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Declaração dos Estudantes Internacionais pela Igualdade Social aos alunos da Universidade de São Paulo

A declaração a seguir foi publicada pelos Estudantes Internacionais pela Igualdade Social aos alunos da Universidade de São Paulo (USP), a maior universidade do Brasil, que estão em greve junto com professores e funcionários desde 3 de maio. A greve, que foi acompanhada por uma ocupação do edifício da administração da universidade, foi iniciada em resposta a uma série de decretos do governador de direita do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB), que revogou a autonomia universitária, particularmente em matéria orçamental, abrindo assim o caminho para a privatização do ensino superior e subordinando a aprendizagem diretamente às exigências das grandes empresas. Serra ameaçou repetidamente pôr fim à ocupação, enviando o Batalhão de Choque da Polícia Militar. A greve na USP propagou-se a outras universidades do Estado.

Os Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (International Students for Social Equality - ISSE) envia sua fraterna saudação revolucionária e expressa toda a solidariedade e apoio aos alunos, trabalhadores e professores da Universidade de São Paulo (USP), que entram agora no segundo mês de luta contra os reacionários e autoritários decretos do governador José Serra, apoiado pelo governo Lula e pelo capital internacional.

A greve e a ocupação na USP, que desencadearam movimentos similares em outras universidades de São Paulo e de todo o Brasil, fazem parte de uma luta internacional. Inúmeros governos têm proposto contrarreformas para subordinar a educação superior aos interesses das empresas transnacionais e dos bancos, que visam apenas o lucro, e transformar as faculdades e universidades em propriedade privada de uma pequena elite.

A educação, um direito democrático básico, está sendo atacada em todo o mundo. Ela pode ser defendida somente através de uma orientação e um programa políticos fundamentalmente novos, que enfrentem os fundamentos da atual ordem social, que subordina todos os aspectos da vida — incluindo a educação — aos ditames do mercado capitalista.

A presente crise com a qual se defrontam os trabalhadores, estudantes e toda a juventude do Brasil e de todo o mundo é o resultado direto de décadas de traições realizadas por lideranças reformistas-nacionalistas no movimento dos trabalhadores de todos os países. Essas lideranças incluem os partidos comunistas e socialistas, além dos burocratas dos sindicatos e todos os seus aliados políticos que dirigem diversos movimentos sociais, muitos dos quais apresentavam inicialmente a perspectiva de pressionar os governos existentes a mudar as suas políticas ou a girar à esquerda.

De movimentos que pressionavam seus respectivos governos por limitadas reformas, esses partidos e organizações têm se transformado em agentes que implementam contrarreformas exigidas pelo capital internacional ou em organizações condenadas à irrelevância política.

No Brasil, a trajetória política do Partido dos Trabalhadores (PT) está entre os maiores exemplos dessa tendência política que tem se generalizado mundialmente, onde o presidente Lula implementa sucessivos cortes nos gastos sociais, seguindo as exigências do Fundo Monetário Internacional e a aprofundando o grande abismo entre ricos e pobres a um nível sem precedentes historicamente.

É uma ironia da história – embora seja algo que deve servir como lição — que José Serra, que lidera o ataque às universidades, tenha iniciado a sua carreira política como um militante do movimento estudantil, sendo o presidente da União Nacional dos Estudantes antes de ser forçado pela ditadura militar a se exilar.

A atual greve na USP é a prova da profunda oposição dos estudantes, assim como de amplos setores dos trabalhadores brasileiros, às políticas de direita tanto do governo estadual de José Serra (PSDB), quanto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas os ataques generalizados aos direitos sociais e democráticos básicos, causados pela crise do sistema capitalista, não serão superados somente por meio de manifestações estudantis, independentemente da militância e determinação dos estudantes. Apelos e ameaças à elite dominantes não são capazes de reverter a histórica ofensiva do grande capital contra a educação, o emprego, os salários e os direitos democráticos básicos dos trabalhadores. No máximo, tais manifestações poderão forçar o governo a recuar temporariamente, como, por exemplo, forçar Serra a anular os decretos que atacam a autonomia universitária, enquanto ele prepara outros ataques à classe trabalhadora.

É impossível manter os fundamentos de uma sociedade democrática, incluindo a educação pública, diante do absurdo nível de desigualdade social existente no Brasil e em todo o mundo uma vez que todas as forças produtivas da sociedade estão subordinadas ao aumento do lucro e da obscena riqueza do 1% mais rico da população.

Os Estudantes Internacionais pela Igualdade Social foram criados recentemente para conduzir uma luta política numa perspectiva socialista e internacionalista entre os estudantes de todo o mundo, que se traduz numa luta contra a violência militar, a desigualdade social e os ataques aos direitos democráticos.

Apesar dos Estudantes Internacionais pela Igualdade Social serem uma organização estudantil, o seu objetivo não é somente construir um movimento de estudantes. Ela luta para que os estudantes se dirijam à classe trabalhadora como um todo – a vasta maioria da população mundial e a única força social cujos interesses se opõem de maneira irreconciliável ao sistema de lucro e ao imperialismo – na luta pelo renascimento de um movimento socialista internacional.

Como o nosso nome expressa, somos uma organização internacional porque, dadas as condições de organização mundial do capitalismo, nenhum dos problemas fundamentais enfrentados pelos estudantes e trabalhadores pode ser resolvido em nível nacional, seja no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia ou em qualquer outro lugar. As lutas dos trabalhadores em cada país devem ser coordenadas e unificadas através das fronteiras nacionais.

A construção de tal movimento requer a compreensão das lições históricas da luta da classe trabalhadora, incluindo as traições às lutas revolucionárias realizadas pelo stalinismo, pela socialdemocracia, pelas burocracias sindicais corruptas e pelos nacionalistas burgueses demagogos.

Os Estudantes Internacionais pela Igualdade Social se inspiram politicamente nas grandes tradições políticas e intelectuais libertárias associadas às figuras de Marx, Lênin, Rosa Luxemburgo e Trotsky, que são continuadas e desenvolvidas atualmente pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional.

Nós fazemos um chamado aos estudantes brasileiros a participarem dessa luta internacional, a lerem o World Socialist Web Site e construírem os Estudantes Internacionais pela Igualdade Social.

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