Publicado originalmente em 11 de março de 2021
Hoje faz um ano desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de COVID-19 uma pandemia global.
O Diretor Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez a declaração em 11 de março de 2020, quando foram registrados 118.000 casos em 14 países do mundo e 4.291 mortes. “A OMS tem avaliado este surto o tempo todo”, disse, “e estamos profundamente preocupados tanto com os níveis alarmantes de propagação e gravidade, quanto com os níveis alarmantes de inação”. Ele reiterou os apelos para que “os países tomem medidas urgentes e agressivas. Acionamos o alarme alto e claro.”
Com poucas exceções – das quais a China é a mais notável –, os governos dos principais países capitalistas rejeitaram as recomendações dos cientistas. Eles não tomaram medidas agressivas e os alarmes não foram atendidos. Nos últimos 12 meses, o número de casos globais aumentou de 118.000 para mais de 118 milhões. O número de mortes aumentou de 4.000 para 2,6 milhões, sendo 540.000 nos EUA, 270.000 no Brasil, 191.000 no México, 158.000 na Índia, 125.000 no Reino Unido e 100.000 na Itália.
O custo econômico para a classe trabalhadora tem sido devastador. A Organização Internacional do Trabalho estima que o mundo tenha perdido o equivalente a 255 milhões de empregos em 2020, quase quatro vezes o impacto da crise financeira global de 2008-2009. Inúmeras pequenas empresas foram dizimadas. A vida cultural tem sido devastada em todo o mundo.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, fará um discurso em horário nobre esta noite por causa do um ano da pandemia. Ele sem dúvida pronunciará as palavras obrigatórias e insinceras sobre a trágica perda de vidas nos últimos doze meses, sem nenhum exame sério sobre o porquê desta catástrofe e por que ela continua. De acordo com os funcionários da Casa Branca, ele falará sobre o retorno a um “senso de normalidade”.
Não haverá, entretanto, retorno à “normalidade”. A resposta global à pandemia de COVID-19 é uma condenação devastadora não apenas das ações de determinados governos, mas de toda a ordem social e econômica baseada no capitalismo. Ela terá as consequências mais profundas e revolucionárias.
O impacto da pandemia é produto das decisões de subordinar a vida humana aos interesses da oligarquia corporativo-financeira. As medidas urgentes de saúde pública necessárias para salvar vidas encontraram em cada momento a oposição feroz das elites dominantes capitalistas.
O período crítico de janeiro a março de 2020 foi dedicado à supressão sistemática de informações sobre o perigo representado pela pandemia. Somente depois que um número cada vez maior de trabalhadores nos Estados Unidos e na Europa se recusaram a entrar em fábricas de automóveis e outros locais de trabalho inseguros foram implementados lockdowns limitados.
Essas ações nunca fizeram parte de nenhuma estratégia séria coordenada internacionalmente. Pelo contrário, as respostas nacionais e locais desordenadas visavam ganhar tempo para que a classe dominante implementasse, pela segunda vez desde 2008, um socorro maciço aos ricos. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve injetou 4 trilhões de dólares nos mercados, sancionado pela Lei CARES, que foi aprovada de forma esmagadoramente bipartidária no final de março do ano passado. Medidas semelhantes foram adotadas pelos bancos centrais em todo o mundo.
Uma vez garantidos os interesses da classe dominante, os governos orquestraram uma campanha coordenada para reabrir fábricas e escolas fechadas. A estratégia de “imunidade de rebanho”, pioneira na Suécia, tornou-se, de fato, a política de toda a classe dominante. Sob o slogan “a cura não pode ser pior do que a doença”, as medidas mais básicas para impedir a propagação do vírus foram sistematicamente eliminadas.
Enquanto milhões de pessoas contraíam o vírus, os mercados financeiros celebravam o mais rápido crescimento no valor das ações na história. Um número resume a dinâmica social: desde o início da pandemia há um ano, os bilionários americanos aumentaram sua riqueza em 1,4 trilhão de dólares. Uma nova camada de “beneficiados pela pandemia” prosperou em meio à morte e ao sofrimento.
Um ano após ter sido declarada uma pandemia, a COVID-19 continua se espalhando de maneira descontrolada pelo mundo. Mesmo depois de terem sido produzidas vacinas, sua distribuição caótica, dificultada pelos interesses de Estados-nação concorrentes, torna-se em si um fator na crise. Apenas 4% da população mundial recebeu a primeira dose da vacina, e, mesmo em muitos dos países mais desenvolvidos, a porcentagem da população que foi totalmente vacinada permanece em um dígito.
Na Alemanha, o suposto modelo de eficiência capitalista, apenas 3,1% da população está totalmente vacinada, na Espanha e França, 3,0%, na Itália, 2,9%, e no Canadá, 1,6%.
Apesar dos alertas de um novo surto, impulsionado por variantes mais contagiosas, os governos de todo o mundo estão abandonando quaisquer medidas remanescentes para conter a pandemia. Ontem, o estado americano do Texas removeu todas as restrições à atividade econômica, enquanto o governo Biden está liderando a campanha para reabrir escolas o mais rápido possível.
A refutação mais decisiva das alegações de que nada poderia ter sido feito é o histórico de publicações do World Socialist Web Site. Com base em informações disponíveis publicamente, o WSWS, órgão do Comitê Internacional da Quarta Internacional, publicou há um ano uma série de declarações alertando sobre o que estava por vir e formulando a resposta programática necessária.
Em 13 de março, dois dias após a pandemia de COVID-19 ter sido oficialmente declarada, o WSWS condenou a resposta da classe dominante. “Tempo precioso foi desperdiçado enquanto a pandemia global ganhava seu impulso fatal”, declarou o WSWS.
Insistindo que “as necessidades dos trabalhadores do mundo devem ter prioridade absoluta e incondicional sobre todas as considerações de lucro corporativo e acumulação de riqueza privada”, o WSWS exigiu medidas de emergência, incluindo uma mobilização coordenada internacionalmente de recursos sociais e o fechamento da produção não essencial, com a garantia de salário aos trabalhadores.
Se essas políticas tivessem sido implementadas, incontáveis vidas poderiam ter sido salvas.
A luta contra a pandemia nunca foi apenas uma questão médica. O controle da pandemia só pode ser alcançado com uma luta contra o sistema capitalista.
Como em toda crise desse caráter, a pandemia alterou profundamente toda a situação política. Ela acelerou enormemente a profunda decadência das formas democráticas de governo. O crescimento do fascismo internacional está diretamente ligado à política homicida das elites dominantes. A insurreição de 6 de janeiro em Washington foi o produto nocivo não apenas de Trump e seus co-conspiradores, mas da realidade da dominação de classe.
A classe dominante, além disso, enfrentando uma enorme crise social em casa e a crescente raiva da classe trabalhadora, está se voltando cada vez mais abertamente para o conflito militar como uma saída para a crise. Em seus dois primeiros meses de governo, Biden priorizou intensificar as provocações agressivas no Oriente Médio e contra a Rússia e a China.
Todas as instituições oficiais da sociedade capitalista estão expostas. Os governos, sejam eles liderados pela extrema direita ou pela suposta “esquerda”, adotaram a mesma política fundamental. Nos Estados Unidos, não houve uma única audiência no Congresso ou mesmo uma investigação séria na imprensa sobre as origens da catástrofe causada pela pandemia ou sobre quem foi o responsável por ela. Os sindicatos corporativos, na realidade instrumentos da administração das empresas, têm feito tudo o que podem para suprimir a oposição e impor a política da classe dominante.
Assim como na Primeira Guerra Mundial, a pandemia está gerando uma profunda radicalização social e política de toda uma geração de trabalhadores e jovens. Mesmo quando Biden prega um retorno à “normalidade”, há uma crescente oposição entre os educadores contra os esforços para reabrir escolas, assim como em toda a classe trabalhadora contra a política homicida que a classe dominante insiste que deve continuar sendo implementada.
E por mais desastrosa que seja a pandemia, ela aponta para novas e mais profundas crises – a mudança climática, pandemias ainda piores e mais mortais, a ameaça de guerra nuclear – decorrentes das mesmas causas fundamentais que a incapacidade de conter a pandemia.
A pandemia evidencia a necessidade da abolição do sistema capitalista de Estado-nação. Ela mostra que a defesa dos interesses mais vitais da sociedade é inseparável da expropriação da oligarquia financeira e do fim da propriedade privada dos meios de produção. Ela deixa clara a necessidade urgente de uma economia mundial cientificamente administrada, racionalmente organizada e democraticamente controlada.
A luta pelo socialismo é uma luta global por uma sociedade que prioriza a vida sobre o lucro, a necessidade humana sobre a riqueza dos oligarcas e a colaboração internacional sobre os conflitos nacionais.