Publicado originalmente em 18 março de 2020
Há uma indignação crescente entre os trabalhadores nos Estados Unidos e ao redor do mundo com o fato de continuarem trabalhando em meio à crescente pandemia do novo coronavírus e de não estarem sendo tomadas medidas para assegurar as suas vidas e seus meios de subsistência.
Na terça-feira à tarde, os trabalhadores de uma fábrica da Fiat Chrysler em Tipton, no estado de Indiana (EUA), reuniram-se nos portões da empresa antes do início do seu turno para protestar contra o fato de estarem sendo obrigados a trabalhar, mesmo após grandes aglomerações fora dos locais de trabalho já terem sido proibidas em todo o estado. A administração lhes disse que, se não trabalhassem, seriam demitidos. Essa ameaça, que foi apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores Automotivos (UAW, na sigla em inglês) durante uma reunião com toda a fábrica, foi realizada para intimidar os trabalhadores a voltarem para as linhas de montagem.
No mesmo dia, dezenas de trabalhadores da fábrica de assentos da Lear em Hammond, Indiana, cruzaram os braços, forçando o fechamento da planta, assim como da fábrica da Ford em Chicago. Os motoristas de ônibus em Detroit também se recusaram a trabalhar em condições inseguras.
Essas ações ocorrem após uma paralisação dos trabalhadores do setor de pintura da fábrica de caminhões da Fiat Chrysler (FCA) em Warren, no subúrbio de Detroit, na segunda-feira e de uma paralisação semelhante na FCA em Windsor, na província canadense de Ontário, na quinta-feira passada. Trabalhadores da indústria automotiva e outros setores realizaram greves selvagens na Itália e na Espanha por estarem sendo obrigados a trabalhar em meio ao bloqueio nacional.
Vários trabalhadores do setor automotivo já testaram positivo para o novo coronavírus, inclusive na fábrica da FCA em Sterling Heights, nos arredores de Detroit. Não há dúvidas de que, como resultado da decisão criminosa de manter a fábrica produzindo, um número muito maior de trabalhadores já está infectado.
Fábricas em todo os EUA estão sendo mantidas em operação. A Boeing, que está solicitando ao governo um resgate de dezenas de bilhões de dólares, está forçando os trabalhadores a manter as operações, mesmo após ter instruído o alto escalão administrativo a trabalhar de casa. Vários trabalhadores da Boeing já contraíram o novo coronavírus, o que certamente fez com que se espalhasse ainda mais.
Os trabalhadores da indústria de serviços, que entram em contato com centenas de pessoas todos os dias, continuam trabalhando.
A Amazon está contratando centenas de milhares de trabalhadores para atender ao aumento da demanda por compras on-line. Enquanto a administração trabalha de casa, as péssimas condições nos depósitos da Amazon continuam as mesmas. Um trabalhador relatou ao Buzzfeed News: “Eles não estão oferecendo soluções preventivas, só um pagamento aos trabalhadores depois que formos infectados, o que não ajuda a retardar a propagação da pandemia ou a aliviar o sofrimento [e] o risco de morte por tê-la contraído”.
Em outras palavras, a Amazon considera a vida de seus trabalhadores descartável e qualquer licença remunerada que oferecer aos que contraírem o vírus será considerada como parte dos custos do negócio, mais do que compensados pelo aumento dos lucros.
Não há razão para que os trabalhadores de setores que não são essenciais para o funcionamento da sociedade continuem trabalhando. Os trabalhadores de setores essenciais, como a saúde, devem ter condições de trabalho seguras. Os trabalhadores da área médica em todo o país estão indignados com o fato de estarem sendo obrigados a realizar os seus trabalhos críticos em condições altamente perigosas, sem os equipamentos de segurança mais básicos.
Outros trabalhadores foram demitidos ou sofreram um corte acentuado nas suas horas de trabalho e nos seus rendimentos. O desemprego já começa a aumentar e as estimativas apontam que possa atingir 20%. Os motoristas de Uber e Lyft e outros trabalhadores informais continuam expostos a condições perigosas caso consigam achar trabalho.
As tentativas dos trabalhadores de realizar ações coletivas de proteção à saúde e segurança de si mesmos e de suas comunidades têm sido bloqueadas a cada passo pelos sindicatos. Para esses lacaios das corporações, os interesses de lucro das empresas prevalecem sobre a vida dos trabalhadores que alegam representar.
Na última terça-feira, o UAW, um sindicato criminoso cujo alto escalão de sua diretoria está todo sendo indiciado ou ameaçado de ser indiciado por corrupção pela justiça federal, anunciou que não tomaria nenhuma medida. Em vez disso, disse que só trabalharia com as empresas que colocassem em prática “novas medidas que aumentem a adesão às recomendações do Centro de Controle de Doenças sobre o distanciamento entre pessoas no local de trabalho”.
O UAW divulgou esse acordo como uma forma de “fechamento parcial”. Na realidade, a produção irá continuar, com no máximo uma redução dos turnos. O objetivo é manter as linhas de montagem em funcionamento para extrair até o último centavo de lucro dos trabalhadores cujas vidas estão em perigo.
Na terça-feira à noite, os trabalhadores responderam com indignação nas redes sociais. Em uma postagem do UAW no Facebook anunciando o acordo, podiam-se ler os seguintes comentários: “Então, mais uma vez, nada será feito e os trabalhadores não estão protegidos”; “Que tal uma greve em massa?”; “Fechem as fábricas já”; “Vocês [do UAW] passaram horas conversando e a conclusão é fazer exatamente o que já estávamos fazendo... está parecendo as negociações de acordo coletivo!”.
Para evitar a propagação do vírus e salvar milhões de vidas, todos os locais de trabalho não essenciais devem ser imediatamente fechados! Não se deve esperar que nenhum trabalhador coloque a sua vida em perigo. Toda a produção deve ser redirecionada para a fabricação de bens de primeira necessidade, incluindo equipamentos de saúde. Os trabalhadores continuarão a trabalhar de bom grado quando souberem que o que estão fazendo salvará vidas, mas esse trabalho deverá ser realizado em condições seguras, supervisionado por cientistas e profissionais de saúde.
Todos os trabalhadores que forem dispensados devem receber salário integral, financiado pelas corporações e recursos estatais. Todos os trabalhadores devem ter acesso a licenças médicas remuneradas. O pagamento dos aluguéis, hipotecas e serviços essenciais deve ser suspenso durante a crise do coronavírus para garantir que qualquer trabalhador que veja sua renda ser reduzida seja capaz de prover suas necessidades básicas.
A afirmação de que “não há dinheiro” para atender a essas demandas é o maior absurdo. Todas essas empresas acumularam bilhões em lucros através da exploração de seus empregados. Trilhões de dólares foram entregues a Wall Street. Esses recursos devem, ao invés disso, ser direcionados para atender às necessidades sociais urgentes.
Para lutar por essas reivindicações, os trabalhadores devem formar comitês de base em fábricas e locais de trabalho, independentes dos sindicatos corruptos, para defender a sua saúde e segurança.
Os trabalhadores devem usar todos os meios à sua disposição, incluindo as redes sociais, para organizar sua oposição, realizar reuniões e discussões, se comunicar com trabalhadores das outras indústrias e se coordenar com os trabalhadores internacionais. Os direitos dos trabalhadores não podem ser garantidos através de ações individuais, mas apenas através da luta coletiva.
Isso deve ser combinado com um programa de ação para defender toda a classe trabalhadora, incluindo exigências para proporcionar testes completos, assistência de saúde gratuita e igualitária para todos e uma redistribuição maciça de recursos para combater o vírus mortal. Trilhões de dólares devem ser retirados das mãos da oligarquia financeira e colocados à disposição de uma resposta globalmente coordenada contra a pandemia.
Como declarou ontem o Comitê Nacional do Partido Socialista pela Igualdade: “O princípio essencial que deve orientar a resposta à crise é que as necessidades dos trabalhadores devem ter prioridade absoluta e incondicional sobre todas as considerações de lucro empresarial e riqueza privada. Não se trata do que a classe dominante afirma poder pagar, mas do que as massas de pessoas necessitam”.
Agora é o momento de se organizar e lutar por esse programa. Milhões de vidas estão em jogo.