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Em reunião na Casa Branca, Lula e Biden promovem “aliança democrática” fraudulenta

Publicado originalmente em 10 de fevereiro de 2023

Na sexta-feira, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), reuniu-se com o presidente americano Joe Biden, do Partido Democrata, na Casa Branca, durante a primeira viagem diplomática do novo governo aos Estados Unidos.

Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente americano Joe Biden na Casa Branca na sexta-feira [Foto: Ricardo Stuckert/PR] [Photo: Ricardo Stuckert/PR ]

A visita foi promovida como um sinal de fortalecimento das relações entre Brasil e Estados Unidos. Ambos os presidentes se apresentaram como estando engajados no enfrentamento a tentativas de subversão da ordem institucional por oponentes de extrema-direita – no caso de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e de Biden, Donald Trump – e na defesa de uma agenda global ambientalista e democrática.

Dando início à porção do encontro aberta à imprensa, Biden afirmou que as instituições democráticas de ambos os países foram “muito testadas” e “colocadas em jogo”. Mas, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, “a democracia venceu”, ele declarou.

Afirmando ter um acordo político fundamental com o líder brasileiro, Biden tirou a conclusão: “Acredito que devemos continuar a defender a democracia e os valores democráticos que formam o núcleo de nossa força. Não apenas em nosso hemisfério, mas em todo o mundo”.

Lula, por sua vez, afirmou enxergar esse encontro como uma forma de “reposicionar o Brasil na nova geopolítica mundial, porque o Brasil se isolou por quatro anos”. Além disso, saudou Biden por ter reconhecido as eleições brasileiras e por sua “postura em defesa da democracia”.

O líder do PT definiu os seguintes compromissos que busca desenvolver em parceria com os EUA: Primeiro, “nunca mais permitir que haja um novo capítulo da invasão do Capitólio”, como em 6 de janeiro de 2021 em Washington, e “o que aconteceu no Brasil com a invasão” das sedes de governo em 8 de janeiro de 2023. Depois, combater a desigualdade, o racismo e a mudança climática.

A busca de Lula por um “reposicionamento geopolítico” do Brasil através da relação com os Estados Unidos, assim como sua promoção de Biden como um defensor da democracia, da igualdade e do meio ambiente, atesta a total falência dele e de seu Partido dos Trabalhadores como forças políticas de “esquerda”.

O presidente brasileiro curvou-se a Washington, lançando uma nota conjunta condenando a Rússia pela “violação da integridade territorial” da Ucrânia. Enquanto apresenta planos patéticos de formar um “clube da paz” entre os líderes globais, na prática Lula está engajado em encobrir o caráter criminoso dos principais promotores da nova guerra mundial: o imperialismo americano e seu chefe em exercício.

É notável que a Casa Branca não tenha seguido seu protocolo habitual de apresentar os dois chefes de Estado em uma coletiva de imprensa conjunta após a reunião na Sala Oval. Muito provavelmente, o governo dos EUA não quis arriscar a externalização de quaisquer diferenças sobre a guerra na Ucrânia em condições em que Washington prepara-se para intensificar sua intervenção direta contra a Rússia pelas costas do povo americano.

Vergonhosamente acobertando o papel histórico criminoso cumprido pelo imperialismo americano no Brasil e na América Latina, Lula declarou que “os Estados Unidos representam muito na relação histórica, política, econômica e comercial com o Brasil”. O fato de Biden enxergar o Brasil e a América Latina como um território crítico para o confronto crescente dos EUA contra Rússia e China também é cumplicemente ignorado por Lula.

Esses esforços “bilaterais” tiveram o apoio crucial das organizações da pseudoesquerda de ambos os países. Auxiliar o PT no Brasil e os democratas nos EUA a apresentarem suas políticas contrarrevolucionárias como uma “agenda progressista” é o papel essencial cumprido por essas forças reacionárias da classe média alta.

Entre os poucos representantes enviados pelo governo do PT à sua missão diplomática nos EUA estava a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Marielle Franco.

Apresentando seus propósitos políticos na viagem, Franco declarou: “[Minha] presença denota e traz centralidade da pauta racial neste governo e os esforços que vamos fazer para combater o racismo no Brasil”. Atestando o objetivo do governo petista de replicar o uso sistemático das políticas identitárias pelo Partido Democrata para suprimir a luta de classes, a ministra afirmou: “O que os EUA podem dar como referência são as políticas de reparação e valorização da memória e história afro-americana”.

Com os mesmos objetivos, a agenda diplomática de Lula incluiu encontros com representantes da ala pseudoesquerdista do Partido Democrata e da burocracia sindical americana da AFL-CIO. Visitaram o presidente brasileiro o senador Bernie Sanders e deputados como Alexandria Ocasio-Cortez, ligados ao Democratic Socialists of America (Socialistas Democráticos da América - DSA).

Enquanto servem à Lula para dar um verniz de “esquerda” à sua missão diplomática, essas forças políticas estão engajadas no seu próprio país em apoiar ao envio de armas à guerra na Ucrânia e aos ataques brutais do governo Biden à classe trabalhadora americana, como a supressão do direito de greve dos trabalhadores ferroviários.

A alegação de que as relações espúrias sendo cultivadas pelo governo Lula com o imperialismo americano seriam um “mal necessário” diante das ameaças ditatoriais no Brasil é mais uma mentira. A teoria de que um apoio do imperialismo americano e europeu impediria uma investida golpista de Bolsonaro foi amplamente promovida pelo PT e a pseudoesquerda durante as eleições brasileiras.

Contudo, o apoio declarado do governo Biden não impediu que os meses seguintes à eleição presenciassem uma escalada ainda mais violenta dos ataques golpistas no Brasil. O ataque fascista de 8 janeiro às sedes do governo em Brasília expôs o quanto as conspirações autoritárias estão aprofundadas no Estado brasileiro, e elas continuam em marcha.

Enquanto isso, o próprio Bolsonaro segue operando livremente nos Estados Unidos, sob a anuência de Biden, trabalhando para consolidar um movimento fascistoide no Brasil. Em um dos comícios de extrema-direita que realizou nas últimas semanas em Orlando, Bolsonaro reafirmou que as eleições brasileiras foram fraudadas e declarou que o governo do PT “não durará muito”.

Apesar do esforço conjunto de Biden e Lula para apresentar sua aliança como uma força poderosa em defesa da democracia, o fato é que as raízes sociais e políticas das erupções fascistas, tanto em 6 de janeiro de 2021 nos EUA, quanto em 8 de janeiro de 2023 no Brasil, permanecem vivas e crescendo.

O World Socialist Web Site escreveu em sua declaração de 6 de janeiro de 2023, “Dois anos depois, o golpe de 6 de janeiro continua”:

Dois anos depois, nenhuma das condições sociais e políticas que produziram o golpe desapareceu. As instituições existentes da classe dominante estão desmoronando sob o impacto da extrema desigualdade social, as consequências da pandemia de COVID-19 em curso, uma profunda crise econômica e financeira, e uma guerra sem fim que agora evoluiu para um conflito global.

As ameaças à democracia não podem ser respondidas nem pelos democratas nos EUA, nem pelo PT no Brasil. Como a WSWS apontou, ela requer a mobilização da classe trabalhadora, unificada entre os EUA, Brasil e mundialmente, com base na oposição ao sistema capitalista que é a raiz da desigualdade social e da ditadura.

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