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Ministro da defesa ameaça CPI que investiga condução da pandemia de COVID-19 por Bolsonaro

O rito de posse do novo comandante do Exército brasileiro, ocorrido na terça-feira, foi marcado por uma ameaça de intervenção militar para barrar qualquer tentativa de responsabilizar o presidente fascistoide Jair Bolsonaro pelas mortes em massa por COVID-19.

Ministro da Defesa, general Walter Braga Netto (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O discurso principal da cerimônia, do recém nomeado ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, alertou que as Forças Armadas estão prontas a agir para garantir o projeto reacionário de Bolsonaro.

“O momento requer um maior esforço de união nacional, com foco no combate à pandemia e no apoio à vacinação. Hoje, o país precisa estar unido contra qualquer tipo de iniciativa de desestabilização institucional que altere o equilíbrio entre os Poderes e prejudique a prosperidade do Brasil”, Braga Netto anunciou.

O ministro prosseguiu: “Enganam-se aqueles que acreditam estarmos sobre um terreno fértil para iniciativas que possam colocar em risco a liberdade conquistada por nossa nação. É preciso respeitar o rito democrático e o projeto escolhido pela maioria dos brasileiros para conduzir os destinos do país. A sociedade, atenta a essas ações, tenha a certeza que suas Forças Armadas estão prontas a servir aos interesses nacionais”.

Essas palavras expõe a fraude da narrativa política promovida pela mídia burguesa, o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados da pseudoesquerda de que as movimentações golpistas de Bolsonaro não passaram de um “delírio autoritário”, e que a demissão por ele de todo o comando militar somente reforçou o compromisso dos generais com a democracia.

Tais forças políticas apontam para o crescimento da oposição de setores da burguesia e dos militares ao governo como uma garantia contra as ameaças ditatoriais de Bolsonaro.

A abertura de uma CPI para investigar a responsabilidade criminal de Bolsonaro sobre a condução da pandemia de COVID-19, que aprofundou seriamente a crise do seu governo, somente reforçou esses argumentos.

A pandemia cresce descontroladamente pelo Brasil, com cerca de 3.000 mortes ocorrendo diariamente. O país já registrou mais de 14 milhões de casos e mais de 381 mil mortes pela doença. É esperado que a CPI foque suas investigações sobre a promoção deliberada pelo governo da contaminação em massa da população, sabotagem das vacinações e promoção de medicamentos potencialmente nocivos à saúde, como a cloroquina, enquanto falso tratamento para o vírus mortal. A investigação aumenta a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro.

Tremendas forças sociais – e não meramente os esforços individuais do presidente fascistoide – estão por trás dos ataques à democracia no Brasil. O crescimento explosivo da crise econômica e social, e o desastre da pandemia da COVID-19 no país estão acelerando a crise mortal da dominação burguesa no Brasil.

Os efeitos devastadores da pandemia somam-se ao aumento massivo do desemprego, cortes salariais e perda sensível do poder de compra da classe trabalhadora. Essas condições, gerando níveis de desigualdade social sem precedentes num dos países que já era um dos mais desiguais do mundo, estão transformando o Brasil num barril de pólvora social cada vez mais prestes a explodir. O crescimento da oposição social já está se expressando numa onda de greves contra as mortes nos locais de trabalho e os ataques econômicos sofridos pela classe trabalhadora.

Bolsonaro, assim como o conjunto da classe dominante brasileira, é extremamente sensível a esses abalos sísmicos que ameaçam todo o edifício da dominação de classe capitalista. Enquanto um setor da classe dominante teme que a manutenção de Bolsonaro na presidência acelerará a explosão da resistência da classe trabalhadora nas ruas e fábricas, o presidente busca provar que a imposição de medidas ditatoriais hoje é fundamental para impedir que tal crise saia do controle.

Após afirmar que tem dirigido apelos às Forças Armadas diante de uma iminente explosão social no país, o presidente declarou na quarta-feira, 14 de abril: “O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providências. Eu estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, o desemprego estão aí, só não vê quem não quer”.

A “sinalização” cobrada por Bolsonaro foi fabricada imediatamente por seus assessores fascistoides. Nas redes sociais, seus aliados iniciaram uma campanha com a hashtag “Eu Autorizo”, que literalmente significa: “dou sinal verde para Bolsonaro instaurar uma ditadura presidencial no Brasil”. Com base nesse slogan foram convocadas manifestações de rua para o próximo 1º de Maio.

Tais manifestações foram endossadas pelas deputadas federais aliadas a Bolsonaro, Clara Zambelli e Bia Kicis, que defenderam duas reivindicações paralelas dos atos fascistoides: a reabertura dos comércios e a adoção do voto impresso no Brasil (argumento tomado emprestado de Donald Trump por Bolsonaro para preparar um golpe eleitoral em 2022).

Outro deputado bolsonarista, Otoni de Paula, referindo-se à abertura da CPI para investigar Bolsonaro, tuitou: “Aviso aos senhores senadores e deputados federais, o PR [Presidente da República, Jair Bolsonaro] não vai negociar sua honra pela cadeira da presidência e só levantará de lá morto. Estou avisando, o plano dos senhores irá desencadear uma guerra civil nesse país”. Ele terminou sua publicação com a hashtag “Eu Autorizo, Presidente”.

A escolha da data para essas manifestações, planejadas para coincidir com o Dia do Trabalhador, expressa os objetivos de longo prazo do movimento fascistizante impulsionado por Bolsonaro: suprimir o movimento político da classe trabalhadora através de um movimento pseudopopulista que dê sustentação aos ataques mais brutais da elite financeira contra as massas trabalhadoras.

Esses atos remontam à Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma série de manifestações reacionárias da classe média em 1964 utilizadas como cobertura “popular” para o golpe militar arquitetado pela burguesia brasileira e o imperialismo americano.

A narrativa de que os militares tomaram o poder e instalaram uma ditadura no Brasil em resposta a um apelo da população para “defender a democracia”, uma falsificação histórica grosseira e criminosa, tem sido promovida agressivamente pelo governo Bolsonaro e as Forças Armadas.

Braga Netto, em seu primeiro dia no cargo de ministro da Defesa, emitiu uma ordem do dia afirmando que o golpe de 1964 foi inaugurado por um movimento popular nas ruas e que através dele os militares garantiram as “liberdades democráticas que hoje desfrutamos”. Seu discurso na terça-feira é um aprofundamento dessa narrativa, elevando os militares a garantidores do “projeto escolhido pela maioria dos brasileiros”. Caso o legislativo ou o judiciário desafiem a guinada de Bolsonaro à ditadura presidencial e assim ameacem provocar “instabilidade”, os militares podem se ver mais uma vez forçados a intervir para “defender a democracia”.

O projeto ditatorial sendo impulsionado por Bolsonaro, com o objetivo de impor à classe trabalhadora os níveis mais abusivos de exploração e a normalização das mortes em massa, não pode ser permitido a triunfar. Isso depende, contudo, da superação do controle político pela falsa oposição ao seu governo nos marcos do Estado burguês, dirigida pelo PT e seus satélites pseudoesquerdistas.

Uma oposição genuína requer a mobilização de um movimento de massas da classe trabalhadora brasileira, organizado independentemente destes partidos e dos sindicatos, unificado à classe trabalhadora internacional, e baseado num programa socialista pela derrubada do poder burguês e a instauração de um governo dos trabalhadores.

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