Publicado originalmente em 23 de julho de 2021
O surto global da variante Delta do novo coronavírus, a mais infecciosa até agora, representa um perigo particular para as crianças que não estão em grande parte vacinadas. Apesar de saberem dos riscos, os governos de todo o mundo estão aprofundando seus esforços para reabrir totalmente as escolas no próximo semestre letivo.
No Brasil, onde a variante Gama é a dominante e a variante Delta está agora se espalhando rapidamente, uma reportagem do UOL de 20 de julho informou que a COVID-19 já matou 1.581 crianças e adolescentes de 10 a 19 anos nos primeiros seis meses de 2021, tornando-se a principal causa de morte por doença para essa faixa etária. Outras 1.187 crianças menores de 10 anos sucumbiram ao vírus desde o início da pandemia, com o Brasil registrando o maior número de mortes de crianças vítimas da COVID-19 no mundo.
No Reino Unido, onde os novos casos diários dispararam mais de 1.500% nos últimos dois meses, um em cada sete estudantes britânicos, ou 1,05 milhão de crianças, estão atualmente infectados pelo novo coronavírus ou isolados devido à exposição ao vírus. Os hospitais infantis estão enchendo, com aproximadamente 30 crianças hospitalizadas com sintomas graves a cada dia. Estudos realizados no Reino Unido descobriram que cerca de 20% das crianças desenvolvem a COVID-19 longa, na qual os sintomas persistem meses após a infecção inicial, enquanto um novo estudo descobriu que aproximadamente 5% das crianças hospitalizadas com COVID-19 desenvolvem complicações cerebrais ou nervosas.
Na quarta-feira, os Estados Unidos registraram 56.525 novos casos de COVID-19, o maior número de casos oficiais de qualquer país e um aumento de 465% em apenas um mês depois de a variante Delta ter se tornado a dominante. Na semana passada, os casos entre crianças menores de 12 anos aumentaram 87% na Flórida. O Dr. Joseph Pernot, médico-chefe do Hospital Johns Hopkins All Children na Flórida, disse a FOX 13 News: “Nos últimos sete dias, vimos mais pacientes do que quaisquer outros sete dias desde que a pandemia começou. Portanto, estamos vendo um aumento dramático no número de crianças doentes.”
Os hospitais infantis no Arkansas, Missouri e em um número crescente de estados também estão registrando o maior número de crianças hospitalizadas com COVID-19 desde o surto do inverno passado. De acordo com a Academia Americana de Pediatria, na semana que terminou em 15 de julho, houve 23.551 casos de crianças com COVID-19, quase o dobro da semana anterior, enquanto mais 236 crianças foram hospitalizadas naquela semana.
Apesar do surto de infecções e hospitalizações entre os jovens, o governo Biden está ampliando sua campanha para abrir totalmente todas as escolas neste outono. Há duas semanas, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou novas diretrizes promovendo esta política, ao mesmo tempo em que incentivou professores e estudantes vacinados a não usar máscaras. De acordo com uma pesquisa recente, aproximadamente 30% dos 200 maiores distritos escolares dos EUA não oferecerão nenhuma opção de ensino remoto, incluindo o primeiro e terceiro maiores distritos escolares dos EUA, nas cidades de Nova York e Chicago, que atendem a um total de 1,4 milhão de crianças.
Na quinta-feira, a diretora do CDC, Dra. Rochelle Walensky, declarou em uma coletiva de imprensa da Casa Branca: “A variante Delta é mais agressiva e muito mais transmissível do que as linhagens que circulavam anteriormente”. Ainda segundo ela, “Este vírus não tem nenhum incentivo para parar, e permanece em busca da próxima pessoa vulnerável a ser infectada”.
Walensky não conseguiu conciliar essas declarações com a realidade de que cerca de 42 milhões de crianças em idade escolar ainda não foram vacinadas, não se prevendo a aprovação de vacinas para crianças menores de 12 anos até o início de 2022, na melhor das hipóteses. Quando isto foi notado em uma entrevista na semana passada, Walensky declarou com insistência: “Continuo defendendo que nossas escolas precisam abrir no outono. Elas precisam abrir para o aprendizado pleno e presencial.”
Falando no programa Town Hall da CNN na quarta-feira, o presidente americano Joe Biden disse que as crianças menores de 12 anos “provavelmente deveriam estar usando máscara na escola”, enquanto as maiores de 12 anos que estão vacinadas “não deveriam usar máscara”.
Biden continuou mentindo abertamente sobre infecções e mortes entre pessoas totalmente vacinadas, dizendo: “Você não vai ficar doente com COVID se estiver com essas vacinas”. Na verdade, o CDC já registrou pelo menos 791 mortes e mais de 5.000 hospitalizações pela COVID-19 entre pessoas totalmente vacinadas nos EUA.
Esta não foi a primeira vez que Biden mentiu sobre a pandemia. Em outra edição do programa Town Hall da CNN de fevereiro, Biden também mentiu para um aluno de segunda série, dizendo: “As crianças não ficam doentes com ... COVID com muita frequência. É incomum que isso aconteça.”
As mesmas mentiras estão sendo ditas pela classe dominante em todos os países para realizar a reabertura precipitada de escolas. Diante da crescente oposição entre pais, alunos, educadores e a classe trabalhadora em geral, o governo do fascistoide presidente Jair Bolsonaro está liderando uma campanha para a reabertura total das escolas em todo o Brasil nas próximas semanas, com o apoio de governadores de todos os partidos políticos. Em São Paulo, que possuí a maior rede de ensino da América do Sul, com cerca de dois milhões de estudantes, espera-se que todos os alunos passem a ter aulas presenciais com o espaço entre eles reduzido de 1,5 metro para um metro.
O caráter global da campanha para reabrir totalmente as escolas surge de uma necessidade objetiva comum da classe capitalista: enviar os pais da classe trabalhadora de volta para fábricas inseguras e outros locais de trabalho para produzir lucros corporativos.
O Departamento de Estatísticas Trabalhistas informou esta semana que cerca de 9,5 milhões de americanos estavam desempregados e à procura de trabalho em junho. Os economistas observaram que alguns dos principais fatores por trás das altas taxas contínuas de desemprego são a falta de disponibilidade de cuidados infantis acessíveis, preocupações com a segurança em relação à COVID-19 e a extensão dos benefícios federais de desemprego.
A reabertura de escolas irá acontecer depois do fim da moratória federal sobre despejos em 31 de julho e do corte dos benefícios federais de desemprego em 6 de setembro, colocando enormes pressões financeiras sobre os pais para que enviem seus filhos a escolas inseguras e retornem eles mesmos a locais de trabalho inseguros.
Em resposta a esta ofensiva da classe dominante, as pró-capitalistas Federação Americana de Professores (AFT) e Associação Nacional de Educação (NEA), e suas equivalentes em todo o mundo, continuam a facilitar a campanha para a abertura total das escolas. A presidente da NEA Becky Pringle declarou recentemente que “Nada substitui o aprendizado presencial”, enquanto a presidente da AFT, Randi Weingarten, declarou ainda em maio que “Não há dúvida: As escolas devem estar abertas. Presencialmente. Cinco dias por semana.”
Ao justificar estas políticas, os políticos e os burocratas sindicais se referem à crise muito real de saúde mental que a juventude enfrenta. Mas sua falsa preocupação com o bem-estar das crianças é uma cortina de fumaça para dar cobertura a suas políticas homicidas. Essas mesmas figuras nada disseram sobre o fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter estimado que cerca de 1,5 milhão de crianças no mundo inteiro perderam o pai, a mãe ou o responsável vítima da COVID-19, com a propagação do vírus através das escolas sendo responsável por um número incalculável dessas mortes.
Durante toda a pandemia, o World Socialist Web Site tem exigido continuamente uma resposta de emergência coordenada globalmente para deter a propagação do vírus em todo o mundo. Uma pedra angular deste programa tem sido sempre a exigência de que as escolas permaneçam fechadas como parte do fechamento mais amplo de locais de trabalho não essenciais, em conjunto com o fornecimento de amplos recursos para a aprendizagem remota de alta qualidade, apoio à saúde mental, segurança alimentar, proteção de renda para os pais e todas as outras necessidades essenciais da classe trabalhadora.
Ao longo do último ano letivo, massas de educadores procuraram resistir à campanha homicida de reabrir escolas, com os mais engajados construindo Comitês de Segurança de Educadores de Base em todo os EUA e globalmente, independentes dos sindicatos e dos partidos políticos capitalistas.
No Primeiro de Maio de 2021, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) fez um chamado para a construção da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) para fornecer uma estrutura organizacional e liderança política para unir a crescente rede global de comitês de base. Nas próximas semanas e meses, esta rede deve ser expandida a fim de travar uma luta unificada para deter a reabertura de escolas em todo o mundo, construir vínculos com os trabalhadores de todos os setores que também estão entrando em luta e implementar as medidas necessárias para pôr um fim à pandemia e salvar vidas.