diminuiu, mas permanece em 193% ao ano, e é apenas menor em comparação com a desvalorização maciça da moeda que Milei implementou em dezembro. Os custos de moradia continuaram a aumentar, subindo 135% em Buenos Aires no último ano.
Nos primeiros nove meses do governo Milei, os salários reais caíram 16,5% para os funcionários públicos e 2,1% para os funcionários privados do setor formal. A metade da força de trabalho que atua no setor informal foi atingida de forma ainda mais dramática pela inflação, embora não haja números confiáveis.
A economia argentina sofrerá uma contração de 3,6% este ano, em grande parte como resultado dessas medidas, destruindo inúmeros empregos. Apenas nos primeiros seis meses sob o governo Milei, o número de trabalhadores registrados como empregados formais que pagam à previdência social caiu 5%, incluindo 150.859 perdas de emprego no setor privado, 67.133 no setor público e 291.959 entre autônomos ou independentes.
A aplicação dessa terapia de choque econômico tem exigido formas cada vez mais ditatoriais de governo. Durante meses, houve ondas contínuas de protestos de aposentados, ocupações de universidades e greves de professores, profissionais de saúde e praticamente todos os setores da classe trabalhadora.
Milei respondeu com a repressão de Estado policial e a criminalização da oposição política. Seu governo decretou uma medida draconiana contra protestos, proibindo o bloqueio de ruas, piquetes e greves em vários setores. Idosos que protestavam contra a redução de suas aposentadorias para níveis inferiores aos de subsistência foram agredidos com canhões de água, gás lacrimogêneo e cassetetes.
Enquanto isso, Milei se empenhou em justificar os crimes da ditadura militar fascista que governou a Argentina por quase uma década após um golpe de 1976 apoiado pela CIA. Cerca de 30.000 trabalhadores, jovens e intelectuais de esquerda foram sequestrados, mortos e desapareceram sob o comando da junta fascista, enquanto outras dezenas de milhares foram presos e torturados.
Milei não está apenas sendo apontado como modelo por Trump, mas também tem sido um convidado importante nos principais fóruns da oligarquia financeira e do imperialismo mundial, incluindo o último Fórum Econômico Mundial em Davos e a cúpula do G7 na Itália, além de o chanceler alemão Olaf Scholz ter estentido o tapete vermelho a Milei. Ele se reunirá com o presidente francês Emmanuel Macron no sábado e participará da Cúpula do G20 no Brasil na segunda-feira.
O governo Biden também elogiou suas políticas econômicas e chamou a burocracia sindical argentina de “modelo”, incentivando-a a trabalhar em estreita colaboração com Milei. Essa colaboração resultou no isolamento de greves e outros esforços para suprimir a oposição social maciça.
O Pentágono, sob o comando de Biden, fortaleceu os laços com o governo Milei e aprovou a compra de aviões de guerra e a instalação de fábricas de munição dos EUA no país. O imperialismo americano vê o governo Milei como uma ponta de lança contra a influência chinesa, russa e iraniana na América Latina, que ele ainda considera com desdém como seu “próprio quintal”.
Milei visitou e desenvolveu laços estreitos com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, cujo partido é o Irmãos da Itália, o sucessor neofascista de Mussolini, e com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que está intensificando o genocídio em curso em Gaza.
A oligarquia financeira-corporativa está tentando reorganizar o mundo por meio da contrarrevolução social e da ditadura política. Trump e Milei representam esse programa, que tem como objetivo extinguir todas as concepções de igualdade social, inclusive aquelas incorporadas na Revolução Americana e na Guerra Civil.
Uma mudança tão drástica nas formas políticas de governo da classe dominante capitalista inevitavelmente produzirá crises políticas ainda mais profundas e a eclosão de lutas sociais em massa. Entretanto, a ameaça do fascismo e da guerra mundial só pode ser derrotada pela intervenção consciente e revolucionária da classe trabalhadora com base em um programa socialista e internacionalista.