Publicado originalmente em 12 de fevereiro de 2024
James P. Cannon and the Emergence of Trotskyism in the United States, 1928-1938 [James P. Cannon e o Surgimento do Trotskismo nos Estados Unidos, 1928-1938], de Bryan D. Palmer, 1.208 pp., Haymarket Books, 2023
O segundo de uma série programada de três volumes do historiador Bryan Palmer sobre o fundador do trotskismo americano James P. Cannon abrange o período de 1928, quando Cannon foi expulso do Partido Comunista dos EUA por defender as posições de Leon Trotsky, até 1938, quando teve um papel de destaque na fundação da Quarta Internacional e do que era sua então seção americana, o Socialist Workers Party (SWP – Partido Socialista dos Trabalhadores).
O primeiro volume, publicado em 2007, tratou da contribuição de Cannon para o desenvolvimento do comunismo americano em seus primórdios. Palmer concluiu esse trabalho com Cannon obtendo, por acaso, uma cópia traduzida da Crítica ao Projeto de Programa da Internacional Comunista, de Trotsky, preparada para seu Sexto Congresso realizado em Moscou em 1928, para o qual o futuro líder do trotskismo americano tinha viajado como delegado. Antes de ler esse documento, Cannon não havia compreendido as questões críticas da estratégia revolucionária internacional subjacentes à luta travada pela Oposição de Esquerda, liderada por Trotsky, contra a burocracia stalinista que controlava o Partido Comunista e o Estado soviético.
Cannon, juntamente com o canadense Maurice Spector (1898-1968), concordou com a análise devastadora de Trotsky sobre o stalinismo e defendeu suas posições no retorno à América do Norte, com o apoio de Max Shachtman (1904-1972) e Martin Abern (1898-1949). Embora a Oposição de Esquerda tivesse sido, desde o início, uma tendência internacionalista, a adesão de Cannon ao seu programa em 1928 e sua fundação da primeira organização trotskista nos EUA, a Liga Comunista dos EUA, marcaram o estabelecimento da Oposição de Esquerda como um movimento internacional e ajudaram a construir as bases para a formação da Quarta Internacional. Esses fatos, por si só, conferem imensa importância ao assunto tratado por Palmer.
O presente volume é uma fonte indispensável de informações sobre o início da história do trotskismo nos EUA – na verdade, é mais uma história do trotskismo americano do que uma biografia de Cannon. Com 1.153 páginas de texto, James P. Cannon and the Emergence of Trotskyism [James P. Cannon e o Surgimento do Trotskismo] é verdadeiramente enciclopédico.
A extensão devida a um trabalho árduo é mérito do autor: Palmer faz uso de 19 coleções de arquivos diferentes, 35 jornais históricos, aproximadamente 200 escritos publicados por Cannon e cerca de 500 livros, incluindo 40 de Trotsky. Tudo isso é cuidadosamente citado em notas de rodapé.
No entanto, certos problemas surgem do grande volume de pesquisa. O leitor se depara com uma quantidade enorme e, às vezes, avassaladora de detalhes. Em um livro como esse, é fácil perder a floresta do significado histórico no denso conjunto de árvores criado pelos muitos eventos e indivíduos discutidos.
As questões históricas, políticas e teóricas centrais sobre as quais o movimento trotskista se concentrou entre 1928 e 1938 ficaram em segundo plano, um entre muitos assuntos tratados, geralmente de forma bastante extensa e, às vezes, com detalhes minuciosos.
Isso inclui, entre outros, os esforços de Cannon e seus apoiadores, após serem expulsos, para formar um movimento a partir de fragmentos dispersos do Partido Comunista e da esquerda americana, e para começar a publicar[1] e realizar reuniões diante da perseguição violenta e até mesmo assassina dos stalinistas;[2] os “Dias de Cão” do início da década de 1930, quando os trotskistas lutaram para se firmar na classe trabalhadora – e Cannon lutou contra a luta entre frações no partido e circunstâncias pessoais difíceis; a luta de Cannon no início da década de 1930 para sair do isolamento e entrar na classe trabalhadora, especialmente entre os mineiros de carvão de Illinois; a greve do Teamsters [um sindicato que abrange diversas categorias, como transporte e alimentação] de Minneapolis em 1934, que foi liderada pelos trotskistas; o “entrismo”, primeiro com o American Workers Party (Partido dos Trabalhadores dos EUA) de A. J. Muste (1885-1967) e, depois, com a “virada francesa” no Partido Socialista de Norman Thomas (1884-1968); o trabalho de Cannon entre os trabalhadores marítimos da Califórnia; a criação da Comissão Dewey, que investigou as calúnias feitas contra Trotsky nos Processos de Moscou de Stalin; a luta para ganhar influência entre os trabalhadores da indústria automotiva no final da década de 1930; os desafios levantados pelo trabalho na Federação Americana do Trabalho (AFL) e as dificuldades de penetrar no rival Comitê de Organizações Industriais (CIO – mais tarde chamado de Congresso de Organizações Industriais); e, finalmente, o esforço para construir o SWP e a Quarta Internacional, incluindo a viagem de Cannon ao Reino Unido em 1938 como emissário de Trotsky em uma tentativa de unificar as várias frações inglesas que apoiavam o trotskismo.
Em meio a tudo isso, Cannon aparece como o principal líder dos trotskistas americanos, mas um líder que, no entanto, é constantemente levado a lutar contra o restante da direção interna do partido.
Sempre houve oposição a Cannon no centro do movimento, o Comitê Nacional em Nova York. Aqueles que se opunham a ele variavam um pouco, mas Abern foi consistente em sua hostilidade a partir de 1930 – e em sua confiança nos métodos de atuação nos bastidores para atingir os objetivos de sua fração. No início da década de 1930, Shachtman, Spector e Albert Glotzer (1908-1989) se posicionaram contra Cannon. Os companheiros que Cannon cultivou, incluindo Hugo Oehler (1903-1983) e Tom Stamm, mais tarde se voltaram contra ele, e houve um período de hostilidade até mesmo com seu principal aliado no centro, Arne Swabeck (1890-1986). Considerando toda a carreira de Cannon – desde do Industrial Workers of the World (IWW – Trabalhadores Industriais do Mundo) até os vários rachas da década de 1940 e do início da década de 1950 – percebe-se que a perda política de tantos camaradas e colaboradores teve seu preço. “Parece que meu destino na política sempre foi me desentender com meus amigos íntimos por causa de diferenças políticas”, disse Cannon a um entrevistador no final da vida. “Isso cria um problema emocional e também político” (p. 797).
Na biografia, como em toda a escrita histórica, inevitavelmente vemos a importância de indivíduos e tendências a partir de eventos posteriores, resultados desconhecidos pelos atores nos primeiros momentos de suas vidas. Há um perigo em olhar para a carreira de Cannon na década de 1930 a partir das conquistas políticas que ele alcançou posteriormente devido à sua estreita colaboração com Trotsky na luta contra Shachtman, Abern e James Burnham (1905-1987). Isso resultou em polêmicas críticas realizadas em 1939 e 1940, escritos reunidos nos livros de Trotsky e de Cannon, que expuseram a orientação nacionalista pequeno burguesa dos principais opositores de Cannon e fortaleceram consideravelmente a posição de Cannon como dirigente principal do SWP. Essa ruptura final com Shachtman ocorre após o encerramento do presente volume.
Antes disso, Shachtman e Cannon se aproximaram em mais de uma ocasião, inclusive em 1938, quando se uniram para formar a Quarta Internacional e o SWP. E, no início da década de 1930, Shachtman provavelmente contribuiu tanto quanto Cannon para o movimento trotskista – e provavelmente mais quando se tratava dos jornais do partido e de outras publicações, como Palmer admite. Trotsky, por sua vez, tinha imenso respeito por ambos os principais líderes dos trotskistas americanos. Desconfiado da ameaça de um racha não esclarecido entre eles, Trotsky criticou Cannon pelo uso de métodos organizacionais para resolver problemas políticos – “A lição mais difícil que tive de aprender com Trotsky”, Cannon diria mais tarde, “foi deixar as questões organizacionais esperando até que as questões políticas fossem totalmente esclarecidas” (p. 305).
Enquanto isso, Trotsky criticou Shachtman em parte por causa das manobras desse último entre os camaradas europeus em suas visitas ao continente (p. 274). “O comportamento do camarada Shachtman é extremamente perturbador para mim, e não consigo separar facilmente a luta americana das questões internacionais”, escreveu Trotsky em uma carta a Glotzer em 1932, enquanto em outra carta aos camaradas americanos ele advertiu Shachtman de que “não é fácil presumir que alguém está certo nas questões nacionais mais importantes se está sempre errado nas questões internacionais mais importantes” (p. 308). Trotsky rejeitou as tentativas de Shachtman, Spector e Abern de conseguir a sua aprovação nas lutas com Cannon.
Embora Palmer ofereça muitos exemplos do sectarismo de Shachtman na década de 1930, os indícios de seu futuro rumo à direita surgem apenas no final da década de 1930. Juntamente com Burnham e outros, Shachtman resistiu aos repetidos apelos de Cannon e Trotsky para que se preparasse para “sair” após o “entrismo” no Partido Socialista. Shachtman, ao que parece, havia se apegado ao meio intelectual liberal de esquerda que cercava o Partido Socialista. Quanto a Burnham, o livro revela que ele alimentava a ilusão de que os trotskistas poderiam assumir completamente o controle do Partido Socialista, um partido que, sob o comando de Norman Thomas, estava guinando rapidamente para a direita no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial – assim como Burnham, conforme se verificaria.
Essas questões ainda não estavam totalmente esclarecidas em 1938, quando o estudo de Palmer termina. O que fica claro no livro de Palmer é que Cannon encontrou seu apoio na ala proletária da Liga Comunista dos EUA. Sua base principal durante todo o tempo foram os camaradas operários de Minneapolis – os irmãos Dunne (Vincent, Miles e Grant) e Carl Skoglund, entre outros, parte de uma camada de militantes que inicialmente se aproximaram do trotskismo, nas palavras de Shachtman, “graças principalmente ao fato de que as opiniões de Trotsky eram patrocinadas por um líder do partido [comunista] que gozava do prestígio e da autoridade que Cannon tinha” (p 99).
É possível desenvolver uma simpatia profunda pelos grandes desafios que Cannon enfrentou na luta para construir uma direção revolucionária em um movimento isolado e pouco unificado, avançando sob as ameaças combinadas dos stalinistas, da burocracia sindical reacionária e do Estado americano. A dificuldade foi agravada por problemas pessoais, especialmente nos “dias de cão” do início da década de 1930. Sua esposa e companheira, Rose Karsner (1890-1969), teve um colapso mental, e o casal e seus filhos viviam em verdadeira pobreza. Frequentemente atormentado por úlceras estomacais e enfrentando dificuldades para pagar as passagens de ônibus, serviços públicos e alimentação, Cannon teve de recorrer à caridade de parentes, aceitar pensionistas e, por algum tempo, arrumar um emprego externo. Palmer inclui exemplos de Cannon pedindo ao centro do partido quantias mínimas de dinheiro para continuar trabalhando. Nem sempre o dinheiro era concedido.
Há algumas evidências do alegado alcoolismo de Cannon. Mas parece que sua estratégia preferida de “fuga” do centro do partido e de seu fracionalismo era supervisionar pessoalmente o trabalho na classe trabalhadora. Cannon, o antigo freewheeling Wobbly [Wobbly livre, em tradução livre. Wobbly era uma referência aos membros da IWW] e filho de um trabalhador ferroviário do Kansas de origem irlandesa, sempre se sentiu em casa na estrada e entre os trabalhadores. Vemos o famoso talento de Cannon para as lutas operárias e sua confiança ilimitada na classe trabalhadora americana. Ele se empenhou muito entre os mineiros de carvão de Illinois no início da década de 1930, em Minneapolis entre os caminhoneiros a partir de 1934 e entre os trabalhadores do setor marítimo da Califórnia no final da década de 1930. Mas a presença de Cannon nesse trabalho não foi sem custo. Sua ausência deixou espaço para manobra de seus rivais no centro do partido e, por fim, para que se adaptassem à pressão do liberalismo americano, que, por sua vez, estava se adaptando ao stalinismo na era da Frente Popular em meados da década de 1930.
Assim, Cannon era frequentemente “chamado de volta” para lidar com problemas políticos no centro, em última instância por Trotsky, que, como o texto deixa claro, estava frequentemente irritado com a liderança da Liga Comunista dos EUA e passou, ao longo da década, a depender de Cannon, não apenas para o trabalho nos EUA, mas para a fundação da Quarta Internacional. “Não tenho dúvidas de que a situação na Costa é crítica e importante”, escreveu Trotsky em um apelo para que Cannon deixasse a Califórnia e participasse da conferência de fundação da Quarta Internacional em Paris. “Mas é, no entanto, uma situação local, que amanhã se repetirá em outras partes dos Estados Unidos. A questão na Europa tem um caráter universal: é possivelmente a última reunião antes da guerra; as conferências também darão à seção americana autoridade reforçada para sua ação na Califórnia e em outros lugares” (p. 1130).
Cannon estava ciente da ameaça de um paroquialismo entre os companheiros americanos, inclusive dele próprio. “Nenhum de nós é internacionalista no sentido real da palavra, apenas pensamos que somos”, escreveu ele em 1938. “Em nossos corações, tendemos a pensar em uma estadia na Europa como um período de ausência do trabalho no ‘movimento’, ou seja, em nosso próprio quintal” (p. 1129). No entanto, já em 1934, Cannon alertava contra a concepção de que a construção de uma organização americana era o objetivo central: “A construção de novos partidos e a nova Internacional, que estão inseparavelmente unidas em uma única tarefa, são contrapostas como tarefas separadas, e a construção de partidos nacionais é colocada em primeiro lugar. ... A posição internacional de qualquer partido é hoje o principal teste de seu caráter revolucionário” (p. 730).
Cannon era um escritor extraordinário. Ele conseguia explorar a cor e o humor mundano do linguajar americano sem exageros, de uma forma que lembrava seu conterrâneo do Meio Oeste, Mark Twain. Mas sua escrita mais potente era, acima de tudo, direta, evidenciando uma capacidade de apreender o essencial em uma situação. É possível pensar em sua Carta Aberta de 1953, que fundou o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) e iniciou a longa luta contra o revisionismo pablista, que transferiu o papel principal da classe trabalhadora na revolução para várias outras agências, inclusive a burocracia stalinista e formações nacionalistas do Terceiro Mundo.
A obra de Palmer traz parte dessa prosa política aos leitores pela primeira vez. Em um exemplo, Cannon sentiu a adaptação à burocracia sindical de um futuro líder do pablismo americano, Bert Cochran (1913-1984), advertindo-o em 1936:
O trabalho no centro é a principal escola para o desenvolvimento de camaradas dirigentes. A experiência no campo é necessária; em minha opinião, é quase indispensável para a formação completa de um dirigente partidário. Mas um camarada ativo logo chega a um ponto em que o trabalho de campo não tem mais nada a lhe ensinar, até que ele passe por um período de experiência no centro, onde ele tem que concentrar sua mente cada vez mais em questões nacionais e internacionais e testar a si mesmo em colaboração com outros camaradas do corpo dirigente... O trabalho de campo, por muito tempo prolongado, tende a deter o desenvolvimento político do indivíduo em vez de ampliá-lo. Isso é duplamente verdadeiro no trabalho de campo sindical. A pessoa passa a ter uma mentalidade paroquial. Ela fica soterrada por uma infinidade de pequenas coisas e adia considerações das mais importantes. Ela perde a perspectiva, o senso de proporção e, em alguns casos, até mesmo o senso de humor, confundindo sua irritação com uma série de pequenos aborrecimentos com a indignação revolucionária contra a monstruosidade do capitalismo como sistema mundial (pp. 1087-1088).
Como observa Palmer, provavelmente havia algo de autobiográfico nessas linhas.
Os pontos fortes de Cannon e dos trotskistas americanos foram exibidos em Minneapolis em 1934. Essa é uma das seções mais vivas do livro e contém muitas lições táticas e políticas para os trabalhadores de hoje. É notável, por exemplo, que Skoglund e os Dunne promoveram “comitês setoriais de base ... que fomentaram a solidariedade em uma força de trabalho anteriormente fragmentada” (p. 554). Esses eram trabalhadores que conquistaram o respeito em seu local de trabalho, camaradas que sabiam como organizar lutas com uma perspectiva de classe – o que só foi possível, como Cannon observou, devido à base de sua perspectiva internacional. Os companheiros de Minneapolis, com a orientação de Cannon, prevaleceram no que era então a cidade antissindical mais reacionária do país, derrotando sua fascista Aliança dos Cidadãos. Mais do que isso, eles lutaram contra a burocracia do Teamsters de Daniel Tobin, que estava tão determinado quanto a Aliança dos Cidadãos a destruir os trotskistas e o movimento em direção ao sindicalismo industrial entre os caminhoneiros.
A vitória em Minneapolis possui a estatura das grandes vitórias na história operária americana, e temos um orgulho especial pelo fato de ter sido liderada pelos companheiros operários do movimento trotskista. No entanto, surgiram alguns problemas políticos de onde ainda hoje lições podem ser tiradas. Como Palmer observa corretamente, havia uma tendência, exibida especialmente por Farrell Dobbs (1907-1983), de se adaptar ao Farmer Laborism [Trabalhismo Agrícola], uma formação política reformista que atuava por fora dos partidos Democrata e Republicano que falava à esquerda e ocupava a mansão do governador de Minnesota naqueles anos. A chegada de Cannon a Minneapolis, em 1934, ajudou a orientar os companheiros para uma perspectiva de luta de classes mais nítida, que reconhecia que a greve “deve ser politicamente dirigida porque é confrontada pelo governo a todo o momento” e na qual “o poder, e não a diplomacia, decidiria a questão” (pp. 604-605).
No entanto, apesar de a luta em Minneapolis ter se desenvolvido como um movimento industrial dos trabalhadores não organizados dos pátios de caminhões e dos motoristas de longa distância, assim como uma rebelião total contra a AFL, cuja burocracia nacional fez todos os esforços para esmagá-la, Cannon não percebeu que o grande desenvolvimento dos trabalhadores industriais na década de 1930 ocorreria fora e contra a antiga “Casa do Trabalho”. Por causa disso, os trotskistas americanos reconheceram tarde demais as possibilidades insurrecionais associadas ao nascimento do CIO, que foi fundado no final do outono de 1935 sob a liderança de John L. Lewis (1880-1969), do United Mine Workers [Sindicato dos Mineiros], e Sidney Hillman (1887-1946), do Amalgamated Clothing Workers [que surgiu de um racha do sindicato dos trabalhadores têxteis filiado à AFL]. Os dirigentes da AFL olhavam para os trabalhadores industriais com desprezo – “lixo na porta do trabalho”, nas palavras de um presidente de sindicato – e não faziam nenhum esforço sério para organizar os não sindicalizados.
Até certo ponto, a lentidão de Cannon pode ter surgido da aplicação mecânica das lições que o velho Wobbly havia aprendido sobre o “sindicalismo dual” uma geração antes, quando a cruzada do IWW contra a AFL não havia conseguido atingir as grandes massas de trabalhadores. Mas a pesquisa de Palmer sugere que o próprio sucesso dos trotskistas em apenas dois sindicatos regionais da AFL – o Teamsters em Minneapolis e o Sailors Union of the Pacific [Sindicato dos Marinheiros do Pacífico] em São Francisco – contribuiu para um reconhecimento tardio da nova dinâmica. De fato, mesmo no estado onde o trotskismo tinha maior influência, os companheiros de Minnesota no final da década de 1930 não perceberam o crescimento explosivo do CIO em setores da classe trabalhadora industrial, inclusive entre os maquinistas de Minneapolis e os mineiros de ferro do distrito de Mesabi Range, no nordeste de Minnesota, como observa Palmer. Entre esses trabalhadores, os stalinistas tinham a vantagem.
Por trás disso havia uma perspectiva, nunca totalmente elaborada, de que de alguma forma o partido empurraria os sindicatos existentes para a revolução. Por exemplo, Cannon escreveu:
A luta pela unidade sindical, a luta por um movimento operário revolucionário, deve ser expressa neste momento, neste período, no slogan “Mais fundo nos sindicatos da AFL”. Vamos aonde as massas estão e as conquistamos para a revolução... [Se] conquistarmos as massas de trabalhadores, teremos o movimento e é o movimento que fará a revolução, não o rótulo – e sem o movimento, representado pelos trabalhadores nos sindicatos, não haverá revolução... [O] único pré-requisito para a criação de um núcleo progressista e militante nos sindicatos que possa dar a eles um programa e levá-los à ação é um partido revolucionário (pp. 692-693).
Consideradas separadamente, as várias afirmações dessa declaração são suficientemente verdadeiras. Era necessário na época, como é agora, chegar aos trabalhadores onde eles estão. No entanto, o pensamento de Cannon indicava uma ilusão de que, de alguma forma, os sindicatos da AFL poderiam ser tomados e transformados em instrumentos da revolução.
A pior manifestação dessa tendência de adaptação à AFL ocorreu em 1937 e 1938, com o esforço feito por Bert Cochran e George Clarke (1913-1964) para promover Homer Martin (1901-1968), um burocrata de direita no início do UAW. Palmer escreve que Martin estava “comprometido com a luta contra os stalinistas, mas por motivos muito diferentes dos trotskistas” (p. 1090). Cannon fez algumas críticas a isso em cartas particulares a Cochran, mas o apoiou tacitamente. O esforço continuou até que, como era de se esperar, Martin mudou de direção e atacou os trotskistas. Todo esse caso retardou o desenvolvimento do trabalho entre os operários da indústria automotiva, que estavam emergindo como o setor mais importante da classe trabalhadora americana.
Outra seção do livro que merece atenção especial é o tratamento dado por Palmer ao que foi chamado na década de 1930 de “a questão negra” – a dupla opressão de classe e raça contra os trabalhadores negros na era da segregação racial através das leis Jim Crow. Em apenas 15 anos, os camaradas americanos tinham ido muito além do pensamento do antigo Partido Socialista, que consistia, por um lado, em uma acomodação ao racismo total dos sindicatos da AFL, associado a pessoas como Victor Berger (1860-1929), de Milwaukee, e, por outro lado, na atitude passiva de que a opressão racial seria resolvida no futuro, depois que uma sociedade socialista fosse alcançada, a posição de Eugene Debs (1855-1926).
O fator decisivo para essa mudança foi a Revolução Russa. Os avanços feitos pelos bolcheviques na “questão nacional” e a liderança de Lenin e Trotsky no início da Internacional Comunista fizeram com que se insistisse que a luta contra o chauvinismo era parte integrante da luta contra a exploração capitalista. Portanto, o partido revolucionário tinha de defender o direito de autodeterminação nacional para as minorias oprimidas. Mas a posição leninista, que via a autodeterminação nacional como um direito essencialmente negativo a ser defendido pela vanguarda dos trabalhadores – Trotsky continuou a aderir a essa visão na década de 1930 –, foi distorcida pelos stalinistas americanos, que exigiam a formação de um Estado nacional de maioria negra, criado a partir das partes mais pobres, isoladas e rurais do sul dos Estados Unidos. O plano dos stalinistas tinha pouco apelo para os trabalhadores negros, especialmente nas cidades do norte. Mas seu redirecionamento do movimento dos trabalhadores para a luta contra a opressão racial certamente os atraiu – como, por exemplo, na defesa dos Scottsboro Boys, jovens negros falsamente acusados de estuprar meninas brancas em 1931.
Dentro dessa estrutura, os trotskistas americanos empreenderam uma ampla discussão com o objetivo de se diferenciar dos stalinistas. Entre os envolvidos estavam Cannon, Oehler, Shachtman, Glotzer, John G. Wright (1901-1956) e os primeiros trotskistas negros Simon Williamson e Ernest Rice McKinney (1886-1984). Palmer explica que tanto a fração de Cannon quanto a de Shachtman concordavam que “a luta contra o racismo nos Estados Unidos tinha necessariamente de enfatizar a igualdade e a luta de classes, em vez da nação e da autodeterminação” (p. 349), porque, como Oehler apontou, a promoção stalinista da Nação do Cinturão Negro ocorreu “principalmente no norte e nos centros industriais”, o que implicava que os trabalhadores negros deveriam voltar para o sul e que o trabalhador semi-rural era “o setor decisivo” da população (p. 348).
Além disso, as divisões de classe existiam não apenas entre os brancos, mas também entre os negros. Assim, Cannon, embora inicialmente apoiasse o direito de autodeterminação, sabia que “o trabalho entre as massas negras deve, desde o início, ser baseado na liderança do negro proletário e não da pequena burguesia negra” (p. 338), porque os trabalhadores negros têm “mais motivos do que qualquer outro para serem comunistas” (p. 353). Nada poderia ser concedido a qualquer outra força política: “Os comunistas devem ser os arautos de uma solidariedade genuína entre os trabalhadores explorados da raça branca e os negros duplamente explorados”, disse Cannon (p. 351). O partido tinha como dever especial a organização e a mobilização dos trabalhadores brancos no combate à opressão racial. Porque, explicou Cannon, para conquistar os trabalhadores negros, “uma ação dos trabalhadores brancos [valia] mais do que mil argumentos” (p. 354).
Infelizmente, essas discussões nunca se concretizaram “em uma perspectiva programática coerente”, como escreve Palmer, aparecendo “em um momento em que muitos outros desenvolvimentos ... sobrecarregaram a Liga Comunista dos EUA” (p. 378). O texto que mais se aproximou de um resumo, Communism and the Negro [Comunismo e o Negro], de Max Shachtman, permaneceu inédito até 1973.
Outra seção importante é o tratamento dado por Palmer à Comissão Dewey[3]. Ela revela que Trotsky ficou cada vez mais – poderia até dizer desesperadamente – irritado com a demora dos trotskistas americanos em formar a Comissão e com o que ele percebeu como sendo suas concessões ao liberalismo americano, então sob o domínio do stalinismo. Trotsky exigiu repetidamente que sua defesa fosse realizada na classe trabalhadora e ficou indignado ao saber que a Liga Comunista dos EUA havia feito pouco esforço para vender seu panfleto, I Stake My Life [Eu Arrisco Minha Vida, em tradução livre]. Ele criticou a “imprudência criminosa” dos camaradas americanos (p. 969) e pediu que se concentrassem “no trabalho de massas e não em manobras pessoais com os liberais” (p. 970). O foco da raiva de Trotsky foi George Novack (1905-1992), que atuou como secretário na formação da Comissão Dewey. Foi nesse momento que Trotsky exigiu que Cannon voltasse da Califórnia para Nova York para dar andamento aos trabalhos. Cannon fez isso com algum sucesso, mas é de se perguntar por que ele não supervisionou esse trabalho crucial desde o início.
É revelador o fato de que Trotsky, em sua luta para defender a si mesmo e o programa do socialismo internacional contra as calúnias e ameaças stalinistas, chegou muito perto de acusar Novack de traição. Mais tarde, Novack se tornou um dos mais veementes opositores da investigação do assassinato de Trotsky, realizada pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional. Ele acobertou indivíduos que se revelaram agentes da GPU, a polícia secreta assassina de Stalin – na verdade, um cúmplice após o fato. O livro de Palmer sugere implicitamente uma certa continuidade na orientação de classe de Novack entre esses episódios: Enquanto Trotsky vivia e buscava urgentemente expor os forjados Processos de Moscou, levando a luta para a classe trabalhadora, a principal preocupação de Novack era não perturbar as relações com o meio liberal de Nova York. Após a morte de Trotsky, Novack se opôs a qualquer investigação sobre as circunstâncias que envolveram seu assassinato, mesmo com o amontoado de evidências de que a equipe de segurança do revolucionário, fornecida pelo SWP, estava repleta de agentes.
Um desses agentes foi Joseph Hansen (1910-1979), o líder de fato do SWP por muito tempo após a semi-aposentadoria de Cannon na década de 1950. Mais tarde, Louis Budenz (1891-1972) revelou que Hansen era um agente da GPU antes do assassinato de Trotsky. Quanto à carreira de Hansen após o assassinato, a investigação Segurança e a Quarta Internacional encontrou mais tarde documentação de que ele teve reuniões secretas com o FBI, comunicando-se pessoalmente com o diretor da agência, J. Edgar Hoover (1895-1972). Na verdade, não há nenhuma evidência de que Hansen – a única figura importante do SWP que não foi processada nos julgamentos decorrentes da Lei Smith – tenha interrompido seus contatos com o FBI, contatos que eram desconhecidos pelo restante da direção do SWP.[4]
Hansen aparece como uma figura duvidosa. A maior parte das informações de Palmer parece vir do ensaio de Hansen, The Abern Clique [O Círculo de Abern]. De acordo com sua própria narrativa, Hansen, na época assumidamente um “combatente da fração de Abern”, foi enviado de Utah para São Francisco no final de 1936, onde lhe foi dada a editoria do jornal do Sindicato dos Marinheiros do Pacífico, o Seaman’s Journal. Para isso, foi contratado por uma secretária do sindicato, Norma Perry, que, segundo se acreditava, era membro descontente do Partido Comunista. A partir daí, Hansen logo passou a trabalhar como secretário de Trotsky em 1937. Palmer reconhece que essa série de eventos parece surpreendente:
Assim, Cannon, sabendo muito bem que Hansen era da fração de Abern, ainda assim defendeu que o jovem militante fosse enviado ao México para servir como um dos guarda-costas e motoristas de confiança de Trotsky, em uma época em que esses trabalhos eram extremamente importantes para a segurança de Trotsky e proporcionavam a camaradas americanos específicos uma intimidade privilegiada com o líder mundial do movimento revolucionário. (p. 941)
O relato de Hansen sobre suas origens e como ele chegou ao México deve ser visto com muita desconfiança.[5] Afinal, trata-se de um indivíduo que passou o restante de sua carreira protegendo conhecidos agentes stalinistas envolvidos na conspiração para matar Trotsky. No entanto, embora Cannon entendesse a importância de proteger Trotsky – “A defesa da vida de Trotsky agora é um dever imposto ao movimento operário para se defender”, escreveu ele já em 1934 (p. 954) – ele deve ter pelo menos concordado com a decisão de enviar Hansen para a Cidade do México, tendo conhecido o último por apenas alguns meses.
Espera-se que Palmer, professor emérito de história da Trent University, em Peterborough, na província canadense de Ontário, aborde esse e outros assuntos importantes em seu terceiro volume. Esse volume cobrirá o período final da vida de Cannon, de 1938 até sua morte em 1974, aos 84 anos de idade. Os maiores desafios de Cannon ainda estavam por vir depois de 1938 – como de fato são para seu biógrafo: sua luta, ao lado de Trotsky, contra a fração pequeno burguesa liderada por Shachtman e Burnham no SWP, travada enquanto Washington se preparava para a Segunda Guerra Mundial; o assassinato de Trotsky em 1940; o processo e a prisão de Cannon sob a Lei Smith no mesmo ano, juntamente com outros dirigentes do SWP, por se opor à entrada do imperialismo americano na guerra; e a publicação da Carta Aberta por Cannon em 1953 e a fundação do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), que deu início à longa “guerra civil” contra o revisionismo pablista. A liderança de Cannon nessa luta é incontestável. Preparado politicamente por sua colaboração com Trotsky contra Shachtman, Cannon desempenhou um papel decisivo na preservação da continuidade do trotskismo, ou seja, do marxismo genuíno, uma herança que todas as seções do CIQI ainda defendem.
As últimas décadas da vida de Cannon testemunharam uma um fim trágico a uma extraordinária biografia política. Ao longo da década de 1950, Cannon praticamente se aposentou politicamente, entregando a efetiva direção política do SWP a Hansen, embora Farrell Dobbs fosse nominalmente o secretário do partido. Cannon capitulou ao pablismo no início da década de 1960 em meio à adesão do SWP à Revolução Cubana, uma revolução nacionalista pequeno burguesa que o antigo partido que liderava o trotskismo agora abraçava como obra de “marxistas naturais”.
O destino do SWP após a morte de Cannon também exigiria algumas considerações. Repleto de agentes do FBI que chegavam por meio do Fair Play for Cuba Committee [Comitê para o Tratamento Justo de Cuba] e do COINTELPRO [Programa de Contrainteligência, do FBI], a direção do SWP foi ocupada nas décadas de 1960 e 1970 por um grupo de estudantes da Carleton College, uma pequena faculdade de Minnesota, liderada por Jack Barnes (1940-). Nos anos seguintes, Barnes e o SWP rejeitaram o trotskismo. No início da década de 1980, Barnes expulsou o quadro restante que tinha alguma ligação com Cannon. O que hoje se autodenomina Socialist Workers Party é a negação completa do partido que Cannon estava construindo nos 25 anos entre 1928 e 1953. É uma seita grotesca de direita que, entre outras posições, apoia Donald Trump e a limpeza étnica dos palestinos por Israel.
Mas esse volume ainda não foi escrito. Quanto ao presente trabalho, é claro que há pontos fracos em um livro que trata de tantos assuntos complexos. Para o autor desta resenha, qualquer história que trate da década de 1930 deve capturar um pouco mais do drama e da tragédia do período do que o autor consegue. Em sua narrativa, os acontecimentos globais da época – a Grande Depressão, a ascensão de Hitler, a Guerra Civil Espanhola, os Processos de Moscou, etc. – aparecem como uma espécie de pano de fundo diante do qual Cannon e outros exercem seus papéis. A narrativa de Palmer não expressa suficientemente como os eventos históricos objetivos atuam de forma dinâmica e recíproca sobre os atores. O “sujeito” está, por assim dizer, separado do “objeto”. Da mesma forma, o próprio Cannon não chega a “ganhar vida” como uma personalidade distinta, da mesma forma que algumas figuras históricas foram vividamente retratadas por seus biógrafos – pensemos, por exemplo, na biografia de três volumes de Trotsky escrita por Isaac Deutscher em sua série O Profeta.
Até certo ponto, os pontos fracos emergem das dificuldades da própria carreira de Cannon na década de 1930, quando ele lutou para desenvolver uma síntese na luta pelo trotskismo a partir de lutas esporádicas, na direção de um partido frágil e em um país vasto e complicado. E, até certo ponto, essas fraquezas são inevitáveis em uma pesquisa tão volumosa. Este é um livro que se orgulha dos pontos fortes de sua própria fraqueza, por assim dizer. Os imensos detalhes são obtidos às custas de uma biografia mais literária.
No entanto, Palmer merece grande crédito por abordar seu tema, Cannon, quando a fraternidade acadêmica continua a operar dentro da velha estrutura, estabelecida durante a Guerra Fria, de que não havia alternativa de esquerda ao stalinismo – uma mentira que foi promovida tanto pelos anticomunistas quanto pelos stalinistas. A imensa quantidade de pesquisas encontradas em suas páginas será valiosa tanto para historiadores sérios quanto para trabalhadores radicalizados, pois buscamos a orientação do passado para enfrentar os imensos desafios do presente. Este é um volume que merece ser estudado com cuidado pelos trotskistas e por todos aqueles que buscam um relato honesto da interação entre o levante revolucionário da classe trabalhadora americana e a luta pelo marxismo na década de 1930.
O primeiro jornal trotskista, The Militant, começou a ser publicado em outubro de 1928. Em janeiro de 1929, o Projeto de Programa da Internacional Comunista, de 139 páginas, de Trotsky, foi publicado com uma introdução de Cannon. Em 1930 e 1931, a Liga Comunista dos EUA conseguiu publicar oito panfletos e um livro de Trotsky (pp. 125-133).
Os primeiros encontros públicos dos trotskistas americanos foram realizados em New Haven e na Filadélfia em 21 de dezembro e 28 de dezembro de 1928, dirigidos por Cannon e Shachtman, respectivamente. O encontro de Cannon foi interrompido por stalinistas. Esses ataques se tornaram mais violentos. Dois trabalhadores trotskistas foram assassinados em um protesto público improvisado na Rua Sétima com a Avenida A, em Lower Manhattan, em 20 de agosto de 1932. Seus nomes eram Michael Semen e Nick Krusiuk (pp. 94-95).
Oficialmente conhecida como Comissão de Investigação sobre as Acusações Feitas contra Leon Trotsky nos Processos de Moscou.
Um relato abrangente da infiltração do movimento trotskista, que inclui provas documentais decisivas, pode ser encontrado em Agents: The FBI and GPU Infiltration of the Trotskyist Movement [Agentes: A Infiltração do FBI e da GPU no Movimento Trotskista], de Eric London. Oak Park, Michigan: Mehring Books, 2019.
Bert Hanman, um stalinista que depois se juntou à Liga Comunista dos EUA por um breve período, testemunhou ao Comitê Conjunto de Apuração de Fatos sobre Atividades Antiamericanas da Califórnia que ele havia “levado Charles Cornell e Joe Hanson [sic] de Salt Lake City para a Quarta Internacional”. Cornell e Hansen estavam presentes quando Trotsky foi morto. Hanman e Cornell deixaram o movimento trotskista logo após o assassinato. Leia mais em: https://archive.org/stream/reportjointfactf1943cali/reportjointfactf1943cali_djvu.txt