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França: Novo Partido Anticapitalista realiza congresso de fundação

O Novo Partido Anticapitalista (Nouveau Parti Anticapitaliste, NPA) realizou seu congresso de fundação de 6 a 8 de fevereiro em La Plaine Saint-Denis, subúrbio ao norte de Paris. Preparado e organizado por membros da Liga Comunista Revolucionária (LCR), o congresso do NPA aconteceu imediatamente após o congresso de dissolução da LCR em 5 de fevereiro.

O congresso marcou uma ruptura pública e oficial com toda a associação retórica ou simbólica com o trotskismo, um repúdio formal a qualquer associação com políticas socialistas revolucionárias e, assim, lançou as bases para a integração do NPA às estruturas políticas burguesas.

As deliberações do congresso focaram-se em como eliminar formulações trotskistas politicamente inconvenientes dos documentos de fundação e como melhor traçar as bases para futuras participações em um governo de coalizão da esquerda burguesa. A tarefa mais imediata era, portanto, definir a plataforma do partido para as eleições europeias de 2009 e decidir como formular suas negociações com o Partido Comunista Francês (PCF), com o recém-fundado Partido de Esquerda (Parti de Gauche, PG), e com partidos menores e organizações políticas que estão a sua volta.

Os delegados do congresso eram, em sua maioria, desinteressados ou francamente hostis à teoria marxista. Uma tentativa de substituir referências ao “socialismo” pelo “ecossocialismo” foi derrotada, mas recebeu o apoio de aproximadamente um quarto dos delegados. A formulação de Marx, levantada por Luxemburgo e Trotsky, de que as alternativas postas à humanidade pela crise do capitalismo são “socialismo ou barbárie”, foi rejeitada como sendo “etnocêntrica”.

Na plataforma eleitoral europeia, referências aos “Estados Unidos Socialistas da Europa” - uma formulação de longa data do movimento trotskista para defender a unificação da Europa em uma base socialista - foram substituídas por “Europa dos trabalhadores e do povo”. A sangrenta dissolução da Iugoslávia, o risco de um colapso étnico na Bélgica e um número de movimentos (notavelmente o nacionalismo irlandês e o separatismo catalão na Espanha) que a LCR apoiou mostra o caráter da elevação da etnia como uma base para unidade política. A mudança da concepção da Europa como uma unidade de classe para uma visão da Europa como uma coleção de nacionalidades distintas é algo perigoso e reacionário.

O tópico discutido mais amplamente no congresso foi como formular as condições do NPA para uma ampla aliança eleitoral com o PG, o PCF e grupos associados. O congresso do NPA definiu a declaração de que o NPA é “favorável a um duradouro acordo com todas as forças que se declaram como anticapitalistas”.

O contexto político para este debate é a criação do PG no último novembro e sua proposta de formar a Frente de Esquerda - incluindo o PG, PCF e o NPA - nas eleições europeias. O PG foi formado pelo senador Jean-Luc Mélenchon a partir de um racha no Partido Socialista (PS), o principal partido francês da esquerda de governo. Depois do congresso de fundação do PG, de 29 a 31 de janeiro, Mélenchon lançou um apelo público ao candidato presidencial da LCR, Olivier Besancenot: “Olivier Besancenot tem responsabilidades com a história, ele não está mais na liderança de um pequeno grupo”. Mélenchon acrescentou: “Se ele recusar a Frente de Esquerda, o reequilíbrio da esquerda será impossível. Derrotando o PS, isso pode ser feito.” Pesquisas de opinião mostram que a Frente de Esquerda receberia 14.5% dos votos se as eleições europeias acontecessem hoje.

O objetivo a longo prazo de uma aliança do tipo Frente de Esquerda, sob condições de uma crise política e de descrença no governo de direita de Sarkozy, seria permitir a formação de um governo de coalizão da esquerda burguesa francesa.

A liderança do NPA repetidamente assinalou seu interesse em tal aliança. Isso demonstra um chamado conjunto por um dia de ação e greve geral, organizado pelo PG e PCF no dia 29 de janeiro. Em 3 de fevereiro assinaram, com um grupo de partidos, incluindo o PS, PG e PCF, uma crítica conjunta ao modo como o presidente Nicolas Sarkozy gere a crise econômica.

O NPA também permitiu ao PG e PCF circular apelos a seus membros no congresso. O PG escreveu que os trabalhadores “sofrerão com a crise do capitalismo se uma alternativa não o confrontar. Nós sabemos que vocês levam este argumento a sério ... Nós temos certeza de que nossas diferenças não são significantes o suficiente para impedir-nos de ajudar a mudar o mundo.”

Em discussões da plataforma eleitoral europeia e da Frente de Esquerda, os delegados do congresso mostraram-se fortemente a favor da “unidade da esquerda”. A maioria das pessoas que intervieram eram a favor da Frente de Esquerda, embora uma significante minoria expressou dúvidas sobre Mélenchon, cujas posições como membro de longa data do PS e ministro da educação profissional no governo de 1997-2002 do primeiro-ministro do PS Lionel Jospin são bem conhecidas. Contudo, um delegado que o chamou de “traidor da classe operária” foi vaiado.

A proposta da Frente de Esquerda do PG cria um problema tático para o NPA: ele teme que perderá apelo popular e poder de negociação se entrar muito rapidamente em uma aliança de Frente de Esquerda. Na questão de como juntar-se a uma formação do tipo Frente de Esquerda, o NPA dividiu-se rigidamente da seguinte forma: a maioria da LCR, conduzida por Alain Krivine, procura seguir uma linha mais independente; a minoria da LCR, conduzida por Christian Picquet, é favorável a entrada imediata na Frente de Esquerda.

Um repórter do WSWS falou com Picquet no congresso. Um homem com uma fria avaliação do potencial eleitoral e político da promoção de Besancenot em celebridade da mídia, ele está tão preocupado com o descontentamento e com oposições políticas na classe operária que ele acredita que o NPA precisa rapidamente aliar-se com a esquerda do establishment e evitar uma explosão na classe operária.

Picquet disse: “Aqueles que quebram a unidade [dos partidos de ‘esquerda’ incluindo o NPA, PCF e PG] pagarão um pesado preço político. [A maioria do NPA] acredita no sucesso eleitoral do NPA e de Besancenotn - é uma escolha eleitoral e eu acho que eles estão se equivocando. Pessoas que estão desapontadas com o PS não entendem por que não existe uma esquerda confiável em oposição à direita.” Ele acrescentou que a maioria, não abraçando uma aliança do tipo Frente de Esquerda que poderia formar um governo, está “surda para a profunda raiva neste país”.

Perguntado sobre o que a maioria do NPA arriscou com tal tomada de posição, Picquet respondeu: “Uma grande decepção, um repentino movimento da opinião política.”

As concepções políticas que o NPA está promovendo no interior dos membros - um “anticapitalismo” que mistura todas as ideologias da esquerda pequeno-burguesa - estavam mais claramente explícitas no discurso de abertura de Besancenot. Ele começou notando que “nada será estabelecido precisamente” em seu discurso, que era simplesmente uma “introdução aos debates do congresso”. De qualquer modo, sua perspectiva essencial era que o colapso da USSR eliminou todas as distinções politicamente significativas entre as tendências da esquerda do establishment francês, que poderia ser unificada em torno de uma plataforma de protestos políticos.

O colapso da USSR de 1991 “fechou” o que Besancenot chamou “o ciclo de 1917” e o “século aberto por 1917”- ou seja, pela Revolução de Outubro na Rússia. Não existem mais “divisões entre formas de revolução”, ele explicou: “Ecossocialismo, autogestão [anarquismo] - a palavra é o que menos importa.”

Para explicar por que a LCR só fundou o NPA 18 anos depois do colapso da USSR, Besancenot ressaltou que a LCR falhou repetidamente nas tentativas de construir blocos com outros partidos políticos, chamando tais tentativas de “cartéis de cima”. Essas tentativas envolveram a LCR em negociações públicas com partidos que estavam associados ao PS. Apresentando uma concisa versão dos argumentos da maioria contra uma integração rápida demais com a Frente de Esquerda, Besancenot disse que tais alianças “enfraqueceram a dinâmica da mobilização”.

Besancenot notou que a crise econômica global criou uma atmosfera mais favorável ao NPA: “Mais uma vez, não existe desmoralização generalizada”. Citando os protestos de massa que surgiram na Grécia depois que Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, foi morto, ele disse: “A síndrome grega assustou as pessoas”.

Ele citou problemas ambientais como aspectos chave para a crise econômica e encorajou as pessoas “a produzir somente o que é estritamente necessário”. Ele propôs séries de reivindicações: proibições de demissões, um aumento de €300 no salário-mínimo, o uso de casas vazias e apartamentos para amparar os sem-teto. Ele ao final chamou por “ativistas voluntários” e “transformação social”.

Besancenot não conclui dos levantes insurrecionais da classe operária que existe uma necessidade objetiva para uma perspectiva socialista e revolucionária entre os trabalhadores. Para Besancenot, nenhuma lição política pode ser tirada das derrotas das sucessivas ondas de greve contra a política de austeridade social na França desde 1995. Aliás, o desenvolvimento de uma crise econômica e política em uma escala não vista desde 1930 é tido como o criador das melhores condições para mobilizações de protesto realizadas em unidade com sindicatos e partidos como o PCF e o PG.

Está claro que o NPA é uma organização política firmemente ligada à ala esquerda da política burguesa francesa. À medida que se desenvolver uma luta revolucionária na classe operária, ela encontrará no NPA um determinado inimigo.

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