Publicado originalmente em 3 de janeiro de 2020
A chegada do Ano Novo marca o início de uma década de intensificação da luta de classes e da revolução socialista mundial.
No futuro, quando os historiadores escreverem sobre os levantes do século XXI, eles enumerarão todos os sinais “óbvios” que existiam, no início da década de 2020, da tempestade revolucionária que logo varreria o mundo. Os estudiosos – com uma grande variedade de fatos, documentos, gráficos, publicações em sites e redes sociais e outras formas de valiosas informações digitalizadas à sua disposição – descreverão os anos 2010 como um período de insolúvel crise econômica, social e política do sistema capitalista mundial.
Eles observarão que, no início da terceira década do século, a história chegou exatamente à situação prevista teoricamente por Karl Marx: “Em certo estágio do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas sua expressão jurídica, com as relações de propriedade, no interior das quais se tinham movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em entraves das mesmas. Inaugura-se então uma época de revolução social. Com a alteração da base econômica, altera-se mais lentamente ou mais rapidamente toda a imensa superestrutura.”
Quais foram, então, as principais características dos últimos dez anos?
A institucionalização de intermináveis conflitos militares e a crescente ameaça de guerra mundial nuclear
Não houve um único dia na última década em que os Estados Unidos não estivessem em guerra. As operações militares não apenas continuaram no Iraque e no Afeganistão. Novas intervenções foram realizadas na Síria, Líbia, Iêmen e Ucrânia. Mesmo com 2020 começando, o assassinato do major-general iraniano Qassim Suleimani, ordenado pelo presidente Donald Trump, ameaça uma guerra total entre os Estados Unidos e o Irã, com consequências incalculáveis. O envolvimento de um presidente dos EUA em mais um assassinato direcionado, alardeado de maneira sanguinária, testemunha a perturbação muito avançada de toda a elite dominante.
Além disso, a adoção de uma nova doutrina estratégica em 2018 sinalizou uma grande escalada nas operações militares dos Estados Unidos. Ao anunciar a nova estratégia, o secretário de Defesa, James Mattis, declarou: “Continuaremos a levar adiante a campanha contra terroristas em que estamos envolvidos hoje, mas a competição entre grandes potências, não o terrorismo, agora é o foco principal da segurança nacional dos EUA”. A nova doutrina revelou o propósito essencial do que anteriormente havia sido chamada de “Guerra ao Terror”: a tentativa de manter a posição hegemônica do imperialismo dos EUA.
Os Estados Unidos estão determinados a manter essa posição, quaisquer que sejam os custos financeiros e as consequências em termos da vida humana. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) em seu Informe Estratégico recentemente divulgado, “Por sua vez, não é provável que os EUA, voluntariamente, com relutância ou após algum tipo de batalha, passem qualquer bastão estratégico para a China”.
Todas as principais potências imperialistas intensificaram, durante a última década, seus preparativos para a guerra mundial e o conflito nuclear. O orçamento militar de trilhões de dólares de 2019 do governo Trump, com o apoio do Partido Democrata, é um orçamento de guerra. Alemanha, França, Reino Unido e todos os países imperialistas estão expandindo suas forças armadas. Os alvos do imperialismo, incluindo as elites dominantes na Rússia e na China, alternam entre ameaças de guerra e esforços desesperados para forjar algum tipo de acordo.
As instituições desenvolvidas após a Segunda Guerra Mundial para impedir outro conflito global não estão funcionando. Segundo o Informe Estratégico,
As tendências de 2018–19 confirmaram a atomização da sociedade internacional. Nem o ‘equilíbrio de poder’ nem a ‘governança internacional baseada em regras’ servem como princípios de ordenação. As instituições internacionais têm sido marginalizadas. A rotina diplomática de reuniões continua, mas a competição entre esforços nacionais, raramente coordenados com outros, importa mais – e na maioria das vezes são erráticos, tanto na execução quanto nas consequências.
O fim de uma “ordem global baseada em regras” – isto é, dependente do domínio incontestável do imperialismo dos EUA – coloca em movimento uma lógica política que leva à guerra. Como alerta o Informe Estratégico: “A lei é feita e sustentada pela política. Quando a lei não pode resolver disputas, elas são encaminhadas de volta ao domínio político para resolução.” Para entender o “domínio” ao qual o IISS está se referindo, é preciso lembrar a famosa definição de Clausewitz da guerra como política por outros meios.
E o que implicaria uma guerra mundial moderna? O IISS chama a atenção para novos planos com a utilização de armas nucleares. “Enquanto isso, os EUA e a Rússia estão modernizando seus arsenais e mudando suas doutrinas de maneira a facilitar seu uso, enquanto a disputa entre a Índia e o Paquistão sobre a Caxemira continua sendo uma potencial zona de conflito para o uso de armas nucleares”. A imprudência, beirando a insanidade, que prevalece entre os formuladores de políticas é indicada na crescente convicção de que o uso de armas nucleares táticas é uma opção viável. De acordo com o IISS,
Tudo o que se pode dizer com razoável certeza é que um conflito nuclear regional limitado, sob algumas circunstâncias, tem graves efeitos ambientais globais. Mas sob outras circunstâncias, os efeitos podem ser mínimos. [nossa ênfase]
O movimento em direção a uma Terceira Guerra Mundial, que ameaçaria extinguir a humanidade, não pode ser interrompido por apelos humanitários. A guerra surge da anarquia do capitalismo e da obsolescência do sistema de estado-nação. Portanto, isso só pode ser interrompido através da luta global da classe trabalhadora pelo socialismo.
O colapso da democracia
O agravamento extremo das tensões de classe e a dinâmica do imperialismo são as verdadeiras fontes do colapso universal das formas democráticas de governo. Como Lenin escreveu durante a Primeira Guerra Mundial: “O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade. A reação em toda a linha, seja qual for o regime político; a exacerbação extrema das contradições também nesta esfera: tal é o resultado desta tendência.”
A análise de Lenin está sendo confirmada na guinada das elites dominantes, durante a última década, em direção a métodos de governo autoritários e fascistas. A chegada ao poder de personalidades criminosas e até psicopatas como Narendra Modi na Índia, Rodrigo Duterte nas Filipinas, Benjamin Netanyahu em Israel, Abdel Fattah al-Sisi no Egito, Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos Estados Unidos e Boris Johnson no Reino Unido é sintomática de uma crise sistêmica de todo o sistema capitalista.
Setenta e cinco anos após o colapso do Terceiro Reich, o fascismo está voltando à Alemanha. O partido Alternative für Deutschland, que é um paraíso para os neonazistas, emergiu durante a década passada como o principal partido da oposição. Sua ascensão foi facilitada pelo governo da Grande Coalizão, uma mídia corrupta e acadêmicos reacionários, que minimizam impunemente os crimes do regime de Hitler. Processos semelhantes estão em andamento em toda a Europa, onde os líderes fascistas das décadas de 1930 e 1940 – Pétain na França, Mussolini na Itália, Horthy na Hungria e Franco na Espanha – são lembrados com nostalgia.
A década passada assistiu ao ressurgimento da violência antissemita e ao cultivo da islamofobia e outras formas de chauvinismo nacional e racismo. Campos de concentração foram construídos na fronteira dos EUA com o México para aprisionar refugiados que fogem da América Central e do Sul, assim como na Europa e no norte da África como linha de frente da política anti-imigração da UE.
Não há tendência progressista a ser encontrada nos partidos capitalistas. Mesmo quando confrontado com um presidente fascista, o Partido Democrata se abstém da oposição baseada na defesa dos direitos democráticos. Empregando os métodos de um golpe palaciano, os democratas buscam o impeachment de Trump apenas porque o presidente, na opinião deles, minou a campanha dos EUA contra a Rússia e a guerra por procuração na Ucrânia.
A atitude de todo o establishment político burguês em relação aos direitos democráticos é resumida no tratamento horrível do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e da denunciante Chelsea Manning. Com o apoio de democratas e republicanos, Assange permanece confinado na prisão de Belmarsh, em Londres, aguardando ser extraditado para os EUA. Manning está presa há quase um ano por se recusar a testemunhar diante de um grande júri convocado para indiciar Assange por outras acusações.
A perseguição a Assange e Manning possui o objetivo de criminalizar a conduta de atividades jornalísticas protegidas pela constituição. Ela faz parte de uma supressão mais ampla da dissidência, que inclui a campanha de censura na Internet e a prisão dos trabalhadores da Maruti-Suzuki na Índia e de outros prisioneiros da guerra de classes.
Os preparativos para a guerra, que envolvem gastos maciços e exigem endividamento sem precedente, minam a democracia. Em última análise, os custos da guerra devem ser impostos aos trabalhadores do mundo. Esses e outros fardos encontrarão resistência de uma população já enfurecida por décadas de sacrifício. A resposta das elites dominantes será a intensificação de seus esforços para suprimir toda forma de dissidência popular.
A degradação ambiental
A última década foi marcada pela contínua e cada vez mais rápida destruição do meio ambiente. Os cientistas publicaram alertas cada vez mais terríveis de que, sem uma ação urgente e de longo alcance em escala global, os efeitos do aquecimento global serão devastadores e irreversíveis. Os incêndios mortais que têm atingido a Austrália desde o final do ano passado são apenas a mais recente consequência horrível das mudanças climáticas.
Em novembro, 11.000 cientistas assinaram uma declaração publicada no periódico BioScience alertando que “o planeta Terra está enfrentando uma emergência climática”. Segundo ela, ao longo de quatro décadas de negociações globais sobre o clima, “com poucas exceções, temos geralmente conduzido os negócios como antes e temos fracassado amplamente em resolver essa situação…
A crise climática chegou e está se acelerando mais rápido do que muitos cientistas esperavam. É mais grave do que o previsto, ameaçando ecossistemas naturais e o destino da humanidade.... Especialmente preocupantes são os possíveis pontos irreversíveis do clima e as respostas reforçadoras da natureza que podem levar a uma catastrófica ‘Terra estufa’, muito além do controle dos seres humanos. Essas reações climáticas em cadeia podem causar perturbações significativas nos ecossistemas, na sociedade e nas economias, potencialmente tornando grandes áreas da Terra inabitáveis.
No início do ano, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas informou que 821 milhões de pessoas, que já sofrem com a fome, podem vir a morrer à medida que as regiões agrícolas sejam impactadas pelo aquecimento global. Centenas de milhões de pessoas podem deixar de ter acesso à água doce, enquanto muitos outros serão afetados por padrões climáticos cada vez mais severos: inundações, secas e furacões.
As mudanças climáticas e outras manifestações de degradação ambiental são o produto de um sistema social e econômico que é incapaz de organizar a produção global de maneira racional e científica, com base nas necessidades sociais – incluindo a necessidade de um ambiente saudável – ao invés da acumulação interminável de riqueza pessoal.
As consequências do crash de 2008 e a crise do capitalismo
Por trás de todos os outros aspectos da situação social e política está o crescimento maligno da extrema desigualdade social – a consequência inevitável e deliberada de todas as medidas adotadas pela classe dominante após a crise econômica e financeira de 2008.
Após o crash financeiro, ocorrido às vésperas da década de 2010, os governos mundiais e os bancos centrais abriram as torneiras financeiras. Nos Estados Unidos, os governos Bush e, particularmente, Obama levaram adiante um resgate de US$ 700 bilhões dos bancos, seguido por trilhões de dólares em medidas de “flexibilização quantitativa” – ou seja, a compra pelo Federal Reserve de ações e títulos sem valor de instituições financeiras.
Do dia para a noite, o déficit do governo dos EUA dobrou. Os ativos do Federal Reserve aumentaram de menos de US$ 2 trilhões em novembro de 2008 para US$ 4,5 trilhões em outubro de 2014, mantendo-se hoje em mais de US$ 4 trilhões. Com um novo programa de compra de ativos de US$ 60 bilhões por mês, iniciado no final de 2019, espera-se que o valor total de ativos ultrapasse as altas pós-crash até meados deste ano.
Essa política continuou sob Trump, com seus enormes cortes nos impostos de empresas e exigências de reduções adicionais nas taxas de juros. O New York Times observou, em um artigo de 1˚ de janeiro (“Uma estratégia simples de investimento que funcionou em 2019: compre quase tudo”) que o valor de quase todos os ativos de investimento aumentou acentuadamente no ano passado. A Nasdaq aumentou 35%, o S&P 500 29%, as commodities 16%, os títulos corporativos dos EUA 15% e o Tesouro dos EUA 7%. “Foi uma notável e generalizada corrida não vista em quase uma década. A causa? Principalmente uma reversão impressionante do Federal Reserve, que passou do planejado aumento das taxas de juros para o corte delas e a injeção de dinheiro novo nos mercados financeiros.”
Todas as principais potências capitalistas adotaram medidas semelhantes. A alocação de crédito ilimitado e a impressão de dinheiro – e isso, em última análise, é a flexibilização quantitativa – intensificou a crise subjacente. Tentando resgatarem a si mesmas, as elites dominantes consagraram o parasitismo e elevaram a desigualdade social a um nível desconhecido na história moderna.
Beneficiando-se da injeção ilimitada de dinheiro no mercado, as fortunas da elite financeira aumentaram enormemente durante a década passada. Os 500 indivíduos mais ricos do mundo (0,000006% da população global) agora têm um patrimônio líquido coletivo de US$ 5,9 trilhões, que aumentou US$ 1,2 trilhão apenas no ano passado. Esse aumento é maior que o PIB (ou seja, o valor total de todos os bens e serviços produzidos) de todos menos 15 países do mundo. Nos EUA, os 400 indivíduos mais ricos possuem uma riqueza maior do que os 64% mais pobres, e os 0,1% mais ricos da população detêm uma porção maior da riqueza nacional do que em qualquer outro momento desde 1929, imediatamente antes da Grande Depressão.
A catástrofe social enfrentada pelas massas de trabalhadores e jovens em todo o mundo é o produto direto das políticas empregadas para garantir o acúmulo de riqueza pela elite corporativa e financeira.
O declínio na expectativa de vida dos trabalhadores nos EUA, o desemprego em massa de trabalhadores e, particularmente, de jovens em todo o mundo, as devastadoras medidas de austeridade impostas à Grécia e outros países, a intensificação da exploração para aumentar os lucros das empresas – tudo isso é a consequência da política adotada pelas elites dominantes.
O crescimento da classe trabalhadora internacional e a luta de classes global
As condições objetivas da revolução socialista emergem da crise global. A aproximação da revolução social já foi prenunciada nas massivas manifestações e greves que ocorreram em todo o mundo em 2019: no México, Porto Rico, Equador, Colômbia, Chile, França, Espanha, Argélia, Reino Unido, Líbano, Iraque, Irã, Sudão, Quênia, África do Sul, Índia e Hong Kong. Os Estados Unidos, onde toda a estrutura política está voltada para a supressão da luta de classes, testemunharam a primeira greve nacional dos trabalhadores da indústria automotiva em mais de quarenta anos.
Mas a característica dominante e mais revolucionária da luta de classes é seu caráter internacional, cuja origem está no caráter global do capitalismo moderno. Além disso, o movimento da classe trabalhadora é um movimento da geração mais jovem e, portanto, um movimento que moldará o futuro.
Aqueles com menos de 30 anos agora compreendem mais da metade da população mundial e mais de 65% da população nas regiões de crescimento mais rápido do mundo – África Subsaariana, Oriente Médio e Sul e Sudeste da Ásia. Todos os meses na Índia, um milhão de pessoas completam 18 anos. No Oriente Médio e no norte da África, estima-se que 27 milhões de jovens ingressarão na força de trabalho nos próximos cinco anos.
De 1980 a 2010, o desenvolvimento industrial global acrescentou 1,2 bilhão de pessoas às fileiras da classe trabalhadora, com centenas de milhões mais na última década. Desses 1,2 bilhão, 900 milhões entraram na classe trabalhadora no mundo em desenvolvimento. Internacionalmente, a porcentagem da força de trabalho global que pode ser classificada como camponesa caiu de 44% em 1991 para 28% em 2018. Espera-se que quase um bilhão de pessoas na África Subsaariana venha a fazer parte da classe trabalhadora nas próximas décadas. Somente na China, 121 milhões de pessoas passaram da “fazenda para a fábrica” entre 2000 e 2010, com milhões mais na última década.
Não foram apenas a Ásia e a África que tiveram um crescimento na população da classe trabalhadora. Nos países capitalistas avançados, grandes seções daqueles que antes se consideravam classe média foram proletarizadas, enquanto a onda de imigrantes da América Latina para os Estados Unidos e do norte da África e do Oriente Médio para a Europa acrescentou milhões de pessoas a uma alta força de trabalho diversificada.
De 2010 a 2019, a população urbana do mundo cresceu um bilhão, criando uma rede de “megacidades” interconectadas que são tanto centros de produtividade econômica quanto barris de pólvora social, onde a desigualdade é um fato visível da vida cotidiana.
E esses trabalhadores estão conectados entre si de uma maneira sem precedentes na história do mundo. Os avanços colossais da ciência, tecnologia e comunicação, sobretudo a ascensão da Internet e a proliferação de dispositivos móveis, permitiram que massas de pessoas ignorassem as notícias falsas da mídia burguesa, que funcionam como pouco mais que porta-vozes do estado e agências de inteligência. Mais da metade da população mundial, 4,4 bilhões de pessoas, agora tem acesso à Internet. As pessoas passam em média mais de duas horas nas redes sociais todos os dias, principalmente em dispositivos portáteis.
Trabalhadores e jovens agora podem coordenar seus protestos e ações em escala global, expressos no movimento internacional contra as mudanças climáticas, no surgimento dos “coletes amarelos” como um símbolo mundial de protesto contra a desigualdade e na solidariedade dos trabalhadores da indústria automotiva nos Estados Unidos e México.
Essas transformações objetivas estão produzindo grandes mudanças na consciência social sobre a questão central da desigualdade social. O Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2019 explica que, em quase todos os países, a porcentagem daqueles que exigem maior igualdade aumentou 50% entre os anos 2000 e 2010. O relatório alertou: “As pesquisas revelaram percepções crescentes da desigualdade, preferências crescentes por maior igualdade e desigualdade global crescente nas percepções subjetivas de bem-estar. Todas essas tendências são alertas vermelhos brilhantes.”
O papel da liderança revolucionária
O crescimento da classe trabalhadora e o surgimento da luta de classes em escala internacional são a base objetiva da revolução. No entanto, as lutas espontâneas dos trabalhadores e a busca instintiva deles pelo socialismo são, por si só, insuficientes. A transformação da luta de classes em um movimento consciente pelo socialismo é uma questão de liderança política.
A década passada proporcionou uma riqueza de experiências políticas, demonstrando negativamente o papel crítico da liderança revolucionária. A década começou com uma revolução – as lutas monumentais dos trabalhadores e jovens egípcios contra a ditadura apoiada pelos EUA de Hosni Mubarak. Na ausência de uma liderança revolucionária e com a assistência da desorientação introduzida pelas organizações pequeno-burguesas, as massas foram desviadas para trás de diferentes frações da classe dominante, culminando no restabelecimento da ditadura militar direta sob o açougueiro do Cairo, al-Sisi.
Todas as alternativas ao marxismo, inventadas pelos representantes da classe média abastada, foram desacreditadas: o movimento “apolítico” e neo-anarquista Occupy Wall Street nos EUA em 2011 revelou-se um movimento de classe média cujo apelo a um “partido dos 99%” procurou subordinar os interesses da classe trabalhadora aos dos 10% mais ricos.
Novas formas de “populismo de esquerda” foram promovidas na Europa, incluindo o Syriza na Grécia e o Podemos na Espanha. O Syriza chegou ao poder em 2015 e por quatro anos implementou os ditames dos bancos. O Podemos é agora um partido governista depois de fechar um acordo com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), estando comprometido com um programa de direita e pró-austeridade. O “Movimento Cinco Estrelas”, apresentado como uma insurgência anti-establishment, terminou em aliança política com os neofascistas italianos. O corbynismo, que vendeu a ilusão de um renascimento do Partido Trabalhista como um instrumento da luta anticapitalista, provou no final ser sinônimo de covardia política e prostração diante da classe dominante. Se Sanders chegar à Casa Branca, seu governo não será menos impotente.
Na América Latina, o nacionalismo burguês de “esquerda” que fazia parte da “Maré Rosa” – o lulismo no Brasil, a “Revolução Bolivariana” de Chávez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia – tem naufragado pela crise do capitalismo mundial. Suas próprias políticas de austeridade e pró-empresariais prepararam o caminho para uma forte guinada à direita, incluindo a chegada ao poder de Bolsonaro no Brasil e o golpe militar apoiado pelos EUA contra Morales em 2019.
Os sindicatos, que por muito tempo serviram como mecanismos para a supressão da luta de classes, foram expostos como agentes das empresas e do estado. Nos Estados Unidos, as lutas dos trabalhadores da indústria automotiva foram travadas em conflito com os dirigentes corruptos do UAW, que foram indiciados ou estão sendo investigados por aceitar subornos das empresas e roubar dinheiro dos trabalhadores. O UAW, no entanto, é apenas a expressão mais clara de um processo universal.
Uma vasta diferenciação política e social ocorreu entre a classe trabalhadora e uma tendência internacional da política, a pseudo-esquerda, que se baseia em seções da abastada classe média alta que defendem a política de identidade racial, de gênero e orientação sexual. A política da classe média alta busca acessar e redistribuir parte da riqueza que se acumula entre o 1% mais rico. Ela mergulha em sua fixação obsessiva pelo indivíduo para alavancar a “identidade” em posições de poder e privilégio, ao mesmo tempo que ignora os interesses sociais da grande maioria.
As tarefas do Comitê Internacional da Quarta Internacional
Em muitos dos comentários da imprensa burguesa, os protestos e lutas do ano passado são descritos como “sem líderes”. Mas essa é apenas uma etapa preliminar do desenvolvimento da consciência das massas. As massas, acumulando experiência no curso da luta, estão passando por uma profunda mudança em sua orientação social e política. É no contexto desse processo revolucionário que a luta pela consciência socialista se desenvolverá.
A nova década da revolução social traz consigo uma nova etapa na história do Comitê Internacional da Quarta Internacional. A prática do movimento revolucionário é decisiva. A resolução do Congresso Nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA) em 2018 explicou que:
Uma avaliação da situação objetiva e uma apreciação realista das possibilidades políticas, que exclui o impacto da intervenção do partido revolucionário, são totalmente estranhas ao marxismo. O partido revolucionário marxista não se limita a comentar os eventos, mas participa dos eventos que analisa e, através de sua liderança na luta pelo poder dos trabalhadores e pelo socialismo, busca mudar o mundo (ver: “O ressurgimento da luta de classes e as tarefas do Partido Socialista pela Igualdade”).
Há muitos sinais da crescente influência política internacional do CIQI. Ao longo de 2019, o WSWS teve um enorme crescimento em seus leitores, apesar de uma campanha de censura na Internet. O número total de visualizações do site aumentou de 14 milhões em 2018 para 20 milhões no ano passado (um crescimento de mais de 40%). O período em que os leitores mais acessaram o site do WSWS, com mais de dois milhões de acessos todos os meses, aconteceu durante a greve da General Motors e a luta dos trabalhadores da indústria automotiva em setembro e outubro.
Esses desenvolvimentos marcam um avanço significativo, mas não há motivo para satisfação pessoal. O crescimento da influência do CIQI coloca de maneira mais clara as imensas responsabilidades e tarefas que temos pela frente.
A virada agora deve ser para a classe trabalhadora, para a intervenção ativa em toda manifestação da oposição de trabalhadores e jovens à desigualdade, guerra e ditadura. Deve haver incansável trabalho para elevar o nível político, criar quadros em fábricas e escolas, explicar as lições da história e a natureza do capitalismo. Não haverá poucas pessoas determinadas a lutar pelo socialismo.
Mas essa determinação deve estar armada com uma estratégia que unifique as lutas da classe trabalhadora em um movimento mundial pelo socialismo.
Este ano marca os 80 anos do assassinato de Leon Trotsky – o co-líder com Lenin da Revolução Russa e fundador da Quarta Internacional – por um agente stalinista em 20 de agosto de 1940. Nos últimos anos de sua vida, Trotsky colocou enorme ênfase no papel da liderança revolucionária. “A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da liderança revolucionária”, escreveu ele no documento fundador da Quarta Internacional.
Agora, a questão é construir o CIQI internacionalmente, expandir os Partidos Socialistas pela Igualdade nos países onde eles existem e criar novas seções nos países onde o CIQI ainda não tem uma presença organizada. A enorme base histórica sobre a qual esse movimento repousa, o repositório consciente das experiências da classe trabalhadora internacional, deve ser apresentada nas lutas em desenvolvimento da classe trabalhadora e construindo o caminho para o socialismo.
No início desta década, o CIQI relembra as palavras com as quais Trotsky concluiu o documento fundador da Quarta Internacional:
Trabalhadores e trabalhadoras de todos os países, organizem-se sob a bandeira da Quarta Internacional. É a bandeira de sua próxima vitória!