Publicado originalmente em 12 de dezembro de 2020
Uma onda de mortes em larga escala está se espalhando pelo mundo. Enquanto a pandemia do coronavírus devasta mais uma vez a Europa e a América Latina, o epicentro está nos Estados Unidos.
Ontem, o número total de mortes ultrapassou 300 mil, ou quase uma em cada mil pessoas. Outras 3.019 mortes e um recorde de 246 mil novos casos foram registrados. Aproximadamente 125 pessoas estão morrendo a cada hora, ou mais de duas a cada minuto. Pelo menos 17 mil pessoas morreram somente na última semana. É esperado que esses números aumentem acentuadamente nas próximas semanas. A contagem atual de casos está apenas começando a refletir o aumento devido às viagens de Ação de Graças no final de novembro, e a taxa de mortalidade tem um atraso de duas semanas.
A situação é muito mais perigosa devido à superlotação de hospitais, e o sistema de saúde está começando a entrar em colapso, forçando os médicos e enfermeiros a tomarem a terrível decisão sobre quem receberá tratamento. Pelo menos 200 hospitais nos EUA estavam no limite de capacidade na semana passada, e um terço de todos os hospitais do país tem mais de 90% de seus leitos de UTI ocupados.
O foco da mídia nos EUA e na Europa tem sido a aprovação e a distribuição inicial de uma vacina. Por mais eficaz que ela seja, as pessoas só se beneficiarão dela se estiverem vivas para receber as doses. Na quinta-feira, o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Robert Redfield, advertiu que "nos próximos 60 a 90 dias teremos mais mortes por dia do que tivemos no 11 de setembro ou em Pearl Harbor", e que uma vacina não terá impacto significativo no número de mortes por pelo menos 60 dias – e provavelmente por muito mais tempo.
Sem uma intervenção da classe trabalhadora agora, as mortes continuarão em níveis sem precedentes. Se as mortes permanecerem acima de 3 mil por 90 dias, isso significa que mais 270 mil pessoas estarão mortas até o início de março.
A classe dominante está respondendo com um nível assombroso de indiferença. Conforme o WSWS advertiu no início desta semana, as mortes ocorrendo em uma escala sem precedentes, com exceção de uma grande guerra, estão sendo "normalizadas". A pandemia está sendo tratada, escrevemos, "como se fosse um evento cósmico inevitável, não exigindo nenhuma ação imediata".
Enquanto a administração Trump persegue as suas conspirações fascistas, ela continua a sua política de "imunidade de rebanho", o que significa que não serão tomadas quaisquer medidas para interromper a propagação do vírus. Sejam quais forem as suas discordâncias táticas, os democratas concordam com essa política. Eles não estão propondo medidas de emergência para impedir e reverter a catástrofe. Nesta semana, Biden revelou o seu "plano" de resposta ao coronavírus, que se limita a pedir que a população use máscaras, promessas da produção de vacinas e a exigência de que as escolas sejam reabertas.
A mídia noticiou todos os dias a escala das mortes sem dar qualquer indicação do que deve ser feito para impedi-las. Referências são feitas ao perigo das viagens e reuniões durante o período de férias. Contudo, o papel das fábricas e locais de trabalho na disseminação do vírus não é apontado, e mentiras deliberadas estão sendo espalhadas sobre a suposta segurança de abrir as escolas.
A classe dominante está tentando culpar os trabalhadores por espalhar o vírus dentro das casas. Entretanto, a ausência de um rastreamento de contatos sistemático é planejada para encobrir a propagação em locais de trabalho que permaneçam abertos e inseguros. Quando casos surgem em fábricas ou escolas, a informação é suprimida pela administração, com a cumplicidade dos sindicatos.
Quando há qualquer desafio à política da classe dominante, a resposta é a repressão. Nesta semana, a cientista de dados, Rebekah Jones, que trabalhou para expor as mentiras do governo sobre a propagação da pandemia na Flórida, foi alvo de uma batida policial ao estilo da Gestapo nazista, ordenada pelo governador da Flórida, Ron DeSantis.
A classe dominante não faz nada para salvar vidas, e também não está tomando quaiquer medidas para enfrentar o enorme desastre social enfrentado por dezenas de milhões de pessoas. Quatro em cada dez famílias nos EUA declaram ter uma renda menor agora do que antes da pandemia. Mais de 4 milhões de pessoas estão desempregadas há mais de 27 semanas, e novos pedidos de desemprego subiram para 850 mil nesta semana. Mais de 12 milhões de estadunidenses estavam com o aluguel atrasado em novembro e enfrentam o despejo, já que a moratória nacional expira no final do mês.
O Congresso entrou em recesso até a próxima semana sem qualquer acordo sobre um "projeto de lei de estímulo", que, mesmo que seja aprovado, não atenderá às enormes necessidades sociais. Os democratas e republicanos estão nesse momento em uma disputa em grande parte em torno da quantia de dinheiro que será distribuída para as corporações e para os ricos.
Essa catástrofe não era inevitável. Embora o vírus seja um produto da natureza, a resposta a ele tem sido ditada por interesses sociais e econômicos.
Em 17 de março, quando o número de mortes nos EUA era de apenas 121 e o vírus estava apenas começando a se disseminar, o Partido Socialista pela Igualdade (EUA) delineou um "programa de ação para a classe trabalhadora", incluindo a expansão emergencial da infra-estrutura da saúde e o fechamento imediato de todas as escolas e locais de trabalho não-essenciais, com remuneração integral para todos os trabalhadores afetados.
Se as medidas de emergência tivessem sido implementadas, centenas de milhares de vidas teriam sido salvas. Na China, onde o vírus surgiu pela primeira vez, o total de mortes foi inferior a 5 mil e o vírus foi praticamente erradicado, demonstrando que isso era possível.
Entretanto, a classe dominante rejeitou todas as medidas que eram incompatíveis com os seus interesses. A administração Trump, auxiliada e incentivada pelo Partido Democrata, minimizou a ameaça e se recusou a tomar qualquer medida. Ao mesmo tempo, a pandemia foi aproveitada para implementar a maior transferência de riqueza na história mundial. Trilhões de dólares foram entregues a Wall Street, com o apoio quase unânime do Congresso.
Depois que isso foi feito, a posição do establishment político e da mídia se tornou: "A cura não pode ser pior do que a doença". As empresas foram reabertas e as restrições às atividades econômicas foram retiradas em todo o país em abril e maio.
A saúde pública foi sacrificada àqueles que lucram com a pandemia. A riqueza de todos os bilionários nos EUA (651 pessoas) aumentou mais de US$ 1 trilhão (ou 36%) desde o início da pandemia, em grande parte devido ao aumento nas bolsas de valores. Somente esse aumento de riqueza seria suficiente para dar US$ 3 mil para cada adulto e criança no país.
A recusa a implementar o fechamento assumiu agora um caráter completamente criminoso. Entre as dezenas de milhares de pessoas que irão morrer nas próximas semanas, muitas terão sido infectadas como resultado da reabertura das escolas e locais de trabalho.
Centenas de milhares de vidas podem ser salvas se medidas emergenciais forem tomadas agora!
O Partido Socialista pela Igualdade exige o fechamento imediato de todas as empresas não-essenciais e escolas. Os trabalhadores devem ter uma renda suficiente para garantir um padrão de vida digno até que um retorno ao trabalho seja possível. Deve haver verdadeira assistência às pequenas empresas que enfrentam o colapso econômico.
Todas as declarações de que nada pode ser feito para deter o vírus são baseadas na posição de que toda a vida social deve estar subordinada aos interesses de Wall Street. Os trilhões de dólares acumulados por aqueles que lucram com a pandemia, acumulados através da pilhagem do tesouro público, devem ser retomados para atender às necessidades sociais. As gigantescas instituições financeiras e empresariais devem ser convertidas em serviços públicos democraticamente controlados.
O SEP convoca todos os trabalhadores a organizar comitês de segurança e comitês de ação para tomar as medidas necessárias para salvar vidas. Professores, trabalhadores automotivos e de outros setores, trabalhadores da Amazon e de logística, estudantes e jovens devem formar esses comitês para organizar ações conjuntas. Os trabalhadores têm todo o direito de se recusarem a trabalhar nessas condições. A saúde dos trabalhadores deve vir antes dos lucros da oligarquia empresarial e financeira!
Os comitês irão formar laços entre trabalhadores dos Estados Unidos e os trabalhadores de todo o mundo, que enfrentam as mesmas condições e têm os mesmos interesses.
Acima de tudo, a luta contra a pandemia é uma luta política contra a elite dominante e o sistema capitalista. O capitalismo americano está sendo exposto de forma abrangente. A elite dominante se revela em toda sua incompetência, brutalidade e criminalidade. O desdobramento da catástrofe está demonstrando a necessidade de pôr um fim ao sistema capitalista e substitui-lo com o socialismo.