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Resolução do Quinto Congresso Nacional do SEP (EUA)

O ressurgimento da luta de classes e as tarefas do Partido Socialista pela Igualdade

Publicado originalmente em 8 de agosto de 2018

Esta resolução foi aprovada por unanimidade no Quinto Congresso Nacional do Partido Socialista pela Igualdade nos EUA, realizado entre 22 e 27 de julho de 2018. O congresso foi aberto com um relatório de David North, presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade e do Conselho Editorial Internacional do World Socialist Web Site. No congresso, também foi aprovada a resolução “Pela liberdade de Julian Assange!”.

Introdução

1. O sistema capitalista mundial entrou num período de crise política e social aguda, caracterizado por uma insatisfação generalizada por causa da deterioração das condições de vida e da extrema concentração de riqueza, que intensificam o conflito de classes e o descrédito das velhas instituições políticas. Em setores significativos da classe trabalhadora e da juventude, há uma noção crescente de que o capitalismo é inerentemente injusto e de que são necessárias mudanças fundamentais no sistema econômico. Apesar desse sentimento geral ainda não ter se desenvolvido num movimento político massivo na direção de pôr fim ao sistema capitalista, o interesse e apoio ao socialismo estão crescendo rapidamente. Há indícios claros de que a classe trabalhadora começou a romper as amarras políticas que lhe são impostas pelas tradicionais agências burocrático-institucionais do imperialismo, principalmente os partidos socialdemocratas pró-capitalistas, os partidos ex-reformistas relacionados e os sindicatos.

2. O capitalismo não enfrenta uma crise tão profunda desde a década de 1930. De fato, as reportagens diárias nos jornais lembram as condições econômicas, políticas e sociais dos anos 1930. Assim como naquela década fatídica, as tensões entre as grandes potências imperialistas estão emergindo e ameaçam sair do controle. Além disso, como nos anos 1930, o “índice de brutalidade” do imperialismo mundial não para de crescer. Disfarces humanitários estão sendo deixados de lado. Além de não dar explicações sobre o massacre de palestinos indefesos em Gaza, o exército de Israel e seus aliados aplaudem os assassinatos. As terríveis atrocidades cometidas pela Arábia Saudita contra o Iêmen, utilizando armamentos fornecidos pelos EUA, praticamente não são noticiadas pela mídia. Milhões de pessoas desabrigadas e empobrecidas pelas guerras imperialistas e pelas políticas econômicas são tratadas como se suas vidas não valessem nada. O presidente dos Estados Unidos ameaça um pequeno país como a Coréia do Norte com “fogo e fúria jamais vistos”, em outras palavras, um ataque nuclear em que dezenas de milhões morreriam, sem que ocorra qualquer reação expressiva por parte dos círculos dirigentes nos EUA ou internacionalmente. O afogamento de imigrantes no Mediterrâneo, o encarceramento de refugiados aterrorizados em campos de concentração, e até a separação de crianças de seus pais, tornaram-se a “nova normalidade”. Essas crises são agravadas pela degradação ambiental e pelas mudanças climáticas provocadas pela ação humana, que já levaram milhares à morte, e deslocaram dezenas de milhões de refugiados e ameaçam uma catástrofe global.

3. A dimensão da crise capitalista se expressa na degeneração política, cultural e moral da classe dominante. Em vários países, partidos nacionalistas extremistas estão sendo alçados aos níveis mais altos do Estado. Oitenta e cinco anos após a ascensão de Hitler ao poder, fascistas da Alternativa para a Alemanha (AfD) são o principal partido de oposição no parlamento federal (Bundestag) alemão, enquanto, na Itália, o partido fascista Lega integra o governo de coalizão. Os partidos tradicionais da classe dominante, socialdemocratas e conservadores, já apodrecidos, adaptam-se ao programa da extrema direita. As classes dominantes da Europa e dos Estados Unidos, apavoradas pela oposição social, recorrem a formas de dominação autoritárias e se empenham, numa tentativa desesperada, em censurar a internet.

4. A crise global da dominação de classe se manifesta de forma mais desenvolvida no epicentro do capitalismo mundial, os Estados Unidos, que concentra em si todas as contradições do sistema mundial. A eleição de Donald Trump marca um ponto de virada da história política estadunidense. Apesar de seus opositores burgueses o retratarem como um monstro que surgiu do inferno, Trump – cuja riqueza foi adquirida por meio de décadas de fraudes no sistema financeiro, mercado imobiliário, e na indústria de apostas de cassino e de entretenimento – pode ser muito mais bem compreendido como a personificação do parasitismo da classe dominante estadunidense e da criminalidade que permeia as operações de todo o sistema.

5. No despertar do imperialismo estadunidense, quando os EUA despontavam como a principal potência mundial, o presidente Theodore Roosevelt cunhou a frase: “Fale com suavidade e carregue um grande porrete”. Entretanto, com o declínio da economia dos EUA em relação ao de seus rivais globais, o imperialismo estadunidense tem buscado incessantemente elevar seu poderio militar para manter sua posição global. As ameaças belicosas de Trump de “tornar os EUA grandes novamente” surgem do medo causado pela percepção de declínio e crise nacional. Mas os meios pelos quais ele quer restaurar a “grandeza” dos EUA levam necessariamente ao desastre. A política “EUA em primeiro lugar” de Trump está destruindo inescrupulosamente as instituições através das quais os Estados Unidos exerceram sua hegemonia desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele está afastando não apenas aliados fundamentais na Europa Ocidental e na Ásia, mas também – com suas críticas simultâneas ao Canadá e México – isolando os Estados Unidos nas Américas.

6. Trump calcula que os aliados tradicionais dos Estados Unidos, confrontados pela possibilidade de sanções econômicas, não terão outra escolha a não ser se curvar às ordens dos EUA. Porém, mais perigoso do que a raiva e o rancor dos presidentes e primeiros ministros burgueses que ele insulta regularmente, é o ódio causado pelos discursos de Trump nas massas ao redor do mundo. Os esforços dos Estados Unidos para encobrir suas investidas imperialistas sob a bandeira da “democracia” e dos “direitos humanos”, já desgastada por décadas de guerra, estão totalmente desacreditados. A oposição global de amplas massas ao redor do mundo contra o imperialismo estadunidense está se erguendo como um fator político significativo, sobretudo ao cruzar e interagir com a radicalização social crescente dentro dos Estados Unidos.

7. A administração Trump preside um país com níveis insustentáveis de desigualdade social. Suas ações são expressão do beco sem saída em que o capitalismo estadunidense se encontra. Sob o governo de Trump, a “guerra ao terror” sofre uma metástase, tornando-se “guerra aos imigrantes”. As medidas antidemocráticas e de estado policial empregadas contra os trabalhadores imigrantes serão utilizadas contra toda resistência social às políticas de guerra e de contrarrevolução social da classe dominante.

8. A ruptura com as formas democráticas de governo é acompanhada por conflitos ferozes no interior do aparato de Estado. Todos os dias, o presidente vomita suas afrontas verbais, enquanto os democratas expõem seus delírios neomacarthistas de que os russos “semeiam a discórdia” dentro dos EUA. Não há nada de minimamente progressista, menos ainda sério, na oposição organizada pelo Partido Democrata e por setores da mídia. Eles representam outra fração reacionária da classe dominante. Sua oposição a Trump é feita com base na alegação de que sua política externa – particularmente em relação à Rússia – está minando os interesses estratégicos de longa data do imperialismo estadunidense.

9. A classe dominante está se livrando das antigas formas de governo, alinhando as estruturas do governo ao caráter oligárquico da sociedade. Mas esse processo está se deparando com uma resistência crescente e cada vez mais consciente da classe trabalhadora contra a desigualdade social e os ataques aos direitos democráticos. Após décadas de contenção pelos sindicatos, o nível de atividade de greve – a forma mais básica da luta de classes – se elevou drasticamente. Esse processo global inclui os protestos contra a austeridade no Irã, uma série de greves estaduais de professores nos EUA, greves massivas na Alemanha, a mobilização de trabalhadores na França contra as reformas trabalhistas de direita e greves de professores da educação básica e universitários por toda a América Latina e Oriente Médio.

10. A intensificação da luta de classes coloca uma responsabilidade imensa sobre o Comitê Internacional da Quarta Internacional e o Partido Socialista pela Igualdade (SEP, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. A classe trabalhadora está buscando resistir aos ataques incessantes sobre suas condições de vida e seus direitos democráticos. Entretanto, a crise do capitalismo e os preparativos conscientes da elite dominante para a guerra avançam mais rápido do que a consciência de classe dos trabalhadores. Reconhecer essa realidade política não justifica o pessimismo, a forma mais míope e inútil de subjetivismo a-histórico. Ao contrário, exige determinação ainda maior, baseada no entendimento das experiências históricas da luta de classes do século passado e da crise objetiva dos dias de hoje, para elevar a consciência política da classe trabalhadora ao nível exigido pelas tarefas históricas que a confrontam.

11. A relação entre a crise objetiva global do sistema capitalista e a consciência de classe dos trabalhadores não é estática, mas dinâmica. Não haverá falta de eventos explosivos – sobretudo aqueles provenientes da própria experiência do conflito de classes – que irão minar as bases das crenças tradicionais e radicalizar a consciência social. Somente um partido marxista, condicionado pelo discernimento teórico e pelo conhecimento da história, pode perceber, analisar e se preparar para os processos subjacentes que assumirão “de repente” a forma de lutas revolucionárias massivas. A tarefa do partido revolucionário, portanto, não é especular sobre a possibilidade de construção de um movimento revolucionário. O que pode e o que não pode ser alcançado será determinado na luta.

12. A apreciação de Trotsky, escrita em 1940, em meio aos estágios iniciais da Segunda Guerra Mundial, aplica-se com ainda mais força hoje, 78 anos depois:

Hoje não se trata mais de uma questão, como era o caso no século XIX, de simplesmente garantir um desenvolvimento mais rápido e mais saudável da vida econômica; hoje, a questão é salvar a humanidade do suicídio. É precisamente a gravidade do problema histórico que faz tremer os alicerces dos partidos oportunistas. O partido da revolução, ao contrário, encontra uma fonte de poder inesgotável na consciência de que carrega uma necessidade histórica inexorável.

Os 80 anos da Quarta Internacional

13. Dentro desta situação histórica, o partido revolucionário é, ele mesmo, um fator enorme na determinação do resultado da crise objetiva. Uma avaliação da situação objetiva e uma apreciação realista das possibilidades políticas é totalmente alheia ao marxismo se exclui o impacto da intervenção do partido revolucionário. O partido marxista revolucionário não é meramente um comentador de eventos, ele participa dos eventos que analisa e, através de sua liderança na luta pelo poder dos trabalhadores, busca ativamente mudar o mundo.

14. Este ano marca o octogésimo aniversário da Quarta Internacional, fundada em setembro de 1938. Ao longo de 65 de seus 85 anos de existência, o trabalho da Quarta Internacional se desenvolveu sob a liderança do Comitê Internacional. Observando a partir de 2018, não restam dúvidas de que as análises históricas, os princípios e o programa que fundaram a Quarta Internacional em 1938, e que se preservaram na publicação da Carta Aberta que originou o Comitê Internacional em 1953, foram confirmadas por toda a trajetória do desenvolvimento histórico.

15. Todas as questões referentes à legitimidade histórica e política da luta contra o stalinismo travada pelo movimento trotskista foram respondidas, de forma decisiva e irrefutável, pela dissolução dos regimes stalinistas entre 1989 e 1991 e a reintrodução do capitalismo por todo a Europa do Leste, União Soviética, China e Vietnã. A burocracia stalinista na União Soviética, como Trotsky havia previsto em A Revolução Traída (escrito em 1936), liquidou as relações de propriedade nacionalizadas que foram estabelecidas em consequência da Revolução de Outubro. Os acontecimentos de 1989-91 não apenas confirmaram a luta da Quarta Internacional contra o stalinismo, como também expuseram a falência teórica das tendências antitrotskistas que haviam proclamado que o poder estatal, nos regimes estabelecidos na União Soviética, Europa do Leste e China, era exercido por uma nova classe dominante através de uma nova forma social de exploração. Mas essa “nova classe' de exploradores, descoberta com estardalhaço por Max Shachtman e seus seguidores, agiu contradizendo essa teoria. Diferente de todas as classes dominantes que já existiram na história, ela se dissolveu voluntariamente! Longe de terem sido guardiões de novas formas de propriedade, os regimes burocráticos provaram ser, como Trotsky havia antecipado, o instrumento político para a restauração do capitalismo e a reconstituição de uma classe capitalista.

16. O Comitê Internacional foi fundado em 1953 em oposição a uma nova forma de revisionismo antitrotskista, promovida de forma mais proeminente por Michel Pablo e Ernest Mandel, que afirmavam que os regimes stalinistas seriam os meios pelos quais o socialismo seria concretizado. As burocracias stalinistas presidiriam ao longo de séculos por meio de Estados operários deformados. Essa perspectiva sinistra elevava as burocracias stalinistas à força mais progressista da história, relegando a classe trabalhadora a nada mais que uma força social secundária que pressionaria a liderança burocrática, e negava absolutamente a necessidade de existência de uma Quarta Internacional. Os pablistas louvaram politicamente múltiplos movimentos nacionalistas burgueses e pequeno-burgueses radicais. Nasser no Egito, Ben Bella na Algéria, Perón na Argentina e, especialmente, Castro em Cuba (para nomear somente os mais conhecidos heróis pablistas) foram enaltecidos como exemplos de um novo caminho para o socialismo, sem a luta revolucionária da classe trabalhadora e sem a direção de um partido marxista-trotskista.

17. O racha com os pablistas em 1953 marcou apenas o início de uma prolongada disputa política contra o oportunismo antitrotskista dentro da Quarta Internacional. A luta entre o revisionismo pablista e o “trotskismo ortodoxo” não foi só uma guerra de palavras. Ela surgia das condições políticas objetivas e refletia os interesses de forças de classe reais. O pablismo foi a expressão política dos esforços da pequena-burguesia para subordinar a classe trabalhadora aos seus interesses. Na medida em que as condições criadas pelo boom econômico do pós-guerra, assim como a influência ainda significativa das burocracias stalinista, social-democrata e sindical, suprimiam a consciência de classe e a luta de classes revolucionária, a correlação de forças no interior da Quarta Internacional favorecia os pablistas. O distanciamento do Workers Revolutionary Party (Partido Revolucionário dos Trabalhadores) britânico, nos anos 1970, dos princípios que seus líderes haviam defendido anteriormente – na luta contra Pablo e Mandel em 1953 e na oposição à reunificação do Socialist Workers Party (Partido Socialista dos Trabalhadores) estadunidense com os pablistas em 1963 – ameaçou a destruição do Comitê Internacional.

18. A oposição ao curso pablista do WRP que surgiu dentro da Workers League (Liga dos Trabalhadores – predecessora do SEP nos EUA), entre 1982 e 1985, foi decisiva na mobilização de todo o Comitê Internacional em defesa do programa desenvolvido historicamente do movimento trotskista. Com a suspensão das atividades do Workers Revolutionary Party em dezembro de 1985, seguida de um racha formal em 1986, os trotskistas ortodoxos retomaram o controle sobre o Comitê Internacional. Não foi uma coincidência essa vitória decisiva ter sido conquistada no contexto da crise terminal dos regimes stalinistas na União Soviética e na Europa do Leste, da capitulação universal dos partidos trabalhistas de massas e sindicatos existentes em resposta à ofensiva do capitalismo mundial, e da impotência evidente dos movimentos nacionais burgueses frente ao imperialismo neocolonialista mundial. O enfraquecimento de tais agências do imperialismo minou as forças do pablismo.

19. No período que sucedeu o racha de 1985-86, o Comitê Internacional iniciou, com base na teoria marxista e em toda a herança do movimento trotskista, um processo de esclarecimento político e desenvolvimento organizativo. A transformação das, até então existentes, ligas do Comitê Internacional em novos Partidos Socialistas pela Igualdade foi decidida em antecipação ao papel independente e decisivo que o movimento trotskista desempenharia num novo período de levantes revolucionários da classe trabalhadora. A criação do World Socialist Web Site, em fevereiro de 1998, uma iniciativa sem precedentes que reconheceu e fez uso criativo do potencial revolucionário da internet, tornou possível uma vasta expansão da audiência do marxismo revolucionário e da influência política do movimento trotskista.

20. Tendo seus princípios e programa confirmados pela história, o Comitê Internacional da Quarta Internacional é agora a força fundamental para a unificação da classe trabalhadora e a construção do Partido Mundial da Revolução Socialista.

A crise social e a radicalização da classe trabalhadora

21. As contradições básicas do capitalismo – entre a economia internacional e o sistema de estados-nação, e entre a produção socializada e a apropriação privada do lucro – expressam-se no acirramento do conflito geopolítico e no perigo de uma Terceira Guerra Mundial, no crescimento da desigualdade social, na ruptura com as formas democráticas de governo internacionalmente e, acima de tudo, na radicalização política da classe trabalhadora.

22. Passaram-se dez anos desde o colapso financeiro de 2008, que representou não uma retração conjuntural, mas uma crise sistêmica do sistema capitalista. Em janeiro de 2009, o SEP alertou que não existiria uma resposta “socialmente neutra” para a crise e que “todas as medidas tomadas tinham buscado assegurar os interesses dos setores mais poderosos da elite financeira”. A resposta da classe dominante à crise, nós previmos, seria a intensificação do ataque contra a classe trabalhadora e a expansão da violência militar internacionalmente, exacerbando as tensões entre as grandes potências imperialistas e capitalistas.

23. Essa análise se mostrou correta. Ao longo dos últimos dez anos, as classes dominantes do mundo, lideradas pela administração Obama nos EUA, injetaram trilhões de dólares nos mercados visando a reflação das bolhas financeiras, que foram pagas através da imposição de medidas de austeridade, cortes nos salários e ataques incessantes contra programas sociais. As consequências ficam evidentes no estado das relações sociais e nos níveis de desigualdade social que prevalecem ao redor do planeta.

24. A concentração de riqueza nas mãos da elite financeira é mais alta hoje do que em qualquer outro período da história moderna. De acordo com o “Relatório da Riqueza Mundial”, da empresa de consultoria, Capgemini, a riqueza dos milionários do mundo (18,1 milhões de pessoas) ultrapassou os 70 trilhões de dólares pela primeira vez na história em 2017, crescendo mais de 10% em relação ao ano anterior. Outro relatório, o “Censo Bilionário”, lançado pela Wealth-X em maio, descobriu que a população mundial de bilionários cresceu 15% entre 2016 e 2017, para 2.754 pessoas, e que a riqueza desses bilionários disparou 24%, alcançando o nível recorde de 9,2 trilhões de dólares, equivalente a 12% do produto interno bruto de todo o planeta. O fator determinante para tamanho crescimento da riqueza foi a alta do mercado de ações, com a capitalização de mercado global crescendo 21,8% em 2017, enquanto o índice Dow Jones Industrial Average quadruplicou na última década.

25. A acumulação extrema de riqueza foi alimentada, num grau extraordinário, pela especulação financeira sustentada pelo governo, exemplificada pelo programa de longa duração de “quantitative easing” (flexibilização quantitativa). No entanto, existem sinais crescentes de que a especulação no mercado atingiu limites insustentáveis. O total de margin debt (isto é, empréstimos de dinheiro utilizados para comprar ações) atinge hoje aproximadamente US$ 670 bilhões. Isso equivale a 3% do Produto Interno Bruto, que é mais alto hoje do que em qualquer outro período desde a crise de 1929. Apenas cinco empresas – Facebook, Apple, Amazon, Google e Netflix – somam 10,6% de toda a riqueza do mercado de ações.

26. Enquanto o jogo de apostas no mercado financeiro sancionado pelo governo enriqueceu a oligarquia financeira, as condições das amplas massas da população se deterioram em velocidade alarmante. De acordo com uma reportagem publicada pelo Credit Suisse no final do último ano, “Os 3,5 bilhões de adultos mais pobres no mundo têm, cada um, um total de ativos inferior a US$ 10 mil (₤7,6 mil). Coletivamente, essas pessoas, que totalizam 70% da população em idade ativa mundial, representam apenas 2,7% da riqueza mundial”. Nos Estados Unidos, três pessoas – Jeff Bezos, Bill Gates e Warren Buffet – têm mais dinheiro do que toda a metade mais pobre da população. A parcela de renda dos 1% mais ricos dos EUA em relação à riqueza total do país subiu de 10% em 1980 para 20% em 2016, enquanto a parcela de renda dos 50% mais pobres caiu de 20% para 13%, no mesmo período.

27. O crescimento extremo da desigualdade social se expressa de inúmeras formas. Uma crise de consumo de opiáceos assola grandes áreas do país. Um crescimento agudo da mortalidade em função de epidemia de drogas, abuso de álcool e suicídios produziu uma queda na expectativa de vida pelo segundo ano consecutivo em 2016. Praticamente metade da população possui menos de US$ 10 mil em poupança e não poderá se aposentar. O custo dos seguros de saúde estão se elevando sob o impacto do “Obamacare” e universitários formados possuem dívidas que somam mais de US$ 1 trilhão. A reestruturação da indústria automotiva feita pela administração Obama foi a ponta de lança para a proliferação de empregos de meio período e salários reduzidos. As consequências criminosas do roubo da infraestrutura pública foram expostas na crise de água em Flint e na devastação de Porto Rico pelo Furacão Maria, que deixou 5 mil mortos ou mais.

28. A “terra das oportunidades ilimitadas”, que sempre teve um caráter mítico, deu lugar à terra dos salários baixos, das dívidas, insegurança econômica permanente e desigualdade social. Ao longo dos últimos cinquenta anos, a probabilidade de um filho ganhar mais do que seus pais despencou de 90% para 50%. Os Estados Unidos possuem a maior taxa de mortalidade infantil e a menor expectativa de vida de todos os países capitalistas desenvolvidos.

29. Esses fatos têm as mais amplas consequências políticas. Conforme o SEP afirma em seu programa, adotado em 2010, “Em última análise, as vastas riquezas e poder do capitalismo dos EUA foram a causa objetiva mais significativa da subordinação da classe trabalhadora ao sistema político bipartidário controlado pelas corporações… A mudança nas condições objetivas, no entanto, fará os trabalhadores dos EUA mudarem suas opiniões. A realidade do capitalismo dará aos trabalhadores inúmeras razões para lutarem por uma transformação fundamental e revolucionária na organização econômica da sociedade”.

30. Essas mudanças na esfera da consciência já estão acontecendo. Jamais existiu, em qualquer outro país, uma campanha tão determinada para bloquear até as expressões mais básicas de consciência socialista. Porém, várias pesquisas mostram que, entre a juventude, mais de 50% têm uma visão favorável ao socialismo e a maioria preferiria viver numa sociedade socialista do que capitalista. Essa é uma mudança importante, que comprova as concepções do marxismo e refuta todas as teorias pequeno-burguesas a respeito do fim da luta de classes e do fim da classe trabalhadora.

A erupção do imperialismo dos EUA e o perigo de guerra mundial

31. A contrarrevolução social é a resposta doméstica da classe dominante dos Estados Unidos ao prolongado declínio do capitalismo estadunidense. Sua resposta internacional é a explosão da violência imperialista. Analisando a política imperialista em 1928, o ano anterior à Grande Depressão, Leon Trotsky advertiu: “No período de crise, a hegemonia dos Estados Unidos irá operar de forma mais completa, mais aberta e mais implacável do que no período de crescimento econômico. Os Estados Unidos tentarão superar e se livrar de suas dificuldades e seus males primeiramente à custa da Europa, independentemente de isso ocorrer na Ásia, Canadá, América do Sul, Austrália ou na própria Europa, pacificamente ou pela guerra”.

32. A guerra se tornou uma característica permanente da política externa dos Estados Unidos. Após a dissolução stalinista da União Soviética em 1991, os estrategistas do imperialismo estadunidense proclamaram um “período unipolar”. A classe dominante dos EUA interpretou o desaparecimento de seu maior competidor do período da Guerra Fria como uma oportunidade para usar sua força militar de forma irrestrita como mecanismo central para combater o declínio do capitalismo dos EUA e a erosão das bases de sua hegemonia global.

33. Um quarto de século depois, essa política evidentemente fracassou. Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 deram o pretexto da “guerra ao terror” para uma escalada da violência militar, definida na doutrina de “guerra preventiva” adotada pelo governo de George W. Bush em sua Estratégia de Segurança Nacional em 2002. Uma série de guerras e invasões, iniciadas ou apoiadas pelos Estados Unidos devastaram o Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia, Iêmen e muitos outros países. Essas guerras não resolveram as crises do imperialismo estadunidense, ao mesmo tempo que levaram à morte de mais de um milhão de pessoas, destruindo sociedades inteiras e criando a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Elas se desenvolvem, hoje, num conflito com grandes potências, incluindo China, Rússia e os tradicionais aliados de Washington na Europa.

34. Os Estados Unidos estão se preparando ativamente para uma guerra mundial. A Estratégia de Segurança Nacional da administração Trump, revelada em 2017, explicitou pela primeira vez que o centro do planejamento militar dos EUA é a preparação para uma grande guerra envolvendo grandes potências. Tal guerra, o primeiro conflito na história mundial em que ambos os lados teriam armas nucleares, ameaçaria a sobrevivência física da humanidade. “A competição entre grandes potências, não o terrorismo, é agora o foco principal da segurança nacional dos EUA”, declarou o Secretário de Defesa James Mattis, especificando Rússia e China como “potências revisionistas”. O documento de estratégia lamenta a “complacência estratégica” dos EUA ao longo do último período, o fracasso em construir “capacidade militar” e adquirir” novos sistemas de armamentos” e, sobretudo, a ideia de que a guerra pode ser “vencida rapidamente, a longa distância, com um mínimo de baixas”.

35. Existe uma conexão inerente entre os 25 anos de guerras instigadas pelos EUA e o surgimento do conflito entre grandes potências e a ameaça da guerra mundial. Como David North, presidente do Partido Socialista pela Igualdade, escreveu em julho de 2016:

A lógica estratégica do avanço dos EUA em busca da hegemonia global vai além das operações neocoloniais no Oriente Médio e na África. As guerras regionais em andamento são elementos que compõem a rápida escalada dos EUA em direção ao confronto com a Rússia e a China. Mas o atual estágio de disputa aberta pela hegemonia mundial, que é o centro do conflito com Rússia e China, está elevando tensões latentes e potencialmente explosivas entre os Estados Unidos e seus atuais aliados imperialistas, incluindo – para apontar o adversário potencial mais significativo – a Alemanha. As duas guerras mundiais do século XX não foram um produto de mal-entendidos. O passado é prólogo. Como o Comitê Internacional previu em 1990-91, a busca dos Estados Unidos pela hegemonia global reacendeu as rivalidades interimperialistas que fermentavam sob a superfície da política mundial. [A Quarter Century of War, Prefácio]

36. A ruptura histórica ocorrida na reunião do G7 em junho, em meio a denúncias mútuas da administração Trump e dos governos da Europa e Canadá, é a expressão mais recente e mais extrema da crescente divisão transatlântica. A causa imediata do conflito é o nacionalismo econômico dos “EUA em primeiro lugar” da administração Trump e as ameaças de impor bilhões de dólares de barreiras tarifárias sobre importações da União Europeia, Canadá e México. As divisões entre EUA e UE crescem não apenas sobre o mercado, mas também com a oposição da UE à política estadunidense de ameaça de guerra contra o Irã ao quebrar o acordo nuclear iraniano. Os conflitos crescentes entre as grandes potências imperialistas, contudo, não podem ser atribuídos à personalidade particular de Donald Trump. Eles são a expressão da disputa crescente entre essas potências pelo acesso a mercados, recursos e trabalho.

37. A resposta das potências imperialistas da Europa é se rearmar e assegurar seus interesses independentemente dos Estados Unidos. “Nós, enquanto europeus, precisamos tomar mais nosso destino em nossas próprias mãos”, declarou a chanceler alemã, Angela Merkel, em junho. A Europa “não pode mais esperar que os EUA estejam cuidando de tudo, como fizemos por décadas de maneira um tanto despreocupada”. A Alemanha e a Europa “precisam promover nossos princípios e valores na Europa, potencialmente em aliança com o Canadá ou Japão”. Com Merkel, a Alemanha passou a apoiar uma força militar intervencionista, europeia e independente, sob a liderança germano-francesa.

Golpe palaciano ou luta de classes

38. O impacto dos níveis insustentáveis de desigualdade social e da guerra permanente e cada vez mais expandida se expressa politicamente dentro dos Estados Unidos na ruptura com as formas democráticas de governo.

39. A posse de Trump trouxe as políticas de extrema direita, fascistas e nacionalistas extremistas aos níveis superiores do aparato estatal. Ao longo das eleições de 2016, Trump afinou sua retórica à insatisfação e frustração social, mentindo e usando uma demagogia vazia sobre os “homens esquecidos”. A verdadeira substância social de sua gestão, entretanto, se expressa nos cortes massivos de impostos para os ricos, numa expansão vertiginosa do orçamento militar e na intensificação do ataque contra a educação pública, regulamentação governamental, programas sociais e a classe trabalhadora como um todo.

40. No centro da política governamental de Trump está a demonização dos imigrantes, que têm sido aterrorizados por perseguições, aprisionamento e deportação no estilo da Gestapo. Cenas de crianças sendo arrancadas de seus pais na fronteira, enjauladas e então abusadas física e sexualmente, causaram choque e repulsa, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Trump reage aos conflitos internos da classe dominante redobrando seu apelo fascista, buscando mobilizar forças de extrema direita com base no ultranacionalismo e na demagogia populista. Seu objetivo é fazer da camada já superexplorada de trabalhadores imigrantes um bode expiatório para os níveis grotescos de desigualdade social que caracterizam a sociedade estadunidense.

41. A Agência de Imigração e Alfândega e a Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras são o campo de treinamento para as futuras guerras contra a classe trabalhadora. A polícia de imigração recebeu ampla autoridade para violar os direitos democráticos de todos, conduzindo buscas e apreensões ilegais, exigindo provas de cidadania e prendendo pessoas em massa em escolas e locais de trabalho. Centros de detenção erguidos durante a administração Obama estão se expandindo e se tornando campos de concentração modernos. Esse aparato repressivo será utilizado pela classe dominante contra toda oposição social e política.

42. Com a administração Trump, a classe dominante estadunidense ultrapassou uma linha que não tem volta. Passaram-se 18 anos desde o roubo das eleições de 2000 e a entrega da presidência a George W. Bush através de uma decisão da Suprema Corte dos EUA por 5 votos a 4. Conforme o WSWS declarou na época, o resultado das eleições e sua aceitação por todo o establishment político demonstraram que, entre a classe dominante, já não havia seção favorável aos direitos democráticos básicos. A eleição foi seguida pela “guerra ao terror”, eternamente associada à Lei Patriótica, espionagem doméstica, “rendição extraordinária”, tortura financiada pelo governo e à Baía de Guantánamo. A administração Obama deu um passo além nos ataques aos direitos democráticos com a afirmação do direito do presidente dos Estados Unidos de assassinar qualquer um, incluindo cidadãos estadunidenses, sem julgamento.

43. A grande vantagem da administração Trump é o caráter reacionário e covarde de seus críticos dentro do establishment político. Nos Estados Unidos, como na Europa, a extrema direita se beneficia da ausência de qualquer meio progressista para canalizar a revolta e a insatisfação social.

44. Em sua declaração “Golpe palaciano ou luta de classes: a crise política em Washington e a estratégia da classe trabalhadora”, o Comitê Político do SEP explicou:

Os opositores de Trump dentro do establishment político, incluindo ambos republicanos e democratas, falam em nome de uma fração da elite empresarial e financeira. Os métodos que estão empregando na campanha que fazem contra Trump são essencialmente antidemocráticos, envolvendo articulações por trás dos bastidores com elementos de dentro do poder militar/de inteligência e da elite financeira-empresarial. Esses são os métodos de um golpe palaciano.

45. A eleição de Trump em 2016 só foi possível graças ao caráter do Partido Democrata. Hillary Clinton concorreu como a candidata de Wall Street, do aparato de inteligência e militar e das camadas privilegiadas da classe média alta através da promoção das políticas identitárias. A decisão de Bernie Sanders de apoiar Clinton – o ponto culminante de uma campanha que tinha o objetivo de canalizar a oposição social em apoio ao Partido Democrata – abriu caminho para Trump fazer um apelo à insatisfação social.

46. Depois das eleições, os democratas trabalharam para direcionar toda a oposição à Trump por trás das conspirações e intrigas das poderosas frações do aparato de inteligência, centradas na campanha anti-Rússia e na investigação do ex-diretor do FBI, Robert Mueller. Enquanto denunciavam a administração Trump por buscar um acordo com o governo de Vladimir Putin na Rússia, os democratas ignoraram, encobriram e facilitaram os ataques de Trump contra a classe trabalhadora e os imigrantes, seus cortes de impostos para os ricos e seus preparativos sistemáticos para a guerra mundial.

47. O propósito da campanha anti-Rússia dos democratas tem três lados: (1) fortalecer uma política externa mais agressiva contra a Rússia, que é vista pelas frações dominantes dos militares e das agências de inteligência como o principal obstáculo para a hegemonia dos EUA no Oriente Médio, que deve ser confrontada como pré-requisito para enfrentar a China; (2) criar uma base para atacar os direitos democráticos e impor um regime de censura da Internet, sob a justificativa de combater as “fake news” e a “intromissão russa”; e (3) desviar a revolta de milhões de trabalhadores e jovens de qualquer contestação do sistema capitalista.

48. Além da campanha contra a Rússia, outra grande preocupação dos democratas tem sido a promoção do movimento #MeToo, que, disfarçado de um combate contra a agressão e violência sexuais, serve para criar uma atmosfera de caça às bruxas, para minar e erradicar os direitos democráticos básicos, incluindo o direito a um julgamento justo. A campanha #MeToo ignora completamente as questões enfrentadas pela classe trabalhadora, incluindo as mulheres trabalhadoras. Enquanto é bem recebida pelas seções abastadas da classe média alta que apoiam o Partido Democrata, a preocupação desmesurada com sexo tem fracassado com as massas de trabalhadores, cujas maiores preocupações estão relacionadas aos problemas decorrentes de sua posição de classe na sociedade capitalista, e não de seu gênero, etnia ou orientação sexual.

49. Um ano e meio depois de seu lançamento, a estratégia dos democratas de oposição a Trump já está em frangalhos. O governo se sente encorajado e está levando adiante seus esforços para estabelecer o controle de todas as instituições do Estado pela extrema direita, incluindo a Suprema Corte. Os democratas, por outro lado, redobram seus esforços para desviar e suprimir a insatisfação social e política. Nada os assusta mais do que o surgimento de um movimento popular de massas contra o criminoso bilionário na Casa Branca. Eles não querem fazer nada que enfraqueça as instituições do Estado capitalista frente à crescente luta de classes.

Os democratas da CIA e a pseudoesquerda

50. A resposta do Partido Democrata à eleição de Trump é determinada por seu caráter de classe e sua fisionomia política. Ele é um partido do capital financeiro e do aparato de inteligência e militar, apoiado por uma camada mais ampla da abastada classe média alta, cuja renda anual total a coloca dentro dos 10% mais ricos da sociedade estadunidense. Apesar da renda desse estrato social ser muito superior àquele da vasta maioria dos estadunidenses, aqueles que estão entre esses 90-99% privilegiados estão, ainda assim, perfeitamente conscientes da enorme diferença da escala de sua riqueza em comparação àquela dos 1%, 0,1% e 0,001% mais ricos da população. Eles estão muito mais insatisfeitos com o que veem como uma distribuição desfavorável entre os 10% mais ricos do que com a existência da pobreza em massa. E mesmo que não consigam reduzir as vastas somas atribuídas aos estadunidenses mais ricos, os membros da classe média alta lutam ferozmente entre si pelo dinheiro que está no topo do capitalismo dos EUA.

51. As políticas raciais, de gênero e de identidade sexual promovidas pelo Partido Democrata estão amarradas a conflitos sujos dentro da classe média alta por acesso a posições nas corporações, universidades, sindicatos e no aparato de Estado. As denúncias, que se tornaram rotineiras, contra um ou outro indivíduo por supostas “microagressões”, racismo e, o mais perigoso de todos, assédio sexual, representam nada mais do que a transformação das políticas de identidade em armas.

52. Setores da pseudoesquerda começaram a chamar pela formação de um novo “partido dos 99%”. Esse slogan implica na existência de interesses comuns entre aqueles que recebem US$ 25 mil por ano (a renda anual de um emprego que paga US$ 12 por hora) e aqueles que recebem compensações anuais (a parte dos rendimentos em investimentos) de US$ 250 mil a US$ 1 milhão. Esse slogan, sociologicamente absurdo e politicamente reacionário, tem como objetivo subordinar a classe trabalhadora à classe média alta e ao Partido Democrata.

53. Conforme o WSWS documentou, durante as eleições de meio de mandato em 2018, os democratas recrutaram um número sem precedentes de antigos agentes de inteligência e militares veteranos. A política dos “democratas da CIA” não está em conflito, mas corresponde às políticas da pseudoesquerda da classe média alta, expressas por organizações como os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA, na sigla em inglês) e a Organização Socialista Internacional (ISO, na sigla em inglês). Em “Golpe palaciano ou luta de classes”, o WSWS declarou:

A característica fundamental das políticas da classe média é a sua ausência de independência em relação à classe dominante. Ela busca influenciar o Partido Democrata e conquistar seu apoio para reformas mínimas do sistema capitalista. Os elementos de esquerda mais liberais neste meio político, na medida em que se dirigem aos problemas da desigualdade social, unem, com uma total falta de princípios, reivindicações semirreformistas com o apoio ao Partido Democrata e aos objetivos do imperialismo dos EUA. Isso está ligado ao fato de que sua própria posição economicamente privilegiada é baseada no crescimento recorde dos lucros empresariais e nos preços de ações. Sua função política primordial é manter a dominação da classe dominante sobre a classe trabalhadora.

54. Os DSA estão assumindo um papel cada vez mais central em sustentar a autoridade política do Partido Democrata. Desde as eleições de 2016, o número de membros dos DSA aumentou de 7 mil para 37 mil. Eles têm ganhado o apoio de uma camada da juventude que está procurando uma oposição socialista ao capitalismo, e está tentando direcionar esse sentimento em um apoio ao Partido Democrata. A campanha de Alexandria Ocasio-Cortez, membro dos DSAs, que derrotou em Nova Iorque o deputado em exercício, Joseph Crowley, numa eleição primária ao Congresso ocorrida em junho, demonstra o papel que cumpre. Aproveitando-se da insatisfação social para derrotar Crowley, o quarto democrata mais poderoso na Câmara dos Deputados, Ocasio-Cortez passou rapidamente a mostrar seu apoio ao establishment, enquanto era enaltecida pela mídia empresarial. O chamado dos DSA e de Ocasio-Cortez para “abolir o ICE [Departamento de Imigração e Alfândega]” – na verdade apenas mudar seu nome, preservando integralmente suas terríveis capacidades – está sendo adotado por uma fração da liderança dos democratas.

55. Tanto o medo do interesse crescente pelo socialismo quanto a função de grupos como os DSA foram demonstrados por um artigo do New York Times após a vitória de Ocasio-Cortez nas eleições primárias (“Os socialistas millenials estão chegando”, de Michelle Goldberg). Goldberg diz: “A conversa de controle popular dos meios de produção é anátema para muitos democratas antigos, mesmo os mais liberais. Soa muito melhor entre os jovens; um levantamento recente mostra que 61% dos democratas entre 18 e 34 anos de idade vê o socialismo positivamente. A combinação da Grande Recessão, o aumento dos custos da educação, impossibilidade de custear seguros de saúde e o crescimento da precarização dos locais de trabalho trouxeram insegurança material crescente à juventude. Eles não têm lembranças da falência generalizada do comunismo, mas os fracassos do capitalismo estão à sua volta”.

56. A conclusão de Goldberg é que o Partido Democrata deveria abrir as portas aos DSA e seus candidatos como forma de repaginar o partido:

Existem mais candidatos como Ocasio-Cortez por aí e os democratas deveriam recebê-los. Eles necessitam desse lado jovem, vivo e disposto a levar adiante o trabalho de reconstruir o partido como uma instituição de bairro. E eles estão chegando, goste a direção do partido ou não.

57. Na realidade, não existem traços genuínos de socialismo no programa dos DSA e de partidos da pseudoesquerda parecidos. Suas propostas de reformas sociais limitadas estão ligadas ao apoio ao Partido Democrata e à defesa da dominação organizativa dos sindicatos corporativos sobre a classe trabalhadora. Ou seja, eles fornecem uma cobertura pseudoesquerdista para as instituições que travam uma guerra contra a classe trabalhadora.

58. Os grupos da pseudoesquerda se abstêm da luta contra o militarismo imperialista ou oferecem teorias desonestas para apoiar as operações militares dos EUA. O papel específico da ISO nos Estados Unidos é articular da forma mais aberta as políticas do Departamento de Estado dos EUA e da CIA dentro do meio político da pseudoesquerda. Eles são os maiores apoiadores das campanhas sustentadas pelos EUA para mudança de regime na Síria e desenvolveram laços fortes com frações do Estado que chamam abertamente por uma intervenção militar mais agressiva na Síria e contra a Rússia.

59. A expressão mais condenável do apoio da pseudoesquerda ao imperialismo é o seu silêncio em relação à escalada de ameaças ao jornalista e fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que permanece enclausurado na embaixada do Equador em Londres e enfrenta o perigo de ser expulso, preso e extraditado aos EUA, onde ele enfrentaria acusações de espionagem.

60. O papel traidor das organizações da pseudoesquerda de classe média alta é um fenômeno internacional. Na Grécia, a “Coalizão da Esquerda Radical”, o Syriza, lidera um governo de coalizão há três anos e meio e tem, ao longo desse período, implementado servilmente as demandas dos bancos europeus e chefiado a imposição da política da União Europeia contra os refugiados. Na Alemanha, o partido A Esquerda (Die Linke) tem apoiado e implementado as medidas de austeridade e ataques aos imigrantes, adotando amplamente o programa da AfD fascista.

61. A promoção dos DSA, da ISO e outros grupos da pseudoesquerda por frações do establishment político é acompanhada de esforços sistemáticos para suprimir o World Socialist Web Site. Enquanto a revista Jacobin, filiada aos DSA, é citada regularmente pelo New York Times e aparece no topo das pesquisas do Google, o WSWS tem sido o principal alvo dos mecanismos de censura implementados pelo Google, Facebook e outras empresas da Internet, em colaboração próxima com as agências de inteligência e do Estado. Na medida em que as massas de trabalhadores e da juventude buscam um caminho para combater o capitalismo e lutar pelo socialismo, são direcionados para organizações que servem de braços auxiliares do Estado e do aparato político burguês.

O significado do ressurgimento de ações grevistas

62. Um movimento genuíno contra a administração Trump não virá da classe dominante ou da classe média alta, mas das amplas massas da população, a classe trabalhadora, que é completamente excluída da vida política. A realidade da crise capitalista já levou neste ano a manifestações iniciais importantes de luta da classe trabalhadora. Ao longo dos últimos 30 anos, os sindicatos suprimiram praticamente todas as expressões organizadas da luta de classes. Porém, desde o início de 2018, professores deram início a uma série de greves e manifestações – nos estados da Virgínia Ocidental, Oklahoma, Nova Jersey, Arizona, Carolina do Norte, Colorado e Kentucky. Também ocorreram greves de trabalhadores da telecomunicação na Virgínia Ocidental e de trabalhadores do setor de serviços da Universidade da Califórnia.

63. O crescimento da luta de classes confirma os princípios teóricos fundamentais do marxismo e as perspectivas políticas elaboradas e desenvolvidas pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional. Ele demonstrou:

Que a divisão fundamental da sociedade estadunidense e mundial é de classe, não de raça, gênero ou identidade sexual. Expôs a mentira da divisão dos EUA entre estados “vermelhos” [pró-republicanos] e “azuis” [pró-democratas], com muitas das batalhas de classe deste ano tendo explodido em estados “republicanos”, onde a classe trabalhadora foi falsamente acusada de racista e atrasada pelos democratas e seus auxiliares políticos.

Que a classe trabalhadora é a força social revolucionária fundamental sobre a qual deve se basear o movimento contra a guerra, autoritarismo, censura e desigualdade.

Que a luta de classes é uma luta internacional. Como o CIQI escreveu em 1988, “Dadas as novas características do desenvolvimento capitalista, mesmo a forma da luta de classes deve assumir um caráter internacional. Até as lutas mais elementares da classe trabalhadora colocam a necessidade de coordenar suas ações em uma escala internacional.”

Que os sindicatos nacionalistas e pró-capitalistas não são organizações dos trabalhadores, mas braços corporativos da administração empresarial e do Estado que servem para bloquear e suprimir o combate contra a desigualdade e o sistema capitalista.

64. Todas as principais greves de professores deste ano foram iniciadas por professores da base e não pelos sindicatos. Na primeira dessas greves, na Virgínia Ocidental, uma onda crescente de greves selvagens forçou os sindicatos a convocarem uma paralisação limitada por todo o estado para aliviar a pressão da base e conter a insatisfação dos professores. Quando os sindicatos emitiram uma ordem de retorno ao trabalho, após um acordo com o governador bilionário do estado, os professores se rebelaram e forçaram a continuidade da greve. Os sindicatos, então, apoiados pelas organizações da pseudoesquerda que giram em torno do Partido Democrata, redobraram seus esforços para parar a luta sem que as demandas dos professores tivessem sido alcançadas. Os sindicatos cumpriram um papel semelhante em cada uma das greves, trabalhando para conter e acabar com a oposição dos trabalhadores.

65. A verdadeira função dos sindicatos foi posta às claras por alegações verbais de advogados dos sindicatos na Suprema Corte durante o caso Janus vs. AFSCME, tratando da constitucionalidade da cobrança de “taxas de negociação” (“agency fees”) – taxas que os servidores públicos não filiados ao sindicato devem pagar e ele em função da negociação do acordo coletivo entre o sindicato e as empresas. David Frederick, representando o Conselho 31 da Federação de Funcionários Públicos Estaduais, de Condados e Municipais dos EUA (AFSCME, na sigla em inglês) em Illinois, declarou: “O ponto decisivo negociado em troca do contrato de taxas de negociação foi a limitação das greves. E isso se aplica a muitas negociações de acordos coletivos.” Ainda segundo ele, “As taxas são a troca. A garantia da segurança dos sindicatos é a troca para a não realização de greves.” Se a Corte tomar a decisão de derrubar os precedentes anteriores, que permitem aos estados estabelecerem taxas de negociação, alertou, “vocês podem levar a uma agitação dos trabalhadores de dimensão imprevisível por todo o país”.

66. A natureza dos sindicatos é manifestada no escândalo de corrupção do Sindicato dos Trabalhadores Automotivos (UAW, na sigla em inglês), envolvendo o pagamento, por executivos da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), de mais de US$1,5 milhão a sindicalistas do UAW que participam das negociações de contrato. Em troca desses pagamentos, o UAW impôs, por meio de intimidação e fraude, contratos que aboliram a jornada de oito horas, cortaram pela metade os salários para uma nova classe de trabalhadores de “segundo escalão” e expandiram o número de trabalhadores temporários e com jornada reduzida, que pagam as contribuições sindicais mas não têm direitos.

67. O caráter dos sindicatos não é, fundamentalmente, resultado apenas da corrupção individual de seus líderes. Sua origem está na própria natureza dessas organizações e nas mudanças estruturais da economia mundial. Os sindicatos nacionalistas e pró-capitalistas reagiram à globalização da produção e à crise e declínio do capitalismo dos EUA abandonando a luta por ganhos, mesmo que parciais. O aparato sindical se integrou de forma ainda mais direta à administração das corporações, com a proliferação de parcerias entre sindicatos e as empresas que garantem um aumento contínuo da renda dos dirigentes dos sindicatos, apesar do número de seus membros ter diminuído e dos salários e benefícios dos trabalhadores terem caído.

68. O crescimento da luta de classes é um processo objetivo. Como o WSWS afirmou em “Golpe palaciano ou luta de classes”:

A interação entre condições objetivas de crise, tanto nos Estados Unidos como internacionalmente, e a radicalização da consciência social de massas irá se refletir numa erupção da luta de classes. A supressão da luta de classes por décadas pela burocracia sindical, pelo Partido Democrata e pelos abastados patrocinadores de várias formas de políticas identitárias está chegando ao fim. A contrarrevolução social das elites dominantes está prestes a se deparar com um levante da classe trabalhadora dos Estados Unidos. As várias formas possíveis de protestos sociais – nos locais de trabalho, comunidades e em cidades inteiras – vão adquirir, cada vez mais, uma identidade proletária, uma orientação anticapitalista e um caráter socialista. Lutas isoladas em locais de trabalho e comunidades atrairão amplos setores da classe trabalhadora para uma luta unificada.

A lógica da luta de classes e a greve geral

69. Os Estados Unidos são um barril de pólvora. A erupção das lutas sociais numa escala jamais vista nos EUA é absolutamente inevitável. Existem muitos fatores – os interesses sociais comuns de amplas camadas da classe trabalhadora, a erosão de diferenças setoriais, a integração étnica e racial da classe trabalhadora, o impacto das redes sociais baseadas na internet – que estão operando para se juntar em protestos massivos. Logo, deve-se esperar que a eclosão de fortes protestos sociais – quaisquer que sejam suas questões imediatas ou sua localidade – rapidamente se expanda atraindo milhões de trabalhadores a uma participação ativa na luta. Tendo em conta a experiência histórica da classe trabalhadora, o desdobramento lógico dessa unificação de lutas sociais será uma greve geral, que levantará a questão do poder político.

70. Sendo assim, a preparação para as lutas massivas da classe trabalhadora requer o desenvolvimento de uma rede interconectada de comitês populares nos locais de trabalho e nos bairros. A necessidade desses comitês surge das experiências dos próprios trabalhadores. As organizações que reivindicam representá-los, os sindicatos, não apenas são profundamente hostis à articulação de lutas da classe trabalhadora, mas abandonaram até mesmo as formas mais básicas de representação, incluindo a resolução de denúncias e o cumprimento das cláusulas contratuais. Comitês de fábrica e de local de trabalho levantarão demandas como o controle dos trabalhadores sobre a velocidade das linhas de produção, o fim do sistema de múltiplos salários, o cumprimento da jornada de 8 horas com salários integrais e dignos para todos e o fim das condições inseguras de trabalho.

71. O chamado do Partido Socialista pela Igualdade pela formação de comitês de base nas fábricas, totalmente independentes dos sindicatos controlados pelas corporações, enfureceu não só a burocracia reacionária, mas todas as tendências da pseudoesquerda. “Como o SEP ousa contestar a soberania política e organizativa dos sindicatos sobre a classe trabalhadora!”. Alguns porta-vozes da pseudoesquerda, fingindo adesão ao trotskismo, acusam o SEP de ter abandonado o Programa de Transição. Esses defensores pequeno-burgueses dos dirigentes sindicais empresariais, ou nunca leram, ou há muito já se esqueceram do que Trotsky realmente escreveu no documento de fundação da Quarta Internacional. Ele convocou os membros da Quarta Internacional

a criar, em todas as situações possíveis, organizações militantes independentes que correspondam mais diretamente às tarefas da luta de massas contra a sociedade burguesa; e romper sem vacilar, se necessário, com o aparato conservador dos sindicatos. Se é criminoso dar as costas a organizações de massas para assumir, em seu lugar, frações sectárias, não é menos criminoso tolerar passivamente a subordinação do movimento revolucionário de massas ao controle de grupos burocráticos abertamente reacionários ou conservadores disfarçados (“progressistas”). Os sindicatos não são fins em si mesmos; mas somente meios ao longo do caminho para a revolução proletária.

72. Ao defender a formação de comitês de fábrica e locais de trabalho, Trotsky explicou que eles levantam a pergunta: “Quem manda na fábrica: o capitalista ou os trabalhadores?”.

Desde o momento em que o comitê aparece, estabelece-se de fato um poder duplo na fábrica. Por sua própria essência, ele representa o estado de transição, pois inclui em si dois regimes irreconciliáveis: o capitalista e o proletário. O significado fundamental dos comitês de fábrica está exatamente no fato de que abrem as portas, se não a um período diretamente revolucionário, a um período pré-revolucionário – entre os regimes burguês e proletário.

As tarefas do Partido Socialista pela Igualdade

73. A tarefa política urgente é estabelecer a influência política do Partido Socialista pela Igualdade em toda seção da classe trabalhadora. O SEP está sendo a ponta de lança da luta para armar o movimento objetivo da classe trabalhadora em desenvolvimento com uma estratégia e perspectiva revolucionárias intransigentes. Ele está lutando para unificar as lutas contra a diminuição dos salários, os ataques à saúde e a destruição da educação pública ao movimento contra os ataques aos trabalhadores imigrantes, a violência policial, a destruição dos direitos democráticos e o perigo da guerra mundial.

74. A tarefa essencial do SEP é construir uma vanguarda revolucionária e transmitir à classe trabalhadora um grau cada vez maior de entendimento dos seus objetivos, esclarecendo a natureza do movimento que ela está desenvolvendo. O SEP deve fazer todo o esforço para ligar o crescimento das lutas da classe trabalhadora a um movimento político socialista, internacionalista e anti-imperialista para tomar o poder de Estado e reorganizar a vida econômica com base nas necessidades sociais e não no lucro privado. Em oposição à política de guerra e contrarrevolução social da classe dominante, a classe trabalhadora precisa avançar um programa revolucionário socialista.

75. A atividade política do SEP e do Comitê Internacional da Quarta Internacional está cada vez mais conectada com os rumos dos acontecimentos políticos. Ao longo do último ano, o CIQI e o SEP estiveram na linha de frente da luta contra a censura na internet e em defesa de Julian Assange. A campanha do partido por comitês de fábrica, independentes dos sindicatos pró-empresariais, está ganhando apoio crescente entre os professores, trabalhadores automotivos e outras seções da classe trabalhadora.

76. Um estudo das revoluções sociais do século XX revela que as derrotas políticas, frequentemente, foram consequência de políticas incorretas do partido socialista no decorrer de lutas revolucionárias. As políticas do POUM durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) está entre os exemplos mais trágicos de derrotas que resultaram de políticas incorretas. Porém, outra causa de derrotas é o fracasso do partido marxista em reconhecer e responder a tempo e de maneira suficientemente determinada à aproximação de uma crise revolucionária. A derrota da Revolução Alemã em 1923 é o exemplo mais significativo dessa incapacidade de iniciativa política. Na situação atual de crise crescente, é esse último erro que o movimento revolucionário deve estar determinado a evitar.

77. As tarefas específicas que derivam desta perspectiva são:

A. O desenvolvimento da base partidária em setores críticos da classe trabalhadora, incluindo os trabalhadores da indústria automotiva e outros setores fabris; trabalhadores da indústria extrativista, de mineração e siderurgia; professores e outros trabalhadores do setor público; trabalhadores da saúde; trabalhadores da Amazon, UPS e outras distribuidoras; e trabalhadores do setor de serviços. O SEP precisa conectar uma campanha agressiva pela construção de comitês de fábrica, locais de trabalho e bairro, independentes dos sindicatos com a mobilização política da classe trabalhadora contra o sistema capitalista. Todo esforço deve ser feito para coordenar as ações dos trabalhadores dos Estados Unidos às ações dos trabalhadores de outros países, tornando consciente a unidade objetiva da classe trabalhadora na escala internacional. Todas as filiais do partido devem trabalhar sistematicamente para recrutar os trabalhadores mais avançados para o partido.

B. O desenvolvimento de uma campanha contra a opressão dos trabalhadores imigrantes e contra as políticas fascistas da administração Trump. A luta contra a perseguição dos imigrantes deve ser levada à classe trabalhadora, com base na compreensão de que o ataque contra os imigrantes é um ataque contra todos os trabalhadores, e que os métodos de estado policial empregados atualmente contra os imigrantes serão utilizados contra toda forma de oposição social e política. Essa campanha precisa ser construída em oposição ao Partido Democrata e todas as suas organizações periféricas.

C. O desenvolvimento de um novo movimento antiguerra da classe trabalhadora. O SEP reafirma seu apoio à declaração do CIQI “Socialismo e a Luta Contra a Guerra” e aos princípios enfatizados ali enquanto os fundamentos políticos essenciais para um movimento antiguerra:

i. A luta contra a guerra deve se basear necessariamente na classe trabalhadora, a grande força revolucionária da sociedade, unindo atrás de si todos os elementos progressistas da população.

ii. O novo movimento antiguerra tem que ser anticapitalista e socialista, já que uma luta séria contra a guerra não pode existir a não ser na luta para pôr fim à ditadura do capital financeiro e ao sistema econômico que é a causa fundamental do militarismo e da guerra.

iii. Sendo assim, o novo movimento antiguerra deve ser, por necessidade, total e inequivocamente independente e hostil aos partidos e organizações políticas da classe capitalista.

iv. O novo movimento antiguerra deve, acima de tudo, ser internacional, mobilizando o vasto poder da classe trabalhadora para uma luta global contra o imperialismo. A guerra permanente da burguesia deve ser respondida pela classe trabalhadora com a perspectiva da revolução permanente, que tem como objetivo estratégico a abolição do sistema de estados-nação e o estabelecimento de uma federação socialista mundial. Isso tornará possível o desenvolvimento racional e planejado dos recursos globais e, nessas bases, erradicar a pobreza e elevar a cultura humana a um novo patamar.

D. A intensificação da campanha contra a censura na internet, a perseguição de Julian Assange e todos os ataques contra os direitos democráticos, por meio da mais ampla mobilização da classe trabalhadora. Não se trata somente de a classe trabalhadora ser necessária para a defesa dos direitos democráticos, mas dos direitos democráticos serem decisivos para a classe trabalhadora. Como a erupção inicial da luta de classes demonstrou, uma internet livre e aberta é uma ferramenta essencial para a organização e comunicação dos trabalhadores independente da mídia, dos instrumentos do Estado e dos sindicatos. A censura ao WSWS precisa ser respondida com uma campanha agressiva pela expansão do seu número de leitores e pelo desenvolvimento de seu conteúdo, inclusive através do uso mais sistemático das redes sociais.

E. Uma campanha ampla e ativa pela construção da Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Socialista (IYSSE, na sigla em inglês) nos campi e escolas e entre a juventude da classe trabalhadora. A primeira metade de 2018 presenciou manifestações significativas de politização dos jovens, incluindo os protestos massivos contra a violência nas escolas. Essa radicalização deve ser direcionada para a classe trabalhadora e dirigida conscientemente à origem da desigualdade, da guerra e da violência: o sistema capitalista.

F. Apoio à campanha de Niles Niemuth, o candidato do SEP ao Congresso pelo 12º Distrito Congressional de Michigan, nas eleições de meio de mandato de 2018. Essa campanha leva adiante um programa socialista para um governo dos trabalhadores que assegure os direitos da classe trabalhadora, exproprie a riqueza da oligarquia financeira, transforme os gigantescos bancos e corporações em serviços controlados publicamente e estabeleça o controle dos trabalhadores sobre os locais de trabalho e sobre o processo de produção.

78. Para cumprir suas imensas responsabilidades políticas, o partido e seus quadros precisam ser educados e estar firmemente baseados nas experiências históricas do movimento marxista, acima de tudo na história de oitenta anos da Quarta Internacional, criada por Leon Trotsky em 1938. Não existe outro movimento político que represente a continuidade da luta pelo marxismo na classe trabalhadora. A imensa história incorporada no Comitê Internacional da Quarta Internacional precisa ser levada ao movimento da classe trabalhadora em desenvolvimento. A intersecção entre a radicalização objetiva da classe trabalhadora e a prática do partido criarão as condições para a vitória da classe trabalhadora, a abolição do capitalismo e a transformação socialista da economia mundial.

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