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O que é fascismo?

Em 30 de outubro de 1922, mais de 30.000 membros de grupos fascistas entraram na capital italiana de Roma em uma marcha triunfal com seu líder, Benito Mussolini, assumindo o poder de Estado. A Marcha sobre Roma havia se iniciado dois dias antes, depois de Mussolini declarar no congresso do Partido Nacional Fascista em Nápoles, em 24 de outubro, que “Nosso programa é simples: queremos governar a Itália”.

Mussolini, o segundo da esquerda para a direita, durante a Marcha sobre Roma)

O primeiro-ministro interino, Luigi Facta, havia declarado estado de sítio, mas o rei, Victor Emmanuel III, havia se recusado a assinar a ordem que teria mobilizado as tropas. Em 29 de outubro, o Rei pediu a Mussolini que formasse um governo.

Depois de assumir o poder, Mussolini reprimiu brutalmente os direitos democráticos e colocouas organizações da classe trabalhadora na clandestinidade. Ao mesmo tempo, ele começou a preparar as ações externas do imperialismo italiano, que culminaram na sangrenta intervenção na Etiópia em 1935, no apoio a Franco durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e, finalmente, na participação da Itália na Segunda Guerra Mundial a partir de 1940 ao lado do imperialismo alemão.

A ascensão dos fascistas ao poder com a Marcha sobre Roma foi uma derrota para a classe trabalhadora, não apenas na Itália, mas internacionalmente. O impulso revolucionário que havia sido construído na classe trabalhadora no “biênio vermelho” de 1919-20, quando os trabalhadores tomaram as fábricas e formaram milícias de autodefesa, havia sido dissipado pelos sindicatos e pelo Partido Socialista, entregando a iniciativa aos fascistas.

Analisando a situação italiana logo antes da chegada ao poder de Mussolini, Trotsky disse em seu discurso de 20 de outubro de 1922 à Organização de Moscou do Partido Comunista Russo: “Em setembro de 1920, a classe operária da Itália tinha, com efeito, conquistado o controle do Estado, da sociedade, das fábricas... O que estava faltando? ... faltava um partido que, apoiando-se na classe operária insurrecional, teria se engajado em uma luta aberta com a burguesia pelos remanescentes das forças materiais ainda nas mãos dessa última, destruindo essas forças, tomando o poder e assim consumando a vitória da classe operária.” Trotsky continuou dizendo que isso fez com o proletariado italiano fosse esmagado, “e desde então, ao longo de 1921 e 1922, temos testemunhado o mais assustador recuo político da classe operária na Itália sob os golpes de bandos burgueses e pequenos burgueses sólidos, conhecidos como os fascistas.”

A seguir, estamos republicando o discurso de David North, presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade nos Estados Unidos, durante uma palestra intitulada “A ameaça do fascismo e como combatê-lo” na Universidade Estadual de Wayne, em Detroit, no dia 11 de abril de 2019.

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O que está começando a acontecer em todo o mundo, depois de tantas décadas em que a luta de classes foi suprimida, é um movimento cada vez maior da classe trabalhadora ao redor do mundo contra as condições existentes.

Discurso de David North

As elites dominantes veem isso. Elas sabem para onde isso vai. Percebem a ameaça. E sua resposta a essa ameaça é se dirigir cada vez mais à direita, preparar-se para enfrentamentos massivos. E é por isso que eles começam a encorajar o crescimento de movimentos fascistas.

Vou concluir com uma breve explicação do que queremos dizer quando falamos do fascismo. O que é o fascismo? Poderia usá-la, e de certo modo justificadamente dadas as experiências do século XX, como uma palavra que se refere a formas horríveis de ditadura, violência massiva contra o povo, massacres, tortura, e isso está completamente correto.

Poderia falar de figuras fascistas, líderes de caráter fascista... E Trump certamente corresponde a isso. Mas é necessário fazer certo esclarecimento porque há implicações teóricas e políticas importantes.

O movimento socialista começa a discutir sobre o fascismo nos anos 1920, no período posterior à Revolução Russa e à formação da Internacional Comunista.

E certamente a resposta da classe dominante, internacionalmente, à Revolução Russa, a primeira grande derrota do capitalismo, foi violência. A organização de esquadrões militares, grupos extraparlamentares, para atacar a classe trabalhadora.

Um novo tipo de fenômeno surgia, que inicialmente foi personificado por um político italiano com o nome de Mussolini. E o que distinguia Mussolini, um ex-socialista, um ex-sindicalista, é que ele tinha a ideia de que poderia organizar esquadrões paramilitares, recrutar elementos da classe média, utilizar seu ódio aos trabalhadores e direcioná-los contra a classe trabalhadora.

Ele chegou ao poder em 1922, houve um período de disputas políticas, mas em 1925 havia consolidado uma ditadura que contava com uma certa quantidade de apoio de massas, com base em elementos da classe média que foram mobilizados em oposição à classe trabalhadora.

Ou seja, era uma forma de ditadura que não só contava com o exército, a polícia mas que também buscava criar uma base social mais ampla para a destruição da resistência da classe trabalhadora.

Mussolini inspirou Hitler e Hitler adotou esse conceito, o expandiu, e pôde construir, especialmente depois da depressão que teve início em 1929 e da emergência do desemprego em massa, e do desespero de setores cada vez mais amplos da classe média baixa, um movimento de massas, tropas de assalto, esquadrões militares, para o ataque violento às organizações dos trabalhadores.

E esse é o caráter particular de um movimento fascista. Poderia dizer que, historicamente, houve movimentos como esses nos Estados Unidos. Sem dúvida, a Ku Klux Klan foi um desses movimentos. A organização de bandos da classe média e classe média-baixa contra a classe trabalhadora, particularmente a classe trabalhadora afro-americana, para esmagar sua resistência à opressão.

Trotsky explicou naquela época que a única maneira de derrotar um movimento fascista era por meio da mobilização da classe trabalhadora. E fez outro apontamento: os movimentos fascistas só são capazes de chegar ao poder no momento em que a classe trabalhadora for desmoralizada, quando ela não conseguir encontrar o caminho para o poder.

E, então, os elementos da classe média e a população, que vacilam entre essas duas forças, perdem confiança na possibilidade do socialismo e giram à direita.

Agora quero levantar algo crucial. No próximo estágio do desenvolvimento, as massas trabalhadoras nos Estados Unidos, incluindo amplos setores da classe média, não vão se dirigir à direita, mas sim à esquerda.

Vivemos num país em que a riqueza está concentrada nas mãos de um setor muito pequeno da população, realmente os 10 por cento de cima. Abaixo desse nível, a vida se torna mais e mais difícil e cada vez mais impossível.

Os 50 por cento de baixo não têm nada. Aqueles entre os 50 e 90 por cento vivem diferentes níveis de lutas intensas tentando chegar ao fim do mês. Essa é praticamente a experiência universal estadunidense.

E essa é uma ampla base social para o crescimento de um movimento socialista. Mas o desafio é dar a essa grande massa da população trabalhadora um programa político com uma perspectiva. E para isso é necessário o desenvolvimento de um movimento revolucionário consciente, um partido político consciente.

Fazendo isso, atuando com base nas condições objetivas, não apenas podemos derrotar o fascismo, como também poderemos estabelecer uma sociedade socialista.

Essa é nossa perspectiva e a história demonstra que está correta. O fascismo não chega ao poder sem mais nem menos. É um castigo, pra ser direto, pelo fracasso da classe trabalhadora em estabelecer sua direção.

Então, vou terminar com o seguinte ponto, porque todos aqui têm de tomar algumas decisões. Podemos discursar, podemos explicar da melhor forma possível, mas se vocês acreditam que nós temos razão, e veem o perigo e reconhecem as possibilidades objetivamente colocadas, então precisam decidir o que fazer.

Espero que a sua decisão seja construir um movimento revolucionário, voltar-se à classe trabalhadora, unificar essa força extremamente poderosa que existe na sociedade. Negros, brancos, latinos, heterossexuais, gays... Essa não é a divisão central da sociedade. A principal divisão na sociedade é a divisão entre classes.

Aqueles que controlam a riqueza em níveis obscenos – com milhões e milhões [de dólares] sendo desperdiçados nessas pessoas – ou as centenas de milhares e milhões neste país que passam fome, que não têm acesso à educação, as pessoas que lutam pra sobreviver, privadas do conhecimento cultural mais básico, e estão ameaçados por catástrofes, como guerras, perturbações climáticas...

Vocês precisam decidir o que fazer. Tomar a decisão de lutar e, se tomarem essa decisão, então devem unir-se a nosso partido e ajudar-nos a construir este movimento revolucionário nos Estados Unidos e internacionalmente.

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