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Perspectivas

Eleição geral antecipada no Reino Unido: Um prelúdio da guerra direta da OTAN contra Rússia

Publicado originalmente em 24 de maio de 2024

O anúncio do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, na semana passada, de que uma eleição geral antecipada será realizada em 4 de julho foi um choque até mesmo para seus próprios parlamentares conservadores.

Ministros e parlamentares falaram da decisão como “loucura”, com o Partido Conservador 20 pontos atrás do Partido Trabalhista, a oposição, nas pesquisas. Os aliados ministeriais mais próximos de Sunak foram mantidos no escuro até uma reunião de gabinete convocada menos de uma hora antes de o primeiro-ministro anunciar publicamente a decisão do lado de fora da Downing Street sob uma chuva torrencial.

No entanto, a decisão de Sunak e a rapidez e o sigilo de sua implementação estão ligados aos cálculos da classe dominante britânica e de seus aliados imperialistas nos EUA de que a antecipação das eleições é necessária para sufocar a crescente oposição à guerra e estabelecer as bases políticas para uma escalada maciça do conflito com a Rússia.

Rishi Sunak (centro) dá entrevista coletiva com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg (esquerda), e depois se encontra com soldados britânicos estacionados na base militar da Brigada de Blindados de Varsóvia, Polônia, 23 de abril de 2024 [Photo by Simon Walker/No 10 Downing Street / CC BY-NC-ND 2.0]

Em seu anúncio, Sunak deixou claro que o mais pesou em suas considerações foi a rápida escalada da guerra de facto da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. “Esta eleição ocorrerá no momento mais perigoso para o mundo desde o fim da Guerra Fria”, declarou ele. “A Rússia de Putin está travando uma guerra brutal na Ucrânia e ele não vai parar por aí se for bem-sucedido.”

Ele acrescentou: “No Oriente Médio, as forças do extremismo islâmico ameaçam a estabilidade regional e, em última análise, a estabilidade global”, enquanto “a China busca dominar o século 21 roubando a liderança em tecnologia, e a migração está sendo usada como arma por Estados hostis para ameaçar a integridade de nossas fronteiras”.

O foco da eleição geral na guerra e na segurança nacional é ditado pelos preparativos avançados para uma nova etapa do conflito na Ucrânia, envolvendo o uso de armamento da OTAN para atingir diretamente a Rússia e até mesmo o envio de tropas da OTAN para a zona de guerra.

O Reino Unido é o principal aliado militar do imperialismo dos EUA e tem estado na vanguarda de cada movimento de escalada na Ucrânia, incluindo o envio de forças especiais e o treinamento de milhares de tropas ucranianas. Foi durante o governo de Boris Johnson que o conflito eclodiu pela primeira vez em 24 de fevereiro de 2022. Johnson queria que o apoio britânico à guerra se tornasse a marca de seu governo.

Mas, ao longo de todo o conflito, Washington teve que contar com um governo profundamente instável no Reino Unido, assolado por conflitos internos violentos e pelo ódio de milhões de pessoas, especialmente em resposta à agenda assassina de imunidade de rebanho adotada durante uma pandemia que ceifou mais de 230 mil vidas.

Johnson foi forçado a renunciar à liderança do Partido Conservador em 7 de julho de 2022, tornando-se o primeiro líder de uma grande potência imperialista a cair do poder durante a guerra por procuração da OTAN contra a Rússia.

Um artigo da coluna Perspectiva do World Socialist Web Site observou em 8 de julho de 2022:

O medo político por trás da decisão de trocar a direção do governo, que quase levou ao seu colapso, é que Johnson é uma figura tão controversa e desacreditada que não podia estar encarregado do próximo estágio da ofensiva da classe dominante contra a classe trabalhadora e da continuação da guerra da OTAN na Europa.

Sua renúncia forçada, explicou o WSWS, “desencadeou uma disputa pelo poder dominada por ex-militares”, que acabou sendo vencida pela belicista raivosa Liz Truss, Secretária de Relações Exteriores de Johnson, que durante sua campanha se gabou de estar pronta a usar armas nucleares contra a Rússia.

Mas, depois de assumir o cargo, em setembro de 2022, Truss foi rapidamente deposta em 20 de outubro, sob pressão dos mercados globais após anunciar enormes cortes de impostos sem fontes de investimento.

Desde então, qualquer esperança de que sua substituição por Sunak traria a ansiada estabilidade política foi frustrada pelo aumento constante da oposição social e política à agenda conservadora de austeridade e guerra – oposição que primeiro eclodiu na onda de greves em 2022 e depois tomou forma política no movimento de massas em oposição ao apoio da Grã-Bretanha ao genocídio de Israel em Gaza.

Os esforços de Sunak para salvar seu cargo de primeiro-ministro, assim, concentraram-se em tentativas de atender às exigências de Washington para colocar a guerra no centro da agenda do governo.

Em 23 de abril, em uma base militar em Varsóvia, na Polônia, ele anunciou que a Grã-Bretanha aumentaria os gastos militares para 2,5% do PIB, “garantindo que o Reino Unido continue sendo, de longe, o segundo maior investidor em defesa da OTAN, depois dos EUA”.

Ele disse que estava colocando o “setor de defesa do Reino Unido em pé de guerra” e que enviaria à Ucrânia “o maior pacote de equipamentos militares britânicos de todos os tempos”, incluindo “mais de 400 veículos, 4 milhões de cartuchos de munição, 60 barcos e embarcações de ataque offshore, defesas aéreas vitais e mísseis Storm Shadow de longo alcance guiados com precisão”.

Em 3 de maio, ao se reunir com o presidente ucraniano Zelensky, o secretário de Relações Exteriores David Cameron deu sinal verde para a Ucrânia usar mísseis Storm Shadow britânicos contra alvos dentro de territórios russos reconhecidos.

Por fim, em um discurso de 13 de maio que deu a linha da campanha do Partido Conservador às eleições gerais, Sunak alertou: “O mundo está mais próximo de uma escalada nuclear perigosa do que em qualquer outro momento desde a crise dos mísseis de Cuba”, atribuindo a culpa a “um eixo de Estados autoritários como Rússia, Irã, Coreia do Norte e China”.

Ele declarou que “a guerra voltou à Europa, e nossos aliados da OTAN estão alertando que, se Putin for bem-sucedido na Ucrânia, eles podem ser os próximos”.

Ele ameaçou uma repressão selvagem aos protestos contra o genocídio em Gaza e contra a guerra, denunciando-os como um abuso de “nossos valores democráticos liberais”.

Mas nem Washington nem a classe dominante britânica podem tolerar que um governo ineficaz e desprovido de qualquer legitimidade permaneça no cargo. Sunak foi, portanto, forçado a convocar eleições gerais, mesmo que isso signifique uma derrota quase certa para seu governo.

Os comentários da mídia deixam claro que o Partido Trabalhista de Sir Keir Starmer agora é visto como um instrumento confiável e mais eficaz para travar guerras no exterior, impor medidas de austeridade para pagar pela guerra e reprimir a oposição da classe trabalhadora que será provocada. Seu governo não representará uma mudança na política dos conservadores, mas sua continuação, se valendo amplamente dos serviços do aparato burocrático sindical.

Starmer e sua bancada começaram os preparativos para assumir o cargo expulsando Jeremy Corbyn e seus principais aliados do partido no parlamento para provar que o Partido Trabalhista não era apenas o partido mais favorável ao capital, mas o “partido da OTAN”, comprometido com a guerra contra a Rússia, e o partido do sionismo, pronto para apoiar o genocídio em Gaza e uma guerra mais ampla no Oriente Médio.

Starmer disse ao Daily Mail em abril que sua política pró-OTAN – reforçada por repetidas declarações de sua disposição a usar armas nucleares – avança “diante das crescentes ameaças globais e da crescente agressão russa. (...) O Partido Trabalhista renovado que eu lidero sabe que nossa segurança nacional está sempre em primeiro lugar”.

Se os trabalhistas vencerem as eleições de 4 de julho, a primeira viagem internacional de Starmer será para a cúpula da OTAN em Washington, de 9 a 11 de julho, onde serão discutidos os planos para intensificar a agressão contra a Rússia.

O grande perigo político que a classe trabalhadora enfrenta é que, atualmente, ainda é pouco compreendido o quão avançados estão os preparativos para uma guerra mais ampla.

Milhões de trabalhadores e jovens saíram às ruas internacionalmente para se opor ao genocídio de Israel em Gaza. Os manifestantes no Reino Unido detestam tanto Sunak como Starmer.

No entanto, a direção desses movimentos, como a “Stop the War Coalition” (Coalizão Parem a Guerra), não fez nenhuma tentativa séria de explicar que o que está ocorrendo é uma tentativa das potências imperialistas de redividir o mundo e seus recursos entre si – em que a guerra contra a Rússia na Ucrânia, o apoio ao assassinato em massa e limpeza étnica dos palestinos e as provocações contra o Irã e a China são várias frentes de um único conflito global.

Os esforços para desarmar a classe trabalhadora agora se concentram na tentativa de limitar a oposição ao Partido Trabalhista a um inofensivo voto de protesto em chapas majoritariamente muçulmanas e contra os parlamentares mais de direita, ao mesmo tempo em que se insiste que o Partido Trabalhista deve ser apoiado como um “mal menor” em relação aos conservadores, podendo ser pressionado à esquerda.

Essa traição política é combatida pelo Partido Socialista pela Igualdade. Estamos apresentando candidatos nesta eleição geral em oposição aos partidos Conservador e Trabalhista. Alertamos que um governo Starmer será um inimigo mortal da classe trabalhadora, comprometido com a guerra no exterior e com a guerra de classes internamente. Nosso objetivo é organizar um movimento de massas de trabalhadores e jovens contra o genocídio em Gaza, a guerra na Ucrânia e os planos de guerra contra o Irã e China, e construir a direção socialista necessária para essa luta de vida ou morte.

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