A palestra a seguir foi proferida por Tomas Castanheira, dirigente do Grupo Socialista pela Igualdade brasileiro (GSI), na Escola de Verão Internacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA), realizada entre 30 de julho e 4 de agosto de 2023.
Já foram publicadas em português as palestras Leon Trotsky e a luta pelo socialismo na época da guerra imperialista e da revolução socialista, de David North; Os fundamentos históricos e políticos da Quarta Internacional, de Clara Weiss e Johannes Stern; As origens do revisionismo pablista, o racha na Quarta Internacional e a fundação do Comitê Internacional, de Joseph Kishore; e A luta contínua contra o pablismo, o centrismo da OCI e a crise emergente no CIQI, de Samuel Tissot e Peter Schwarz.
A apresentação de abertura do Presidente do Conselho Editorial Internacional do WSWS e Presidente Nacional do SEP, David North, “Leon Trotsky e a Luta pelo Socialismo na Época da Guerra Imperialista e da Revolução Socialista”, foi publicada em 7 de agosto. A segunda palestra, “Os fundamentos históricos e políticos da Quarta Internacional”, foi publicada em 14 de agosto. A terceira palestra, “As origens do revisionismo pablista, a divisão da Quarta Internacional e a fundação do Comitê Internacional”, foi publicada em 18 de agosto. O WSWS publicará todas as palestras nas próximas semanas.
Introdução
Camaradas, em junho passado completaram-se 60 anos do infame congresso de reunificação do Socialist Workers Party (Partido Socialista dos Trabalhadores – SWP) dos EUA, acompanhado por seus apoiadores na América Latina e na Ásia, com o Secretariado Internacional pablista.
O órgão estabelecido por meio dessa fusão, o Secretariado Unificado, representou uma aliança internacional da pequena burguesia dedicada a destruir o programa da Quarta Internacional, um programa baseado no protagonismo exclusivo e intransferível da classe trabalhadora internacional na tarefa de abolir o capitalismo.
A resolução adotada nesse congresso dos renegados proclamou que uma “nova época na história da revolução mundial” fora inaugurada pela ascensão ao poder de um movimento nacionalista pequeno-burguês em Cuba liderado por Fidel Castro. O congresso atribuiu ao trotskismo o papel servil de auxiliar a “fortalecer e enriquecer a corrente internacional do castrismo”, tanto nos países coloniais quanto nos centros metropolitanos do capitalismo.[1]
Essa tentativa de dissolver de uma vez por todas a Quarta Internacional foi frustrada pela posição principista sustentada pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) sob a liderança de Gerry Healy e a Socialist Labour League (Liga Socialista Operária – SLL), apoiados pela seção francesa, a Organisation Communiste Internationaliste (Organização Comunista Internacionalista – OCI).
A luta travada pela SLL entre 1961 e 1963 garantiu a preservação dos contornos políticos do trotskismo como corrente internacional e histórica determinada. Ela figura entre os grandes episódios históricos do movimento marxista.
A crise do stalinismo após a ruptura de 1953
Após 1953, desenvolvimentos importantes da luta de classes internacional confirmaram o caráter crucial das diferenças políticas reveladas na luta contra o pablismo. Em particular, as lutas de massas que eclodiram na URSS e nos países da Europa Oriental contra o domínio da burocracia stalinista.
Essas lutas culminaram na Revolução Húngara, que foi brutalmente reprimida pelo governo soviético em novembro de 1956. Esse acontecimento confirmou poderosamente o programa trotskista da Revolução Política contra a burocracia, defendido pelo CIQI contra as revisões do pablismo.
Tomando as lições cruciais dessa experiência, os trotskistas britânicos concluíram que, embora “o desenvolvimento espontâneo da revolução política possa conduzi-la até um patamar elevado... os primeiros exemplos da revolução política na vida real também reforçaram a necessidade absoluta de uma direção consciente”. [2]
O massacre em Budapeste provou que as ilusões fomentadas pelos pablistas na possibilidade de a burocracia dar guinadas à esquerda sob a pressão das massas só poderiam desarmar a classe trabalhadora e preparar novas derrotas sangrentas. No entanto, o Secretariado Internacional pablista chegou a conclusões opostas.
A crescente crise do stalinismo em face da ofensiva da classe trabalhadora veio à tona no início de 1956, com o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Nikita Kruschev reconheceu em seu “Discurso Secreto” que Stalin era um criminoso, refletindo a busca desesperada da burocracia para canalizar a oposição massiva que enfrentava contra um único indivíduo.
Os pablistas viram nesses acontecimentos a concretização de suas profecias sobre uma autorreforma pacífica da burocracia e o surgimento de tendências em seu interior que representavam os interesses da classe trabalhadora.
O significado essencial da crise de 1956, como escreveu David North, “era que anunciava uma profunda mudança na relação de forças mundial entre a Quarta Internacional e a burocracia stalinista degenerada”. Ele prossegue:
Como a Labour Review [publicação da SLL] havia declarado em janeiro de 1957, a “Grande Era do Gelo” havia chegado ao fim. Condições objetivas que favoreciam a resolução da crise histórica da direção do proletariado estavam emergindo.[3]
Diferenças nascentes no interior do CIQI
As respostas a essa grande virada na situação política explicitaram que diferenças cruciais estavam surgindo no interior do próprio CIQI.
A seção britânica do CIQI, sob a liderança de Healy, iniciou uma grande ofensiva política entre a classe trabalhadora, a juventude e os intelectuais para esclarecer a história e a natureza da luta trotskista contra o stalinismo que se confirmava.
Como North escreveu:
O poder da intervenção dos trotskistas britânicos na crise do stalinismo foi um produto do esclarecimento alcançado através da luta contra o revisionismo pablista. Precisamente porque a seção britânica havia rejeitado a conciliação e capitulação ao stalinismo, Healy conseguiu realizar importantes incursões nas fileiras stalinistas... [4]
Como resultado dessa campanha, os trotskistas britânicos alcançaram uma nova e mais profunda relação com a classe trabalhadora e emergiram como uma poderosa tendência política no Reino Unido. Essas conquistas se materializaram na fundação da Socialist Labour League em 1959.
Uma atitude completamente diferente foi adotada pelo SWP nos Estados Unidos. Embora as análises do SWP sobre a Revolução Húngara e o discurso de Kruschev fossem de caráter principista, representando um desdobramento de sua recente luta internacional contra o pablismo, essa linha entrou em conflito direto com as políticas crescentemente oportunistas que adotou após 1953.
Como North escreveu:
O prolongado boom econômico, o marasmo do movimento operário, o sufocamento dos sindicatos pela burocracia e os efeitos persistentes da histeria anticomunista [nos EUA] se acumularam como enormes pressões sobre os quadros do SWP.[5]
Em contraste com os trotskistas britânicos, a resposta prática do SWP à crise do stalinismo foi a adoção de uma política de “reagrupamento” das tendências de “esquerda”, voltada a dissolver o partido no meio tóxico do radicalismo pequeno-burguês americano. Em vez de reafirmar os princípios políticos que dividiram o trotskismo do movimento stalinista corrompido, o SWP buscou atenuar essas diferenças para acomodar os elementos arrependidos da burocracia stalinista.
1957: a guinada do SWP à reunificação
O significado fundamental das propostas de “reunificação” do Comitê Internacional ao Secretariado Internacional surgidas naquele momento foi assim sintetizado por North:
A partir de 1956, os pablistas voltaram suas energias – fazendo uma analogia militar – para o reforço das forças sitiadas das burocracias em crise ameaçadas por uma ofensiva das forças revitalizadas do trotskismo. Os pablistas responderam à crise de 1956 tentando, sob o pretexto da reunificação (ou seja, terminar a ruptura de 1953), dividir o Comitê Internacional.[6]
As posições iniciais adotadas pelo SWP em relação à Hungria e à URSS jamais poderiam justificar uma reunificação com os pablistas. Mas sua orientação para essa política “foi a expressão orgânica de sua capitulação às pressões de classes hostis no interior dos Estados Unidos”.[7]
Em março de 1957, sem consultar seus camaradas do CIQI, o presidente nacional do SWP, James Cannon, enviou uma carta aos centristas cingaleses do Partido Lanka Sama Samaja (LSSP) aceitando suas demandas por uma “unificação imediata das forças trotskistas em todos os países”. O caráter não principista dessa ação ficava explícito pelas intenções de Cannon de pôr de lado as diferenças políticas e encontrar um acordo conveniente para uma “ação política comum”.[8]
A resposta de Healy à manobra oportunista de Cannon estabeleceu as bases políticas da discussão que se desenrolou pelos anos seguintes entre os britânicos e o SWP sobre a reunificação com os pablistas.
Em sua carta de maio de 1957 a Cannon, Healy desviou a ênfase de questões meramente organizacionais, declarando que propostas dessa ordem eram incapazes de superar “as profundas diferenças políticas que existem” com os pablistas.
Em vez disso, Healy enfatizou a necessidade de aprofundar a luta iniciada em 1953. Ele escreveu: “O fortalecimento de nossos quadros é decisivo no período atual e isso só é possível através de uma educação contínua sobre os problemas do revisionismo”. Sua carta concluiu: “A Seção Britânica jamais concordará com algo que possa passar por cima do esclarecimento de questões essenciais.”[9]
A Conferência de Leeds de 1958
Uma conferência do CIQI realizada em junho de 1958 em Leeds, no Reino Unido, analisou os novos desdobramentos da situação mundial, reafirmando os princípios da luta do Comitê Internacional contra o pablismo.
Respondendo à crise do stalinismo, a resolução da conferência afirmou a “rejeição do CIQI a todas as concepções de que a pressão das massas pode resolver a questão da direção, forçando a reforma do aparato burocrático”.[10]
Embora admitindo unidade de ação com as tendências em rompimento com as burocracias, exigia que isso fosse “acompanhado de uma ofensiva ideológica contra o stalinismo, a social-democracia, o centrismo, a burocracia sindical e as lideranças burguesas e pequeno-burguesas dos movimentos nacionais nos países coloniais e semicoloniais”.[11]
A resolução também rejeitou a concepção sendo desenvolvida pelos pablistas sobre um deslocamento do centro da revolução mundial para os países coloniais. Ela declarou: “A revolução mundial é incapaz de dar um salto decisivo até que irrompa nos países metropolitanos”, acrescentando que a “contraofensiva dos trabalhadores nos países metropolitanos”, por sua vez, “impulsionará a revolução colonial a novas alturas”.[12]
A direção do Socialist Workers Party rejeitou as conclusões da conferência. Revelando sua concepção oportunista sobre a reunificação com os pablistas, eles denunciaram os documentos por reavivarem “a discussão em torno das questões de 1953 que há muito foram superadas por acontecimentos sobre os quais houve acordo político essencial”.[13]
A oposição de Nahuel Moreno aos documentos de Leeds
Esses documentos também foram denunciados por outra liderança política, Nahuel Moreno, que participou da conferência de Leeds em nome da seção argentina. As contribuições de Moreno anteciparam algumas das questões cruciais que logo viriam à tona em relação à Revolução Cubana. Elas revelam as pressões de classe existentes na América Latina que deram base ao apoio das seções da região à política de reunificação com os pablistas.
A principal proposta apresentada por Moreno à conferência era dissolver cada seção nacional do CIQI no que ele chamou de “Frentes Únicas Revolucionárias”, que representariam uma “estratégia totalmente nova” para a época. Esse programa radicalmente pablista partia das seguintes premissas:
A crise dos aparatos libera tendências revolucionárias inconscientes... Seu surgimento tem um profundo significado objetivo: é o começo de uma nova direção revolucionária do movimento de massas...
É uma utopia querer que as tendências revolucionárias inconscientes que existem e continuarão a existir no movimento operário e das massas coloniais de todo o mundo se incorporem imediata ou automaticamente à Quarta Internacional.[14]
Essas “tendências revolucionárias inconscientes”, e não o partido, seriam as responsáveis por realizar “as necessidades revolucionárias mais urgentes do país, zona ou sindicato, universidade ou grupo intelectual onde atuemos”.
Ao retornar à Argentina, Moreno relatou suas divergências com as perspectivas da conferência de Leeds em um informe a outras seções latino-americanas em janeiro de 1959. Intitulado “Revolução Permanente no Pós-Guerra”, o relatório declarou “oposição total” ao seguinte parágrafo da resolução de Leeds:
Nos países coloniais e semicoloniais, nossa tarefa central é construir partidos proletários revolucionários. Armados com a teoria da revolução permanente, eles participarão de frentes únicas anti-imperialistas com o objetivo de estabelecer a liderança proletária sobre as massas. Rejeitamos todas as concepções de subordinação do programa da revolução social às pretensões limitados da burguesia ou da pequena burguesia.[15]
A discordância de Moreno com essa formulação resultava de sua total oposição à Teoria da Revolução Permanente. Sob o pretexto de atualizá-la, ele apresentou uma concepção diametralmente oposta sobre o desenvolvimento da história:
A revolução democrática burguesa e a revolução socialista antes estavam combinadas, intimamente ligadas, apenas nos países coloniais e semicoloniais. Mas hoje descobrimos que no seio da própria revolução operária nos países metropolitanos, a revolução democrática desempenha um papel de primeira grandeza, está intimamente ligada à revolução operária. O problema dos negros na América do Norte e dos argelinos na França é o melhor exemplo. … A Inglaterra não será uma exceção, e dentro de dois ou três anos seguirá os passos da França e da América do Norte; na Inglaterra, teremos um problema racial colocado direta ou indiretamente pelo imperialismo com sua crise econômica.[16]
A Revolução Cubana e a renúncia do SWP ao marxismo
A Revolução Cubana foi o canal encontrado pelo SWP para revisar completamente seu programa de acordo com sua prática oportunista e sua guinada à reunificação com os pablistas.
Esse processo levou à emergência de Joseph Hansen como principal teórico do SWP. Como o CIQI descobriu mais tarde, Hansen atuava como agente da GPU stalinista e mais tarde do FBI. Ele representava uma manifestação física da infiltração do movimento trotskista por agentes conscientes de forças de classes hostis.
Mas a ascensão da autoridade política de Hansen expressava, mais profundamente, a capitulação do SWP às pressões ideológicas da pequena burguesia no coração do imperialismo. Uma vez que o partido abandonou a perspectiva de realizar a revolução socialista nos Estados Unidos, e sentia a necessidade de se livrar das amarras do marxismo para seguir seu caminho oportunista, Hansen era a pessoa certa para o trabalho.
A derrubada da ditadura cubana de Fulgêncio Batista pelo Movimento 26 de Julho liderado por Fidel Castro, em 1959, foi parte de uma série de lutas e revoluções anti-imperialistas surgidas no pós-guerra. Embora o SWP tenha inicialmente caracterizado o novo regime cubano como nacionalista burguês, no decorrer de 1960 sua linha mudou completamente.
Uma vez que o regime castrista, pressionado pelas demandas intransigentes do imperialismo americano, promoveu uma série de estatizações e consolidou laços com a União Soviética, Hansen passou a afirmar que ele tinha estabelecido um “Estado operário” e estava liderando uma revolução socialista em Cuba.
O SWP argumentou que, empurrada pela influência irresistível de novas condições objetivas, a “direção pequeno-burguesa, partindo de um programa democrático-burguês, seguiu a lógica dialética da revolução ao invés da lógica formal de seu próprio programa, e acabou estabelecendo o primeiro Estado operário do Hemisfério Ocidental e proclamando-o um exemplo para toda a América Latina”.[17]
Assim como Moreno, Hansen dizia estar apenas atualizando a Teoria da Revolução Permanente. Ele argumentou que o fato de elementos pequeno-burgueses inconscientes terem chegado automaticamente à conclusão da necessidade da revolução socialista era uma comprovação da teoria de Trotsky.
Essa revisão teórica tinha como objetivo negar a conclusão – estabelecida pela Revolução Russa e confirmada negativamente pelas experiências do stalinismo com a teoria etapista com resultados catastróficos – de que a pequena burguesia e o campesinato eram incapazes de desempenhar um papel político independente na época do imperialismo. Voltada inicialmente aos países coloniais, sua conclusão natural era que, também nos países capitalistas avançados, a pequena burguesia poderia assumir um papel de liderança.
Encarando Castro, Guevara e seus colegas como virgens políticos, ainda em estágio de formação como marxistas conscientes, Hansen chegou a declarar Cuba o único “regime operário incorrupto” do mundo!
Ao enaltecer esses homens de ação, que supostamente iniciaram uma revolução sem plano preconcebido e, reagindo intuitivamente aos acontecimentos, derrubaram o capitalismo e deram início à transformação socialista da sociedade, o SWP decretava a inutilidade do partido leninista e da Quarta Internacional.
As implicações políticas da caracterização de Cuba como “Estado operário”
A caracterização feita pelo SWP do regime cubano como um Estado operário tinha imensas implicações para a teoria marxista. Elas foram detalhadamente examinadas por North em “A Herança que Defendemos”. Ele escreve:
Em 1939-40, durante a batalha interna no SWP sobre a natureza de classe do Estado soviético, Trotsky incitou a minoria liderada por Burnham/Shachtman a declarar explicitamente que conclusões estratégicas e programáticas deviam ser tiradas de sua sugestão de que a União Soviética não devia mais ser considerada um Estado operário. Assim, ele deixou claro que a luta em questão não era simplesmente uma disputa terminológica. A rejeição à caracterização da URSS como um Estado operário estava inextricavelmente ligada a profundas diferenças da minoria do SWP com o trotskismo em todas as questões fundamentais.
Da mesma forma, a questão de Cuba não era meramente uma diferença sobre terminologia. Hansen tentava impedir a formulação de uma explicação principista das implicações, tanto para a teoria marxista quanto para o programa da Quarta Internacional, da definição de Cuba como um Estado operário. Ele recusava-se a declarar precisamente quais conclusões o movimento trotskista deveria tirar da alegação de que um Estado operário fora criado sob a direção pequeno-burguesa não marxista de Castro.[18]
Quais implicações eram essas?
Se era possível Estados operários através da ação de líderes guerrilheiros pequeno-burgueses – baseados principalmente no campesinato, sem conexões históricas, organizacionais e políticas significativas com a classe trabalhadora, e sob condições em que era impossível identificar órgãos de poder de classe por meio dos quais o proletariado exercesse sua ditadura – então surgia uma concepção totalmente nova do caminho histórico para o socialismo, totalmente diferente do previsto pelos marxistas...
Ela implicitamente decretava como anacrônicos os escritos de Marx sobre a Comuna e a conclusão de Lenin sobre o significado universal do poder dos soviets como a nova forma de poder de Estado “descoberta” pelo proletariado, o primeiro Estado de tipo não burguês.(...)
A relevância dos esforços de gerações de marxistas para organizar o proletariado independentemente de todas as outras classes, incluindo dos camponeses oprimidos, e para munir o movimento operário de consciência socialista científica estava sendo flagrantemente contestada.[19]
Liquidacionismo na América Latina
As concepções liquidacionistas desenvolvidas pelo SWP no seu esforço de reunificação com os pablistas tiveram consequências imediatas e desastrosas para o desenvolvimento do movimento trotskista na América Latina.
O SWP exigiu que os trotskistas em Cuba se subordinassem completamente ao “partido revolucionário unificado em via de formação, onde eles podem trabalhar com lealdade, paciência e confiança para a implementação do programa integralmente socialista revolucionário que eles representam”.[20]
Em pouco tempo, o regime de Castro confiscou a imprensa dos trotskistas cubanos, destruiu as matrizes tipográficas para a impressão de uma edição cubana de “A Revolução Permanente” de Trotsky e prendeu seus principais militantes.
Estendendo a mesma orientação política criminosa aos revolucionários de toda a região, a resolução de 1962 do SWP declarava:
Os trotskistas ao redor da América Latina devem tentar unificar todas as forças, independentemente de suas origens específicas, que estão prontas para tomar a experiência cubana como ponto de partida para as lutas revolucionárias em seus próprios países.[21]
Esses conselhos foram seguidos em uma série de países com resultados catastróficos. Preparando sua autodissolução no Movimiento de Izquierda Revolucionaria (Movimento da Esquerda Revolucionária – MIR), um amálgama de tendências pequeno-burguesas, o Partido Operário Revolucionário (POR) do Chile adotou uma resolução publicada em 1961 na revista do SWP, International Socialist Review. Ela declarava:
Essas correntes combativas em desenvolvimento tendem a formar movimentos que rompem com os moldes das antigas formações centristas, em última análise, fomentando correntes revolucionárias que querem levar as coisas de uma vez por todas “a la cubana”.
As novas forças liberadas pelo impacto da Revolução Cubana abrem caminho para o reagrupamento de vários grupos revolucionários, de setores militantes independentes e de tendências de esquerda conforme surgem divisões entre as formações centristas anteriormente mencionadas. A tarefa dos trotskistas, consequentemente, é incentivar e desenvolver todas essas correntes combativas e intuitivamente revolucionárias, apoiando ao mesmo tempo toda mobilização anti-imperialista.[22]
Essa ação liquidacionista privou a classe trabalhadora chilena de uma direção marxista durante a situação revolucionária decisiva que surgiria nos anos seguintes, provocando sua derrota e o ascenso da brutal ditadura de Pinochet em 1973.
Discorrendo sobre as perspectivas oportunistas do SWP para a América Latina, o já completamente desmoralizado Jim Cannon escreveu a Hansen em 1961:
Estranhamente, essas propostas resolutas podem causar conflitos com algumas tendências sectárias não somente entre os nossos próprios companheiros latino-americanos, mas também entre os pablistas latino-americanos. Mas uma declaração clara e explícita de nossa posição, nos moldes das propostas acima, vinda do SWP, que tem consistentemente defendido a revolução cubana nas circunstâncias mais difíceis, deve evocar considerável autoridade.
Ela pode abrir caminho para possivelmente um melhor diálogo e colaboração com os trotskistas latino-americanos dos dois campos.[23]
Como o próprio Cannon já reconhecia, ele e seu partido tinham assumido completamente as perspectivas do pablismo e, em alguns casos, mais fortemente do que os próprios pablistas.
Os trotskistas assumem a ofensiva
No início de 1961, a SLL deu um passo decisivo na luta contra o revisionismo que colocou os trotskistas ortodoxos mais uma vez na ofensiva.
Escrevendo à direção do SWP em janeiro de 1961, a SLL refutou decisivamente a tentativa dos americanos de reduzir o significado da ruptura de 1953 a problemas organizacionais. Os trotskistas britânicos declararam seu compromisso com os princípios da “Carta Aberta” de Cannon e questionaram diretamente aos líderes do partido americano se eles continuavam a defende-la.
Considerando o significado do pablismo do ponto de vista das tarefas revolucionárias confrontadas pelo movimento trotskista, a SLL declarou:
É pela magnitude das oportunidades que estão se abrindo ao trotskismo e, portanto, a necessidade de clareza política e teórica, que exigimos que as divisas com o revisionismo sejam urgentemente marcadas. É hora de pôr fim ao período em que o revisionismo pablista foi considerado uma tendência interna do trotskismo.[24]
Em uma carta subsequente, datada de 8 de maio de 1961, a SLL confrontou a linha revisionista sobre o regime de Castro sendo desenvolvida pelo SWP. A SLL declarou: “Mesmo que a revolução burguesa em Cuba tenha sido forçada pela política dos EUA a ultrapassar os limites normais das medidas sociais de uma revolução burguesa... este resultado excepcional de uma situação particular” não justificava qualquer revisão da definição do movimento trotskista do que é um Estado operário.
A carta prosseguia:
Mesmo que Castro e seus companheiros fossem “convertidos”, isso faria da revolução uma revolução proletária?... Se os bolcheviques não puderam liderar a revolução sem o apoio consciente da classe trabalhadora, Castro pode? De qualquer forma, tendências políticas precisam ser analisadas do ponto de vista de sua base de classe, da forma como se comportam em luta em relação ao movimento das classes ao longo de um extenso período. Em nenhum país atrasado, um partido proletário, e quanto mais uma revolução proletária, será criado por meio da conversão de nacionalistas pequeno-burgueses que esbarram “naturalmente” ou “acidentalmente” com a importância dos trabalhadores e camponeses.
Os principais estrategistas imperialistas nos EUA e na Inglaterra reconhecem perfeitamente que somente entregando a “independência” política a líderes desse tipo, ou aceitando sua vitória sobre elementos feudais como Farouk e Nuries-Said, os investimentos e alianças estratégicas do capital internacional podem ser preservadas na Ásia, África e América Latina.[25]
A SLL concluiu: “Não é tarefa dos trotskistas reforçar o papel de tais líderes nacionalistas”.
Uma vez que a direção do SWP já embarcara em uma jornada sem volta ao liquidacionismo, esses termos eram obviamente inaceitáveis. Mas os trotskistas britânicos estavam comprometidos a travar uma luta paciente para esclarecer o movimento internacional sobre a natureza da nova divisão política que claramente emergira.
Na batalha de ideias que se desenrolou pelos dois anos seguintes, a SLL tinha uma vantagem importante. Enquanto o SWP via seus argumentos como meios para intimidar seus oponentes e alcançar seus objetivos faccionais imediatos mesquinhos – “nem um único trotskista solitário em toda a América Latina” teria “coragem de encostar com uma vara de três metros na posição da SLL sobre Cuba”, exclamou Hansen – Healy e seus camaradas compreendiam essa luta teórica como parte crucial da concretização de seus objetivos históricos revolucionários.
Como afirmou Cliff Slaughter no decorrer da discussão:
Em um período de desenvolvimentos revolucionários no movimento operário, a linha política mais clara e incisiva é a exigência principal. Essa linha só é alcançada através do conflito com concepções incorretas para se chegar a um reflexo preciso da situação real; ela exige uma luta contra o revisionismo, que sempre reflete a pressão da classe dominante. Isso significa um estudo científico da história do próprio movimento. Precisamente para armar os elementos revolucionários da classe trabalhadora com uma estratégia marxista internacional, é necessário lutar até o fim contra todo o revisionismo e entender nossa própria posição atual como o produto de tais conflitos, conscientemente resolvidos.[26]
Nesse espírito, os trotskistas britânicos celebraram quando o SWP “reconheceu explicitamente as questões de princípio que no momento dividem o SWP e a SLL”[27] no documento “Problemas da Quarta Internacional e os Próximos Passos”, adotado pelos americanos em junho de 1962.
Trotskismo traído
A resposta da SLL, apresentada em “Trotskismo Traído”, anunciou que suas diferenças básicas de método com o SWP “centravam-se nas questões básicas do leninismo, como proceder à construção de um partido revolucionário internacional”. Ela continuou:
O próprio fato de que esta discussão atingiu um novo patamar é parte de uma nova etapa na construção desses partidos revolucionários da Quarta Internacional, para a qual a derrota do revisionismo é necessária. [28]
O documento declarava:
Os trabalhadores dos países avançados estão iniciando grandes batalhas. Elas resultarão em derrotas duradouras caso não se transformem em lutas pelo poder de Estado, o que exige uma direção marxista.
A exaltação de direções não marxistas, afirmações de que direções pequeno-burguesas podem virar marxistas “naturalmente” pelo impulso de “forças objetivas”– são coisas que ameaçam desarmar a classe trabalhadora ao desorientar a direção marxista...
Se uma capitulação aos centristas ocorrer agora, impedindo que a classe trabalhadora rompa com a burocracia social-democrata, stalinista e sindical, então os revisionistas assumirão a responsabilidade de enormes derrotas da classe trabalhadora.[29]
Denunciando a renúncia do SWP à tese da crise da direção revolucionária e sua adoção da perspectiva objetivista do pablismo, a SLL escreveu:
O falatório sobre as “leis da história” resolvendo esta tarefa como um processo separado do desenvolvimento do partido representa um abandono da posição marxista sobre a relação entre os fatores “objetivo” e “subjetivo.(...)
A construção consciente deste partido é necessária para que a classe trabalhadora possa tomar o poder e construir o socialismo.[30]
Explicando que as diferenças em relação a Cuba eram “apenas parte dessas divergências gerais e fundamentais”, a SLL expôs a completa fraude das alegações do SWP de que sua caracterização de Cuba como um Estado operário era uma continuação da análise de Trotsky sobre a União Soviética:
Trotsky insistiu que sua discussão e definição da URSS deveriam ser tomadas historicamente e em relação à luta mundial entre a classe trabalhadora e a classe capitalista. (…) O método do SWP é o oposto, tomando certos “critérios” da discussão sobre uma manifestação particular da luta revolucionária em uma parte do mundo vista como um estágio singular no desenvolvimento da revolução mundial. Eles aplicam esse critério a outra parte do mundo uma geração depois, a um setor particular em uma determinada fase da luta. Assim, estatizações e a existência de milícias operárias são suficientes para fazer de Cuba um “Estado operário” e da revolução cubana uma revolução socialista. Esse método “normativo” é a cobertura teórica para a prática de subordinação ao atual estágio instável e transitório da luta – a vitória dos nacionalistas revolucionários pequeno-burgueses – ao invés de partir da perspectiva e tarefas da classe trabalhadora.[31]
A SLL questionou:
O que significa um “Estado operário” em termos concretos? Significa a “ditadura do proletariado” de uma ou outra forma. A ditadura do proletariado existe em Cuba? Respondemos categoricamente: não!
O regime de Castro não criou um tipo de Estado qualitativamente novo e diferente do regime de Batista. As estatizações feitas por Castro em nada alteram o caráter capitalista do Estado.[32]
E, respondendo às alegações de Hansen e dos pablistas de que o desenvolvimento do processo político em Cuba “confirmava a teoria da revolução permanente”, declarou:
Cuba representa, na realidade, uma confirmação negativa da revolução permanente. Onde a classe trabalhadora é incapaz de liderar as massas camponesas e esmagar o poder de Estado capitalista, a burguesia intervém e resolve os problemas da “revolução democrática” à sua maneira e em benefício próprio.[33]
Mesmo a este ponto da discussão, a SLL mantinha sua proposta de organizar discussões principistas envolvendo as fileiras de ambas as seções internacionais:
Nossa intenção ao fazer essas propostas não é chegar a qualquer acordo de cúpula entre os comitês dirigentes do CI e do SI, mas continuar uma luta implacável contra o revisionismo nas fileiras de todas as seções de ambas as organizações.[34]
Oportunismo e empirismo
Buscando isolar a SLL, Hansen respondeu aos ataques principistas dos trotskistas britânicos com “Cuba – o teste do ácido: Uma resposta aos sectários ultraesquerdistas”, publicado em novembro de 1962. O documento de Hansen era uma calúnia cínica contra as posições da SLL, retratadas como uma negação idealista e dogmática da realidade objetiva.
Hansen escreveu:
O movimento trotskista mundial já esperou dois longos e agitados anos pelo reconhecimento da SLL sobre os fatos da Revolução Cubana. (…) Por que essa recusa obstinada em admitir acontecimentos palpáveis? O mais estranho de tudo é que os líderes da SLL reconheceram que se recusam a aceitar os fatos; eles converteram isso em uma virtude e até mesmo numa filosofia.[35]
Hansen se referia à diferenciação entre marxismo e empirismo feita por Slaughter em seu ensaio “Lenin sobre a dialética”, no qual ele argumentava que “certos ‘marxistas’ assumem que o método marxista tem o mesmo ponto de partida que o empirismo: isto é, começa com ‘os fatos’”.
Vale citar Slaughter longamente. Ele continua:
Evidentemente toda ciência é baseada em fatos. No entanto, definir e estabelecer os “fatos” é algo crucial para qualquer ciência. Parte da criação de uma ciência é precisamente sua delimitação e definição como um campo de estudo com leis próprias: a experiência revela que os “fatos” se interconectam objetivamente e são guiados por leis de tal forma que uma ciência desses fatos torna-se uma base relevante e útil para a prática. Nossos marxistas “empiristas” no campo da sociedade e da política estão longe desse estado de coisas. Eles procedem da seguinte maneira: tínhamos um programa baseado nos fatos de 1848, de 1921 ou de 1938; hoje os fatos são outros, logo precisamos de outro programa.(...)
É uma visão falsa e não marxista sobre “os fatos” que leva a essas ideias revisionistas. O que nossos “objetivistas” estão dizendo, com sua mensagem “a história está do nosso lado”, é o seguinte: observe as grandes lutas que estão ocorrendo, combine-as sem analisá-las, siga suas impressões sobre a relevância delas, e junte isso tudo – aí você tem “os fatos”. As revoluções coloniais foram bem-sucedidas aqui, ali e em tal lugar; logo, o sucesso da revolução colonial é um fato. Líderes nacionalistas como Nkrumah e Mboya e Nasser fazem discursos “anti-imperialistas” e até realizam estatizações; isso sugere que uma tendência histórica irreversível e inevitável está empurrando políticos não proletários em uma direção socialista. Mas esse tipo de “objetivismo” é uma coleção de impressões e não uma rica análise dialética de um quadro completo, com as partes relacionadas umas às outras. Uma análise verdadeiramente objetiva parte das relações econômicas entre classes em escala mundial e no interior de cada nação. Procede-se a uma análise da relação entre as necessidades dessas classes e seu grau de consciência e organização. Nisso se baseia um programa para a classe trabalhadora internacionalmente e em cada setor nacional. Uma lista das “forças progressistas” não é uma análise objetiva! É o oposto, ou seja, simplesmente uma coleção de impressões superficiais, uma aceitação da consciência não científica existente sobre a luta de classes contemporânea, assim como aparece a seus participantes, sobretudo aos políticos pequeno-burgueses que dirigem os movimentos nacionais e os movimentos operários burocratizados. Encobrir esse erro teórico com a sugestão de que Castro e outros são marxistas “naturais” serve apenas para confirmar que os “teóricos” em questão estão pouco cientes do quão longe eles foram. Eles parecem sugerir que os períodos de máxima tensão revolucionária são aqueles em que os participantes das lutas de massas chegam fácil e espontaneamente aos conceitos revolucionários. Pelo contrário, é precisamente nesses momentos que há uma primazia da consciência científica, da teoria e estratégia desenvolvidas na luta ao longo de um período prolongado.[36]
A SLL se valeu da defesa do método empirista por Hansen – que fez uma falsa identificação do marxismo com o “empirismo empregado sistematicamente”– para expor ainda mais o caráter sem princípios das políticas oportunistas do SWP. Ela revelou os fundamentos históricos e de classe do método filosófico antimarxista que o partido americano utilizava como base.
Em março de 1963, a SLL publicou “Oportunismo e Empirismo”, assinado também por Slaughter. O documento declarava:
Hansen lidera a tendência que exige a “unificação” com uma tendência revisionista com base em um acordo político puramente prático sobre tarefas imediatas. Sob esse ponto de vista, ele rejeita um exame da história da ruptura e das diferenças entre essas tendências.(...)
Qual é a base metodológica da abordagem de Hansen aqui? A questão determinante para ele é sempre “o que vai funcionar melhor?” – sempre da perspectiva estreita das aparências políticas imediatas.[37]
A SLL determinou as diferenças fundamentais que separam o marxismo do método objetivista que unificava o SWP aos pablistas:
Todo esse falatório de que “os fatos” são a realidade objetiva e que devemos “partir daí” é uma preparação para justificar políticas de adaptação a direções de classes não operárias.
O empirismo, uma vez que “parte dos fatos”, nunca pode ir além deles e deve aceitar o mundo como ele é. Este método burguês de pensamento vê o mundo do ponto de vista do “indivíduo isolado na sociedade civil”.
Em vez de tomar a situação objetiva como um problema a ser resolvido à luz da experiência histórica da classe trabalhadora, generalizada na teoria e na prática do marxismo, ele deve tomar “os fatos” da forma como chegam. Eles são produzidos por circunstâncias além do nosso controle.
O marxismo arma a vanguarda da classe trabalhadora em sua luta pela ação independente do movimento operário; o empirismo a adapta à ordem existente, ao capitalismo e suas agências nas organizações da classe trabalhadora.[38]
Os trotskistas britânicos estabeleceram a essência da concepção da “nova realidade” que servia de base à reunificação do SWP com os pablistas: era uma forma de justificar e adaptar-se à realidade burguesa e à continuidade da dominação mundial pelo imperialismo.
Conclusão
Consumada a reunificação, Healy enviou uma carta final ao Comitê Nacional do SWP. Como North observou, ela fazia um “resumo devastador da fraude e enganação que pavimentaram a convocação do congresso de reunificação do SWP com os pablistas. Mas foi nos parágrafos finais da carta que o asco de Healy pela traição política do SWP ganhou sua expressão mais mordaz.”[39]
Healy escreveu:
Evidentemente que vocês não têm tempo para a “SLL sectária”. Nossos camaradas na base e na direção lutam diariamente contra o reformismo e o stalinismo nas melhores tradições do movimento trotskista. Mas eles ainda não falam para dezenas de milhares em encontros públicos como Ben Bella, Castro e o dito ato de Primeiro de Maio no Ceilão. Aos seus olhos, somos somente a minúscula “ralé ultraesquerdista”.
Vocês demoraram um tempo. (Como diz o ditado: “Quem tarda a abraçar Cristo abraça Cristo mais forte.”) Faz aproximadamente 12 anos que George Clarke uniu forças com Pablo e publicou a declaração do infame Terceiro Congresso no The Militant e o que era na época a revista Fourth International. Vocês não compreenderam Pablo naquela época, e então tivemos a ruptura de 1953. Cannon saudou essa ruptura com as palavras: “jamais voltaremos ao pablismo”. Até recentemente, ele resistiu duramente a converter-se ao pablismo. Mas finalmente vocês conseguiram. Agora vocês têm aliados em toda parte, de Fidel Castro a Philip Gunawardene e Pablo.
Queremos dizer só uma coisa e nisso nosso congresso foi unânime. Estamos orgulhosos da posição que nossa organização tomou contra uma capitulação tão vergonhosa às forças absolutamente reacionárias às quais a direção da ala majoritária do seu partido sucumbiu totalmente.[40]
O que resta hoje das “novas forças” e dos “instrumentos rústicos”, aqueles “fatos” que o SWP e os pablistas alegaram ter superado os pilares fundamentais da Quarta Internacional?
Eles se provaram completamente incapazes de libertar seus próprios países ou qualquer parte do mundo do capitalismo. Obedecendo às leis fundamentais da Revolução Permanente já verificadas por Trotsky, essas lideranças burguesas e pequeno-burguesas traíram e desarmaram a classe trabalhadora, preparando o caminho para ditaduras militares fascistas e o restabelecimento do equilíbrio sob o imperialismo.
O preço político do oportunismo pablista foi pago em sangue por centenas de milhares de jovens, trabalhadores e camponeses que ou seguiram suas orientações e embarcaram em lutas de guerrilha desastrosas ou foram vítimas das derrotas causadas por elas.
Dynamics of World Revolution Today, junho, 1963.
W. Sinclair, “Under A Stolen Flag,” 22 de maio, 1957 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
David North, Cliff Slaughter: uma biografia política (1928-1963), Parte 3, Agosto, 2021.
David North, Gerry Healy and his Place in the History of the Fourth International, 1989.
David North, The Heritage We Defend, 1988.
North, Cliff Slaughter, Parte 3.
North, The Heritage We Defend.
Letter from James P. Cannon to L. Goonewardene, 12 de março, 1957 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
Letter from G. Healy to James P. Cannon, 10 de maio, 1957 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
“Political Statement Adopted by the International Conference” – Education for Socialists: The Struggle to Reunify the Fourth International (1954–63), Vol. IV.
Ibid.
Ibid.
North, The Heritage We Defend.
Nahuel Moreno, “Tesis de Leeds (Tesis sobre el Frente Único Revolucionario)”, Centro de Estudios Humanos y Sociales, Buenos Aires, 2016.
Nahuel Moreno, “La revolución permanente en la posguerra”, Centro de Estudios Humanos y Sociales, Buenos Aires, 2018.
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North, The Heritage We Defend.
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Draft resolution of the SWP Political Committee, 1º de maio, 1962 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
Ibid.
International Socialist Review, Vol.22 No.3, Verão, 1961.
Correspondence of James P. Cannon, maio, 1961 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
Letter of the National Committee of the SLL to the National Committee of the SWP, 2 de janeiro, 1961 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
Letter of the NEC of the Socialist Labour League to the National Committee of the Socialist Workers Party, 8 de maio, 1961 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
A reply to Joseph Hansen, by C. Slaughter – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
“Trotskyism Betrayed: The SWP accepts the political method of Pabloite revisionism” by the National Committee of the SLL, 21 de julho, 1962 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 3.
Ibid.
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Ibid.
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Ibid.
Ibid.
“Cuba – The Acid Test: A reply to the Ultraleft sectarians,” by Joseph Hansen, 20 de novembro, 1962 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 4.
“‘The Theoretical Front’, Lenin’s Philosophical Notebooks, Second Article” Labour Review, Verão de 1962, Vol. 7, No. 2.
Opportunism and Empiricism SLL National Committee, March 23, 1963 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 4.
Ibid.
North, Gerry Healy and his Place, 1989.
Letter from G. Healy (for the SLL) to the National Committee of the SWP, 12 de junho, 1963 – Trotskyism versus Revisionism, Volume 4.