Publicado originalmente em 13 de Junho de 2019
O Pentágono anunciou na segunda-feira, 10 de junho, a maior compra de armas em sua história, que envolveu a aquisição de quase 500 caças F-35 a um custo total de US$ 34 bilhões.
Essa compra é apenas o pagamento inicial na aquisição pelo Pentágono de aeronaves notoriamente dispendiosas e sujeitas a falhas, que tem dois objetivos prioritários: combater uma “grande potência” em uma guerra, como a Rússia e a China, e encher os bolsos da Lockheed Martin e a horda de ex-congressistas e generais aposentados de sua folha de pagamento.
O acordo cobre os 12º, 13º e 14º lotes de F-35 encomendados pelo Pentágono, que eventualmente envolverá a compra de milhares de outros caças. Anunciado em 2001 como um programa para economizar dinheiro, cada avião acabou custando quatro vezes a estimativa inicial.
Com um custo total previsto de US$ 1,5 trilhão, apenas a compra dos caças F-35 poderia financiar o Departamento de Educação dos Estados Unidos por 25 anos.
O maior entusiasta do F-35 é o presidente Donald Trump, que o promove como um de seus campos de golfe. Trump participou de uma coletiva de imprensa conjunta na quarta-feira à tarde com o presidente polonês, Andrzej Duda, com o objetivo de promover a aeronave de guerra. Quando um F-35 sobrevoou a Casa Branca a baixa velocidade, ele elogiou a Polônia pelo acordo fechado para comprar 32 desses caças.
Em discursos diante de militares, Trump rotineiramente se gaba dos enormes orçamentos militares que ele impôs ao Congresso, destacando em particular os gastos do Pentágono com o F-35. Falando na cerimônia de formatura da Academia da Força Aérea no mês passado, o presidente dos EUA declarou em meio a aplausos retumbantes dos oficiais formandos: “Vocês gostam de todos os novos e belos aviões que estamos comprando”.
Trump ainda disse: “No ano passado ... nós garantimos US$ 700 bilhões para apoiar nossos combatentes de guerra, seguidos por outros US$ 716 bilhões – não milhões – bilhões. Isso é com um ‘B’.”
Ambos os orçamentos do Pentágono, envolvendo os maiores aumentos nos gastos com defesa desde o fim da Guerra Fria, foram aprovados com esmagador apoio bipartidário. 89% dos democratas do Senado votaram para aprovar o mais recente orçamento de defesa, cujo objetivo explícito é preparar os militares dos EUA para um conflito entre “grandes potências” com a Rússia e a China.
Este ano, a Casa Branca quer ainda mais. Na próxima segunda-feira, o governo planeja enviar uma proposta orçamentária de US$ 750 bilhões para o Departamento de Defesa, valor 18 bilhões maior do que o solicitado pelo Pentágono.
Um pequeno exército de executivos da indústria de defesa, ex-generais que atuam como “consultores” e congressistas lobistas do complexo militar-industrial, está salivando com a entrada de dinheiro para as forças armadas, que são conhecidas por pagar US$ 7.622 por cafeteiras e US$ 640 por vasos sanitários.
Mesmo com os padrões normais de lucro dos negócios de guerra dos EUA, o programa do F-35 é a mais pura corrupção – tanto que o belicista militar John McCain o chamou de “caso exemplar de negligência na aquisição”, um “escândalo” e uma “tragédia”.
De acordo com o Projeto de Supervisão Governamental, “Por definição, os serviços [militares dos EUA] não podem desempenhar independentemente muitas das funções mais básicas necessárias para empregar adequadamente o sistema de armas mais caro da história”, acrescentando que a Lockheed Martin “impede que o governo conheça os custos de qualquer uma das peças de reposição que tem que comprar da empresa.”
As centenas de aeronaves já entregues são cheias de falhas que as tornam inutilizáveis. Como o site Defense News informou recentemente, “os pilotos do F-35B e F-35C são obrigados a observar limitações na velocidade aerodinâmica para evitar danos à fuselagem ou ao sistema antirradar do F-35”, enquanto a aeronave permanece propensa a “picos de pressão na cabine” que causam “intensa dor de ouvido e sinusite”.
Mas a fraude, a incompetência e a corrupção que marcam o programa do F-35 não devem desviar a atenção de seu propósito fundamental: combater seus concorrentes “quase iguais” da Rússia ou da China.
No início deste mês, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, falando à turma de formandos em West Point, previu que uma guerra no Pacífico, na Europa e nas Américas aconteceria durante a vida deles.
“É uma certeza virtual que vocês vão lutar em um campo de batalha para os EUA em algum momento de suas vidas”, ele declarou. “Alguns de vocês vão se juntar à luta na península coreana e no Indo-Pacífico, onde a Coréia do Norte continua a ameaçar a paz e uma China cada vez mais militarizada desafia nossa presença na região. Alguns de vocês vão se juntar à luta na Europa, onde uma agressiva Rússia busca redesenhar as fronteiras internacionais pela força. E alguns de vocês poderão até ser chamados para servir neste continente.”
“E quando esse dia chegar”, ele continuou, “sei que vocês se moverão ao som das armas e cumprirão seu dever, e vocês lutarão, e vocês vencerão.”
Esses sentimentos assustadores, longe de serem exclusivos da administração Trump, são amplamente compartilhados também pelo Partido Democrata. Falando em Iowa na terça-feira, o ex-oficial de inteligência da Marinha e pré-candidato à presidência pelo Partido Democrata, Pete Buttigieg, disse: “Nossas capacidades militares existem por uma razão ... estamos prontos para usar a força”. Ele ainda acrescentou que os EUA devem se preparar para as “guerras do futuro”.
Mesmo enquanto Trump derruba proteções constitucionais fundamentais, aprisionando crianças imigrantes em bases militares e governando por decreto executivo, os democratas saúdam o valor de um inimigo externo para reforçar a unidade política em casa, com Buttigieg tendo declarado: “O novo desafio oferecido pela China nos fornece uma oportunidade nos unirmos mesmo com a divisão política.” Isso é essencial, ele sugere, já que “pelo menos metade da batalha é em casa”.
Cerca de três décadas após a dissolução da União Soviética e a proclamação de um “momento unipolar” de dominação dos EUA, os esforços estadunidenses para preservar sua hegemonia global por meios militares têm produzido um desastre. No principal artigo da edição atual da revista Foreign Affairs, Fareed Zakaria escreve sobre “A autodestruição do poder dos EUA”, concluindo que “em algum momento nos últimos dois anos, a hegemonia estadunidense morreu”.
Mas todo fracasso, retrocesso e desastre tem apenas levado os Estados Unidos a intensificarem sua provocação econômica e agressão militar. Depois dos desastres da “guerra ao terror”, incluindo as invasões do Afeganistão e do Iraque e as guerras na Líbia e na Síria, Washington tem como objetivo um conflito com a Rússia e a China. Os resultados de tais guerras serão um desastre em uma escala incomparavelmente maior do que o banho de sangue no Oriente Médio, ameaçando uma Terceira Guerra Mundial nuclear.
A erupção homicida do militarismo estadunidense, que começou com a primeira Guerra do Golfo e coincidiu com a dissolução da União Soviética pelo regime stalinista, não vai simplesmente acabar. A menos que seja detido pelo surgimento de um movimento socialista em massa da classe trabalhadora, essa tendência homicida só se intensificará.