Publicado originalmente em 11 de abril de 2022
O primeiro turno das eleições presidenciais francesas de domingo levou ao segundo turno entre o atual presidente, Emmanuel Macron, e a candidata neofascista, Marine Le Pen.
Assim como nas eleições de 2002 e 2017, o establishment político falido da França ofereceu aos eleitores a “escolha” entre o reacionário “presidente dos ricos” e a líder do principal partido neofascista da França. Independentemente de seu resultado, as eleições irão produzir um governo de extrema direita dedicado a uma escalada dos ataques contra a classe trabalhadora.
O Parti de l'égalité socialiste (PES), a seção francesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), chama por um boicote ativo ao segundo turno. O PES propõe aos trabalhadores e aos jovens que não votem nas eleições e que defendam uma rejeição política consciente da escolha envenenada entre Macron e Le Pen. Fazer campanha entre os trabalhadores e os jovens pelo boicote é uma ação coletiva para preparar a classe trabalhadora para o confronto que irá inevitavelmente ocorrer, seja qual for o candidato vencedor.
Nas eleições de 2022, uma série de partidos que dominaram a política oficial durante meio século entrou em colapso. O partido gaulista Republicanos (LR), o Partido Socialista (PS) das grandes empresas e o stalinista Partido Comunista Francês (PCF) receberam todos menos de 5% dos votos. Le Pen obteve seus votos explorando a profunda revolta e frustração social, sobretudo com o PS e o PCF. O seu voto está concentrado entre os eleitores mais velhos e em pequenas cidades e áreas rurais que já foram bastiões do PS ou do PCF, mas que foram devastadas pelas medidas de austeridade desses partidos.
Milhões de pessoas, procurando uma alternativa de esquerda a Macron e a Le Pen, votaram em Jean-Luc Mélenchon do França Insubmissa (LFI). O seu voto refletiu uma radicalização da juventude e dos trabalhadores nas regiões urbanas que está ocorrendo após dois anos da pandemia de COVID-19 e em meio ao esforço de guerra da OTAN contra a Rússia. Mélenchon ganhou o voto entre pessoas com menos de 35 anos. Ele venceu na área metropolitana de Paris, Marselha, Toulouse, Lille, Montpellier além de 10 das 16 maiores cidades francesas, principalmente ao vencer em bairros de classe trabalhadora.
Mélenchon ganhou 22% dos votos, apenas 1% a menos que Le Pen. Porém, Mélenchon não viu isso como um mandato para lutar, mas exigiu que seus eleitores apoiassem Macron e anunciou que se aposentaria da política antes das próximas eleições. Na noite de domingo, ao mesmo tempo em que admitiu que a França enfrenta “um estado de emergência político”, ele chamou pelo voto em Macron, declarando repetidamente: “Vocês não devem dar nenhum voto à Sra. Le Pen!”.
O Parti de l'égalité socialiste (PES) rejeita com desprezo a mentira de que votar em Macron é uma arma contra o perigo do fascismo ou que os eleitores de Mélenchon devem votar em Macron para fazerem oposição a Le Pen. Tais argumentos desconsideram totalmente as lições das eleições de 2017.
Em 2017, enfrentando a mesma situação de uma disputa entre Macron e Le Pen, Mélenchon não fez nenhum chamado pela votação, dizendo ambiguamente que seus eleitores saberiam o que fazer ‒ alinhando-se com a propaganda da mídia de que os trabalhadores tinham que votar em Macron como um mal menor que Le Pen. O PES, por outro lado, chamou um boicote ativo, advertindo que Macron não é um mal menor do que Le Pen. A sua posição foi confirmada.
Macron seguiu uma política violentamente reacionária. Ele impôs decretos para acelerar demissões em massa e cortar os salários dos ferroviários, provocando protestos em 2018-19 organizados através das redes sociais: os “coletes amarelos”. Ele respondeu saudando o ditador colaboracionista nazista da França, Philippe Pétain, chamando-o de um “grande soldado” e lançou as tropas de choque da polícia sobre os “coletes amarelos”. Mais de 10 mil foram presos e 4.400 ficaram feridos.
À medida que o apoio em Macron caiu rapidamente, ele confiou cada vez mais diretamente nas forças de extrema direita. Ele não fez nada quando os oficiais fascistas em torno do general aposentado, Pierre de Villiers, exigiram uma repressão mais severa dos “coletes amarelos” e ameaçaram com um golpe para restabelecer a “autoridade”. O seu ministro do Interior, Gérald Darmanin, simpatizante do Action Française de extrema direita, patrocinou uma lei impondo às associações muçulmanas obrigações discriminatórias. Darmanin até mesmo atacou Le Pen publicamente, classificando-a como “branda” com o islamismo.
Sobre a pandemia global de COVID-19, Macron defendeu a política da União Européia de “conviver com o vírus”. Inicialmente forçado por uma onda de greves a impor um lockdown recomendado pelos cientistas, ele se recusou a criar o programa de rastreamento de contatos necessário para deter o ressurgimento do vírus após o fim do fechamento. Como resultado, o vírus retornou, causando 1,8 milhão de mortes na Europa e 142 mil na França ‒ diferente da China, onde o vírus foi mantido em grande parte sob controle após o lockdown e a vida retornou ao normal. Hoje, Macron está eliminando todas as medidas para limitar o contágio.
Este ano, Macron alinhou a França com a escalada imprudente do conflito com a Rússia após a invasão reacionária do presidente russo, Vladimir Putin, da Ucrânia. O presidente americano Biden declarou que o Pentágono está considerando um número de 45 a 60 milhões de mortes em guerras para decidir quem irá “liderar” uma “nova ordem mundial”. Mesmo assim, Macron se alinhou com o piromaníaco em Washington, armando milícias de extrema direita na Ucrânia e impondo sanções ao comércio de commodities vitais com a Rússia.
O LFI de Mélenchon e os vários partidos da classe média trabalharam constantemente para bloquear a oposição de esquerda a Macron. Eles não convocaram protestos de seus eleitores em defesa dos “coletes amarelos”, apoiaram impopulares protestos contra as vacinas liderados pela extrema direita e alinhados ao esforço de guerra EUA-OTAN contra a Rússia. Ao estrangular a oposição de esquerda à Macron, eles permitiram que a extrema direita se posicionasse como o principal oponente de Macron.
Isso abriu o caminho para Le Pen afirmar fraudulentamente ser uma defensora das políticas de bem-estar social. As suas ligações anteriores com autoridades russas a fazem parecer menos imprudente militarmente contra a Rússia do que Macron. O constante recurso do governo Macron à violência policial e seus ataques aos direitos democráticos dos muçulmanos também fizeram os elogios de Le Pen sobre a polícia e suas políticas contra imigrantes parecerem predominantes.
No entanto, Le Pen é uma implacável neofascista que, se for eleita, terá uma política não menos sangrenta que Macron. A sua eleição não levaria a um renascimento da França, mas a arrastaria na lama.
A política do próximo presidente da França será moldada, antes de tudo, pela desintegração do sistema capitalista mundial. Em meio às mortes em massa e à devastação econômica da pandemia global, o impulso de guerra imperialista está desencadeando um ataque internacional contra a classe trabalhadora.
As pesquisas mostram que 76% dos franceses estão preocupados com uma guerra nuclear. A preocupação está aumentando com o aumento dos preços e a escassez nos postos de gasolina e supermercados de produtos críticos como óleo de cozinha, papel higiênico e ovos.
A grande tarefa que os trabalhadores e a juventude enfrentam é se preparar politicamente para o confronto que está se formando entre o próximo presidente e a classe trabalhadora. Ao defender um boicote ativo, o PES chama os trabalhadores e jovens para que formem comitês de ação como um primeiro passo para organizar e coordenar as lutas e unificar os trabalhadores com outras organizações de luta criadas por trabalhadores em outros lugares na França e internacionalmente.
Em tal luta, a liderança revolucionária é essencial. O PES se baseia na continuidade ininterrupta da luta do CIQI pelo trotskismo e contra a socialdemocracia, o stalinismo e todas as formas de oportunismo pequeno-burguês.
O voto em Mélenchon demonstra, na forma distorcida da eleição, que a ampla massa da classe trabalhadora está se movendo para a esquerda. Em conjunto com os trabalhadores do mundo inteiro, os trabalhadores franceses estão procurando uma maneira de lutar contra a desigualdade, a guerra, a ascensão da extrema direita e a resposta criminosa da classe dominante à pandemia. Porém, a decisão de Mélenchon de se afastar em vez de lutar demonstra que este sentimento só pode ser realizado politicamente na luta consciente pelo socialismo internacional.
O PES chama os trabalhadores e jovens que concordam com esse programa a entrarem em contato conosco, lutarem por um boicote ativo contra Macron e Le Pen e ajudarem a construir o PES como o partido de massa da classe trabalhadora na França.