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Perspectivas

Parar a escalada dos EUA e da OTAN rumo à guerra nuclear! Unir a classe trabalhadora internacional contra a guerra imperialista e o genocídio!

Publicado originalmente em 3 de junho de 2024

1. O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) condena a mais recente escalada da guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia, que está rapidamente se transformando em uma guerra em larga escala entre Estados com armas nucleares. Essa é a decisão mais imprudente já tomada por qualquer governo americano. Quanto aos seus aliados europeus, a colaboração deles nessa escalada só é comparada em imprudência ao início catastrófico da Primeira Guerra Mundial em 1914 e da Segunda Guerra Mundial em 1939. Não há “linhas vermelhas” que a classe dominante dos EUA e seus aliados imperialistas não cruzarão. Mesmo apoiando politicamente e fornecendo armamento para o genocídio de mais de 35.000 habitantes de Gaza pelo Estado de Israel, eles estão tomando medidas na Ucrânia que podem resultar em uma catástrofe nuclear capaz de destruir toda a vida no planeta. O sistema capitalista global, cuja crise global insolúvel é a causa subjacente do genocídio e da guerra, está descendo para a barbárie.

Míssil ATACMS sendo lançado de um MLRS M270.

2. Na sexta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou secretamente a Ucrânia, sem sequer uma declaração pública explicando as razões de suas ações, a realizar ataques usando armas americanas de longo alcance em território russo perto da cidade ucraniana de Kharkiv. Isso foi seguido imediatamente pelo anúncio da Alemanha de que fará o mesmo. Em 24 horas, a Ucrânia já lançou ataques contra a Rússia usando armas fornecidas pelos EUA. A decisão foi tomada em resposta ao colapso militar de sua força por procuração ucraniana, inclusive em Kharkiv e arredores.

3. Os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido forneceram à Ucrânia mísseis de cruzeiro e balísticos com alcance de mais de 300 milhas. Quando disparadas do território ucraniano, essas armas são capazes de atingir algumas das maiores cidades da Rússia, incluindo Kursk, Belgorod, Voronezh, Rostov e Volgogrado.

4. Desde a “Guerra de Aniquilação” dos nazistas contra a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e, no caso dos EUA, a Guerra Civil após a Revolução de 1917, as potências imperialistas não tinham buscado atacar diretamente o território russo. Tais ações não foram tomadas nem mesmo no auge da Guerra Fria, pois se supunha que elas desencadeariam uma guerra nuclear em larga escala.

5. A imprensa americana está cheia de declarações de que a doutrina militar oficial e declarada publicamente da Rússia de usar armas nucleares para responder a ataques em seu território é um blefe. O argumento é que, como a Rússia não respondeu às provocações dos EUA no passado, a OTAN pode continuar cruzando as “linhas vermelhas” da Rússia sem consequências. “É hora de enfrentar o blefe de Putin”, declarou o ex-congressista republicano Adam Kinzinger em um artigo publicado na CNN na semana passada. O general aposentado Philip Breedlove, o ex-embaixador Michael McFaul, o professor de Stanford Francis Fukuyama e dezenas de ex-oficiais dos EUA escreveram em uma carta para a Casa Branca: “As ameaças comprovadamente vazias da Rússia estão conseguindo dissuadir os Estados Unidos”.

6. A alegação de que a doutrina militar da Rússia é um “blefe” não se sustenta nem sob a avaliação mais elementar. O fato de o governo russo não ter respondido às provocações da OTAN no passado não significa que não o fará no futuro. Alguém poderia duvidar, por exemplo, que se a Rússia ou a China decidissem lançar ataques ao território dos EUA e afirmassem que o governo americano “não ousaria” responder, seria inevitável que os EUA contra-atacassem com força esmagadora?

7. Há razões muito reais, do ponto de vista militar, para que os militares russos se sintam compelidos a responder de forma semelhante aos ataques da OTAN em seu território. Além disso, quem pode dizer que Putin, em meio à crise desencadeada pela escalada da OTAN, não seria substituído por uma fração ainda mais preparada para usar ações militares para retaliar a OTAN?

8. As afirmações de autoridades norte-americanas de que os militares russos não retaliarão se forem atacados são tão frágeis que é provável que essas afirmações não sejam acreditadas por quem as faz, e o objetivo real é provocar alguma forma de ação militar drástica por parte do governo russo, que, por sua vez, será usada para justificar uma retaliação nuclear por parte dos EUA.

9. Em seu livro de 2021, The Strategy of Denial [A Estratégia da Negação], Elbridge Colby, autor da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA de 2018, explica como é vital para a propaganda dos EUA forçar os alvos das forças armadas americanas a “disparar o primeiro tiro” e, assim, serem vistos como os agressores:

Talvez a maneira mais clara e, às vezes, a mais importante de garantir que [um adversário] seja visto dessa forma seja simplesmente assegurando que ele seja o primeiro a atacar. Poucas intuições morais humanas estão mais profundamente enraizadas do que a de que aquele que começou é o agressor e, portanto, aquele que presumivelmente possui uma parcela maior de responsabilidade moral.

10. O governo Biden tomou essa medida sem sequer se dar ao trabalho de fazer uma declaração pública para anunciá-la. O New York Times escreveu em 29 de maio: “As autoridades admitem que [Biden] provavelmente nunca anunciará [a medida]: Em vez disso, os projéteis de artilharia e mísseis americanos simplesmente começarão a atingir alvos militares russos”. Um artigo anterior do Times afirmou que os EUA não haviam permitido os ataques por causa do “compromisso do Sr. Biden de ‘evitar a Terceira Guerra Mundial’. Mas o consenso em torno dessa política está se desgastando”. Em nenhum momento, o governo Biden explicou por que o que está envolvido na Ucrânia é de importância tão monumental que está preparado para arriscar uma guerra nuclear potencialmente destruidora da civilização.

11. As potências da OTAN estão brincando de roleta russa com armas nucleares. Elas estão mergulhando de cabeça na guerra, sem nem mesmo sugerir a possibilidade de um acordo negociado ou de uma “saída” para a sua ousadia.

12. As últimas ações seguem um padrão definido. Repetidas vezes, o governo Biden ultrapassou todas as “linhas vermelhas” que estabeleceu para limitar o envolvimento dos EUA na guerra. Em março de 2022, Biden afirmou: “A ideia de que vamos enviar equipamentos de ataque e ter aviões, tanques e trens partindo com pilotos e tripulações americanas” significaria a “Terceira Guerra Mundial”. Em maio de 2022, Biden declarou em um artigo de opinião no New York Times: “Não estamos incentivando ou permitindo que a Ucrânia ataque além de suas fronteiras”. Em junho de 2022, o presidente francês Emmanuel Macron declarou: “Não entraremos em guerra com a Rússia, portanto, foi acordado que não forneceríamos certas armas - em particular, aviões de ataque ou tanques”.

13. Todas essas “linhas vermelhas” foram ultrapassadas pela OTAN. Primeiro, a OTAN enviou veículos blindados, depois os principais tanques de combate e, em seguida, mísseis de longo alcance. Então, os membros da OTAN enviaram secretamente centenas de tropas para dentro da Ucrânia, tudo sem informar seus próprios cidadãos. Depois de ter declarado que o envolvimento direto dos EUA na guerra na Ucrânia levaria à “Terceira Guerra Mundial” e ao “Armagedom”, Biden parece ter mudado de ideia, sem nunca ter explicado o que o levou a fazer isso.

14. Não há dúvida de que o próximo passo na escalada da guerra contra a Rússia será a entrada de dezenas de milhares de forças da OTAN na Ucrânia. Essa nova escalada certamente será o assunto de discussões secretas na próxima cúpula da OTAN em Washington, D.C., em julho. Eleições antecipadas no Reino Unido foram convocadas para 4 de julho, antes da cúpula, para prevenir a crescente oposição à guerra e criar a estrutura política para um novo estágio de uma guerra em toda a Europa.

15. A escalada da guerra na Ucrânia, liderada pelo governo Biden, é a manifestação mais extrema da erupção global de décadas do imperialismo dos EUA após a dissolução da União Soviética. Em busca de seus interesses, as elites dominantes estão preparadas para aceitar a morte e a destruição em grande escala. Os mesmos governos estão financiando, armando e apoiando politicamente o genocídio de Gaza, que já matou dezenas de milhares de pessoas e está submetendo uma população inteira de mais de 2 milhões à fome.

16. A submissão da Rússia faz parte de uma agenda global mais ampla que visa não apenas à divisão e à submissão da antiga União Soviética, mas, em última instância, da China. As sanções punitivas destinadas a paralisar a Rússia economicamente não conseguiram colocá-la de joelhos, em grande parte devido ao grande aumento do comércio com a China e, em menor escala, com as armas do Irã e da Coreia do Norte. A escalada contra a Rússia, portanto, implicará a transformação do conflito na Ucrânia em uma verdadeira guerra global.

17. Além dos imperativos geopolíticos do imperialismo, o governo Biden é movido por uma crise social, econômica e política de longo alcance para a qual a classe dominante americana não tem resposta. A economia dos EUA é sustentada por gastos governamentais desenfreados com rearmamento militar e resgates contínuos de grandes corporações. A dívida federal está dobrando a cada década e está sendo financiada por meio da desvalorização da moeda e da monetização da dívida.

18. Isso está ocorrendo no contexto de uma crise política impressionante e de uma guerra fratricida antes das eleições presidenciais de 2024. Donald Trump, o provável candidato do Partido Republicano que atualmente lidera as pesquisas, tentou anular a eleição em um golpe fascistoide há três anos e meio. Há uma ampla oposição popular a ambos os partidos capitalistas, em meio a uma profunda crise social e à crescente raiva e indignação com o apoio dos EUA ao genocídio de Israel em Gaza.

19. Condições semelhantes prevalecem em todos os principais países capitalistas. As elites dominantes esperam que a guerra no exterior crie condições para a supressão dos direitos democráticos em nome da “unidade nacional” em tempos de guerra. Essa atmosfera de crise está propiciando o ressurgimento do militarismo vil e de um tipo de violência interna que antes era associada apenas a regimes fascistas e ditaduras policiais-militares.

20. Por sua vez, o regime de Putin cometeu um erro de cálculo atrás do outro. Nunca houve nada remotamente progressista na “Operação Militar Especial” lançada pelo Kremlin para atender aos interesses dos venais oligarcas capitalistas russos que chegaram ao poder com base na dissolução da União Soviética em 1991 e na privatização e pilhagem dos ativos estatais nacionalizados após a Revolução de Outubro de 1917.

21. Putin lançou a invasão reacionária da Ucrânia em 2022 na esperança de negociar com seus “parceiros” ocidentais a partir de uma posição vantajosa. Mas a OTAN mostrou que não tem interesse algum em negociar: o único resultado da guerra aceitável para a OTAN é a derrota militar da Rússia e a divisão da massa terrestre russa nos moldes da Iugoslávia. Com base em sua perspectiva nacionalista falida, o governo Putin e a fração da oligarquia russa que ele representa são levados a uma escalada militar cada vez mais imprudente e provocativa.

22. A escalada global da guerra imperialista está associada à repressão em massa. Nos Estados Unidos, o governo criminalizou os protestos contra o genocídio em Gaza e realizou prisões em massa de milhares de estudantes e jovens. A violência infligida aos protestos reflete o medo das elites dominantes de um movimento mais amplo na classe trabalhadora, que será forçada a pagar pela guerra em vidas e na destruição de programas sociais.

23. Na Ucrânia, em meio à crescente oposição à guerra e à resistência ao recrutamento militar, o governo Zelensky prendeu o socialista ucraniano Bogdan Syrotiuk sob a acusação fraudulenta de servir aos interesses da Rússia. Na verdade, Bogdan é um opositor intransigente do regime capitalista de Putin e de sua invasão da Ucrânia. A prisão de Bogdan revela o extremo nervosismo do regime de Zelensky e de seus aliados da OTAN com o fato de que a oposição à guerra está encontrando uma resposta crescente na classe trabalhadora ucraniana.

24. Há dez anos, em sua declaração Socialism and the Fight Against Imperialist War [Socialismo e a Luta Contra a Guerra Imperialista], o CIQI alertou:

O perigo de uma nova guerra mundial surge das contradições fundamentais do sistema capitalista - entre o desenvolvimento de uma economia global e sua divisão em estados nacionais antagônicos, nos quais a propriedade privada dos meios de produção está enraizada. Isso encontra sua expressão mais aguda no impulso do imperialismo americano para dominar a massa terrestre da Eurásia, sobretudo as áreas das quais foi excluído por décadas pelas revoluções russa e chinesa. No Ocidente, os EUA, em aliança com a Alemanha, orquestraram um golpe liderado por fascistas para colocar a Ucrânia sob seu controle. Mas suas ambições não param por aí. O objetivo final é desmembrar a Federação Russa, reduzindo-a a uma série de semicolônias para abrir caminho para a pilhagem de seus vastos recursos naturais. No Oriente, o pivô do governo Obama para a Ásia tem como objetivo cercar a China e transformá-la em uma semicolônia. Nesse caso, o objetivo é garantir o domínio da mão de obra barata, que é uma das principais fontes globais da mais-valia extraída da classe trabalhadora e o sangue vital da economia capitalista.

25. Os últimos dez anos confirmaram esse alerta. Em meio à escalada da guerra aberta entre os EUA e a OTAN contra a Rússia e o conflito em desenvolvimento com a China, é impossível ver a guerra mundial como um evento excepcional, mas sim como a expressão das forças motrizes básicas do capitalismo.

26. As mesmas contradições que levam o imperialismo à beira de uma guerra nuclear fornecem a base objetiva para a revolução social. A classe trabalhadora internacional é uma força social maciça, cujos interesses colidem com a exploração capitalista e a barbárie imperialista. O caráter conspiratório do planejamento de guerra imperialista reflete o fato de que a própria classe dominante está bem ciente de que suas políticas não têm apoio das massas.

27. Apesar dos protestos em massa contra o genocídio em Gaza, setores mais amplos da população não estão cientes da rápida escalada da guerra com a Rússia. As elites dominantes e seus afiliados políticos, incluindo o aparato dos sindicatos, estão envolvidos em um esforço sistemático para impedir que os trabalhadores compreendam a gravidade do perigo e, ao mesmo tempo, subordinam a classe trabalhadora à política de guerra imperialista.

28. Há apenas uma maneira de evitar a espiral em direção ao desastre: a intervenção da classe trabalhadora para forçar o fim desta guerra. Essa demanda deve ser combinada com uma luta para acabar com o ataque genocida de Israel contra Gaza. Os trabalhadores devem exigir a retirada imediata de todas as forças e armas dos EUA e da OTAN da Ucrânia. Da mesma forma, devem recusar qualquer apoio às políticas nacionalistas reacionárias do regime de Putin, que de forma alguma representa uma alternativa progressista às políticas de guerra das potências imperialistas.

29. A classe trabalhadora deve usar seu poder para interromper essa guerra, que está mergulhando em direção ao desastre. A mobilização desse poder exige a superação da lacuna entre o estágio avançado da crise política global e o nível atual de consciência política das massas. A solução desse problema histórico exige o desenvolvimento de uma liderança marxista-trotskista e a renovação revolucionária do movimento internacional dos trabalhadores com base em políticas socialistas.

30. O Comitê Internacional da Quarta Internacional faz um chamado pela unidade dos trabalhadores da Rússia, da Ucrânia e de toda a ex-União Soviética com seus irmãos e irmãs da Europa, da Ásia e dos Estados Unidos em oposição ao sistema capitalista, que é a causa principal da guerra. A única saída para o desastre que está se desenrolando é a luta contra o capitalismo e a vitória da revolução socialista mundial.

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