Publicado originalmente em 5 de maio de 2021
Cliff Slaughter, que entre 1957 e 1985 desempenhou um papel dirigente no Comitê Internacional da Quarta Internacional e sua seção britânica, morreu na segunda-feira aos 92 anos de idade. O World Socialist Web Site publicará em breve uma análise mais extensa e profunda da vida de Cliff Slaughter.
É bem conhecido que Slaughter rompeu irrevogavelmente com o trotskismo em 1986 e que os 35 anos restantes de sua vida política consistiram em um vergonhoso repúdio à política trotskista e seus fundamentos marxistas. Entretanto, ao falar de sua morte, o CIQI deve chamar a atenção para o papel significativo que Slaughter desempenhou na luta pelo trotskismo no período anterior de sua vida.
As contribuições mais importantes de Slaughter como marxista e trotskista são, sem dúvida, os documentos que ele escreveu nos anos 1960 em oposição à traição do Socialist Workers Party americano ao trotskismo e sua reunificação em 1963 com o Secretariado Unificado pablista.
Em "Trotskismo Traído" e "Lenin sobre a Dialética" (ambos de 1962) e "Oportunismo e Empirismo" (1963), Slaughter defendeu a revolução permanente contra a capitulação pablista ao castrismo e outros movimentos pequeno-burgueses.
Ele expôs as implicações políticas reacionárias da alegação dos pablistas de que Castro era um "marxista inconsciente". Slaughter – defendendo a teoria leninista do partido – insistiu que era necessário trazer a consciência revolucionária para a classe trabalhadora. Esta tarefa, insistiu ele, só poderia ser alcançada através da resolução da crise da direção revolucionária, ou seja, da construção da Quarta Internacional. Ele escreveu em 1963:
Para os marxistas, a crise da velha direção expressa sua falência do ponto de vista do proletariado e, portanto, a necessidade urgente de construir uma nova direção ... um partido de um novo tipo, o Partido Bolchevique, que é a necessidade primordial em todos os países …
Ele expôs a conexão entre o oportunismo pablista e sua falsificação "objetivista" do marxismo, que afirmava que a crise do capitalismo era tão grande que permitiria à classe trabalhadora conquistar o poder mesmo na ausência de uma direção trotskista. Rejeitando o objetivismo, uma justificativa teórica para o oportunismo, Slaughter escreveu:
Não pode haver concessão sobre este ponto. O teste da devoção de qualquer marxista à construção da Internacional como a única direção da revolução proletária será seu trabalho insistente para a construção do partido revolucionário em cada país.
Slaughter rejeitou reivindicações de que os movimentos nacionalistas pequeno-burgueses, aliados aos regimes stalinistas da URSS ou da China, poderiam servir como um substituto para a construção do movimento trotskista mundial, baseado na classe trabalhadora, como “conversa reacionária”.
Durante a década de 1960, ele continuou a defender a perspectiva da Quarta Internacional. No entanto, a guinada oportunista da Socialist Labour League – que em 1973 se transformou no Workers Revolutionary Party – ganhou expressão nos escritos de Slaughter.
Em 1972, Slaughter escreveu que "a luta contra as formas idealistas de pensamento era uma necessidade que ia muito além das questões de acordo sobre programa e política". Esta fórmula serviu para desviar a atenção da adaptação pablista do WRP aos regimes nacionalistas burgueses.
Slaughter abusou de seu prestígio como o principal teórico do CIQI para legitimar e promover a falsificação do marxismo descaradamente idealista e o oportunismo do líder do WRP, Gerry Healy. Entre 1982 e 1984, ele trabalhou para suprimir as diferenças levantadas pela Workers League americana.
Em 1985, Slaughter teve imensa responsabilidade sobre a crise devastadora que irrompeu dentro do WRP. Ele se esforçou para evitar uma análise das questões políticas e teóricas subjacentes à crise no WRP e, assim, promoveu uma ruptura com o CIQI e o trotskismo.
As décadas restantes de sua longa vida constituíram um completo repúdio a tudo aquilo pelo qual lutou durante os anos em que defendeu o trotskismo contra o stalinismo e o pablismo. Sua conduta, tanto em nível político como pessoal, foi condenável.
Mas não é apenas o mal feito pelos homens que vive após eles. Ao negar a traição política de Slaughter, o Comitê Internacional da Quarta Internacional defende tudo o que foi significativo em suas contribuições anteriores.