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Bolsonaro apoia golpe de Trump, ameaça fazer o mesmo nas eleições de 2022 no Brasil

Publicado originalmente em 10 de janeiro de 2021

O presidente fascistóide brasileiro, Jair Bolsonaro, um dos mais fervorosos apoiadores internacionais de Donald Trump, apoiou inequivocamente a tentativa de golpe de 6 de janeiro em Washington. Ele já anunciou sua intenção de usar as mesmas mentiras sobre fraudes eleitorais no Brasil para mobilizar seus apoiadores em uma tentativa de permanecer no poder, quaisquer que sejam os resultados das eleições presidenciais de 2022.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (crédito: Agência Brasil)

Com seu desprezo típico, Bolsonaro declarou na noite de 6 de janeiro, em resposta aos desenvolvimentos nos EUA: "Eu acompanhei tudo hoje. Vocês sabem que eu sou ligado ao Trump, né? Então vocês já sabem qual é a minha resposta. Agora, muita denúncia de fraude, muita denúncia de fraude." Ele então repetiu suas próprias alegações sem fundamento sobre as eleições de 2018 no Brasil: "A minha eleição foi fraudada. Eu tenho indícios de fraude na minha eleição. Era para eu ter ganho no primeiro turno."

No dia seguinte, ele jurou tentar seu próprio putsch em 2022, caso perdesse as eleições presidenciais. Ele disse a seus apoiadores: "Basicamente, qual foi o problema, a causa dessa crise toda [nos EUA]? Falta de confiança no voto. Então, lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente lá que votou três, quatro vezes, mortos votaram." Ele concluiu com um roteiro para seu golpe: "Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos."

Sua reação aos acontecimentos em Washington contrastou com as condenações emitidas pelos líderes do Congresso e do Tribunal Superior Eleitoral brasileiros, cujo presidente, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, foi um observador das eleições americanas. O Presidente da Câmara em final de mandato, Rodrigo Maia, deputado pelo Rio de Janeiro, tweetou: "A invasão do Congresso norte-americano por extremistas representa um ato de desespero de uma corrente antidemocrática que perdeu as eleições. Fica cada vez mais claro que o único caminho é a democracia, com diálogo e respeitando a Constituição." O ministro Barroso declarou em tom mais forte: "No triste episódio nos EUA, apoiadores do fascismo mostraram sua verdadeira face: antidemocrática e truculenta. Pessoas de bem, independentemente de ideologia, não apoiam a barbárie. Espero que a sociedade e as instituições americanas reajam com vigor a essa ameaça à democracia."

Em uma sombria indicação de que os preparativos para um golpe no Brasil estão bem avançados e contam com o apoio da extrema-direita norte-americana, o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster Jr., levou o filho de Bolsonaro, Eduardo, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, à Casa Branca na tarde de 5 de janeiro. Eduardo tirou uma foto da filha de Trump, Ivanka, segurando sua filha recém-nascida Georgia.

Eduardo é um colaborador próximo do ideólogo fascista americano Steve Bannon. Quanto a Forster, ele tem trabalhado como uma ponte entre Bolsonaro e os seguidores de Trump. O jornal conservador Estado de S. Paulo revelou que o embaixador forneceu ao Executivo brasileiro reportagens falsas da mídia americana de extrema-direita e pró-Trump sobre fraudes nas eleições americanas, a fim de fornecer argumentos para o alinhamento de Bolsonaro com Trump.

Bolsonaro foi o último dos líderes do G20 a reconhecer a vitória do candidato do Partido Democrata, Joe Biden. Ele esperou até que o Colégio Eleitoral depositasse seus votos em 14 de dezembro para cumprimentar Biden.

Bolsonaro está repetindo as alegações que ele tem feito há vários anos de que o sistema brasileiro de votação eletrônica não permite auditoria e é inerentemente inseguro. Estas alegações foram desmascaradas várias vezes por especialistas em informática, com o próprio Exército brasileiro promovendo "competições de hackers" para testar a segurança do sistema. Eles não encontraram violações de segurança que permitissem fraudes em massa.

O principal argumento de Bolsonaro, feito de má fé, é que, em virtude de serem eletrônicos, os votos não são verificáveis e não podem ser recontados, e o Brasil deveria adotar algum tipo de cédula impressa complementar para evitar fraudes. Ignorado em suas alegações é que as urnas eletrônicas não são conectadas à internet, com os votos sendo carregados para o servidor interno do Tribunal Superior Eleitoral através de conexões privadas. Qualquer violação deste sistema exigiria um ataque maciço aos servidores do governo, o que seria impossível de esconder. Previsivelmente, Bolsonaro foi incapaz até agora de apresentar qualquer tipo de evidência do que ele alega ter sido uma fraude eleitoral em 2018.

Não havia dúvidas de que, com o desenrolar dos acontecimentos no Capitólio americano, os principais representantes da classe dominante brasileira estavam reagindo de forma tensa em com incerteza sobre seu próprio futuro. Os preparativos para um golpe de Bolsonaro não são segredo, neste momento, para ninguém. Em 7 de janeiro, quando Bolsonaro reiterou seu apoio ao golpe de Trump, Rodrigo Maia deixou claro seu pleno conhecimento das implicações das declarações de Bolsonaro. Ele disse à imprensa: "como Trump, me parece que Bolsonaro é um jogador que não admite uma derrota e ele já vai organizando o campo das ameaças com dois anos de antecedência."

Apesar destes graves perigos, a preocupação primordial dentro da classe dominante no Brasil é a mesma de seus homólogos no Partido Democrata nos EUA e nos governos da Europa, Ásia e internacionalmente: impedir que os trabalhadores tirem as conclusões necessárias das ameaças de Bolsonaro e Trump à democracia e entrem em ação contra o sistema do qual eles são o produto necessário, o capitalismo.

Como os representantes da classe dominante internacionalmente, os partidos políticos e a imprensa corporativa do Brasil estão fazendo todo tipo de manobra para isolar Trump e Bolsonaro como os únicos responsáveis pelas crises maciças que envolvem os EUA e o Brasil, efetivamente dizendo ao público que "não há nada para ver aqui".

O Estado de S. Paulo resumiu a atitude da classe dominante em relação à tentativa de golpe de 6 de janeiro em um editorial no dia seguinte: "A responsabilidade pelo que aconteceu em Washington é exclusiva de Trump." E concluiu: "No final, a secular democracia americana resistiu à infame tentativa de sublevação insuflada por Trump." Seu rival "progressista," Folha de S. Paulo também tranquilizou seus leitores sobre o Brasil na manhã seguinte: "No Brasil, também o sistema de freios e contrapesos contém um populista de inclinações autoritárias que tem em Trump uma fonte óbvia de inspiração."

No Rio de Janeiro, o porta-voz do maior grupo de mídia do Brasil, a Globo, admitiu de forma retrógrada que o futuro do golpe de Bolsonaro não está nos "freios e contrapesos" da democracia brasileira, mas sim no Exército. Seu editorial afirmava: "A Carta já nos garantiu 33 anos consecutivos de democracia, recorde na República. Não se imagina que as Forças Armadas como instituição aceitem rasgá-la e retroceder a um passado longínquo. Ao contrário.”

Os três jornais foram colaboradores entusiasmados da ditadura militar sanguinária de 1964-1985, apoiada pelos EUA, e falam por uma classe dominante que não tem absolutamente nenhum interesse nos direitos democráticos, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar. Sua principal preocupação é anestesiar o público sobre os perigos da situação atual, e advertir a classe dominante para não permitir que suas diferenças com Bolsonaro, impulsionadas quase que exclusivamente por divergências em relação à política externa, saiam do controle.

Como o próprio Trump e outro de seus aliados próximos, o israelense Benjamin Netanyahu, Bolsonaro enfrenta a ameaça imediata de prisão por muitas práticas corruptas assim que ele deixar o cargo. Estas vão desde esquemas de corrupção como membro da Câmara antes de se tornar presidente, até possível envolvimento na execução da vereadora do Rio de Janeiro do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) Marielle Franco em 2018, por atiradores profissionais.

O golpe abortado de 6 de janeiro em Washington, e a crise social que está abalando as bases sociais para formas democráticas de governo nos EUA, são espelhados na própria reação sádica de Bolsonaro à crise social no Brasil, que entrou numa fase ainda mais explosiva com o ano novo.

Janeiro marcou o fim do pagamento do auxílio emergencial de R$ 300 (US$ 60) mensais a 68 milhões de trabalhadores desempregados, informais e pobres brasileiros, bem como o fim dos esquemas de suspensão temporária do trabalho que cobrem cerca de 10 milhões de trabalhadores empregados em pequenas, médias e grandes empresas e cobertos pelo código trabalhista brasileiro, a CLT. Espera-se que a pobreza passe a abranger imediatamente mais 20 milhões de brasileiros a partir deste mês, com um total de 24% da população caindo abaixo da linha de pobreza a partir de janeiro, acima dos 15% do ano passado. Espera-se que as fileiras de desempregados, já constituídas por 14 milhões de trabalhadores, dupliquem, já que os desempregados serão forçados a procurar trabalho com o fim do auxílio emergencial.

Enquanto isso, o Brasil voltou aos níveis de agosto de mortes por COVID-19, mais de mil por dia, com UTIs cheias em grandes cidades e um novo colapso do sistema funerário na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, um dos epicentros da pandemia no país.

Em 2 de dezembro, o sociólogo Roberto Barbosa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) do Rio de Janeiro, foi destacado nas manchetes dos jornais brasileiros com um alerta de que a "desigualdade pode voltar ao patamar dos anos 80," a década que viu a classe trabalhadora industrial derrubar a ditadura militar. Em 1989, a década foi encerrada com mais de 1.900 greves, o maior número até 2013, quando mais de 2 milhões de trabalhadores participaram de 2.057 greves, marcando o início do declínio do Partido dos Trabalhadores (PT), então no governo.

Em resposta a tal situação, Bolsonaro cultiva uma indiferença cada vez mais aberta ao sofrimento maciço dos trabalhadores, cancelando a compra de seringas para a vacinação contra a COVID-19 por ser "muito cara", declarando publicamente que o país está quebrado e ele não pode fazer nada a respeito, e que os números do desemprego estão altos porque "uma parte considerável [dos brasileiros] não está preparada para fazer quase nada.”

Sob tais condições, espelhando o apoio significativo ao golpe de Trump dentro da classe dominante, até mesmo as alegações de fraude eleitoral não comprovada por Bolsonaro podem ser vistas pela classe dominante como um meio de promover um golpe de Bolsonaro. Uma pesquisa recente do PoderData mostrou que menos de 15% dos brasileiros acreditam que as urnas eletrônicas estão sujeitas a fraude. No entanto, o candidato da oposição e líder para suceder Rodrigo Maia na presidência da Câmara com o apoio do PT, Luiz Felipe Baleia Rossi, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), declarou em 9 de janeiro que a discussão sobre cédulas impressas " precisa ser feita", fornecendo uma cobertura "democrática" para a teoria da conspiração de Bolsonaro.

É urgente que os trabalhadores brasileiros assimilem as lições do putsch de 6 de janeiro em Washington e suas implicações globais, a fim de se prepararem para as lutas que virão.

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