Publicado originalmente em 7 de Maio de 2019
Estaremos presenciando um ataque dos EUA ao Irã em breve? O envio de aviões e um porta-aviões com seu grupo de ataque dos EUA para a região do Golfo Pérsico com o objetivo explícito de dar “uma mensagem clara e inconfundível” de que Washington está pronta para atacar o Irã, junto com outras ações belicosas dos EUA, indica que existem preparações muito avançadas para uma provocação que poderia – e muito provavelmente iria – causar uma guerra catastrófica.
Na noite de domingo, o Assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, anunciou que o porta-aviões USS Abraham Lincoln e bombardeiros da Força Aérea estadunidense estavam sendo enviados para ameaçar o Irã. Alegando que existiam “indicações e sinais preocupantes e cada vez mais agressivos”, Bolton prometeu “que qualquer ataque contra os interesses dos Estados Unidos ou daqueles dos nossos aliados será respondido com força implacável”. “Nós estamos totalmente preparados”, acrescentou Bolton, “para reagir a qualquer ataque, seja de forças que atuam por procuração, como o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, ou quaisquer forças iranianas regulares.”
As ameaças de Bolton foram ecoadas pelo seu colega pró-guerra anti-iraniano, o Secretário de Estado Mike Pompeo. Ele também deu uma justificativa abrangente para agir militarmente contra o Irã, que inclui qualquer “ataque” contra os “interesses” dos EUA e aqueles dos seus aliados por qualquer um dos muitos grupos que Washington castiga Teerã por apoiar, desde milícias xiitas no Iraque e combatentes houthis no Iêmen até o grupo palestino Hamas e o Hezbollah no Líbano.
“Vamos responsabilizar os iranianos por ataques contra interesses estadunidenses”, Pompeo disse a repórteres na noite de domingo. “O fato de que essas ações ocorrem, se ocorrerem, por alguma força que atua por procuração, seja um grupo da milícia xiita ou os houthis ou o Hezbollah, vamos responsabilizar os iranianos – a liderança iraniana – diretamente por isso.”
Com esses “avisos”, Washington, na prática, deu a si o direito de inventar, quando quiser, um pretexto para lançar uma guerra contra o Irã.
Um “ataque” contra os “interesses” dos Estados Unidos e seus aliados poderia ser praticamente qualquer coisa, desde um conflito entre uma das várias milícias xiitas no Iraque e qualquer um dos 5.500 soldados estadunidenses na região, até a morte de um cidadão israelense-estadunidense por um foguete caseiro lançado da Faixa de Gaza.
Mesmo depois de Trump ter anunciado a “retirada” de cerca de 2 mil soldados da Síria, forças especiais dos EUA e seus exércitos por procuração continuam ocupando grandes áreas do país e têm frequentemente atacado milícias apoiadas pela Guarda Revolucionária Islâmica. Estando essas milícias muito próximas às forças dos EUA, o Pentágono ou a CIA podem atacá-las quando quiserem e considerar o combate subsequente uma resposta a um “ataque” iraniano.
O caráter imprudente e criminoso das ações de Washington é enorme. O Oriente Médio já está em uma situação caótica por causa da série de guerras ilegais que os EUA tem liderado e provocado na região desde 1991. Um ataque estadunidense contra o Irã, um país muito maior e mais populoso do que o Iraque, provavelmente iniciaria uma guerra regional entre Israel e Arábia Saudita, de um lado, servindo como parceiros do imperialismo estadunidense ao mesmo tempo que buscariam satisfazer seus próprios interesses predatórios, e, do outro, a Síria, Hezbollah, milícias xiitas iraquianas e outros aliados de Teerã.
Além disso, desde o início, um conflito como esse ameaçaria envolver as potências imperialistas europeias, assim como a Rússia e a China, as grandes potências que Washington agora caracteriza oficialmente como os principais “adversários estratégicos”.
Por causa de seu papel como a mais importante região exportadora de petróleo do mundo e de importância geoestratégica como a conexão entre a Europa, a Ásia e a África, os interesses de todas as grandes potências mundiais, incluindo as imperialistas, se cruzam no Oriente Médio, e todas correriam para garantir seus interesses estratégicos na repartição da região através de uma guerra.
A guerra entre os EUA e o Irã também teria um impacto colossal nas relações de classe dentro dos Estados Unidos. A elite dominante buscaria impor todo o custo da guerra sobre a classe trabalhadora e criminalizaria a oposição em massa a ela que logo surgiria.
Na sua declaração de domingo, Bolton afirmou que “Os Estados Unidos não querem uma guerra contra regime iraniano”. Isso, porém, é uma mentira descarada.
Em um ato equivalente a guerra sob a lei internacional, os EUA impuseram amplas sanções sobre o Irã com o objetivo de colapsar sua economia e levar a uma mudança de regime em Teerã.
Em maio do ano passado, Trump abandonou o acordo nuclear endossado pela ONU, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), que a administração Obama e outras grandes potências haviam fechado com o Irã em 2015. A retirada dos EUA do JCPOA aconteceu apesar de a Agência Internacional de Energia Atômica e todas as outras partes do acordo – a União Européia, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China – terem atestado que o Irã havia cumprido os termos do acordo inteiramente.
Ao deixar o JCPOA, Trump se vangloriou de que logo imporia sanções ainda mais duras do que aquelas com as quais os EUA e seus aliados europeus haviam punido o Irã desde 2011, que derrubaram pela metade suas exportações de petróleo e prejudicaram suas exportações.
Na última quinta-feira, a administração Trump intensificou enormemente sua guerra econômica contra o Irã, prometendo impor um embargo total sobre as exportações de petróleo e gás natural. Em novembro passado, quando excluiu o Irã do sistema financeiro mundial e reinstalou sanções sobre exportações iranianas do setor de energia, Washington permitiu que oito países continuassem comprando do Irã quantidades reduzidas de petróleo e gás natural.
Ignorando protestos dos principais consumidores de exportações de energia iranianas, incluindo China, Índia, Japão e Turquia, Trump, Bolton e Pompeo se recusaram a estender o prazo que permitia esses países comprar petróleo e gás natural do Irã, que expirou em 2 de maio.
Washington está agora comprometida a impor um bloqueio completo das exportações do setor energético iraniano. Outros países, incluindo a China, a maior compradora do petróleo iraniano, serão coagidos a obedecer a ameaça de sanções secundárias estadunidenses por causa do domínio do Conselho do Banco Central dos EUA (Fed) e de Wall Street sobre o sistema financeiro mundial.
As sanções estadunidenses já tiveram um impacto devastador sobre a economia iraniana, aumentando o desemprego e provocando um aumento de 50% nos preços desde o início do ano passado, e isso em um país que há muito tempo testemunha a pobreza e a desigualdade social cada vez maiores.
As preparações de Washington para uma provocação militar contra o Irã e a instalação de um embargo financeiro e de energia total sobre o Irã desafiando o resto do mundo fazem parte de uma escalada intensa da agressão e do militarismo dos EUA ao redor do mundo, com Washington agindo segundo sua própria vontade, ditando ordens para inimigos e supostos amigos.
A administração Trump está aumentando sua agressão contra o Irã ao mesmo tempo que ameaça um ataque militar contra a Venezuela com o objetivo de completar seu golpe para a mudança de regime contra o presidente eleito do país, Nicolás Maduro.
No domingo, Trump ameaçou aumentar as tarifas da guerra comercial sobre US$ 200 bilhões em bens chineses para 25% e impor novas tarifas sobre outros US$ 200 bilhões de exportações chinesas se Pequim não obedecer as exigências estadunidenses nas negociações comerciais entre os dois países desta semana. E, na segunda-feira, em mais um ato de agressão, dois navios de guerra estadunidenses navegaram próximos a ilhas no Mar do Sul da China, que a China alega fazer parte de seu território, no último exercício de “liberdade de navegação” do Pentágono. Apesar do nome, esses exercícios têm como objetivo impor o “direito” do Pentágono de enviar uma armada para a costa da China.
As guerras que o imperialismo estadunidense iniciou desde 1991, em uma tentativa de compensar o declínio de seu poder econômico, não conseguiram deter a erosão do domínio global dos EUA. Mas a classe dominante estadunidense, mergulhada no parasitismo financeiro e na criminalidade, não possui resposta além de uma agressão e violência cada vez maiores.
Os democratas disputam taticamente com Trump na esfera da política externa, incluindo sobre a decisão de privilegiar um enfrentamento total com Teerã. Mas eles não são menos comprometidos em levar adiante a hegemonia global estadunidense através da agressão e da guerra. Em aliança com seções do aparato militar e de inteligência, eles têm realizado uma campanha neo-Macarthista contra Trump, alegando um conluio com a Rússia com o objetivo de impor uma política contra a Rússia mais agressiva sobre sua administração. Eles também apoiam a ofensiva de Trump contra Pequim, que foi expressa no recente discurso contra a China de Bernie Sanders.
O imperialismo estadunidense, entretanto, é apenas o líder de uma matilha de lobos. As potências imperialistas europeias estão por si próprias se rearmando freneticamente e cultivando partidos de extrema direita e fascistas para intimidar a classe trabalhadora e construir uma base de apoio para o militarismo e a guerra.
Os regimes oligárquicos que surgiram na Rússia e na China como resultado da restauração do capitalismo pelas burocracias stalinistas, por sua vez, incitam o nacionalismo reacionário enquanto oscilam entre aventuras militares e tentativas desesperadas de alcançar um acordo com Washington e as outras potências imperialistas.
O regime nacionalista burguês do Irã, da mesma forma, não possui resposta à agressão imperialista. O acordo nuclear agora abandonado foi apenas sua última tentativa fracassada de conseguir uma reaproximação com o imperialismo estadunidense. Comprometida a defender os privilégios de classe da burguesia iraniana e ideologicamente baseada no populismo e nacionalismo xiitas, a República Islâmica é organicamente incapaz de mobilizar as massas do Oriente Médio contra o imperialismo.
A oposição à agressão e à guerra imperialistas requer a mobilização da única força social com o poder para derrubar o capitalismo e o sistema ultrapassado do estado-nação em que ele se fundamenta historicamente: a classe trabalhadora.
O ressurgimento da luta de classes ao redor do mundo – como os protestos dos coletes amarelos na França, os protestos em massa na Argélia, a rebelião dos trabalhadores de Matamoros, no México, e a onda de greves de professores e outras categorias nos EUA – está criando a base objetiva para o surgimento de um movimento global liderado pela classe trabalhadora contra o imperialismo e a guerra.
Um tal movimento precisa defender inequivocamente o Irã e a Venezuela, países historicamente oprimidos, contra a agressão dos EUA, opor-se a quaisquer preparações de guerra contra eles e lutar pela retirada imediata de todas as sanções.
Baseada no oposição a todos os partidos e organizações políticas da burguesia, esse movimento precisa unir a luta contra a guerra com a luta para mobilizar a classe trabalhadora internacional contra a austeridade e a desigualdade social capitalistas.