Publicado originalmente em 26 de fevereiro de 2021
Desde quarta-feira à tarde, o Facebook está impedindo seus usuários de compartilharem o artigo da coluna de Perspectiva do World Socialist Web Site, “Teoria da conspiração sobre ‘laboratório de Wuhan’ do Washington Post é exposta”.
A censura começou menos de 12 horas após a publicação do artigo. No momento em que o Facebook interveio, o artigo tinha sido visualizado 1.500 vezes.
Vários leitores confirmaram que, ao tentar compartilhar o artigo, receberam uma mensagem dizendo 'ninguém mais pode ver seu post' pois o Facebook não 'admite informações falsas que tenham sido reiteradamente desmascaradas', afirmando que o artigo contém 'desinformação sobre a COVID-19'. Alguns leitores relataram que, imediatamente após compartilhar o artigo, tiveram suas contas do Facebook bloqueadas por três e, em alguns casos, sete dias.
Absolutamente nada no artigo do WSWS está errado, é falso ou enganoso. O artigo em questão baseou-se no posicionamento da Organização Mundial da Saúde, que descartou a investigação de uma origem não-natural da COVID-19 com o argumento de que não existem provas que sustentem tal alegação.
O artigo do WSWS chamava a atenção para a concessão feita a contragosto pelo Washington Post em seu editorial de 22 de fevereiro, que admitiu, apesar de declarações anteriores do jornal terem apresentado a geração artificial da doença como um “cenário plausível”, que essa alegação não era sustentada por nenhuma evidência pública, e conclamou o governo dos EUA a divulgar toda informação que tivesse a esse respeito.
Dado que o artigo está em total conformidade com as diretrizes comunitárias do Facebook, o que teria motivado esse ato de censura? Há duas explicações entrecruzadas.
É difícil não concluir que ocorreu comunicação direta entre o Washington Post e o Facebook. O Post ficou sem dúvida enfurecido com a exposição de seu vergonhoso recuo.
Mas não se trata apenas do ego ferido do proprietário do Washington Post, Jeff Bezos. O artigo do WSWS minou uma narrativa que é central para os interesses da política externa e interna da classe dominante americana: a alegação de que Pequim é o culpado pela pandemia da COVID-19.
A declaração do WSWS expôs muito claramente, com base em uma análise do próprio editorial do Washington Post, o caráter fraudulento da narrativa do “Laboratório de Wuhan”, uma mentira com fins propagandísticos central para a campanha contra a China. O governo Biden continuou a impulsionar essa mentira que foi agressivamente promovida por Trump.
O irônico é que o WSWS está sendo acusado precisamente daquilo que nós revelamos, isto é, de fazer falsas alegações sobre a origem da pandemia da COVID-19. De forma estereotipicamente orwelliana, aquele que revela as mentiras é acusado de mentiroso.
Ao longo da história, a guerra sempre foi acompanhada tanto por mentiras como por censura. Os Estados Unidos deixaram claro que seu principal objetivo militar é a preparação de um 'conflito entre grandes potências', em particular com a Rússia e a China, o que torna necessário controlar e suprimir qualquer informação que interfira nas operações de guerra.
Desde 2016, um avançado regime de censura governamental foi implementado nos Estados Unidos. Esse programa de censura é aplicado por empresas como Google, Facebook e Twitter. Mas o impulso ao regime de censura vem do mais alto escalão do Estado, que se utiliza de poderosa tecnologia para destruir o que resta das liberdades democráticas estabelecidas pela Primeira Emenda.
O Facebook emprega dezenas de milhares de pessoas em seu departamento de moderação de conteúdo. Pronunciando-se numa audiência no Senado dos EUA, em janeiro de 2018, a chefe do setor de contra-terrorismo do Facebook, Monica Bickert, gabou-se de que a empresa contratou dezenas de milhares de moderadores de conteúdo, muitos com formação militar, policial, ou no serviço de inteligência de Estado. Ela observou que o Facebook ostenta 'uma equipe dedicada ao contra-terrorismo' de 'ex-funcionários da inteligência e da polícia'.
O cruzamento do aparato militar/de inteligência com as grandes empresas é tão profundo que é impossível dizer onde um começa e o outro termina.
O regime de censura é espantoso, seja em escala como potência. Com apenas um clique, qualquer denúncia do militarismo americano pode ser removida de circulação da Internet. No instante em que o Estado identifica um artigo, fato ou declaração que considera inconveniente, manda orientações ao Facebook e ao Google para suprimi-lo. Como demonstra a censura feita pelo Facebook, é necessário agir não apenas contra aqueles que publicam o material, mas contra os que o leem ou divulgam.
Cada ato de censura estabelece os precedentes para o próximo, criando as condições para a supressão não apenas das redes sociais, mas também de sites, e-mails e outras formas diretas de comunicação. A ameaça é para todas as organizações socialistas, de esquerda e progressistas, e deve haver uma luta comum para combatê-la.
A questão fundamental é mobilizar o apoio da classe trabalhadora que, em última análise, é o alvo central do ataque. O acesso às informações sobre a COVID-19 é uma questão de vida ou morte. A classe trabalhadora precisa saber a verdade para poder armar-se em defesa das vidas operárias.
A exposição da propaganda militar é igualmente uma questão de vida ou morte. A guerra dos EUA no Iraque, que levou à morte de mais de um milhão de pessoas, foi justificada e preparada com base em mentiras. Uma guerra com a China teria consequências muito mais catastróficas.
A decisão do Facebook de censurar o artigo do WSWS que desmascarou a falsa narrativa de Washington sobre as origens da COVID-19 é um alerta a quão abrangentes são esses preparativos de guerra.