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O último ano de Trotsky

Parte quatro

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Publicado originalmente em 29 de agosto de 2020

O milagre da sobrevivência de Trotsky à tentativa de assassinato em 24 de maio de 1940 se provou apenas um adiamento. A GPU iniciou imediatamente um plano alternativo para o assassinato de Trotsky. A próxima tentativa não seria realizada por um esquadrão fortemente armado de assassinos, mas por um assassino solitário. Ramon Mercader, o agente espanhol escolhido para a missão pela GPU, havia sido introduzido já em 1938 nos círculos da Quarta Internacional por sua namorada, Sylvia Ageloff. A sua relação específica com o Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP) continua pouco clara, embora ela aparente ter funcionado como mensageira da Quarta Internacional e do SWP.

Ramon Mercader

É difícil conciliar as conexões de alto nível de Ageloff na Quarta Internacional com a sua ingenuidade pessoal e política. No decorrer de um relacionamento íntimo que se estendeu por quase dois anos, ela não percebeu ou omitiu as suas preocupações com as anomalias, contradições e mistérios gritantes que giravam em torno do seu estranho companheiro: as suas múltiplas identidades (Frank Jacson, Jacques Mornard, Vandendresched), atividades comerciais bastante suspeitas e acesso a quantias ilimitadas de dinheiro. Nunca ocorreu a Ageloff – pelo que ela declarou a promotores mexicanos descrentes após o assassinato - que havia algo muito errado com o seu namorado, e que, certamente, ele não era o tipo de pessoa que deveria ser permitida próxima de Trotsky.

Na primavera de 1940, Jacson-Mornard aproveitou a oportunidade oferecida por Ageloff para se tornar uma presença familiar aos guardas de Trotsky, embora ele não tenha demonstrado interesse em conhecer o líder revolucionário. Levando com frequência Ageloff até a vila na Avenida Viena, Jacson-Mornard parecia satisfeito de esperar do lado de fora até que ela tivesse completado o seu trabalho. Porém, ele conversou com os guardas e cultivou cuidadosamente um relacionamento com os amigos próximos de Trotsky, Alfred e Marguerite Rosmer. Apesar de décadas no movimento revolucionário, eles não encontraram nada de peculiar em Jacson-Mornard, o suposto homem de negócios apolítico com muito dinheiro e tempo livre. O casal nascido na França não conseguiu detectar um sotaque no agente nascido na Espanha, que se dizia belga.

Foi apenas quatro dias depois do ataque de 24 de maio que Jacson-Mornard entrou no local pela primeira vez e se encontrou brevemente com Trotsky. Em uma das suas viagens a Coyoacán, Jacson-Mornard se aproximou dos guardas, que estavam fortalecendo as paredes externas da vila. Eles disseram que estavam se preparando para outro ataque da GPU. Jacson-Mornard comentou casualmente que o próximo atentado da GPU a Trotsky utilizaria um método diferente.

O trabalho de Trotsky continuou em seu habitual ritmo acelerado. Ele acompanhou cuidadosamente o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, mesmo estando intensamente ocupado com a exposição da conspiração de 24 de maio e a refutação das declarações descaradas do Partido Comunista Mexicano e dos sindicatos e imprensa controlados pelo stalinismo de que o ataque foi um "auto-ataque" planejado por Trotsky e executado por seus apoiadores. Em meados de junho, a França havia se rendido e os exércitos de Hitler dominavam a Europa Ocidental. Uma tragédia da classe trabalhadora de dimensões sem precedentes havia acontecido. Em uma breve nota escrita em 17 de junho de 1940, dois dias após a derrota da França, Trotsky escreveu:

A capitulação da França não é um simples episódio militar. Ela é parte da catástrofe da Europa. A humanidade não pode mais viver sob o regime do imperialismo. Hitler não é um acidente; ele é apenas a expressão mais consistente e bestial do imperialismo, que ameaça esmagar toda a nossa civilização [1].

Os monstruosos crimes de Hitler surgiram do capitalismo e da política global destrutiva do imperialismo. Porém, a conquista da Europa Ocidental por Hitler foi possível graças à assistência que ele recebeu de Stalin. As traições do ditador da classe trabalhadora — primeiro através da sua "frente popular" de alianças com os imperialistas democráticos, seguida por seu acordo súbito com Hitler — desorientaram a classe trabalhadora e fortaleceram a posição militar da Alemanha nazista. "Ao desmoralizar as massas populares na Europa, e não apenas na Europa, Stalin desempenhou o papel de um agente a serviço de Hitler. A capitulação da França é um dos resultados de tal política", escreveu Trotsky. Stalin havia levado a URSS "à beira do abismo". Trotsky advertiu que as "vitórias de Hitler no Ocidente são apenas os preparativos para um gigantesco movimento em direção ao Oriente" [2]. Quase exatamente um ano depois, em 22 de junho de 1941, Hitler lançou a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética.

As questões políticas e de segurança decorrentes da invasão de 24 de maio e dos eventos históricos na Europa requeriam a visita de uma delegação de líderes do SWP ao México, liderada pelo fundador e líder do partido, James P. Cannon. Entre quarta-feira, 12 de junho, e sábado, 15 de junho, Trotsky participou de uma discussão abrangente do trabalho político do SWP sob condições de guerra. Os participantes dessa discussão incluíam, além de Trotsky e Cannon, Charles Cornell, Farrell Dobbs, Sam Gordon, Antoinette Konikow, Harold Robins e Joseph Hansen. Documentos há muito suprimidos, obtidos nos anos 1970 e 1980 pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional, estabeleceriam que Hansen era um agente infiltrado da GPU dentro do secretariado de Trotsky.

Trotsky e Farrell Dobbs

Um relatório estenográfico não editado dessa discussão foi distribuído para os membros do SWP. A discussão sobre o primeiro item na agenda, que era um relatório sobre a Quarta Conferência Internacional Emergencial, não foi transcrita. O registro literal das discussões começa com o segundo item na agenda, "Guerra e Perspectivas". As contribuições de Trotsky para essa discussão enfatizaram que a oposição de princípios do partido à guerra imperialista não deveria ser confundida ou de qualquer forma associada ao pacifismo pequeno-burguês.

A entrada dos Estados Unidos na guerra era inevitável. Trotsky insistiu que o SWP precisava traduzir a oposição de princípios à guerra em uma agitação revolucionária efetiva que se cruzasse com a consciência dos trabalhadores, sem se adaptar ao chauvinismo nacional.

A militarização agora avança em uma escala tremenda. Nós não podemos nos opor a ela com frases pacifistas. A militarização tem apoio amplo entre os trabalhadores. Eles carregam um ódio sentimental por Hitler com sentimentos de classe confusos. Eles carregam um ódio pelos bandidos vitoriosos. A burocracia utiliza isso para dizer que devemos ajudar o gângster derrotado. Nossas conclusões são completamente diferentes. Porém, esse sentimento é a base inevitável para esse último período de preparação [3].

O desafio enfrentado pelo SWP era desenvolver uma abordagem para os jovens trabalhadores que, mesmo enquanto eram atraídos para as forças armadas, desenvolveria a sua consciência de classe. O partido tinha que colocar a sua agitação "em uma base de classe" [4]. Trotsky forneceu exemplos da abordagem que o partido deveria adotar:

Somos contra os oficiais burgueses que o tratam como gado, que o usam como bucha de canhão. Estamos preocupados com a morte dos trabalhadores, ao contrário dos oficiais burgueses. Queremos os oficiais dos trabalhadores.

Podemos dizer aos operários: Nós estamos prontos para a revolução, mas vocês não estão prontos. Porém, nós dois queremos os nossos próprios oficiais operários nessa situação. Queremos escolas especiais de trabalhadores que nos treinem para que sejamos oficiais.

Rejeitamos o controle das Sessenta Famílias. Queremos a melhoria das condições para o trabalhador-soldado. Queremos salvaguardar a sua vida. Não desperdiçá-la [5].

Na quinta-feira, 13 de junho, a discussão se voltou para a política do SWP para as eleições à presidência de 1940. O candidato democrata em exercício, Franklin Roosevelt, estava disputando por um terceiro mandato. O partido não havia indicado um candidato próprio. "O que diremos aos trabalhadores quando eles perguntarem em qual presidente eles devem votar?" Cannon respondeu: "Eles não deveriam fazer perguntas tão embaraçosas" [6].

Trotsky perguntou por que o SWP não havia convocado um congresso de sindicatos para nomear um candidato para fazer oposição a Roosevelt. "Não podemos ficar completamente indiferentes", argumentou ele. "Podemos muito bem insistir nos sindicatos nos quais temos influência que Roosevelt não é o nosso candidato e que os trabalhadores devem ter o seu próprio candidato". Devemos exigir um congresso nacional conectado com a [demanda por um] partido trabalhista independente" [7].

Trotsky levantou a questão da candidatura à presidência do Partido Comunista dos EUA. Desde a assinatura do Pacto de Não Agressão, o Partido Comunista havia adotado uma posição de oposição à entrada dos Estados Unidos na guerra. Sem dúvida, essa manobra da liderança stalinista era inteiramente determinada pela política externa do Kremlin. Porém, ela era vista com seriedade por seções do Partido Comunista. Não seria essa uma oportunidade para o SWP intervir entre os trabalhadores stalinistas? Trotsky propôs que o SWP, não tendo nenhum candidato próprio, considerasse apoiar criticamente a campanha à presidência do líder do Partido Comunista, Earl Browder. Por mais desorientados que estivessem pela liderança stalinista, os membros do partido incluíam uma camada significativa de trabalhadores com consciência de classe. Uma manobra política do SWP — dando apoio crítico à campanha do Partido Comunista com base na sua oposição à entrada dos EUA na guerra — criaria a possibilidade de se aproximar dos trabalhadores stalinistas.

A proposta de Trotsky encontrou uma forte oposição de Cannon e de praticamente todos os outros participantes na discussão. No decorrer de anos de dura luta contra os stalinistas, a influência do SWP dentro dos sindicatos exigiu o desenvolvimento de alianças com seções "progressistas" da burocracia sindical. A manobra proposta por Trotsky minaria essas relações.

Trotsky era crítico da abordagem do SWP em relação aos "burocratas progressistas", que estavam alinhados politicamente a Roosevelt e ao Partido Democrata. Esses burocratas progressistas, observou Trotsky, "podem estar se apoiando em nós por conselhos na luta contra os stalinistas. Porém, o papel de conselheiro dos burocratas progressistas não promete muito no longo prazo" [8].

Contrariando Trotsky, Antoinette Konikow - que tinha sido uma das primeiras estadunidenses a apoiar a Oposição de Esquerda nos anos 1920 - declarou que, ao contrário dos stalinistas, os líderes estadunidenses da AFL como Dan Tobin (líder dos Teamsters) e John L. Lewis (líder dos Trabalhadores das Minas Unidos) não tentariam matar os trotskistas.

"Eu não tenho tanta certeza", respondeu Trotsky. "Lewis nos mataria muito eficientemente se ele fosse eleito e a guerra viesse" [9].

Trotsky não insistiu que o SWP adotasse a política que ele propôs. Porém, conforme a discussão continuou na sexta-feira, 14 de junho, ele criticou duramente o alinhamento do partido aos progressistas.

Acredito que temos um ponto decisivo muito claro. Estamos em um bloco com os chamados progressistas ― não apenas os falsificadores, mas também os membros honestos. Sim, eles são honestos e progressistas, mas eles votam em Roosevelt de tempos em tempos ― uma vez a cada quatro anos. Isso é decisivo. Vocês propõem uma política sindical, não uma política bolchevique. As políticas bolcheviques começam fora dos sindicatos. O trabalhador é um sindicalista honesto, mas distante da política bolchevique. O militante honesto pode se desenvolver, mas não é idêntico a ser um bolchevique. Vocês tem medo de comprometer as relações com os sindicalistas rooseveltianos. Eles, por outro lado, não se preocupam minimamente em se prejudicar votando em Roosevelt contra vocês. Nós temos medo de comprometer as nossas relações. Se vocês tem medo, perdem a sua independência e se tornam um meio rooseveltiano. Em tempos de paz, isso não é catastrófico. Em tempos de guerra, isso nos prejudicará. Eles podem nos esmagar. A nossa política é excessiva para os sindicalistas pró-rooseveltianos. Vejo que isso é verdade no Northwest Organizer [o jornal do Teamsters Local 544 em Minneapolis, editado e controlado pelo SWP]. Já discutimos isso antes, mas nem uma palavra foi alterada; nem uma única palavra. O perigo - um perigo terrível - é a adaptação aos sindicalistas pró-rooseveltianos. Vocês não dão nenhuma resposta às eleições, nem mesmo o início de uma resposta, mas nós precisamos ter uma política [10].

Trotsky continuou as suas críticas à adaptação do SWP aos progressistas dos sindicatos no sábado, 15 de junho, o último dia da discussão.

Parece-me que pode ser reconhecida uma espécie de adaptação passiva ao nosso trabalho sindical. Não há um perigo imediato, mas é necessário um aviso sério indicando uma mudança de direção. Muitos camaradas estão mais interessados no trabalho sindical do que no trabalho partidário. Mais coesão partidária é necessária, manobras mais afiadas, um treinamento teórico sistemático mais sério; caso contrário, os sindicatos podem absorver os nossos camaradas [11].

Quando a discussão sobre a política do SWP nas eleições de 1940 chegou à sua conclusão, uma última questão surgiu: o Partido Comunista poderia ser considerado uma parte legítima do movimento operário? Trotsky respondeu enfaticamente:

É claro que os stalinistas são uma parte legítima do movimento operário. Que ela seja abusada por seus líderes para fins específicos da GPU é uma coisa, e para fins do Kremlin é outra. Não é de forma alguma diferente das outras burocracias trabalhistas de oposição. Os poderosos interesses de Moscou influenciam a Terceira Internacional, mas, em princípio, não é diferente. É claro que consideramos o terror do controle da GPU de maneira diferente; lutamos com todos os meios, até mesmo com a polícia burguesa. Porém, a corrente política do stalinismo é uma corrente no movimento operário [12].

Apesar dos crimes cometidos pelos stalinistas - e apenas três semanas haviam se passado desde o atentado contra a sua vida - Trotsky insistiu em uma avaliação objetiva do stalinismo. "Devemos considerá-los do ponto de vista marxista objetivo", insistiu Trotsky. "Eles são um fenômeno muito contraditório. Começaram com Outubro como a base, deformaram-se, mas têm grande coragem". [13] O objetivo da manobra proposta por Trotsky era explorar essa contradição nas lealdades da base stalinista:

Penso que podemos esperar conquistar esses trabalhadores, que começaram como uma cristalização de outubro. Nós os vemos negativamente; como romper este obstáculo. Devemos colocar a base contra o topo. Nós consideramos gângsteres a quadrilha de Moscou, mas os membros não se sentem gângsteres, mas revolucionários... Se mostrarmos que entendemos, que temos uma linguagem comum, podemos virá-los contra os seus líderes. Se conquistarmos 5%, o partido estará condenado [14].

Trotsky e a delegação do SWP não chegaram a um acordo sobre a proposta de extensão do apoio crítico ao candidato do Partido Comunista, na qual ele não insistiu. A discordância não prejudicou a relação de Trotsky com o SWP, e as discussões terminaram amigavelmente. De qualquer forma, na medida em que o SWP havia mostrado um nível detectável de adaptação aos burocratas progressistas, as críticas de Trotsky tiveram um impacto significativo sobre o partido. Em poucas semanas, Trotsky notou e comentou favoravelmente o fortalecimento político do Northwest Organizer.

Harold Robins em maio de 1940

Um dos participantes da discussão lembrou posteriormente um incidente notável que ilustrou a abordagem pedagógica de Trotsky nas discussões políticas. Harold Robins, um trabalhador nascido em Nova York que viajou para o México em 1939 e se tornou o capitão da guarda de Trotsky, participou da discussão na manhã de 13 de junho, durante a qual Trotsky levantou a questão do apoio crítico ao candidato à presidência do Partido Comunista. Em um obituário que escrevi após a morte de Robins em 1987, aos 79 anos de idade, incluí um relato da sua experiência pessoal, que ele me contou.

Quando chegou a sua vez de falar, Harold criticou duramente os stalinistas, enumerando as suas muitas traições contra a classe trabalhadora e a sua colaboração servil com os políticos burgueses. Harold declarou que não havia "nenhuma maldita diferença entre os stalinistas e os democratas".

Trotsky levantou a mão e invadiu o discurso de Harold. "Permita-me uma pergunta, camarada Robins. Se não existem diferenças entre os stalinistas e os democratas, por que eles mantêm uma existência independente e se autodenominam comunistas? Por que eles não aderem simplesmente ao Partido Democrata"?

Harold foi surpreendido por essas simples perguntas. Essa lição elementar de dialética deixou imediatamente claro para Harold que a sua própria posição estava errada. Porém, a história não havia acabado.

Com o assunto ainda indecidido, a reunião parou para o almoço. Trotsky se aproximou de Harold e lhe perguntou qual era a sua posição.

"Bem, agora acho que você está certo, camarada Trotsky".

O "Velho Homem" sorriu com satisfação. "Então, camarada Robins, proponho que formemos um bloco e conduzamos a luta juntos quando a reunião for retomada".

Harold lembrou que pensou que não podia acreditar que o "Velho Homem" estava falando sério.

"Por que diabos Trotsky iria querer ou precisar de um bloco com Harold Robins?"

De qualquer forma, ele aceitou a oferta de Trotsky e aguardou com expectativa o início da sessão da tarde. Entretanto, ao final do intervalo do almoço, Robins foi abordado por outro guarda, Charles Cornell, que ficou amargamente desapontado por ter que permanecer de plantão durante a tarde e não poderia participar da discussão com Trotsky. Cornell suplicou a Robins que mudasse de lugar com ele, e Robins cedeu. Assim, Cornell entrou na discussão enquanto Robins patrulhava o local.

No final da tarde, logo após o término da reunião, Harold se viu repentinamente confrontado por Trotsky, obviamente furioso. Trotsky exigiu saber: "Onde você estava, camarada Robins?".

Harold procurou explicar as circunstâncias que haviam intervindo durante o intervalo do almoço. Trotsky pôs de lado os seus argumentos. "Nós tínhamos um bloco, camarada Robins, e você o traiu".

Harold relatou tais incidentes sem a menor sensação de constrangimento, embora eles dificilmente o apresentassem positivamente. Porém, para Harold, esses acontecimentos foram exemplos preciosos da absoluta completude de Trotsky como um revolucionário, inflexivelmente dedicado a princípios em todos os aspectos de sua vida e sob todas as condições.

Aqui estava um homem, Harold parecia estar dizendo, que havia liderado a maior revolução da história, organizado um exército de milhões e participado de lutas políticas históricas ao lado das grandes figuras do movimento marxista internacional. Ainda assim o mesmo homem, Trotsky, poderia propor um bloco com um desconhecido "Jimmy Higgins" e vê-lo tão seriamente como ele uma vez viu uma aliança com Lenin! Harold estava mais do que feliz em "diminuir a si mesmo" e recontar os seus próprios erros da juventude para transmitir a grandeza moral de Trotsky [15].

No decorrer da sua viagem a Coyoacán, os líderes do SWP inspecionaram a vila e aprovaram as obras de construção que fortificariam o complexo contra ataques. Apesar do seu compromisso sincero com a defesa de Trotsky, os seus esforços foram minados por um nível perturbador de descuido pessoal. Apesar de questões terem ficado sem resposta sobre o papel de Sheldon Harte no ataque de 24 de maio, não há indicação de que os líderes do SWP estivessem adotando uma postura mais cautelosa em suas associações pessoais. Dada a campanha contínua contra Trotsky na imprensa stalinista, deveria ter ficado claro para os líderes do SWP que o ambiente político na Cidade do México era perigoso, e que a capital estava cheia de agentes da GPU com a intenção de eliminar Trotsky.

Natalia Sedova, Trotsky, uma amiga e Harold Robins

No entanto, na noite de 11 de junho, James P. Cannon e Farrell Dobbs aceitaram um convite para jantar no Hotel Geneva, seguido de bebidas em outro local. O anfitrião dos dois líderes do SWP era Jacson-Mornard [16]. Esse encontro foi relatado por Cannon no decorrer de uma breve investigação interna conduzida pela liderança do SWP após o assassinato. Entretanto, essa informação foi escondida dos membros do partido.

Continua.

[1] “The Kremlin’s Role in the European Catastrophe,” em Writings of Leon Trotsky 1939–40 (Nova York: 1973), p. 290

[2] Ibid, pp. 290–91

[3] “Discussions with Trotsky,” em Writings of Leon Trotsky 1939–40, p. 253

[4] Ibid, p. 254

[5] Ibid

[6] Ibid, p. 260

[7] Ibid, pp. 260–61

[8] Ibid, p. 266

[9] Ibid, p. 267

[10] Ibid, pp. 271–73

[11] Ibid, pp. 280–81

[12] Ibid, p. 282

[13] Ibid

[14] Ibid

[15] A Tribute to Harold Robins, Captain of Trotsky’s Guard, por David North (Detroit: 1987), pp. 8–10

[16] Trotsky: Downfall of a Revolutionary, by Patenaude, Bertrand M. (p. 270). Harper Collins e-books. Kindle Edition.

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