Publicado originalmente em 8 de outubro de 2023
A carta de Leon Trotsky de 8 de outubro de 1923 aos membros do Comitê Central (CC) e da Comissão Central de Controle (CCC) do Partido Comunista Russo foi um dos documentos políticos mais importantes que basearam a formação da Oposição de Esquerda à burocracia stalinista emergente na União Soviética. Essa tradução foi publicada pela primeira vez no International Workers Bulletin, editado pela Workers League (Liga dos Trabalhadores), antecessora do Partido Socialista pela Igualdade (EUA), em 18 de outubro de 1993. A tradução foi baseada na primeira publicação completa dessa carta em russo pelo jornal Izvestiia TsK KPSS em sua edição de maio de 1990, pp. 165-175. A tradução e as notas foram ligeiramente editadas para facilitar a compreensão do documento. Para uma introdução a esse documento que explica o contexto histórico em que foi escrito, consulte “A fundação da Oposição de Esquerda”, de David North.
8 de outubro de 1923
Confidencial
Aos membros do CC e do CCC[1]
1. Uma das propostas da comissão do camarada Dzerzhinsky[2] (sobre greves e outros assuntos) afirma que é necessário obrigar os membros do partido que souberem de agrupamentos dentro do partido a informar imediatamente a GPU, o CC e o CCC. Informar a organização do partido de que existem elementos hostis operando em suas fileiras parece uma obrigação tão elementar de cada membro do partido que não existe a necessidade de aprovar uma resolução sobre isso seis anos após a Revolução de Outubro. O fato de ter surgido a necessidade de tal resolução é um sintoma extremamente preocupante, acompanhado por outros sintomas não menos claros. A necessidade de tal resolução significa: a) que grupos ilegais de oposição[3] se formaram dentro do partido, o que pode se tornar perigoso para a revolução, e b) que existe no partido uma atmosfera tal permitindo que os camaradas cientes de tais grupos não informem a organização do partido sobre eles. Esses dois fatos atestam a extrema piora da situação dentro do partido desde a época do 12º congresso, no qual a completa unidade de 90% do partido foi proclamada nos informes do Comitê Central. É verdade que, mesmo naquela época, essa avaliação foi exagerada de forma otimista. Existem muitos membros do partido, e de modo algum os piores, que ficaram profundamente alarmados com os métodos e meios com os quais o 12º Congresso foi convocado.[4] A maioria dos delegados participando no congresso estavam repletos de tal preocupação. É indiscutível que a esmagadora maioria do partido, levando em consideração a situação internacional e a doença de Lenin em particular, estava totalmente preparada para apoiar o novo Comitê Central. Foi exatamente esse desejo de possibilitar um trabalho unânime e bem-sucedido do partido, em primeiro lugar no campo da economia, que suavizou os agrupamentos no partido e forçou muitos a reprimir sua insatisfação e a não expressar sua preocupação legítima na tribuna do congresso. Entretanto, seis meses de trabalho do novo CC intensificaram os métodos e meios com os quais o 12º Congresso foi realizado [abril de 1923]. O resultado disso, dentro do partido, foi a formação de grupos abertamente hostis e amargurados e a presença de muitos elementos que sabem desse perigo e, ainda assim, permanecem em silêncio. Vemos aqui tanto a forte deterioração da situação interna do partido quanto a crescente distância do CC em relação ao partido.
2. A extrema deterioração da situação interna do partido possui duas causas: a) o regime interno do partido fundamentalmente incorreto e insalubre e b) a insatisfação dos trabalhadores e camponeses com a grave situação econômica que se desenvolveu não apenas como resultado de dificuldades objetivas, mas como resultado de erros fundamentais óbvios na política econômica. Esses dois motivos, como irá se tornar claro a seguir, estão intimamente conectados um ao outro.
3. O 12º Congresso se reuniu sob o slogan da smychka [termo usado para se referir à aliança entre a classe trabalhadora e o campesinato]. Como autor das teses sobre a indústria[5], indiquei ao CC, antes da realização do congresso, o enorme perigo de que nossas tarefas econômicas fossem apresentadas no 12º Congresso de forma abstrata e de agitação, justamente quando nossa tarefa consistia em pedir “uma guinada na atenção e na vontade do partido” para as tarefas concretas e vitais de reduzir os custos da produção estatal. Eu posso apenas aconselhar todos os membros do CC e do CCC a se familiarizarem com a correspondência sobre essa questão naquele período dentro do Politburo[6]. Eu provei que, com a inclinação a simplesmente explicar durante nossa agitação e utilizar o slogan da smychka, ignorando seu conteúdo econômico real (economia planificada; forte concentração da indústria; forte redução das despesas gerais da indústria e do comércio), o relatório sobre as tarefas organizacionais da indústria seria esvaziado de significado prático. Entretanto, por insistência do pleno, apresentei um relatório no qual tentei, de minha parte, não complicar o trabalho do futuro CC, que estava sendo escolhido pela primeira vez sem o camarada Lenin.
4. A resolução sobre a indústria[7] exige o fortalecimento e o reforço da organização do Gosplan [Comissão de Planificação Estatal], sua consolidação como o principal órgão de planejamento. É correto apontar que, após o 12º Congresso, o CC tenha recebido a nota do camarada Lenin, que foi escrita quando ele já estava doente. Aqui ele expressa a ideia sobre a necessidade de dar ao Gosplan até mesmo direitos legislativos (ou, para ser mais preciso, de gestão administrativa).[8] Entretanto, na verdade, o Gosplan, no período após o congresso, foi colocado ainda mais em segundo plano. O seu trabalho em várias tarefas é útil e necessário, mas não possui absolutamente nada em comum com a regulamentação planejada da economia na forma que foi estabelecida pelo 12º Congresso. A incoerência do plano assume as formas mais óbvias no trabalho dos órgãos econômicos estatais centrais e, em geral, mais básicos. Em maior medida do que antes do 12º Congresso, as questões econômicas mais importantes são decididas às pressas no Politburo, sem a preparação necessária e sem relação com o plano. Os camaradas Rykov e Pyatakov,[9] que são responsáveis pela indústria estatal (sendo o camarada Rykov responsável pela economia como um todo), enviaram um relatório em 19 de setembro ao CC, no qual dizem cautelosamente que “várias decisões do Politburo nos obrigam a ressaltar o fato de que, sob as condições que se desenvolveram, a direção da indústria estatal, que nos foi confiada, está se tornando extremamente difícil”. É verdade que os camaradas que citei se recusaram a distribuir sua carta, considerando imprudente iniciar uma discussão sobre esse assunto no pleno. Porém, essa circunstância formal (recusa em enviar a carta) não altera em nada o fato de que os diretores de atividade econômica caracterizam a política do Politburo em questões econômicas como a política de decisões ao acaso e não sistemáticas, que tornam qualquer direção planejada da economia “extremamente difícil”. Em conversas particulares, essa avaliação assume um caráter incomparavelmente mais categórico. Não existe um único partido ou órgão soviético em que as questões econômicas sejam examinadas e trabalhadas em suas conexões internas e com a perspectiva necessária. Para sermos absolutamente precisos, devemos dizer: não existe direção da economia, o caos parte do topo.
5. No âmbito desta carta, não vou fazer uma análise concreta de nossa política no campo das finanças, indústria, aquisição de grãos, exportação de grãos ou impostos, pois isso exigiria o desenvolvimento de uma argumentação muito complexa com a introdução de muito material. Hoje, não existe dúvida de que uma das principais razões para a atual crise comercial e industrial é o caráter autossuficiente de nossa política financeira, ou seja, uma política que não está subordinada a um plano econômico geral. Grandes sucessos isolados na indústria estão interrompidos ou correm o risco de serem interrompidos pela falta de coordenação entre os elementos básicos da economia estatal; e, devido à própria natureza da NEP, toda interrupção no domínio da indústria estatal e do comércio estatal significa o crescimento do capital privado às custas do capital estatal. O que caracteriza principalmente o momento é o fato de que a desproporção cada vez maior entre os preços dos produtos agrícolas e industriais equivale à liquidação da NEP, pois o camponês – a base da NEP – não se importa com o motivo pelo qual não pode comprar: se é porque o comércio está proibido por decreto ou porque duas caixas de fósforos custam o mesmo que um pood [16 quilogramas] de grãos. Não vou começar agora a desenhar um quadro de como a concentração – uma questão de vida ou morte para a indústria – esbarra a cada passo em considerações “políticas” (ou seja, locais) e avança muito mais lentamente do que os preços dos produtos industriais. Porém, acho necessário lidar com um aspecto menor do problema, que, apesar disso, ilustra de forma extremamente clara toda a questão. Ele mostra em que a direção da economia pelo partido está se degenerando, dada a ausência de um plano, sistema e linha partidária correta. No 12º Congresso, foi demonstrado um abuso perturbador da publicidade industrial e comercial por parte de várias organizações do partido.[10] Qual era a essência desse abuso? Algumas organizações partidárias, que supostamente deveriam liderar as organizações econômicas ensinando a elas um nível mais alto de consciência, precisão, economia e um sentimento de responsabilidade, estão, na verdade, corrompendo-as, recorrendo aos meios mais grosseiros e esbanjadores de enganar o governo: ao invés de simplesmente taxar as empresas industriais para o bem das organizações partidárias, o que seria ilegal, mas faria pelo menos sentido, elas recorrem à compra forçada de anúncios ridículos, o que leva a um desperdício de papel, trabalho tipográfico e assim por diante. O que é mais ultrajante em tudo isso é que os gerentes não decidem resistir a essa extorsão e a essa atividade desmoralizante, mas pagam docilmente por meia página ou uma página inteira de publicidade em algum “Guia do Comunista”, de acordo com as ordens exatas do secretário do comitê municipal. Se um dos gerentes fosse corajoso o suficiente para recusar, ou seja, se ele demonstrasse uma compreensão genuína do dever do partido, ele seria imediatamente designado para as fileiras daqueles que não reconhecem “a liderança do partido”, com todas as consequências resultantes. Após o 12º Congresso, as coisas não melhoraram nessa esfera, com exceção, talvez, de alguns lugares individuais. Uma pessoa teria que não entender nada sobre o trabalho econômico adequado e o que significa um sentimento de responsabilidade para ser tolerante com uma “liderança” econômica desse tipo, ou para considerar que tais fenômenos possuem pouca importância.
6. Não existe dúvida de que o 12º Congresso, juntamente com todo o partido, tentou reforçar a influência de liderança e controle do partido nas organizações econômicas, especialmente no sentido de atribuir aos gerentes a responsabilidade genuína pelos métodos e resultados de seu trabalho econômico. Porém, foi exatamente nessa linha (iniciativa, economia, responsabilidade e assim por diante) que os avanços foram mínimos. A insatisfação das massas é causada principalmente pelo desperdício e pela falta de responsabilidade de muitos órgãos econômicos, cujos líderes se subordinam ainda mais voluntariamente à chamada “liderança” do partido (na forma de propagandas sem sentido e outras extorsões), de modo que toda a sua atividade básica permanece como antes, fora de qualquer direção ou controle genuíno.
7. O último pleno do CC criou uma comissão extraordinária para reduzir despesas e baixar preços.[11] Esse fato é um testemunho cruel da incorreção de nosso trabalho econômico. Todos os elementos de precificação foram analisados em tempo hábil e as resoluções do 12º Congresso sobre a redução dos custos de produção e das despesas comerciais foram aprovadas por unanimidade.[12] As organizações que deveriam ter executado essas resoluções são bem conhecidas: o Soviete Supremo de Economia Popular, o Gosplan, o Conselho de Trabalho e Defesa e o Politburo, como o principal órgão político. O que significa a criação de uma comissão extraordinária nessas condições? O fato de que os órgãos permanentes, cuja tarefa direta era produzir com o menor custo possível, não conseguiram produzir os resultados necessários. O que uma comissão extraordinária pode realizar? Atuando lateralmente, ela pode fazer aqui ou ali as coisas andarem, dar um empurrão na direção certa, insistir em certas medidas e, por fim, simplesmente ordenar administrativamente a redução de vários preços. Porém, é absolutamente claro que a redução mecânica de preços por agências governamentais, sob a influência de pressão política, na maioria dos casos só enriquecerá o intermediário e dificilmente terá qualquer efeito sobre o mercado camponês. Fechar a tesoura,[13] ou seja, aproximar-se de uma smychka econômica real e genuína, só pode ser feito organicamente: por meio de uma concentração estritamente planejada, por meio de uma redução orgânica, e não precipitada, dos custos de produção e garantindo a real responsabilidade dos gerentes pelos métodos e resultados de sua atividade econômica. A própria criação de uma comissão para a redução de preços é uma prova eloquente e, ao mesmo tempo, devastadora de como a política que ignora a importância da regulamentação planejada e flexível, sob a influência de suas próprias consequências inevitáveis, está novamente tentando comandar os preços como no comunismo de guerra. Uma coisa leva à outra, minando a economia em vez de a curar.
8. A monstruosa disparidade de preços, somada ao fardo de um único imposto, que é pesado principalmente porque não corresponde às relações econômicas reais, mais uma vez despertou extrema insatisfação entre os camponeses. Isso se reflete no estado de espírito dos trabalhadores, tanto direta quanto indiretamente. Por fim, a mudança de humor dos trabalhadores se espalhou para os escalões inferiores do partido. Os grupos de oposição ganharam vida e força. O seu descontentamento se intensificou. Assim, a smychka: do camponês – passando pelo trabalhador – até o partido – mostrou para nós seu flanco. Quem não previu isso antes, ou quem estava fechando os olhos para isso até os últimos dias, recebeu uma lição bastante direta. As fórmulas de agitação gerais da smychka produzem resultados diretamente opostos se não houver uma resolução do problema central: a racionalização da produção estatal e o fechamento da tesoura. Essa foi a essência do forte confronto dentro do Politburo na véspera do 12º Congresso. A vida deu uma resposta irrefutável a esse argumento. Essa lição cruel, que ainda não começamos a resolver, poderia ter sido evitada pelo menos pela metade, se não por três quartos, se tivesse existido algo próximo de uma contabilidade correta da interação entre os fatores econômicos e uma abordagem planejada dos problemas econômicos básicos.
9. Como uma das tarefas mais importantes do novo Comitê Central, o 12º Congresso indicou a seleção individual cuidadosa dos gerentes, de cima a baixo.[14] Entretanto, a atenção do Orgburo [Gabinete Organizacional] na seleção de funcionários foi direcionada em linhas completamente diferentes. Ao nomear, remover ou realocar membros do partido, o que foi valorizado acima de tudo foi o grau em que eles poderiam ajudar ou se opor à manutenção do regime interno do partido que, secreta e extraoficialmente, mas de forma ainda mais agressiva, está sendo administrado pelo Orgburo e pelo Secretariado do CC. No 12º Congresso partidário, foi dito que o Comitê Central deveria ser composto por pessoas “independentes”.[15] Essa palavra agora não precisa de nenhuma explicação adicional. Após isso, o critério de “independência” começou a ser usado durante a nomeação, pela secretaria geral[16], dos secretários do gubkom [comitê provincial] e, além disso, dos secretários de cima para baixo, até a menor célula do partido. Esse processo de seleção da hierarquia do partido entre os camaradas que são reconhecidos pelo secretariado como independentes no sentido da palavra mencionada acima tem prosseguido com um esforço inédito. Não existe a necessidade de apresentar exemplos separados aqui, quando todo o partido conhece e está falando sobre centenas de casos proeminentes. Vou mencionar apenas a Ucrânia, onde não deixaremos de viver sérias consequências desse trabalho verdadeiramente perturbador nos próximos meses”.[17]
10. Durante os momentos mais duros do comunismo de guerra, a nomeação de cima para baixo no partido não era nem um décimo tão difundida como é agora. A nomeação de secretários do gubkom se tornou hoje a regra. Isso cria o que é essencialmente uma posição para o secretário que é independente da organização local. Se encontrar oposição, crítica ou insatisfação, o secretário pode recorrer a uma transferência, contando com o centro. Em uma das sessões do Politburo, foi observado com satisfação que, quando províncias são fundidas, a única questão que interessa às organizações que estão sendo fundidas é quem será o secretário do gubkom unificado. Nomeado pelo centro e, portanto, quase independente da organização local, o secretário, por sua vez, é uma fonte de outras nomeações e demissões – dentro das fronteiras da província. Esse aparato de secretariado, criado de cima para baixo e cada vez mais autossuficiente, está reunindo todas as rédeas em suas próprias mãos. A participação das massas do partido na formação real da organização do partido está se tornando cada vez mais efêmera. No último ano e meio, foi criada uma psicologia específica de secretariado; sua principal característica é a crença de que o secretário é capaz de decidir toda e qualquer questão, sem estar familiarizado com o cerne do assunto em questão. Vemos com frequência como camaradas, que não demonstraram nenhuma qualidade organizacional, administrativa ou de outra natureza enquanto estiveram à frente de organizações soviéticas, começam a decidir imperiosamente questões econômicas, militares e outras assim que assumem o cargo de secretário. Essa prática é ainda mais prejudicial, pois enfraquece ou destrói qualquer sentimento de responsabilidade.
11. O 10º congresso do partido [em março de 1921] transcorreu sob o signo da democracia operária.[18] Muitos dos discursos proferidos naquela época em defesa da democracia operária me pareceram exagerados e até certo ponto demagógicos, tendo em vista a incompatibilidade entre uma democracia operária plenamente desenvolvida e um regime ditatorial. Porém, estava absolutamente claro que a repressão durante a época do comunismo de guerra teria que dar lugar a uma colegialidade partidária mais ampla e viva. Entretanto, o regime que se desenvolveu fundamentalmente mesmo antes do 12º congresso e que, após o congresso, tornou-se muito mais reforçado e completamente formado, está muito mais distante da democracia operária do que o regime durante os períodos mais duros do comunismo de guerra. A burocratização do aparato partidário atingiu proporções nunca vistas ao aplicar métodos de seleção de secretários. Se durante os momentos mais cruéis da guerra civil discutíamos nas organizações partidárias e até mesmo na imprensa sobre o uso de especialistas, sobre um exército partidário versus um exército regular, sobre disciplina e assim por diante, não existe hoje nem um indício dessa troca aberta de opiniões sobre os problemas que estão realmente preocupando o partido. Foi criada uma camada muito ampla de funcionários do partido que fazem parte do aparato do Estado ou do partido e que simplesmente se recusam a ter qualquer opinião de partido, ou pelo menos opiniões que possam ser declaradas abertamente; parece que eles consideram que a hierarquia da secretaria é o aparato que cria a opinião do partido e toma as decisões do partido. Abaixo dessa camada de pessoas que retêm suas próprias opiniões está a ampla camada das massas do partido, diante das quais cada resolução já se apresenta na forma de um apelo ou de um comando. Nessas fileiras do partido existe uma enorme insatisfação, parte da qual é absolutamente legítima e parte é causada por fatores incidentais. Essa insatisfação não está sendo dissipada por meio de uma troca aberta de opiniões nas conferências do partido ou pela pressão das massas sobre as organizações do partido (a eleição de comitês do partido, secretários, etc.), mas está se acumulando em segredo e, portanto, levando a abscessos internos. Em um momento em que o aparato oficial, ou seja, o secretariado, do partido apresenta uma imagem cada vez maior de uma organização que alcançou uma homogeneidade quase completa, as reflexões e os julgamentos sobre as questões mais agudas e dolorosas simplesmente passam por cima do aparato oficial do partido e criam condições para agrupamentos ilegais dentro do partido.
12. O 12º congresso definiu oficialmente um curso sobre a direção dos Velhos Bolcheviques.[19] É absolutamente óbvio que os quadros dos velhos e clandestinos bolcheviques são o fermento revolucionário do partido e sua espinha dorsal organizacional. Devemos e precisamos, com todas as medidas ideológicas e partidárias normais, ajudar na seleção dos Velhos Bolcheviques que, é claro, possuem as qualificações necessárias para os cargos de liderança do partido. Porém, a maneira como a seleção está sendo feita hoje – o método de nomeação direta de cima para baixo – contém um perigo ainda maior: com esse método, os velhos bolcheviques são divididos no topo em dois grupos, guiados pelo critério de “independência”. O velho bolchevismo como tal é, dessa forma, responsabilizado aos olhos de todo o partido por todas as peculiaridades do atual regime interno do partido e por seus graves erros na construção da economia. Não devemos nos esquecer de que a esmagadora maioria dos membros de nosso partido consiste de jovens revolucionários sem o temperamento da clandestinidade, ou de membros que vieram de outros partidos. Se os acontecimentos continuarem a se desenvolver na mesma direção, o crescente descontentamento com o aparato autossuficiente dos secretários, que se identifica com o velho bolchevismo, pode ter as mais graves consequências para a manutenção da hegemonia ideológica e da liderança organizacional dos antigos bolcheviques em nosso partido, que agora conta com meio milhão de membros.
13. Um sinistro sintoma foi a tentativa do Politburo de criar um orçamento baseado na venda de vodca,[20] ou seja, gerar renda para o Estado operário independentemente dos sucessos da construção da economia. Somente um protesto decisivo dentro do Comitê Central e fora de seus limites pôs fim a essa tentativa, que teria desferido o golpe mais cruel não apenas no trabalho da economia, mas no próprio partido. Entretanto, a ideia da futura legalização da vodca ainda não foi rejeitada pelo Comitê Central. Não há dúvida alguma de que existe uma conexão interna entre o caráter autossuficiente da organização dos secretários, que está cada vez mais independente do partido, e a tendência de criar um orçamento o mais independente possível dos sucessos ou fracassos da construção coletiva do partido. A tentativa de transformar uma atitude negativa em relação à legalização da vodca em um potencial crime contra o partido e de expulsar um camarada do conselho editorial do jornal central por exigir a liberdade de discutir esse plano fatal irá permanecer para sempre como um dos momentos mais indignos da história do partido.
14. O exército foi e continua sendo afetado de forma igualmente grave tanto pela direção não sistemática da economia quanto pelo regime interno do partido caracterizado acima. As decisões tomadas pelo Politburo com relação ao exército possuem sempre um caráter episódico ou ocasional. As questões básicas da formação do exército, de sua preparação para o emprego militar, nunca foram examinadas no Politburo, uma vez que o Politburo, que é sobrecarregado por uma infinidade de questões, nunca possui a chance de investigar uma única questão em detalhes e de forma planejada e sistemática. Os acontecimentos econômicos e internacionais fazem com que o Politburo tome decisões absolutamente opostas em relação ao exército no mais curto espaço de tempo. Para não me aprofundar muito no assunto, vou salientar que, na época do ultimato de Curzon,[21] a questão foi levantada duas vezes no Politburo para aumentar o tamanho do exército em cem ou duzentos mil; foi necessário um grande esforço para recusar essa proposta. Em julho, quando eu estava de férias, o pleno do Comitê Central instruiu o Conselho Militar Revolucionário [Revvoensoviet] a elaborar um plano para reduzir o exército em cinquenta ou cem mil soldados. Essa tarefa foi febrilmente trabalhada pelo Estado-Maior em julho e agosto. No final de agosto, ela foi cancelada devido aos acontecimentos na Alemanha[22] e substituída por uma diretriz para elaborar um plano de fortalecimento do exército. Cada diretriz desse tipo, que exige um planejamento complexo e difícil, provoca uma série de correspondentes propostas, diretrizes e perguntas desde o centro até os distritos mais distantes. Nesses últimos, cria-se a impressão de que o Revvoensoviet não possui nenhuma ideia orientadora em seu trabalho. Um dos membros do comitê central que, ao que parece, deveria saber a origem do ímpeto para essas decisões, achou possível formular essa conclusão sobre a natureza contraditória das diretrizes da Revvoensoviet, em forma impressa em um jornal militar do distrito militar ucraniano.
Quanto à seleção do partido realizada sob a égide das instituições oficiais do partido, ela não é um golpe menos grave para a coesão moral do exército. O mesmo exato tipo de trabalho sistemático que foi realizado de cima para baixo contra, digamos, o antigo Sovnarkom ucraniano, foi realizado e está sendo realizado contra o Revvoensoviet da República. O ritmo do trabalho nesse último caso é um pouco mais lento e suas formas são um pouco mais cautelosas e disfarçadas. Porém, em essência, tanto neste caso quanto no outro, o que pode ser visto é predominantemente a nomeação de pessoas que estão prontas para ajudar no isolamento dos órgãos dirigentes do exército. A falsidade é introduzida de cima para baixo nas relações internas do aparato militar. Geralmente de forma indireta, mas às vezes de forma bastante aberta, o Revvoensoviet se contrapõe ao partido, embora dificilmente exista uma instituição soviética que cumpra tão rigorosamente a letra e o espírito não apenas das diretrizes do partido, decididas em seus congressos, mas também de todas as resoluções do Politburo; o Revvoensoviet não permite, dentro de suas paredes, nem a condenação nem mesmo a discussão dessas decisões, embora, como foi dito acima, elas nem sempre se diferenciem por sua conveniência ou coordenação. A medida mais simples seria substituir o Revvoensoviet. Entretanto, embora não tenha decidido, por enquanto, dar esse passo, o Orgburo está desenvolvendo sua política organizacional na área militar, o que força todo o pessoal sério do exército a se perguntar ansiosamente: onde esse trabalho irá terminar e a que ele levará?
15. Garantir a capacidade de combate do exército depende hoje nove décimos não do Departamento de Guerra, mas do setor industrial. É evidente que a natureza geralmente não sistemática da economia possui seu efeito total e completamente na indústria que abastece o exército. A mudança das pessoas na liderança, que também foi conduzida de acordo com o critério de “independência”, foi concluída com tal velocidade que, no período extremamente decisivo de hoje, a produção militar, onde o trabalho deveria ter sido conduzido com dez vezes mais energia, permaneceu sem liderança real por quase três meses.
Ao invés de concentrar sua atenção na indústria como um todo, e na indústria militar em particular, foi feita no último pleno uma tentativa de adicionar um grupo de membros do comitê central liderado pelo camarada Stalin ao Revvoensoviet.[23] Além do significado intrapartidário dessa medida, que não precisa de explicação, o próprio anúncio de um novo Revvoensoviet não poderia deixar de ser entendido por nossos vizinhos como a transição para uma nova política de agressão. Somente o meu protesto, expresso da forma mais decisiva, impediu que o pleno executasse imediatamente a medida determinada. O pleno deixou de lado a criação de uma nova Revvoensoviet “até a mobilização”. À primeira vista, parece inexplicável por que deveríamos realizar tal proposta com antecedência, distribuindo-a em dezenas de cópias, quando é absolutamente desconhecido quando e sob que circunstâncias uma mobilização será necessária, se é que será necessária, e quem, em particular, o partido pode designar para o trabalho militar naquele momento. Porém, na verdade, essa diretriz, que à primeira vista parece tão pouco clara, é uma daquelas etapas preparatórias indiretas para atingir a meta mencionada anteriormente. Elas são típicas da prática da maioria no Politburo e no Orgburo. Além disso, o pleno decidiu adicionar imediatamente ao Revvoensoviet um ou dois membros do Comitê Central “com capacidade especial para monitorar a indústria militar”, que não está de forma alguma subordinada ao Revvoensoviet e que permaneceu por quase três meses sem um líder. Com base nisso, o Politburo adicionou os camaradas Lashevich e Voroshilov[24] ao Revvoensoviet; o camarada Voroshilov, por sua vez, nomeado “com capacidade especial para monitorar a indústria militar”, permanece em Rostov. Em essência, essa medida também é preparatória, conforme mencionado acima. Não é por acaso que, em resposta à minha crítica de que os motivos reais para as mudanças na Revvoensoviet não possuem nada em comum com os motivos oficialmente declarados, o camarada Kuibyshev[25] não apenas não negou a contradição – e como poderia negá-la? – mas me disse abertamente: “Achamos que é necessário lutar contra você, mas não podemos te declarar um inimigo; é por isso que somos forçados a recorrer a esses métodos”.
16. A atual crise que cresce rapidamente no partido não pode ser superada com medidas repressivas, independentemente do quanto elas sejam corretas ou incorretas em cada caso específico. As dificuldades objetivas de desenvolvimento são muito grandes. Entretanto, elas não são reduzidas, mas ampliadas pelo regime fundamentalmente incorreto do partido; pelo desvio da atenção das tarefas criativas para os agrupamentos intrapartidários; pela seleção artificial de funcionários, muitas vezes desconsiderando sua posição no partido e na União Soviética; pela substituição da liderança competente e de autoridade por comandos formais, contando exclusivamente com a obediência passiva de todos. Minando o desenvolvimento econômico, esse regime interno do partido foi e é a razão imediata da crescente insatisfação de alguns, da apatia e da passividade de outros, e do potencial afastamento do trabalho de outros ainda. Talvez o partido pudesse conviver temporariamente com o atual regime opressivo interno, se ele garantisse o sucesso econômico, mas esse não é o caso. É por isso que esse regime não pode durar por muito tempo. Ele precisa ser mudado.
17. Se a natureza não sistemática da política econômica e o burocratismo dos secretários da política partidária causaram alarme mesmo antes do 12º Congresso, por outro lado, provavelmente ninguém esperava que essa política revelasse tão rapidamente sua falência. O partido está entrando no que pode ser a época mais crucial de sua história, carregando o pesado fardo dos erros cometidos por nossos órgãos dirigentes. A atividade do partido foi sufocada. Com grande alarme, o partido está observando as contradições uivantes de nosso trabalho econômico com todas as suas consequências. Talvez com um alarme ainda maior, o partido esteja observando a divisão que é artificialmente introduzida de cima para baixo à custa de tornar impotentes os principais órgãos partidários e soviéticos. O partido sabe que os motivos oficiais para nomeações, demissões, substituições e transferências nem sempre coincidem com os verdadeiros motivos ou com os interesses da causa. Como resultado, o partido se desestruturou. No sexto aniversário da Revolução de Outubro e às vésperas da revolução na Alemanha, o Politburo é forçado a discutir o rascunho de uma proposta que afirma que todo membro do partido é obrigado a informar as organizações do partido e a GPU sobre agrupamentos ilegais dentro do partido.
É absolutamente claro que tal regime e tal estado geral dentro do partido são incompatíveis com as tarefas que podem surgir e, de acordo com todas as evidências, irão surgir diante do partido devido ao próprio fato da revolução alemã. É preciso pôr um fim ao burocratismo da secretaria. A democracia partidária, pelo menos dentro dos limites necessários para evitar que o partido seja ameaçado de estagnação e degeneração, deve ter plenos direitos. As fileiras do partido devem, dentro dos limites dos princípios do partido, explicar com o que estão insatisfeitas; elas devem receber a real oportunidade, de acordo com os regulamentos do partido e, principalmente, com todo o espírito do nosso partido, de criar seu aparato organizacional. O reagrupamento das forças do partido deve acontecer, dependendo das demandas reais de nosso trabalho, principalmente na indústria e, em particular, na produção militar. Sem a verdadeira execução das decisões do 12º Congresso com relação à indústria, é impossível garantir qualquer coisa que se aproxime de um nível estável de salários dos trabalhadores e o aumento sistemático desse nível. O caminho menos doloroso e mais curto para sair dessa situação seria se o atual grupo dirigente reconhecesse todas as consequências do regime que apoia artificialmente e demonstrasse que está sinceramente pronto para ajudar a redirecionar a vida do partido em uma direção mais saudável. Nesse caso, os métodos e as formas organizacionais para mudar o curso poderiam ser encontrados sem nenhuma dificuldade. O partido respiraria mais livremente. É exatamente esse caminho que proponho ao Comitê Central.
18. Os membros do Comitê Central e da Comissão Central de Controle sabem que, embora eu tenha lutado da forma mais decisiva e precisa possível dentro do Comitê Central contra as políticas incorretas, especialmente no que diz respeito à economia e ao regime interno do partido, eu me abstive decididamente de apresentar a luta dentro do CC para que fosse julgada mesmo por um círculo muito restrito de camaradas e, particularmente, por aqueles que, no caso de um curso minimamente próximo do correto dentro do partido, terão que ocupar cargos proeminentes dentro do Comitê Central ou da Comissão Central de Controle. Devo declarar que meus esforços no último ano e meio[26] nesse sentido não produziram nenhum resultado. Existe o perigo do partido ser pego de surpresa por uma crise de extrema gravidade e, nesse caso, o partido teria o direito de acusar de colocar a forma acima do conteúdo todos que viram o perigo, mas não o chamaram abertamente pelo nome.
Em vista da situação que foi criada, considero não apenas meu direito, mas meu dever, de dizer o que está acontecendo para cada membro do partido, que considero estarem suficientemente preparados, maduros, com autocontrole e, consequentemente, capazes de ajudar o partido a sair do impasse sem choques e convulsões fracionárias.
L. Trotsky
8 de outubro de 1923.
[Rossiiskii gosudarstvennyi arkhiv sotsial’no-politicheskoi istorii (RGASPI), fond 17, opis’ 2, delo 685, listy 53-68; cópia datilografada]
A carta de L.D. Trotsky foi escrita em condições de: 1) agravamento da crise econômica em nosso país, que ameaçava romper a “smychka” [aliança] entre os trabalhadores e os camponeses; 2) crescente burocratização do aparato partidário; e 3) notável atividade da chamada “troika” no governo (G.E. Zinoviev, L.B. Kamenev e I.V. Stalin), que visava desacreditar e isolar politicamente L.D. Trotsky. O pretexto para escrever a carta foi a decisão do pleno de setembro (1923) do CC de alterar a composição do Conselho Militar Revolucionário da República (Revvoensoviet) e introduzir nele seis membros do Comitê Central do partido. A carta nunca foi publicada na íntegra antes de sua publicação em maio de 1990 no Izvestiia TsK KPSS. Vários trechos dela apareceram pela primeira vez na revista Sotsialisticheskii vestnik [Arauto Socialista] (Berlim) nº 11(81) de 24 de maio de 1924, pp.9-10, e na imprensa soviética, na revista Molodoi kommunist [Jovem Comunista], 1989, nº 8, p.49.
Isso se refere à comissão composta por F. E. Dzerzhinsky, G. E. Zinoviev, V. M. Molotov, A. I. Rykov, I. V. Stalin e M.P. Tomsky, formada para analisar a situação econômica e interna do partido, segundo uma resolução do Politburo do CC em 18 de setembro de 1923. Trotsky foi nomeado membro da comissão no início de novembro, mas foi forçado a se retirar dela em 14 de novembro, pois não pôde comparecer a nenhuma de suas sessões devido à saúde debilitada e à sobrecarga de trabalho em outras comissões. Em sua carta explicando sua saída da comissão, ele observou que a comissão era realizada frequentemente com pouco tempo de aviso, o que tornava “fisicamente impossível” sua participação. A exigência de participação ativa nas sessões já havia se tornado uma obrigação para seus membros pelo OP. Rossiiskii Gosudarstvennyi Arkhiv Sotsial'no-politicheskoi istorii (RGASPI), f. 17, op. 171, obra 33, lista 142.
Isso se refere ao “Verdade Operária” e ao “Grupo de Trabalhadores do RCP”. O “Verdade Operária” (Grupo Central “Verdade Operária”) era um grupo ilegal do PCR(b) formado na primavera de 1921. Os seus participantes achavam que, com a transição para a NEP, o PCR(b) “estava perdendo de forma ainda mais irreversível seus laços e contato com o proletariado”. A “Verdade Operária” adotou o objetivo de “introduzir clareza de classe nas fileiras da classe trabalhadora”. Em algumas de suas publicações ilegais, estabeleceu a tarefa de formar um novo partido de trabalhadores. O “Grupo de Trabalhadores do RCP” foi formado na primavera e no verão de 1923 por G. Myasnikov e N. Kuznetsov, membros da antiga “oposição dos trabalhadores” que haviam sido expulsos do partido. Juntaram-se a eles vários antigos bolcheviques que não se subordinaram às decisões dos X e XI Congressos do PCR(b) com relação à inadmissibilidade de agrupamentos dentro do partido. O “Grupo de Trabalhadores do RCP” considerava que era necessário formar Soviets (Conselhos) de deputados dos trabalhadores em todas as fábricas e usinas; escolher os diretores de fundos em congressos de soviets; e seguir o princípio da “democracia proletária” na direção da indústria; tornar os sindicatos órgãos de controle; eliminar o Conselho de Comissários do Povo; e “remover o grupo dirigente do partido”, que “havia se separado decisivamente da classe trabalhadora”. O pleno de setembro (1923) do CC do PCR(b) declarou que a “Verdade Operária” e o “Grupo de Trabalhadores do PCR” estavam realizando “trabalho anticomunista e antissoviético” e declarou que a participação neles era incompatível com a filiação ao PCR(b). Por resolução da Comissão Central de Controle, em dezembro de 1923, os participantes ativos desses grupos foram expulsos do partido.
O 12º congresso do RCP(b) se reuniu em Moscou entre 17 e 25 de abril de 1923. Quando se refere aos “'métodos e meios” com os quais o congresso foi convocado, L.D. Trotsky tem em mente o fato de que, às vésperas do congresso, em muitas conferências provinciais do partido, os delegados ao congresso foram eleitos sem candidatos suplentes, por recomendação dos secretários dos comitês provinciais, que, por sua vez, desde o verão de 1922, haviam sido escolhidos por recomendação do Comitê Central, ou seja, foram de fato nomeados pelo Secretariado, que era chefiado por Joseph Stalin.
Uma parte das teses de L.D. Trotsky foi impressa na edição Stenograficheskii otchet 12-ogo s'ezda RKP/b v Moskve, [Registro estenográfico do 12º congresso do RCP(b) em Moscou] Moscou 1968, pp. 810-815.
Uma parte dessa correspondência: Ibid., pp. 816-820.
Cf. Ibid., p. 675-688.
Trotsky está se referindo ao trabalho de V. I. Lenin “Sobre a atribuição de funções legislativas ao Gosplan” (cf. Lenin, V.I. Complete Collected Works, vol. 45, pp. 349-353) publicado pela primeira vez na URSS em 1956.
Alexei I. Rykov (1881-1938), membro do partido a partir de 1898, em 1923 membro do Politburo do CC, representante do Soviete Supremo da Economia do Povo, vice-representante do Soviete dos Comissários do Povo e do Soviete do Trabalho e da Defesa. Em 1917 e depois, ele foi um dos mais proeminentes representantes da direita na liderança bolchevique. Yuri (Grigorii) L. Pyatakov (1890-1937) membro do partido a partir de 1910, em 1923 vice-representante do Gosplan e Soviete Supremo da Economia do Povo. Ele se tornou um dos líderes da Oposição de Esquerda.
Stenograficheskii otchet 12-ogo s’ezda RKP/b v Moskve, pp. 327-328.
Trotsky está se referindo ao pleno de setembro (1923) do Comitê Central do RCP(b).
Stenograficheskii otchet 12-ogo s’ezda RKP/b v Moskve, pp. 680-681.
A “tesoura de preços” era o afastamento crescente entre os preços de bens industriais e agrícolas. No início de outubro de 1923, o índice de preços do varejo comparado aos preços de 1913 estava em 187% e 58%, respectivamente [em que os preços de 1913 eram 100%] (“Ekonomicheskaia zhizn”, 11 de outubro de 1923).
Stenograficheskii otchet 12-ogo s’ezda RKP/b v Moskve, p. 673.
Cf. Ibid., pp 68, 200-201; ver também nota 4.
Trotsky se refere ao Secretariado do Comitê Central que era chefiado por Joseph Stalin.
Trotsky se refere à remoção do representate do Sovnarkom [Conselho dos Comissários do Povo] na Ucrânia, C.G. Rakovsky – um de seus colaboradores mais próximos e futuro líder da Oposição de Esquerda – e a substituição de muitos funcionários soviéticos após junho (1923) Pleno do Comitê Central do Partido Comunista Ucraniano.
O 10º congresso do RCP(b) ocorreu em Moscou entre 8-16 de março de 1921. Nele, entre outras coisas, uma resolução foi adotada “Sobre a questão da construção do partido”, que falou da necessidade da democratização da vida intrapartidária (cf. Stenograficheskii otchet desiatogo s’ezda RKP(b) [Registro estenográfico do décimo congresso do RCP(b)]) Moscou 1963, pp 559-571).
Stenograficheskii otchet 12-ogo s’ezda RKP/b v Moskve, pp. 705-706.
No Pleno do Comitê Central do RCP(b) realizando em 26-27 de junho de 1923, ocorreu a discussão sobre introduzir monopólio estatal sobre a venda de vodka. Trotsky protestou veementemente essas medidas nas suas cartas do período, e particularmente em uma carta ao Comitê Central e à Comissão Central de Controle do RCP(b) em 29 de junho.
O memorando do ministro das Relações Exteriores britânico, G. Curzon em 8 de maio de 1923 se provou uma tentativa mal-sucedida de colocar pressão sobre o governo soviético. O episódio provocou uma curta deterioração das relações soviéticas-britânica, exauriu-se dentro de semanas e ajudou a fortalecer a posição internacional da URSS.
Isso se refere aos acontecimentos revolucionários na Alemanha, que começaram a se desenvolver no terceiro trimestre de 2023. Ver também: Peter Schwarz, O Outubro Alemão: A revolução perdida de 1923. https://www.wsws.org/pt/articles/2008/12/08/alem-d08.html.
Isso se refere a uma resolução da Pleno de setembro do Comitê Central introduzindo vários membros do Comitê Central no Revvoensoviet da República, e criar sob o representante do RVS um órgão executivo, cujos membros incluiriam sob a proposta S.S. Kamenev, G.L. Pyatakov, E.M. Sklyansky, M.M. Lashevich, I.V. Stalin e outros (Cf. RGASPI, f. 17, op. 2, delo 103, listy 2-3; f. 17, op. 3, delo 384, list 3).
Mikhail M. Lashevich (1884-1928) – membro do partido desde 1901. De 1922-1925 foi representante do Comitê Revolucionário Siberiano e, a partir de novembro de 1925, membro do Revvoensoviet da URSS. Em 1918-19 e em 1923-25, foi membro do Comitê Central do partido. Kliment E. Voroshilov (1881-1969) foi membro do partido desde 1903. De 1921 a 1924, foi membro do Gabinete Sudeste do Comitê Central do RCP(b), comandando as tropas do Distrito Militar do Cáucaso do Norte. A partir de 1924 – comandante das tropas do Distrito Militar de Moscou, membro do Revvoensoviet da URSS. Membro do Comitê Central a partir de 1921. Voroshilov foi um dos aliados mais próximos de Stalin desde a guerra civil.
Valerian V. Kuibyshev (1888-1935), membro do partido desde 1904. Em 1922-23, foi secretário do Comitê Central do RCP(b). A partir de 1923, foi presidente da Comissão Central de Controle e Comissário do Povo da Inspetoria de Trabalhadores e Camponeses.
Trotsky se refere ao período que começou no segundo trimestre de 1922, quando Stalin assumiu a posição de Secretário Geral do Comitê Central do RCP(b).