Publicado originalmente em 11 de novembro de 2020
O Presidente Donald Trump está se recusando a aceitar a sua derrota eleitoral e está ativamente empenhado em um golpe de Estado para anular o resultado das eleições de 2020 e estabelecer uma ditadura personalista.
A situação não poderia ser mais clara: Trump está fazendo aquilo que anunciou antes das eleições. Ele nega a legitimidade de uma eleição em que Biden claramente foi vitorioso, procurando criar uma narrativa mentirosa de que as eleições foram "roubadas", e conspirando para anular os votos de milhões de pessoas.
O Partido Republicano se juntou a essa conspiração, que está adquirindo cada vez mais o caráter de uma entidade patronal fascista e criminosa. Os líderes republicanos a nível federal e estadual apoiaram as mentiras de Trump e se recusaram a reconhecer a vitória de Biden. Em um discurso no Senado na segunda-feira, Mitch McConnell, líder da maioria no Senado, declarou que Trump estava "100% dentro dos seus direitos de investigar alegações de irregularidades e pesar as suas opções legais".
No estado da Geórgia, os senadores republicanos pediram pela demissão do Secretário de Estado, um republicano, por "falhas" no processo de contagem de votos naquele estado. O senador republicano Lindsey Graham, presidente do Comitê Judiciário do Senado, pediu que Trump não cedesse, declarando que se os republicanos não contestarem o resultado das eleições, "nunca mais haverá um presidente republicano eleito".
A posição da administração foi resumida sucintamente na terça-feira pelo seu Secretário de Estado, Mike Pompeo, que declarou abertamente que Trump permanecerá em seu cargo durante outro mandato. Questionado em uma coletiva de imprensa do Departamento de Estado se poderia garantir uma "transição suave" para uma administração Biden, Pompeo respondeu que haveria uma "transição suave para uma segunda administração Trump".
A administração Trump também instruiu autoridades sênior das agências do governo a não cooperarem com a equipe de transição de Biden. Na segunda-feira, a chefe nomeada por Trump na Administração de Serviços Gerais (GSA), que lida com a logística e a infra-estrutura para o governo federal, disse que não iria avançar com a assistência legalmente necessária para assegurar uma transição de poder.
Nesse mesmo dia, o Procurador-Geral William Barr enviou uma circular a todos os advogados dos EUA autorizando-os a iniciar investigações sobre fraudes eleitorais se "puderem potencialmente impactar no resultado de uma eleição federal", alinhando na prática o Departamento de Justiça às falsas alegações de Trump de que as eleições foram roubadas.
Trump e os seus aliados republicanos no Congresso e nas câmaras estaduais estão elaborando uma estratégia definida para anular as eleições. Eles estão buscando minar a legitimidade das eleições com declarações mentirosas de fraude eleitoral, que seriam então utilizadas como o pretexto para repudiar o voto popular e selecionar eleitores pró-Trump nos legislativos estaduais controlados por republicanos em estados como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.
Em uma entrevista na CNN na terça-feira de manhã, Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia, mostrou claramente que esse perigo é muito real, apontando que: "Os legisladores fazem o que querem".
Esse esforço será acompanhado por contestações legais ao resultado da votação na Pensilvânia e em outros estados. Uma supressão tão direta da votação acabaria sem dúvida no Supremo Tribunal dos EUA, um terço do qual foi nomeado pelo atual presidente. Os conspiradores de Trump irão se basear na decisão Bush v. Gore de 2000, na qual o juiz do Supremo Tribunal, Antonin Scalia, defendeu que a Constituição não concede ao povo americano o direito de escolher o presidente ou mesmo os eleitores presidenciais.
As manobras pseudo-legais de Trump são apoiadas pela incitação à violência por forças de extrema-direita e fascistas, apoiadas por seções da polícia e do aparato do Estado. Manifestações estão previstas para o próximo fim de semana na capital de Washington para mobilizar os apoiadores de Trump sob a bandeira de "Parem o roubo".
Na segunda-feira, Trump demitiu o Secretário de Defesa Mark Esper, que havia criticado anteriormente os planos de Trump para enviar tropas contra manifestantes pacíficos. O novo chefe "interino" do Pentágono será Christopher Miller, um membro há 30 anos e coronel reformado das Forças Especiais. Trump procurou cultivar apoio dentro das Forças Especiais, composta por 70 mil homens, inclusive através de perdões por crimes de guerra, com o objetivo de transformar essa força quase independente no seu próprio exército pessoal. A principal qualificação de Miller é o seu apoio ao presidente e o seu desejo de enviar os militares contra os manifestantes dentro do país.
Em contraste com a implacabilidade com que Trump está agindo, o Partido Democrata está agindo com a sua habitual combinação de impotência e falta de seriedade. Na terça-feira, Biden rejeitou as ações de Trump como "embaraçosas". Biden acrescentou: "O fato de eles não estarem dispostos a reconhecer que ganhamos a este ponto não tem consequências importantes no nosso planejamento".
Em outras palavras, para Biden e os Democratas, o fato de Trump e os Republicanos estarem ativamente empenhados em uma conspiração para repudiar os resultados das eleições não tem importância. Biden acrescentou que esperava conversar em breve com McConnell, inclusive para discutir as nomeações de gabinete para uma futura administração Biden.
A coletiva de imprensa de Biden ocorreu após o seu discurso de vitória no sábado à noite, no qual fez um apelo pela "unidade" com os republicanos e não fez qualquer menção ao fato de Trump ter se recusado a aceitar o resultado das eleições.
Os Democratas estão tratando as ações de Trump como se fossem uma teimosia pessoal e não uma grave ameaça mortal ao que resta do regime democrático nos Estados Unidos. Longe de alertar o público, avisando Trump das consequências da sua contínua contestação do resultado das eleições, ou de mobilizar a população para colocá-la em alerta, os Democratas persistem em declarar que nada grave está acontecendo.
A oposição do Partido Socialista da Igualdade às ações de Trump não implica qualquer apoio às políticas de uma nova administração Biden, se ela chegar ao poder. Entretanto, a classe trabalhadora não pode permanecer indiferente aos esforços de uma conspiração de direita e neo-fascista para derrubar um governo eleito. Nós nos opomos aos planos de golpe de Estado de Trump pela mesma razão que nos opusemos às conspirações fascistas para sequestrar e assassinar a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer. De fato, o SEP leva essas conspirações muito mais a sério do que o próprio Partido Democrata, que as encobriu.
A defesa dos direitos democráticos não pode ser confiada ao Partido Democrata, que defende em última análise os interesses da mesma oligarquia. Mais do que qualquer outra coisa, o Partido Democrata, um partido de Wall Street e dos militares, temem uma explosão de protestos e resistência populares vindas de baixo. No desfecho das eleições, os democratas não estão direcionando seus ataques contra Trump e a extrema direita, mas sim contra a esquerda, levando adiante uma cruzada para extirpar qualquer referência ao "socialismo" do partido.
As conspirações de Trump são o resultado de um longo processo, cujas implicações mortais se tornaram claras em 1º de junho, quando Trump enviou tropas federais fortemente armadas para atacar manifestantes pacíficos em frente à Casa Branca, enquanto prometia invocar a Lei de Insurreição e enviar tropas armadas para as ruas de todo o país.
Naquele momento, o WSWS declarou:
Um ponto de virada foi alcançado na história dos Estados Unidos. Os esforços de Trump para estabelecer uma ditadura pessoal baseada no governo militar é o produto de uma longa crise da democracia americana, sob o impacto da extrema desigualdade social e guerras sem fim.
A derrota da tentativa de golpe de Estado de Trump depende da intervenção da classe trabalhadora, que deve assumir a liderança na defesa dos direitos democráticos.
As estruturas democráticas nos Estados Unidos estão desmoronando sob o peso da crise econômica e política insolúvel do capitalismo estadunidense e mundial, caracterizada sobretudo por níveis espantosos de desigualdade social, exacerbada pela pandemia global da COVID-19 e pela política homicida de "imunidade de rebanho" das classes dominantes.
A situação é repleta de perigos. Trump e os seus apoiadores têm 69 dias até o dia da inauguração para encenar provocações, lançar atos de agressão militar e fabricar o pretexto para a declaração da lei marcial e a suspensão dos direitos constitucionais e democráticos.
A subordinação da luta contra essa ameaça a Biden e aos Democratas, ou aos juízes do Supremo Tribunal, pode resultar somente em uma catástrofe.
Se Trump conseguir anular as eleições, isso provocará uma enorme explosão em todas as cidades do país, em condições nas quais o Estado e as suas forças de repressão carecerão de qualquer resquício de legitimidade. Biden não apenas derrotou Trump em termos do voto popular e do voto eleitoral, mas os estados e áreas que ele ganhou são as regiões econômicas e industriais mais poderosas dos Estados Unidos, com uma classe trabalhadora massivamente poderosa.
A única resposta viável à conspiração que está sendo lançada na Casa Branca é a exigência pela remoção imediata de Trump, Pence e dos seus co-conspiradores.
Esta exigência só pode ser concretizada através da intervenção independente da classe trabalhadora e da luta pela organização de uma greve política a nível nacional. Esse movimento não pode deixar de romper o controle da oligarquia financeira e empresarial e de reestruturar a vida econômica sobre uma base socialista. A luta dos trabalhadores nos EUA contra a ameaça da ditadura irá receber enorme e indispensável apoio dos trabalhadores de todo o mundo.